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JORNAL
Edição 121 - Inovação e Criatividade na Escola
11/01/2016
 
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Helena Singer (MEC): “A escola pode inovar em todos os seus aspectos”

"É preciso apontar caminhos de como reorganizar a estrutura escolar", diz Helena Singer

Autor: João Neto-MEC


As mudanças trazidas pelas tecnologias da informação nas últimas décadas exigem práticas inovadoras e criativas nas escolas brasileiras. Atento às novas necessidades para uma educação de qualidade no século 21, o Ministério da Educação lançou chamada pública para conhecer iniciativas bem-sucedidas Brasil afora. Um mapa traz 178 práticas inovadoras e criativas, selecionadas com base em cinco dimensões: gestão, currículo, ambiente, metodologia de ensino e intersetorialidade.

Nesta entrevista ao Jornal do Professor, a socióloga, com doutorado pela Universidade de São Paulo, Helena Singer, coordenadora do Programa de Estímulo à Criatividade na Educação Básica, instituído em 2015, explica que conhecer essas iniciativas criativas e inovadoras é o passo inicial para embasar políticas públicas para uma educação básica de maior qualidade e reinventar uma escola próxima à realidade dos alunos da era digital.

“A escola pode inovar em todos os seus aspectos e é isso que estamos buscando com essa iniciativa do MEC”, ressalta. (Rovênia Amorim).

Jornal do ProfessorO que é a iniciativa para Inovação e Criatividade na Educação Básica do Ministério da Educação?

Helena Singer — Essa iniciativa tem por objetivo mapear o que está acontecendo no campo da educação básica — entre escolas e instituições que se dedicam ao público da educação básica, que são as crianças, adolescentes, jovens e mesmo o público que não frequentou a escola na idade certa — de mais inovador e que já esteja dialogando com os desafios do século 21 e com as diversas possibilidades no campo da comunicação, no processamento das informações. Há um diagnóstico de que muita coisa mudou no mundo, mas o modelo escolar continua basicamente o mesmo. Isso afeta também a qualidade da educação. Então, é preciso apontar caminhos de como reorganizar a estrutura escolar no sentido novo. Isso vai impactar positivamente na qualidade da educação.

Como a escola inova no século 21?

— Ela pode inovar em todas as suas dimensões. Por exemplo, na organização do espaço. Normalmente, temos nas escolas uma organização estruturada em cima de salas de aulas, corredores. Dentro das salas de aula, temos as carteiras enfileiradas de frente para a lousa. A inovação não é colocar computadores em cima das carteiras e substituir a lousa por uma digital, mas reorganizar esse espaço escolar de maneira que possibilite mais a troca entre os estudantes do que a posição mais passiva de estar na carteira ouvindo o que o professor está expondo. Porque a mudança no mundo das informações, da internet, possibilita que o estudante navegue pelo conhecimento, faça suas pesquisas com base em seus interesses. Isso muda também a relação dele com o professor. O professor tem mais que orientar o processo de pesquisa do que estar expondo um conhecimento, um conteúdo específico o tempo todo.

Então, a disposição da sala de aula nova já propõe maior troca entre os estudantes e o auxílio do professor, circulando entre eles. Também podem existir estruturas escolares que nem precisem de salas de aula. Podem ser baseadas em espaços de produção de conhecimento mais diversos, como laboratórios, bibliotecas, salas de leitura. Enfim, outro jeito de organizar. A gestão da escola também pode ser nova. Temos uma estrutura baseada na concentração das decisões em cima da equipe gestora, da direção da escola. E já há leis, todos os documentos orientadores, que preconizam a gestão democrática, mas isso é mais difícil de organizar. E uma estrutura nova, na qual os estudantes possam ter voz na decisão sobre os projetos que a escola vai desenvolver, até como utilizar os recursos, como organizar os espaços, envolver os pais, também... A escola pode inovar também no currículo, que não precisa ser baseado apenas em componentes curriculares e de uma forma seriada. Pode organizar os estudantes de uma outra forma, por grupos de interesse. Pode desenvolver projetos que vão dialogar com o que está previsto nas diretrizes curriculares, mas também no contexto daquela escola, onde ela está; fazer pesquisas sobre esse contexto; descobrir quais são os desafios e as potências daquele lugar. Ou seja, a escola envolver o território onde ela está e envolver os estudantes e os professores nessas pesquisas. Enfim, a escola pode inovar em todos os seus aspectos. É isso que estamos buscando com essa iniciativa do MEC.

