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JORNAL

Disciplina melhora com a produção de vídeos

Alunos da escola Almirante Tamandaré gravam filme sobre consequências do uso de drogas.

Fazer os alunos mais bagunceiros se tornarem os mais aplicados. O sonho almejado por milhares de professores virou realidade na turma mais indisciplinada do Colégio Estadual Almirante Tamandaré, localizada em São Pedro da Aldeia (RJ). Com o auxílio de recursos audiovisuais, a professora Mariléia Soares dos Santos conseguiu não somente atrair a atenção dos estudantes como também melhorar a autoestima deles.

Com mais de 24 anos de experiência como professora de história, no ano passado Mariléia se deparou com a turma mais bagunceira da instituição: 42 estudantes do segundo ano do ensino médio. “Eles se orgulhavam de ser os piores alunos da escola”, conta, ao ressaltar que grande parte deles era repetente ou estava retornando à escola depois de fazer supletivo. A situação melhorou em 2008, quando o tema “artes” foi colocado no projeto pedagógico da escola, para ser trabalhado em todas as disciplinas. Mariléia optou por abordar o assunto por meio do cinema.

No primeiro bimestre, os estudantes fizeram pesquisas sobre as formas de expressão do cinema, sua história e seus formatos. A professora exibiu curtas-metragens e levou especialistas em cinema para falar sobre o assunto, mas, ainda assim, os alunos continuavam desinteressados. “A perspectiva deles só mudou quando, já cansada de tanta algazarra, eu propus que filmássemos um curta-metragem”, explica.

Segundo ela, naquele dia, um grupo de alunos foi expulso de sala de aula e, em seguida, retornou devido a confusão criada do lado de fora. De volta à sala, os estudantes continuavam atrapalhando a aula, contando histórias de colegas que estavam se envolvendo com drogas e das bocas de fumo da região. Foi então que um deles disse: “essa história dava um filme”. A professora, de imediato, aproveitou a oportunidade para propor a filmagem de um curta-metragem para contar aquela história. “No dia seguinte, logo de manhã, os alunos que odiavam escrever entregaram um roteiro de quatro páginas”, celebra.

De acordo com Mariléia, daquele momento em diante a postura dos alunos mudou completamente. Eles mesmos conseguiram duas máquinas filmadoras emprestadas com amigos e também levaram três máquinas fotográficas digitais. Como a maioria dos estudantes trabalhava durante o dia e estudava à noite, as filmagens eram realizadas nos finais de semana e até mesmo depois da aula. “Às vezes dava onze horas da noite e a gente estava na rua filmando com os alunos”, ilustra.

Entre filmagens e edição, que também foi feita pelos estudantes no Núcleo de Tecnologia Educacional da cidade, o projeto levou três meses para ficar pronto. “O mais interessante é que aqueles alunos que achavam graça do uso das drogas começaram a fazer um alerta sobre as conseqüências do seu uso. Isso mudou muito a vida deles”, acrescenta a professora. Além disso, a mudança de comportamento se refletiu nas demais disciplinas e pela primeira vez eles começaram receber elogios na escola. “Eles foram aplaudidos de pé pelos colegas depois de apresentarem o curta-metragem. Os estudantes descobriram que são capazes de fazer algo grandioso”, revela.

O projeto foi enviado ao governo do Estado e aprovado para ser trabalhado em toda a escola. Segundo Mariléia, equipamentos, como filmadora e ilha de edição, estão sendo adquiridos para facilitar o desenvolvimento do projeto.

Benefícios - Doutora em educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Laura Maria Coutinho ressalta os benefícios pedagógicos trazidos pelos produtos audiovisuais. Segundo ela, por meio dos vídeos, os estudantes aprendem a trabalhar em grupo, a desenvolver o sentido estético e a se expressar por meio de uma linguagem que incorpora sons e imagens. “Um audiovisual é muito mais do que uma câmera na mão e uma ideia na cabeça. Implica em muito trabalho e precisa seguir todos os passos de realização: ideia, argumento, roteiro literário, roteiro técnico, captação de imagens e sons, decupagem, montagem, finalização, exibição”, destaca.

De acordo com a especialista, para aqueles professores que ainda não se aventuraram como a professora Mariléia, a dica é pesquisar e procurar se familiarizar com os aspectos de produção e realização de um filme. Para ela, é importante observar os trabalhos já realizados, estudando as imagens, o movimento da câmera e da luz. “Hoje, com um computador e processadores de imagens relativamente simples é perfeitamente possível realizar trabalhos muito bons”, conclui.

(Renata Chamarelli)