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JORNAL

Jogo é valorizado e incentivado em cidade do interior gaúcho

Alunos da EM Rui Barbosa durante campeonato de xadrez

No município gaúcho de Campo Bom, no Vale do Rio dos Sinos, região metropolitana de Porto Alegre, o jogo de xadrez é uma atividade valorizada e incentivada nas escolas, com a participação de estudantes em torneios e campeonatos. “Meu envolvimento com o xadrez iniciou-se por volta de 1994, quando exercia a função de coordenadora da educação física, esporte e lazer na Secretaria Municipal de Educação e Cultura”, diz a professora Márcia Korndoerfer Tornin, da Escola Municipal Rui Barbosa.

Márcia explica que promoveu, na época, um curso de capacitação em xadrez para professores da rede municipal, em parceria com a Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha, de Novo Hamburgo. “O trabalho, então, começou a frutificar nas escolas e surgiu a ideia de organizarmos o 1º Torneio Aberto de Xadrez em Campo Bom, que já está na 21ª edição.”

A instalação do Clube de Xadrez na Biblioteca Pública Municipal foi outra medida adotada por Márcia. “Aberto à comunidade, funcionava aos sábados de manhã, com monitoria do jovem aluno Marcelo Konrath, atualmente professor e árbitro internacional de xadrez e editor do portal Xadrez Gaúcho”, diz a professora.

A partir de 2009, já na Escola Rui Barbosa, Márcia continuou a incentivar a prática do xadrez durante as aulas de educação física, com turmas do sexto ao nono ano do ensino fundamental. Os resultados obtidos com a iniciação ao jogo nessa faixa etária a levaram a propor, em 2013, um projeto direcionado a alunos do terceiro ao quinto ano. “O xadrez, agora, é trabalhado semanalmente em sala de aula a partir do terceiro ano”, esclarece. Além disso, às quintas-feiras, os alunos que se destacam em sala de aula participam do encontro de xadrez, no turno vespertino, destinado ao aprimoramento das estratégias e integração à equipe de competição da escola, composta por 24 alunos.

Durante as aulas, Márcia procura despertar nos alunos o prazer no aprendizado do xadrez e o gosto pelo desafio. Isso, segundo ela, os leva a desenvolver competências como agilidade de raciocínio, capacidade de visualização espacial, elaboração de estratégias próprias, aumento do tempo de concentração e desenvolvimento da memória. Há 32 anos no magistério, ela tem graduação em educação física e pós- graduação em metodologia do ensino da educação física.

Estímulo — “O xadrez é um esporte divertido, que estimula o raciocínio lógico, a concentração e a memória”, diz a professora Lizandra Patrícia Gottlieb, diretora da escola Rui Barbosa. “Também estimula a imaginação, desenvolve a capacidade de planejamento na criação de estratégias e exige paciência e respeito ao colega.”

De acordo com Lizandra, após certa resistência inicial ao xadrez, principalmente por parte de alguns professores, que o consideravam difícil e complicado para alunos pequenos, a professora Márcia conseguiu desenvolver o gosto pelo jogo na escola, graças ao trabalho lúdico que desenvolveu desde os primeiros anos. “O trabalho foi gradativo, atingindo também o público adolescente da escola”, ressalta. Outra iniciativa foi a participação dos estudantes em campeonatos de xadrez, dentro e fora da cidade.

Para o professor Eder de Oliveira, da Escola Municipal Princesa Isabel, ao aprender a jogar xadrez, as crianças tendem a aumentar a concentração, a paciência e a perseverança e se tornam mais flexíveis ao resolver problemas e tomar decisões.

Professor de educação física em turmas da educação infantil ao quinto ano do ensino fundamental, Eder conta que seu envolvimento com o jogo teve início em 2006. “No início, usava o xadrez como alternativa, pois no inverno, de manhã, era muito frio e úmido, e não havia ginásio na Escola Princesa Isabel”, afirma. “Então, jogávamos xadrez na primeira hora; depois, íamos para o pátio fazer outras atividades.”

À medida que se aprofundava no estudo do ensino de xadrez, o professor percebia que poderia aproveitar o jogo como ferramenta pedagógica. Agora, o xadrez faz parte das aulas de educação física, uma hora por semana. No contraturno, uma hora e 30 minutos, duas vezes por semana. “O xadrez faz e pode fazer ainda mais diferença para nossas crianças no que se refere à elevação da autoestima e confiança”, diz Eder. “Elas passam a se sentir incluídas e valorizadas socialmente, o que contribui para sua formação.”

De acordo com o professor, a literatura científica especializada destaca que a prática do jogo de xadrez contribui, efetivamente, para o desenvolvimento do raciocínio lógico, da capacidade de análise, síntese e de resolução de problemas, da abstração e objetividade, do autocontrole e autoestima. “Alunos que por vezes são menosprezados ou preteridos pelos colegas por não terem as mesmas habilidades físicas e motoras podem encontrar no xadrez um meio para interagir com os colegas e se sentir incluídos no grupo”, destaca.

Atitude — Eder salienta a mudança ocorrida nas atitudes dos alunos. “A cada vitória em torneios, eles se sentiam mais confiantes, conduziam a resolução dos seus conflitos com mais paciência e respeito mútuo, e isso, para nossa escola, foi uma grande mudança”, enfatiza o professor, pós-graduado em educação física escolar.

O xadrez é uma das atividades incluídas no Programa Acolher – Desafios para Além da Jornada Escolar, desenvolvido em Campo Bom desde 2009. O programa atinge em torno de duas mil crianças e adolescentes em todos os bairros do município. Têm prioridade no atendimento aquelas em situação de risco e vulnerabilidade social. “O envolvimento dos alunos com diversas atividades colabora para a prevenção do uso de drogas no meio escolar”, defende Graciela Rosa Soares, coordenadora do esporte escolar da Secretaria de Educação do município. (Fátima Schenini)