Os projetos que chegaram ao MEC mostram que os professores e os gestores estão entendendo essa proposta e que estão conseguindo inovar?

— Sim. Recebemos 683 inscrições, de quase todos os estados, que mostram muita riqueza. Para se inscrever, a instituição tinha de comprovar que, se já não chegou ao resultado final, tem um bom plano de resultado, ainda que não esteja dando resultados completos. Não adianta ser novo, ser criativo e não ter resultados.

Quando surgiu a ideia dessa iniciativa no MEC e quais são as dimensões contempladas?

— Já faz dois anos que o Ministério da Educação tem sido demandado por instituições civis da sociedade, por escolas, para olhar para esse movimento de renovação, de transformação da estrutura escolar. Com base nisso, criou-se essa iniciativa, no início de 2015, que veio atender a essa demanda, promovendo uma reflexão sobre a inovação e a criatividade nas cinco dimensões da educação. Esse processo de revisão da estrutura escolar ocorre em cinco dimensões: I) em cima do ambiente escolar; II) como se organiza o currículo dessa instituição; III) como se propõem metodologias que tenham o estudante como protagonista, ou seja, esse estudante que está navegando na internet, que está produzindo conhecimento, que está fazendo filme no celular, que está o tempo todo em rede social, manifestando as suas opiniões, compartilhando as coisas que descobre: como se traz isso para o ambiente da escola; IV) na relação com a comunidade, com as famílias, com o contexto em que a escola está, ou seja, a escola que faz do contexto tema para o seu currículo, que envolve estudantes e professores nessa pesquisa; V) a escola, a instituição educativa que articula a rede de direitos, ou seja, que garanta os direitos fundamentais da criança, dos adolescentes e dos jovens, com a percepção de que o direito de aprender é indissociável dos demais.

Criança nenhuma vai aprender se não estiver com a saúde garantida, se não sentir o ambiente saudável, seguro. A escola, sozinha, não é capaz de garantir tudo isso. Ela precisa de uma articulação com outros agentes, equipamentos públicos, instituições comunitárias que atendem a essa mesma população para garantir um plano comum que vá, mesmo, assegurar os direitos das crianças, adolescentes e jovens.

A chamada pública do MEC abarca inovações de todas as escolas, públicas e particulares?

— Exatamente. Essa chamada foi aberta para escolas públicas e privadas e também para instituições educativas não escolares porque podem inovar em uma dessas dimensões já citadas, e isso pode ser inspirador para as escolas. Porque, às vezes, essas instituições têm mais liberdade de inovar e já encontraram caminhos que podem inspirar outras escolas ou mesmo as secretarias de educação a formular propostas de um novo sentido.

Quantas inscrições foram realizadas e quantas selecionadas?

O site recebeu quase 3,9 mil visitas. Pessoas que entraram e começaram a se cadastrar e não preencheram até o final o formulário, provavelmente porque perceberam que essa chamada era para um segmento específico, que são as instituições que atendem diretamente a crianças, adolescentes e jovens. Não é ainda para instituições que fazem formação de professores ou que desenvolvem metodologias e tecnologias sociais. Há muita produção nessa área, que é interessante. Pretendemos, no futuro, lançar chamadas para isso. Mas 683 delas preencheram completamente o formulário. São instituições mais próximas dos critérios definidos. Temos oito grupos de trabalho regionais que dão conta de todos os estados, com especialistas nesse campo da inovação na educação básica. São professores de universidades, de secretarias de educação e de cultura, organizações da sociedade civil e das próprias escolas que já tenham regionalmente trabalhos reconhecidos como inovação. No total, são 104 lideranças no campo da educação inovadora e criativa que ajudaram a formular os critérios para a seleção. Foram, então, os avaliadores dessas inscrições e selecionaram 178 instituições, que dão uma abrangência muito boa de como está acontecendo a inovação, nas diversas regiões do Brasil, da educação infantil e fundamental, do ensino médio e da educação de jovens e adultos. Instituições escolares e não escolares, escolas indígenas, escolas quilombolas, escolas do campo e escolas urbanas. Enfim, temos um mapa muito interessante, que dá para inspirar escolas e secretarias de educação nos mais diversos contextos de educação no Brasil.

