Portal do Governo Brasileiro
Início do Conteúdo
DIARIO
Edición 105 - Especial Dia do Professor-2014
01/10/2014
 
o
NOTICIAS
 

Caren Bühler (Ulbra): “Sempre acreditei na importância e na essencialidade do professor”

"Os professores não devem se omitir frente à responsabilidade com o aluno", diz Caren

Autor: Arquivo pessoal


O bom professor pode fazer um bom trabalho, mesmo que as condições estruturais e logísticas não sejam as melhores. Quem garante é Caren Bühler, professora no curso de pedagogia da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) e coordenadora pedagógica no Colégio Sinodal, de São Leopoldo (RS). Ela afirma que as dificuldades devem ser consideradas como desafios. Portanto, os professores não devem se omitir frente à responsabilidade com o aluno.

Interessada em divulgar a existência de bons professores na rede pública de ensino, ela fez pesquisa em seis escolas da rede municipal de um município gaúcho durante o curso de doutorado em educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Sua tese, Bons Professores que fazem a Diferença na Vida do Aluno: Saberes e Práticas que Caracterizam sua Liderança, resultou no livro O Bom Professor: Referenciais que o Constituem, lançado em 2013.

Caren tem graduação em pedagogia e mestrado em educação.

Jornal do ProfessorO que a levou a escolher esse assunto para uma tese de doutorado?

Caren Bühler – Ao decidir fazer o doutorado, tive como pressuposto, que o trabalho deveria representar uma oportunidade de reflexão sobre minhas convicções pedagógicas em relação ao magistério, articuladas com a vivência docente ao longo dos anos. Consequentemente, era necessário compartilhá-las com os demais professores. Sempre acreditei na importância e na essencialidade do professor. Tive o privilégio de conviver com muitos professores maravilhosos, que tinham os mesmos ideais, pautados no discurso da possibilidade. Ou seja, o professor preparado teoricamente, amando sua profissão e seus alunos, jamais dirá: “É impossível fazer um bom trabalho”. Ele dirá: “Não se pode desistir, vamos em busca de todas as possibilidades”.

As questões iniciais eram:

• Por que, em contextos educacionais considerados precários, pedagógica e administrativamente (passado e presente), sempre temos encontrado bons professores que fazem a diferença em seu local de atuação e, consequentemente, na vida dos alunos, levando-os a querer aprender?

• Quem são esses bons professores?

• Quais os saberes que fundamentam sua prática?

• Que prática é essa?

• Como eles se constituíram enquanto bons professores?

Sendo assim, o grande objetivo foi teorizar sobre meus pressupostos de bom professor e, conduzida pelas questões apresentadas, analisar suas concepções e práticas. Decidi realizar a pesquisa na rede pública para romper com a afirmativa que seguidamente ouço no meio profissional: bom trabalho, somente na rede particular porque há condições físicas e materiais para tal. Quis socializar a existência dos bons professores nesse contexto, pois enquanto orientadora de estágio do curso de pedagogia, me encantava encontrá-los vivos e atuantes, apesar das visíveis dificuldades das escolas. Escolas que evidenciavam paradigmas discursivos sustentadas na afirmativa de que a educação vai mal e não tem mais solução. Foi muito importante a definição pela rede pública de ensino, uma vez que existe, muito fortemente, a ideia de que o bom ensino e os bons professores são exclusividade do sistema particular.

Quantas escolas e professores participaram de seu trabalho?

– A pesquisa foi realizada em seis escolas da rede municipal de ensino de uma cidade do Rio Grande do Sul. Foram entrevistadas as supervisoras pedagógicas dessas escolas, bem como os professores por elas indicados, como profissionais que se destacavam por fazer bom trabalho. Inicialmente, agendávamos uma entrevista com a supervisão, na qual questionávamos:

a) há bons professores na sua escola?

b) quantos?

c) por que são considerados bons professores?

Na sequência, entrevistamos os professores indicados, dirigindo a discussão em forma de autoavaliação para identificar os referenciais de bom professor, os quais eram observados nas aulas que ministravam. Dessa forma, nas entrevistas e observações de aula, foi envolvido um universo de 30 pessoas. Optamos por um número menor de escolas para que pudéssemos nos aprofundar teoricamente nos dados empíricos coletados em cada uma delas.

