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JORNAL

Mesmo aposentados, professores continuam trabalho

Engenheiro e professor Raul Valentim da Silva, de Florianópolis (SC).

O que leva professores aposentados a continuar lecionando mesmo sem receber nenhum salário além da aposentadoria? Qual é o segredo de tanta disposição e vitalidade? O que motiva esses professores a continuarem estudando e se preparando para repassarem a outros os seus conhecimentos?

Em Goiânia, o médico gastroenterologista Joffre Marcondes de Rezende, 87 anos, lecionou durante 37, sete dos quais na Escola de Enfermagem São Vicente de Paula e 30 na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG). Aposentado do magistério em 1991, aos 70 anos, continuou a dar aulas, sem qualquer remuneração, no curso de história da medicina da Faculdade de Medicina da UFG, sem deixar de atender a pacientes em seu consultório.

“Sempre gostei da atividade docente, que enriqueceu a minha vida e me manteve atualizado com os avanços que ocorreram em minha área de atuação”, diz. Ele explica que sempre se sentia como um guia na sala de aula, um orientador dos alunos, no sentido de facilitar-lhes o desenvolvimento da capacidade cognitiva e despertar neles o interesse pela matéria, e não como um repetidor de ensinamentos que se encontram em livros, publicações científicas ou na internet.

Segundo Rezende, a interação do professor com os alunos, pela juventude destes, suas inquietações, seus questionamentos, é muito benéfica para o professor, impedindo o seu envelhecimento psicológico prematuro. Como atividade paralela e, em decorrência de seu interesse em história da medicina, desenvolveu um site na internet dedicado a esta área e à filologia médica. Desde que foi criado, em 2001, o site já recebeu 96.000 visitas.

A experiência do professor Rezende se repete pelo país afora. Em Florianópolis (SC), o professor Raul Valentim da Silva diz que o segredo para sua energia é sua “paixão por absorver o conhecimento”. Com 69 anos, e aposentado desde 1992, ele preside a Fundação de Ensino e Engenharia de Santa Catarina (FEESC) e o Conselho de Segurança Comunitária da Região de Florianópolis. “Me sinto feliz de poder vivenciar as novidades do século XXI, de ter acesso a tanta informação pela internet”, acrescenta. Ele participa também do Conselho de Representantes dos Professores da Universidade Federal de Santa Catarina.

Professor da UFSC desde 1965, Valentim foi além da sala de aula, participando ativamente da área administrativa dos cursos de engenharia. Ajudou a criar o curso de mestrado em engenharia de produção, foi o primeiro coordenador do curso de mestrado e atuou como chefe de departamento. Segundo ele, de 1965 para hoje, a universidade sofreu grandes mudanças. “Os professores eram mais castradores porque detinham o conhecimento, mas hoje é completamente diferente. Temos um excesso de informações disponíveis na internet e, com isso, o professor passou a ser um orientador”, compara. Para ele, o grande desafio atualmente é conseguir passar todo o conhecimento gerado pelas universidades para os alunos e a sociedade.

(Fátima Schenini e Renata Chamarelli)