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JORNAL

Rita de Cassia Cavalcanti Porto (UFPB): “Projetos tornam a aprendizagem dos alunos mais significativa”

Rita de Cassia Cavalcante Porto

Professora do Centro de Educação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Rita de Cassia Cavalcanti Porto faz parte do corpo docente do Programa de Pós-graduação em Educação e do Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos da mesma universidade. Doutora em educação pela Unicamp, na área de ensino, avaliação e formação de professores, Rita de Cassia estudou a política de formação dos profissionais de educação e deu destaque à elaboração de projetos político-pedagógicos (PPP). Graduada em pedagogia e mestre em educação, realizou estudos de aperfeiçoamento na área da teoria crítica de currículo na University of Wisconsin, dos Estados Unidos.

Para ela, a pedagogia de projetos aparece no bojo das discussões da pedagogia nova, “como alternativa ao modelo de currículo centrado nas disciplinas isoladas, propondo-se a criar formas alternativas de organizar o currículo por projetos de trabalho e tornando a aprendizagem dos alunos mais significativa”.

“Os estudantes deixam de receber depósitos de conteúdos já determinados pelas orientações curriculares e passam a problematizar suas experiências nos projetos da escola”, destaca a professora, que é pesquisadora da Rede Freireana de Pesquisadores e líder do Grupo de Estudos e Pesquisas da Pedagogia Paulo Freire, da UFPB. Membro do Fórum Permanente de Apoio à Formação Docente do Estado da Paraíba e do Fórum Estadual de Educação da Paraíba, Rita de Cassia também integra o Conselho Técnico Científico da Educação Básica (CTC-EB) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Jornal do ProfessorDesde que o Prêmio Professores do Brasil foi criado, em 2005, o Ministério da Educação distingue projetos pedagógicos desenvolvidos em escolas da educação básica pública de todo o país. Qual a importância de os professores trabalharem com projetos?

Rita de Cassia Cavalcanti Porto – Gostaria de enfatizar a importância de trabalharmos com currículos mais críticos, que considerem a leitura do mundo contextualizado com a leitura da palavra. O grande educador Paulo Freire [1921-1977] já nos chamava a atenção para compreendermos que “todo projeto pedagógico é político e se acha molhado de ideologia. A questão a saber é, a favor de quê e de quem, contra quê e contra quem se faz a política de que a educação jamais prescinde”. Nessa perspectiva é que entendemos a importância de trabalharmos com projetos contextualizados através da leitura do mundo e propostas de transformação da realidade.

Quais os principais benefícios dessa metodologia na aprendizagem dos alunos?

– Sabemos que, historicamente, o currículo vem apresentando concepções das mais tradicionais às mais críticas. Nesse contexto, a pedagogia de projetos aparece no bojo das discussões da pedagogia nova como alternativa ao modelo de currículo centrado nas disciplinas isoladas, propondo-se a criar formas alternativas de organizar o currículo por projetos de trabalho e tornando a aprendizagem dos alunos mais significativa. Ela considera as experiências dos estudantes e o processo democrático da escola como necessários ao processo de ensino e aprendizagem. Os estudantes deixam de receber depósitos de conteúdos já determinados pelas orientações curriculares e passam a problematizar suas experiências nos projetos da escola.

E para os professores? Os projetos também trazem contribuições? Quais?

– A pedagogia de projetos não é nova. Surge no início do século 20, com John Dewey [1859-1952] e outros educadores da chamada “pedagogia ativa”. Dewey criou o Método do Problema, mas Willian H. Kilpatrick [1871-1965] criou uma filosofia de educação, traduzida no Método de Projetos, no qual priorizou a participação do educando na situação de aprendizagem. No Brasil, ela aparece no bojo do debate da escola nova com os pioneiros da educação e retorna ao debate, na década de 1990, com contribuições do educador espanhol Fernando Hernández, ao afirmar que um projeto pode organizar-se seguindo um determinado eixo: “A definição de um conceito, um problema geral ou particular, um conjunto de perguntas inter-relacionadas, uma temática que valha a pena ser tratada por si mesma”. Sabemos que, na perspectiva do trabalho coletivo e do diálogo, os projetos trazem importantes contribuições. Dentre elas, podemos citar o envolvimento dos professores e estudantes como partícipes do currículo da escola; a abertura para compreender os saberes de experiências dos estudantes e a cultura escolar; a integração de diversas disciplinas por meio de temas ou eixos e a proposição de resoluções de problemas da vida prática diária, capazes de contribuir com o debate nacional.

Quais os pontos que não podem ser esquecidos em um projeto?

– O projeto deve ser construído a partir da reflexão critica das ações dos professores e estudantes sobre os problemas contemporâneos da educação escolar e as possibilidades de resolução desses problemas. Podemos destacar:

• A leitura da realidade e o contexto cultural no entorno da escola.

• O conhecimento do projeto político-pedagógico e do currículo da escola e sua articulação com os projetos desenvolvidos pelos professores.

• A participação da comunidade escolar na seleção e problematização dos temas.

• O trabalho coletivo e interdisciplinar.

• O conhecimento dos saberes socialmente transmitidos.

• A escolha das atividades a serem desenvolvidas.

• A apresentação do projeto à comunidade.

• O conhecimento dos documentos oficiais (LDB, PNE, leis que tratam da diversidade e DCN).

• A avaliação emancipatória (ação-reflexão-ação)