Qual a principal conclusão, com essa tese? Quais as qualidades (ou características) apresentadas pelos bons professores?

– Os dados da revisão de literatura resultaram em três referenciais principais nas práticas docentes:

a) valorização do relacionamento com o aluno;

b) dialética entre a objetividade e a subjetividade: comprometimento com os conteúdos curriculares, bem como com as condições de aprendizagem dos alunos;

c) processo de estar em formação constante (autoformação) que amplia a consciência espiritual e social do professor, visando à emancipação humana.

Esses referenciais, mediados com os dados empíricos, resultaram em três categorias:

a) conhecimento teórico-prático;

b) prática docente inovadora e motivadora;

c) metodologia inclusiva, norteada pelo afeto e pela firmeza.

O conjunto dessas categorias se revela mediante o exercício de liderança do professor, que na busca do crescimento do aluno considera dois pressupostos básicos: a valorização das potencialidades e do conhecimento do aluno e o desafio constante em levá-lo a superar as possíveis dificuldades, ao exigir dele o comprometimento necessário para uma boa atuação discente. Para tudo isso é muito importante que o professor tenha amplo conhecimento teórico em sua área de atuação, mas também que desenvolva a humanidade, que seja humilde para reconhecer a necessidade constante de autoavaliação e que aprenda permanentemente.

Os bons professores têm características que nascem com eles ou essas características podem ser assimiladas por todos que queiram?

– Os estudos mostram que nem sempre o bom professor inicia as atividades profissionais com esse perfil. Se ele revelar, no entanto, uma postura profissional caracterizada pela intenção docente em não se submeter ao discurso da impossibilidade, mas sim de reagir, pode romper com a superficialidade educacional presente em muitos contextos escolares e fazer um bom trabalho, mesmo que as condições estruturais e logísticas não sejam as melhores. É necessário que ele tenha compromisso com os objetivos educacionais e que valorize, em sua realidade diária, o saber ouvir, o poder falar e, principalmente, o dever falar. A realidade mostra que há professores que não deveriam ser professores, pois vão pelo caminho mais fácil, conduzido pelo discurso da impossibilidade. Não devemos aceitar a cristalização das dificuldades, mas participar ativamente dos espaços de discussão para contribuir com as tão necessárias melhorias na educação. Essas dificuldades não devem representar a omissão do professor frente à responsabilidade com o aluno. Devem ser consideradas desafios.

De alguma maneira, em seu trabalho, são aplicadas as descobertas feitas a partir dessa tese? Pode explicar?

– As atividades profissionais me oferecem a oportunidade de aplicar o tempo todo os resultados desses estudos, uma vez que atuo em duas funções essenciais no campo da educação. Como professora, no curso de pedagogia, em disciplinas que contribuem com a formação do professor; como coordenadora pedagógica, no ensino fundamental, anos iniciais. Nessas funções, refletimos com os futuros professores (universidade) e com os professores atuais (escola) sobre a importância de uma prática docente comprometida e sustentada nos referenciais e categorias antes citados, buscando sempre o entendimento de que o professor é muito importante e precisa se fortalecer em meio a um contexto educativo tão fragilizado e permeado de desafios internos e externos à escola, tais como o descrédito social em relação à profissão de professor; a falta de valores familiares, que acarreta a indisciplina e o desrespeito dos alunos para com os professores; a falta de confiança de um grande número de pais na proposta pedagógica da escola. A tese, para mim, representa um norte para meu trabalho. Tenho certeza de que o compartilhamento dela com meus colegas e alunos tem representado um auxílio muito grande na retomada da valorização da nossa nobre profissão: ser professor.

ENCUESTA

Ajude-nos a escolher o tema da próxima edição do Jornal do Professor. É só clicar em uma das opções abaixo!

Fim do Conteúdo
INFORMAR ERRORES
¿Encontraste algún error? Descríbelo aquí y colabora para que las informaciones del Portal estén siempre correctas.
CONTACTO
Deja tu mensaje al Portal. Dudas, críticas y sugerencias siempre son bienvenidas.