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JORNAL

Mais conteúdo e menos preconceito

O fonoaudiólogo Jaime Zorzi ministra oficinas de capacitação para professores.

Doutor em Educação e especialista em linguagem, o fonoaudiólogo Jaime Zorzi calcula que entre 3,5% e 4% da população brasileira alfabetizada tenha problemas com a leitura e a escrita. Diretor do Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica e Audiologia Clínica (Cefac), onde também ministra aulas de pós-graduação em saúde e educação, ele explica que a dislexia é um distúrbio específico de leitura e, antes de entrar na sala de aula, o professor deve deixar de lado todos os seus preconceitos ou desistir de lecionar.

“Alguns profissionais chegam a mim perguntando qual o diagnóstico de determinadas crianças com dificuldades de aprendizagem. Eu digo que é distúrbio específico de leitura. Muitos, sem informação, chegam a dar graças a Deus por não ser dislexia. Mas mal sabem que essa é a definição da doença”, diz.

Zorzi lembra que a grande maioria não sabe que um disléxico pode aprender muito, mas só se for bem ensinado. “Quando se depara com um aluno que tem esse tipo de problema, o educador deve saber que terá um desafio pela frente. Também não pode deixar de incentivar o estudante, que muitas vezes se sente desmotivado, por ter um grau de aprendizado mais lento, não inferior”, pontua.

Para ele que já viajou por todo o Brasil e América Latina abordando o tema, é necessário incrementar a autoestima, trabalhar os pontos fracos e valorizar, especialmente, os pontos fortes que o estudante tem. “É preciso estabelecer condições favoráveis ao aprendizado, diariamente. Isso significa desenvolver novas metodologias, conhecer a competência de cada um e facilitar a vida das crianças que sofrem de algum distúrbio”, observa.

O especialista aconselha os professores, como primeira medida, a confiar na capacidade de aprendizado do aluno. Em segundo lugar, ele deve compreender o problema, para propor soluções. “Quem não tem essa postura, precisa antes avaliar sua competência para ensinar”, critica.

Ele analisa que, atualmente, trabalha-se muito com métodos que não avaliam a habilidade das crianças. Considera que todo processo que não observa o sistema alfabético de letras e sons está fadado ao erro. “É imprescindível trabalhar com as abordagens fônicas, ou seja, pensar por sons. O professor deve prestigiar a habilidade de perceber os diferentes e os semelhantes sons, como a palavra é montada. Quando a criança for escrever, ela deve pensar a palavra, seus fonemas, sua composição. Isso faz falta. Se não é desenvolvido, a criança pode travar e comprometer todo o aprendizado”, esclarece.

Zorzi explica que a dislexia é identificada durante o processo de alfabetização, ou seja, é geralmente percebida pelos educadores. Portanto, conclui, é ele quem deve avaliar as condições que a criança tem de responder ao seu programa de ensino. “Tem crianças que acompanham, outras não. O professor deve ser mais flexível. Observar suas atividades em sala de aula e modificar o programa quando necessário. Rapidez não é sinônimo de qualidade. Deve haver tempo hábil para trabalhar as matérias. Os prejudicados no processo onde o professor é irredutível e não sai do programa de ensino, são todos os alunos, não apenas os que têm algum distúrbio. O rendimento escolar cai”, lamenta.

Entretanto, Zorzi não aconselha que os disléxicos sejam tratados como se estivessem em um processo de inclusão. “Não é tratar esses estudantes diferentes. É trabalhar com os recursos que tem disponível. Quem determina tempo e método de estudo é o professor. É ele quem deve se abrir para o processo de aprendizagem”, aconselha.

Nos relatos do fonoaudiólogo, constam histórias de professores que acham que são os médicos que devem resolver “os problemas de quem tem distúrbio”, pois acreditam que “ser professor é apenas entrar na sala de aula e cumprir o conteúdo programático”. O especialista admite que a tendência é que uma pessoa com dislexia tenha dificuldade “pelo resto da vida”, mas a obrigação do educador é que esses obstáculos sejam menos limitantes. “Querendo ou não, o aluno acaba aprendendo com um pouco mais de rapidez, mas é preciso acreditar mais no trabalho que realiza”, ressalta.

Zorzi publicou diversas obras sobre o tema e diz que o número de pesquisas sobre o assunto vem crescendo no Brasil, destacando as teses desenvolvidas nas universidades estaduais de Campinas (Unicamp) e Paulista (Unesp), campus de Marília.

(Assessoria de Imprensa da Seed)