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JORNAL
Edição 102 - Dificuldades de Aprendizagem
11/07/2014
 
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Luciana Barros de Almeida (ABPp): “Dificuldades de aprendizagem atingem cerca de 5% da população escolar”


A presidente nacional da Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp) e conselheira vitalícia da ABPp Goiás, Luciana Barros de Almeida, revela que as dificuldades de aprendizagem, que provocam frustração em pais, professores e principalmente estudantes, atingem cerca de 5% da população escolar atual.

“Em grande parte dos casos há pequenas dificuldades que passam despercebidas em casa, mas com a inserção da criança na escola causam um impacto no desempenho da criança”, ressalta. De acordo com Luciana, cabe ao psicopedagogo investigar quais são os obstáculos que impedem a aprendizagem. Graduada em pedagogia, ela tem cursos de especialização em psicopedagogia e em psicopedagogia clínica.

Jornal do Professor O que são dificuldades de aprendizagem e quais as principais?

Luciana Barros de Almeida – As dificuldades de aprendizagem são caracterizadas principalmente pela discrepância entre o que a criança deveria ser capaz de fazer e o que ela realmente consegue fazer, o que é comum na dificuldade de aprendizagem é o baixo desempenho escolar. As principais dificuldades de aprendizagem podem afetar a percepção visual, a linguagem, a coordenação motora, o raciocínio lógico, a capacidade de atenção, imaturidade social. Em grande parte dos casos há pequenas dificuldades que passam despercebidas em casa, mas com a inserção da criança na escola causam um impacto no desempenho da criança.

De que forma um professor pode identificar que um aluno apresenta uma dificuldade de aprendizagem?

– Atualmente as dificuldades de aprendizagem atingem cerca de 5% da população escolar, costumeiramente frustram pais e professores, mas a maior frustração é sentida pelos próprios estudantes. As dificuldades de aprendizagem exigem um cuidado minucioso, já que nem sempre são fáceis de serem identificadas. Na maioria das vezes, elas são sutis e muitas crianças com dificuldades de aprendizagem têm inteligência normal.

O professor precisa ter discernimento entre uma dificuldade de aprendizagem natural e uma dificuldade de aprendizagem recorrente. Todo novo conhecimento, por sua natureza, gera uma transitoriedade entre o aprender e o não-aprender, isto é, um novo conteúdo ensinado nem sempre será instantaneamente aprendido. Há um tempo necessário para que ele seja devidamente assimilado e na medida em que ocorre a assimilação, posteriormente vem a acomodação, que é quando a aprendizagem é consolidada, isto é, a criança se apropria, torna seu o conhecimento que vem à partir do outro (na maioria das situações, via professor). Portanto, o professor precisa dar um tempo para que aluno possa mostrar o que foi possível aprender.

Algumas vezes, os alunos não conseguem aprender devido a situações de conflito ou violência vivenciadas em casa, na escola ou na comunidade. É possível discernir o que está ocorrendo realmente?

– A aprendizagem se dá por vínculos entre quem ensina e quem aprende e este vínculo designa o investimento de ambos sobre o objeto de conhecimento, portanto entendemos que a aprendizagem é primariamente afetiva e posteriormente cognitiva. Então, se a criança tem originariamente um conflito afetivo, ela fica impedida de estabelecer conexões cognitivas.

Para discernir a origem da dificuldade de aprendizagem há que se observar as atitudes da criança. Quando sinaliza problemas de ordem emocional, a criança geralmente age de modo disperso, alheia às atividades propostas, apática, isolada do grupo e com dificuldades de envolver-se com a tarefa. Já na dificuldade de aprendizagem, o prejuízo é na execução da atividade, mas há envolvimento e esforço do estudante em realizar a atividade.

As escolas estão preparadas para ajudar os estudantes que apresentam dificuldades de aprendizagem?

– Mais que estar preparada para ajudar quem apresenta dificuldades de aprendizagem é preciso querer ajudar. Percebe-se que à cada dia temos encontrado ensinantes dispostos a entender o que está acontecendo e disponíveis para solucionar as dificuldades apresentadas.

Estar preparada é uma expressão complexa e dificilmente se alcança quando não se acredita ser capaz de fazer o que precisa ser feito. Portanto, acredita-se que nos preparamos na medida em que enfrentamos as situações que surgem, buscando, claro, a teoria que nos possibilita a compreensão e simultaneamente a ação que nos leva à efetiva ação.

Qual o papel dos psicopedagogos no atendimento a estudantes que apresentam essas dificuldades?

– O psicopedagogo não tem o papel de ensinar senão o de criar espaços objetivos e subjetivos onde seja possível aprender. Cabe ao psicopedagogo investigar quais são os obstáculos que impedem a aprendizagem. Uma vez identificados estes obstáculos, reconstruir a trajetória de aprendizagem onde seja possível estabelecer conexão com a própria capacidade de aprender, proporcionando ao estudante situações onde haja interação entre sujeito e objeto de conhecimento, criando estratégias onde a qualidade de aprendizagem esteja assegurada gradualmente.

De que forma os professores podem ajudar, uma vez que nem todas as escolas dispõem de psicopedagogos?

– O que propomos não é a presença constante de um psicopedagogo em cada escola, pois sabemos que essa ação não garante a aprendizagem, já que na escola a função do psicopedagogo é oferecer suporte, principalmente aos docentes. Na instituição, o psicopedagogo lida com o grupo, com situações de aprendizagem no coletivo. Desta forma, o professor pode favorecer a aprendizagem observando o interesse do estudante pelo conhecimento, o envolvimento com a tarefa e as elaborações que devem ir se processando gradualmente. O professor deve observar se o aluno consegue fazer associações daquilo que foi ensinado com situações cotidianas de sua vida. E, quando perceber que há fatores intervenientes que dificultam o processo ensino-aprendizagem, deve usar outras estratégias de ensino, atividades diferenciadas. Caso não haja êxito, deve solicitar apoio escolar que pode ser por meio de aulas de revisão de conteúdo ou acompanhamento individualizado. Se esgotadas as possibilidades dentro do ambiente escolar, pode fazer encaminhamento para avaliação psicopedagógica, se for o caso.

A Associação Brasileira de Psicopedagogia promove cursos ou seminários voltados a professores?

– A ABPp tem, dentre suas funções, a de promover a formação continuada na área da educação e realiza, anualmente, um evento na cidade de São Paulo, onde se reúnem cerca de 800 profissionais da área para a discussão de temas de relevância na área. Além disso, esta formação ocorre também por meio das Seções e Núcleos da ABPp existentes em 18 cidades brasileiras distribuídas pelo território nacional. Nesse ano, de 26 a 28 de setembro acontecerá o III Simpósio Nacional de Psicopedagogia da ABPp, cujo tema será "Psicopedagogia: novos tempos... novos cenários". Serão discutidos temas como ética, neurociências, inclusão, transtornos invasivos do desenvolvimento, altas habilidades e superdotação, formação profissional do psicopedagogo, onde o objetivo primordial é o aprimoramento da atuação psicopedagógica a fim de melhorar a qualidade da educação em nosso país.

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