Portal do Governo Brasileiro
Início do Conteúdo
DIARIO
Edición 11 - Avaliação
17/12/2008
 
o
NOTICIAS
 

Professor defende uso da nota apenas como indicativo

Autor: Arquivo pessoal


O pedagogo Celso dos Santos Vasconcellos é doutor em educação pela Universidade de São Paulo (USP), mestre em história e filosofia da educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Tem vários artigos publicados em revistas especializadas de educação e é autor de diversos livros.

Em entrevista ao Jornal do Professor, Celso Vasconcellos diz que as escolas devem estar preparadas para trabalhar com todas as crianças que chegam.

 

JP – Como o senhor definiria o conceito de avaliação?

CV – Avaliação é um juízo de qualidade/valor, sobre dados significativos da realidade, visando a tomada de consciência de seus atributos (positivos, negativos ou potenciais), e a ação para seu aperfeiçoamento, se necessário ou desejável. No sentido antropológico, portanto, para além das práticas escolares, a avaliação é uma necessidade humana porque, no processo de produção da existência (já que o ser humano não nasce pronto, nem programado), ao agir podemos acertar ou errar (nada garante o acerto ou o erro a priori), além da aspiração que todo ser humano tem de ser mais, de se tornar cada dia uma pessoa melhor. Assim, a avaliação ajuda a pessoa a:

a) Tomar consciência de seus acertos, o que fortalece sua auto-estima, amplia e consolida sua visão de mundo, amplia seu leque de estratégias de ação, e prepara novas aprendizagens (ajuda a criar zona de desenvolvimento proximal);

b) Tomar consciência de seus limites ou erros, o que possibilita a revisão das práticas, procedimentos e atitudes, a fim de superá-los;

c) Perceber suas potencialidades, o emergente, o novo, o que fortalece seu processo de crescimento, sua vocação ontológica de ser mais, portanto, quando já não há comparação com um referencial externo (como no caso do acerto ou erro), mas a si mesma.

JP – Que significa a intencionalidade da avaliação?

CV – A intencionalidade corresponde basicamente à resposta da questão: avaliar para quê? Afinal de contas, para que avaliamos: para qualificar ou para excluir. Para que não fique só na base da “boa intenção”, faço um pequeno jogo de palavras: Intencionalidade = Intenção se tornando Realidade, isto é, não estamos nos referindo a intenções genéricas, mas a compromissos com a efetiva aprendizagem por parte de todos.

O conceito que apresentei na primeira pergunta é relativamente simples. O problema é o pré-conceito historicamente inculcado, a concepção enraizada de avaliar para classificar e excluir. Isto é facilmente percebido no diálogo com alguns professores: concordam plenamente com a visão da avaliação como mediação para o crescimento do educando. Quando perguntamos se, então, já superaram a lógica da aprovação/reprovação, há um susto, como se estivéssemos falando de algo totalmente novo e não uma simples, porém radical (radical é o que vai à raiz), decorrência do conceito que inicialmente estavam todos de acordo.

JP – De que maneira as notas devem ser consideradas na avaliação de um aluno?

CV – A nota é uma forma de registro da avaliação, um sinal, um indicador da aprendizagem do aluno num determinado momento de sua trajetória, e deve ser entendida como tal, ou seja, não como algo estático, definitivo.

JP – Quais metodologias estão sendo utilizadas atualmente para fazer a avaliação da aprendizagem? Quais são as mais inovadoras?

CV – Há muitas iniciativas boas, isto é, como forma de qualificar, de ajudar a crescer, e não de classificar e excluir: ao longo do processo e não em momentos estanques; compromisso com aprendizagem mínima necessária e não com a “média” (o desafio do professor não é gerar nota e sim aprendizagem); atendimento logo no começo: “parar” (retomada, revisão, redirecionamento, re-enfoque, re-elaboração, reforço, reflexão, replanejamento, retrabalho, reconstrução, transformação, mudança, alteração do ritmo/ abordagem); atividades avaliativas que levem a refletir, a estabelecer relações (funções psicológicas superiores); não “fossilização”: anulação de resultados superados; auto-avaliação do aluno (metacognição) sem valer nota para não distorcer seu sentido; uso de portfólios para acompanhamento e registro; avaliação sócio-afetiva sem vinculação com aprovação/reprovação; assembléias de classe para refletir aberta e sistematicamente sobre os problemas surgidos. No livro Avaliação da Aprendizagem: Práticas de Mudança apresento mais de 300 práticas que educadores brasileiros vêm desenvolvendo na busca de uma avaliação a serviço da qualidade social da escola. Uma que destaco é a interação com o trabalho do aluno até que chegue a um nível satisfatório; vamos sinalizando os problemas e devolvendo para o aluno re-elaborar, só atribuindo conceito ou nota no final.

JP – Como os professores podem expor os resultados da avaliação aos alunos?

CV – Numa relação de proximidade, de intimidade e mesmo de cumplicidade. Com muito cuidado, para não expor o aluno, para preservar sua (auto) imagem. Com muita clareza sobre os pontos fortes (para o fortalecimento da auto-estima) e problematizando o que podem fazer, professor e aluno, para alcançar aqueles objetivos que ainda não atingiram (aluno e professor).

JP – A avaliação feita em conjunto com toda a comunidade escolar é benéfica?

CV – Em princípio, sim. Depende, antes de tudo, da intencionalidade. Se é para fazer crescer, excelente, pois, em função da participação dos vários setores, podemos ter uma visão muito mais ampla, além do envolvimento da comunidade na busca de superação dos problemas percebidos. Esta avaliação tem um lugar privilegiado no Projeto Político-Pedagógico: o momento do Diagnóstico.

ENCUESTA

Ajude-nos a escolher o tema da próxima edição do Jornal do Professor. É só clicar em uma das opções abaixo!

Fim do Conteúdo
INFORMAR ERRORES
¿Encontraste algún error? Descríbelo aquí y colabora para que las informaciones del Portal estén siempre correctas.
CONTACTO
Deja tu mensaje al Portal. Dudas, críticas y sugerencias siempre son bienvenidas.