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JORNAL

Uma escola antenada

Professora de informática educativa da Escola Municipal Profa. Maria Antonieta Basto, SP (SP)

Com bom resultado no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, o Ideb, a Escola Municipal Maria Antonieta D'Alkimin Basto, em São Paulo, prova que a combinação entre a participação da comunidade e criatividade dos professores pode produzir bons resultados mesmo em ambientes adversos.

 

O cenário não poderia ser mais contrastante: encravada entre um sofisticado edifício de escritórios, a Favela do Coliseu chama a atenção de quem visita a Vila Olímpia, bairro nobre da zona sul de São Paulo (SP), por sua resistência frente ao crescimento urbano da região.

Assentada há 47 anos no local, a favela contabiliza cerca de 270 barracos onde vivem em torno de 1200 pessoas - um quarto delas, crianças. Localizada num terreno particular de aproximadamente 7 mil metros quadrados, a favela convive com a ameaça constante de remoção. Cena costumeira nas comunidades carentes dos grandes centros urbanos, a falta de pavimentação e estrutura adequada de saneamento básico obrigam a comunidade a conviver com ruas esburacadas e esgoto a céu aberto. Apesar disso, os moradores preferem continuar no local por conta do endereço privilegiado - que, entre outras vantagens, facilita o acesso ao trabalho.

A precária condição social da região, entretanto, não impediu que saísse dali uma das melhores escolas públicas de São Paulo. Situada a poucas quadras da Favela do Coliseu, a Escola Municipal Professora Maria Antonieta D'Alkimin Basto, que atende a cerca de metade das crianças da comunidade, ficou com o primeiro lugar entre as escolas municipais da capital paulista na última avaliação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, o Ideb. Uma conquista que deve muito à mobilização da comunidade e a iniciativas inovadoras dos professores daquela unidade de ensino.

Iniciativas como a da professora de informática educativa Paula Augusta Detti, de 26 anos. Profissional da rede municipal de educação há 5 anos, a educadora chegou à Maria Antonieta D'Alkimin no final do ano passado. De lá pra cá, já foi responsável por uma pequena revolução na aprendizagem dos alunos da unidade, fazendo uso de uma matéria-prima que a escola já possuía mas não utilizava.

“Assim que cheguei, percebi que a escola contava com equipamentos de rádio amador que estavam abandonados”, conta a professora. “Decidi então sondar os alunos pra ver se eles teriam interesse em trabalhar com aquele material. Como a comunidade se interessou e o retorno deles também foi positivo, demos início ao projeto em maio”.

O projeto ao qual a professora se refere é o Educomunicação nas Ondas do Rádio, uma iniciativa executada em parceria com o Núcleo de Comunicação e Educação da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). O objetivo é capacitar profissionais da educação e membros da comunidade escolar para explorar as possibilidades de utilização do rádio como instrumento para a promoção da cidadania e a melhoria do ensino.

“A gente ensina os alunos a utilizar programas de edição de áudio e a escrever roteiros. A idéia é que eles sejam capazes de produzir peças de rádio com autonomia. Eles são os protagonistas”, explica a educadora. Do começo ao fim, o processo é acompanhado pelos professores da escola: “O aluno que se interessa mais em escrever os roteiros, por exemplo, recebe um acompanhamento especial do professor de português, que orienta a produção do texto”.

A professora garante: desde que começaram a participar da empreitada, os alunos cresceram consideravelmente em termos de aprendizado e auto-estima. “O projeto permite que eles descubram suas aptidões. Vários professores relatam que o rendimento melhorou”, conta. Filha de um zelador de condomínio e de uma diarista que vivem na Favela do Coliseu, a estudante Brenda Vicente, de 11 anos, que cursa a quinta série na escola, aprovou a novidade: “É muito legal, a gente aprende muita coisa interessante. Fico mais animada pra ir pra escola”, conta a aluna.

A princípio, os alunos estão produzindo programetes experimentais com o objetivo de criar intimidade com as ferramentas. Mas a perspectiva é avançar. “A idéia é que, a partir do ano que vem, eles produzam uma programação efetiva que seja transmitida pelo sistema de rádio interno da escola”, adianta a professora Paula Detti.

 

Em entrevista ao Jornal do Professor, a diretora da Escola Municipal Professora Maria Antonieta D'Alkimin Basto, Isabel Mangabeira, conta como a unidade de ensino conseguiu obter bom resultado no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, o Ideb.

 

Jornal do Professor - A que a senhora credita esse resultado?

Isabel Mangabeira – Acredito que o nosso bom desempenho não se deve a nenhum fator isolado, mas a um conjunto. A participação da comunidade dentro da escola, que cresceu bastante nos últimos anos, teve um peso muito importante, assim como a motivação dos professores e o apoio de empresários da região. O fato de que somos a única escola pública da Vila Olímpia, um bairro que concentra diversas escolas particulares de tradição, também colabora.

Jornal do Professor – A EMEF Professora Maria Antonieta D'Alkimin também possui uma boa tradição de ensino, não? Há quantos anos a escola existe?

Isabel Mangabeira – Sim. A escola foi criada em 1958. Com o nome atual, ela existe desde 1971. Por muitos anos, foi uma das melhores escolas da capital e atendia inclusive filhos de famílias privilegiadas, porque a qualidade de ensino era bastante prestigiada. Sabemos que a escola pública de maneira geral acabou perdendo ao longo dos anos esse prestígio que detinha, mas no nosso caso, apesar disso, o nome da escola ficou associado a um certo padrão de qualidade. Isso faz com que os pais dos alunos nos vejam como uma boa escola e passem isso para seus filhos, que possuem uma certa auto-estima por estudar aqui. Acredito que isso se reflete na dedicação deles aos estudos.

Jornal do ProfessorQuantos alunos são atendidos pela escola hoje e qual é a procedência deles?

Isabel Mangabeira – Atendemos hoje cerca de mil alunos originários principalmente de comunidades circunvizinhas de baixa renda como a Favela do Coliseu, que fica a cerca de 2 km da escola, e a de Paraisópolis, situada a 10 km daqui. Mas grande parte dos nossos alunos é formada também por filhos de trabalhadores que moram longe mas trabalham próximo à escola e por esta razão preferem que eles estudem aqui.