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JORNAL

Recitais de poesia ajudam a mudar imagem de escola na Bahia

Estudantes participam de apresentação teatral.

Quando passou no concurso para professor da rede de ensino do Estado da Bahia e foi nomeada para o Colégio Estadual José Bonifácio, em 2004, Patrícia Costa de Santana, do município de Governador Mangabeira, ficou incomodada com os comentários que ouvia sobre a escola. “Diziam que eu era maluca em trabalhar lá, pois os alunos eram vistos de forma muito negativa”, conta a professora, que é formada em letras vernáculas, com especialização em psicopedagogia.

Foi então que resolveu fazer alguma coisa para desmistificar a imagem do colégio, considerado marginalizado, e mostrar que os alunos do José Bonifácio tinham capacidade e criatividade: lançou o Recital de Poesias. O projeto deu tão certo que já está em sua quinta edição, apresentando, a cada ano, um tema diferente. Este ano, o tema foi: Álvares de Azevedo: o poeta maldito. “As poesias encantam e, a partir desse encanto, os estudantes conseguem ver a língua portuguesa e a literatura com outros olhos”, acredita Patrícia, que dá aulas de português nas turmas de 7º e 9º anos do ensino fundamental e nas de 2ª e 3ª séries do ensino médio.

O projeto do recital é desenvolvido com as segundas séries do ensino médio, dos períodos matutino e vespertino. Além de declamação de poesias, os estudantes, divididos em equipes, cuidam de diversas atividades relativas à apresentação do espetáculo, como cenário, figurino, som, fotografia. Também ficam responsáveis pela divulgação do evento em outras escolas do município, com entrega de folhetos e cartazes. Já a 3ª série do ensino médio está envolvida no projeto com participações especiais.

O recital é realizado no Clube Municipal de Governador Mangabeira e quando o clube não está disponível, em uma escola vizinha. “Já se tornou um evento esperado por todos. Quando acabo de realizar um, os alunos já estão me procurando para saber o tema do próximo”, destaca Patrícia. Segundo ela, o projeto mexeu com os estudantes: “eles me pedem nomes de autores para começarem a ler, eu os pego lendo livros pela escola”, justifica.

De acordo com Patrícia, “a partir do momento em que os alunos começam a descobrir a leitura e que percebem que através dela outros horizontes surgem em suas vidas, eles sentem mais vontade de ir em busca dos seus sonhos e de poderem transformar a realidade que vivem”. Ela diz que muitos ex-alunos já estão na universidade, passaram em concursos ou estão exercendo outras funções, mas não deixam de expressar o quanto o projeto foi importante na vida deles.

A diretora da escola, Ioná Aragão, tem percebido que os alunos se encontram mais encantados pela leitura e pela produção textual, de forma gradativa. “Há um entusiasmo na busca de conhecer novos autores, de saber novas histórias, de produzir contos, tanto por parte dos estudantes como dos colegas de trabalho, em especial os professores de língua portuguesa”, ressalta.

Importância – Para ela, que ingressou no José Bonifácio em 2001, como professora de ciências, o trabalho realizado por Patrícia tem sido de grande importância para toda a comunidade escolar. “Ela tem um dinamismo que contagia os estudantes e todos os colegas, inclusive pessoas que não fazem parte do universo escolar”, salienta. De acordo com Ioná Aragão, por mais que alguém seja inerte, acaba sendo estimulado pela coragem e amor à educação demonstrados por Patrícia.

Na visão da diretora, a utilização de poesias na sala de aula tem contribuído não só para estimular o entusiasmo pela leitura e pela escrita entre os jovens, como também para o resgate da cidadania.

Outro ponto que destaca é o resgate da autoestima dos alunos: “eles passam a ser mais críticos, a se posicionar diante das situações, e se tornam capazes e confiantes para resolução de situações problemas”.

Além do Recital de Poesias, Patrícia desenvolve o projeto O Prazer da Leitura com Pedro Bandeira, nas turmas do 6º ao 9º anos, junto com os demais professores de língua portuguesa da escola. O projeto tem o apoio do escritor que, sensibilizado, mandou um vídeo para a professora.

(Fátima Schenini)