Nesse apanhado, alguma região se destacou na inscrição de iniciativas inovadoras e criativas?

— Existe uma questão que é numérica mesmo. É esperado que os estados mais populosos tenham mais de tudo. Mais quantidade de gente, mais quantidade de instituições. Tivemos um número maior de inscrições nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, como também é desses estados o maior número de instituições reconhecidas. Mas temos praticamente exemplos de todas as unidades federativas, com números menores, mas proporcionais ao tamanho da população e ao número de instituições.

Essa iniciativa não premia, mas mesmo assim houve interesse das escolas em participar e revelar as iniciativas de inovação e criatividade. O que o MEC pretende fazer com essas iniciativas bem-sucedidas?

— As instituições tiveram interesse que essas iniciativas fossem conhecidas pelo Brasil todo. Foram chanceladas pelo MEC como instituições que devem inspirar a educação básica no Brasil. Então, lançamos um mapa, na internet, que permite à pessoa levantar todos os estados, municípios, instituições públicas e privadas, fazer a pesquisa que quiser. Depois disso, pretendemos fazer programas na TV Escola sobre essas instituições. Serão programas de debate com os integrantes dos trabalhos regionais sobre esses aspectos todos. Enfim, queremos fomentar o debate sobre a mudança que se espera e que se deseja para a instituição escolar para que ela atenda mais aos anseios do século 21. Então, a agenda para os próximos meses é de debate e divulgação.

Essa iniciativa deve virar uma rotina no MEC, com novas chamadas públicas?

— Estamos pensando em algumas possibilidades e em tornar essa chamada pública até permanente. Como ela não premia, poderíamos ter atualização do mapa e também fazer chamada pública para outros tipos de instituições que tentaram se inscrever — vimos que há uma demanda e que algumas não se adequaram ao perfil dessa primeira chamada. Então, poderíamos ter chamadas públicas para universidades; para instituições de educação superior que fazem formação de professores sob a perspectiva inovadora; para secretarias de educação municipais e estaduais que tenham programas que fomentem a inovação na educação básica. E, a partir daí, desenhar orientações para a política pública, como o tipo de formação de professores poderia ser mais fortalecido; ajudar as secretarias de educação a apoiar as escolas inovadoras — às vezes, as secretarias nem sabem que há uma escola inovadora em sua rede. Ao saber, podem querer apoiar, e o Ministério da Educação poderia ajudar, criando diretrizes de apoio à inovação para que ela se sustente e se consolide.

É uma nova forma de fazer política pública para a educação...

— Na verdade, isso está no escopo dessa iniciativa, de que essa política pública também deva ter um formato inovador. Normalmente, a política pública é feita a partir de programas desenhados nas secretarias ou no próprio Ministério da Educação. E as escolas ou secretarias fazem a adesão ao programa desenhado. Essa política inovadora tem um formato diferente porque, antes, estamos mapeando, entendendo o que as instituições já fazem, o que estão fazendo e o que está dando certo e o que precisam para, a partir daí, desenhar os programas capazes de fortalecê-las. Queremos fortalecer uma imensa rede no Brasil pela melhoria da educação, entrando agora nos aspectos pedagógicos. Ou seja, como podemos organizar o ambiente, encontrar metodologias que garantam a aprendizagem e articular a escola com a comunidade de forma a tornar o currículo mais significativo.

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