Oswaldo Bueno
Modalidade / Nível de Ensino | Componente Curricular | Tema |
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Ensino M?dio | Sociologia | Cultura e diversidade cultural |
- Assimilar a ideia de diversidade cultural como algo constitutivo das sociedades humanas;
- Refletir sobre o respeito à diferença, através dos conceitos de relativismo e etnocentrismo;
- Refletir sobre nossa cultura;
A partir da leitura, discussão de textos e filmes, do estranhamento, da perplexidade que o diferente provoca, o aluno provavelmente ficará motivado a conhecer outras culturas principalmente no que elas manifestam de diferente. Portanto, essa aula permite que o “diferente” possa se transformar em relativo e pode possibilitar a compreensão. Permite despertar uma reflexão sobre a diversidade cultural e sobre como somos levados a juízos etnocêntricos sobre o “outro”. Permite também o olhar a nós mesmos, nossas culturas, nossos hábitos e como esses hábitos também podem provocar julgamento e estranhamento por parte das outras culturas.
Não há necessidade de conhecimentos prévios
Utiliza??o de textos, v?deo e espa?o aberto para os debates. Podem ser utilizados quaisquer textos sobre diversidade cultural, imagens e filmes que produzam estranhamento por revelar pr?ticas e h?bitos culturais diferentes dos da cultura ocidental.
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A aula:
Na aula anterior, solicitar aos alunos que pesquisem sobre h?bitos de outros povos ou pa?ses. Com a pesquisa em m?os, divida-os em grupos e favore?a a discuss?o nos grupos sobre a diversidade cultural. Depois, coloque-os em c?rculo e discuta com eles sobre as experi?ncias pesquisadas. Fa?a uma r?pida exposi??o sobre cultura e diversidade cultural.
Atividade 1: Objetivo: Permitir a assimila??o do car?ter din?mico que envolve as culturas, suas transforma??es e o conjunto de fatores que permitem essas transforma??es.Pe?a aos alunos que pesquisem em sites de internet, revistas antigas e novas, jornais etc como as conquistas da mulher atestam as mudan?as na sociedade brasileira. Pode-se sugerir aos alunos a apresenta??o de dados sobre trabalho, imagens sobre as mudan?as de comportamento, as conquistas no campo jur?dico e mudan?as no vestu?rio. Pe?a para que distribuam essas informa??es em cartazes, com imagens para que cada grupo apresente suas informa??es. Permita que eles discutam como os valores mudam, o que representa a din?mica das culturas e quais os fatores que influenciaram essas transforma??es.
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2. Relativismo e Etnocentrismo: Solicitar aos alunos para que citem exemplos de preconceitos, guerras e genoc?dios, tens?es religiosas, fundamentalismo, nazismo, conflitos ?tnicos na ?frica, tens?es raciais nos Estados Unidos, dentre outros. Podemos convidar os alunos a uma reflex?o sobre como olhamos e julgamos as outras culturas, bem como julgamos nosso colega ou outros grupos sociais que se vestem, falam ou se comportam de maneira diferente daquela que consideramos ser mais correta, melhor ou superior. Ou seja, essas manifesta??es tamb?m ocorrem no nosso cotidiano e s?o um convite ? intoler?ncia.Os objetivos das atividades aqui propostas s?o refletir sobre as seguintes quest?es: Como comparamos diferentes culturas? Como as culturas s?o descritas e classificadas? Como elas interagem? Tudo em termos culturais deve ser respeitado? Discuta com eles os conceitos de etnocentrismo e relativismo aplicados a esses exemplos com o objetivo de tentar quebrar vis?es que tendem a real?ar os preconceitos e estere?tipos.
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Atividades 2:
2.1 Descri??o da atividade: Discutir o tema do Etnocentrismo e Relativismo cultural ap?s a exibi??o do v?deo ?P?s de L?tus? Esse filme relata a pr?tica na China, cujas mulheres, quando crian?as, atavam os p?s para que ficassem pequenos. Ap?s o filme, propor um debate e destacar os seguintes aspectos: - O que mais lhe chamou aten??o? - Quais os fatores que motivam essa pr?tica cultural em sua opini?o? - Existem outros exemplos que voc?s conhece sobre diversidade cultural? - Como voc?s julgariam essa pr?tica?
2.2 Descri??o da atividade: Ler, juntamente com os alunos, exemplos de diversidade cultural e permitir que eles debatam como essas pr?ticas s?o diferentes e o sentimento de estranhamento que essas pr?ticas provocam (exemplos texto 1 e 2 abaixo). Ap?s a leitura, discutir com os alunos como podemos diferenciar e respeitar as outras culturas sem utilizar concep??es de hierarquia e desigualdade ou concep??es de progresso e atraso, ou de normalidade e diferen?a. Podemos aceitar todas as pr?ticas culturais? Abaixo alguns textos que podem ser utilizados para a discuss?o com os alunos.
Texto 1. Diversidade cultural - Estudos de caso
A cultura de uma determinada sociedade pode diferir profundamente de outra, o que ? sagrado para uma pode ser repugnante para outra, o que ? certo para uma pode ser errado para outras. Veja alguns exemplos:?O homem recebe do meio cultural, em primeiro lugar, a defini??o do bom e do mau, do confort?vel e do desconfort?vel." Deste modo, os chineses preferem os ovos podres e os Oceanenses o peixe em decomposi??o. Para dormir, os Pigmeus procuram a inc?moda forquilha de madeira e os Japoneses deitam a cabe?a em duro cepo. O homem recebe do seu meio cultural um modo de ver e de pensar. No Jap?o considera-se delicado julgar os homens mais velhos do que s?o e, mesmo durante os testes e de boa-f?, os indiv?duos continuam a cometer erros por excesso. O homem tamb?m retira do meio cultural as atitudes afetivas t?picas. Entre os Maoris [Nova Zel?ndia], onde se chora ? vontade, as l?grimas correm s? no regresso do viajante e n?o ? sua partida. Nos Esquim?s, que praticam a hospitalidade conjugal, o ci?me desapareceu (...). Nas ilhas Alor [Indon?sia], a mentira l?dica considera-se normal; as falsas promessas ?s crian?as constituem um dos divertimentos dos adultos. O mesmo esp?rito encontra-se na ilha de Normanby onde a m?e, por brincadeira, tira o seio ao filho que est? a mamar. O respeito pelos pais sofre igualmente flutua??es geogr?ficas. O pai conserva o direito de vida e de morte entre os Negritos das Filipinas e em certos lugares do Togo, dos Camar?es e do Daom?. Em compensa??o, a autoridade paterna era nula ou quase nula nos Kamtchatka [da Sib?ria] pr?-comunistas ou nos abor?genes do Brasil. As crian?as Taraumaras [do M?xico] batem e injuriam facilmente os pais.Entre os Esquim?s o casamento faz-se por compra. Nos Urabima da Austr?lia um homem pode ter esposas secund?rias que s?o as esposas principais de outros homens. No Ceil?o [atual Sri Lanka] reina a poliandria fraternal: o irm?o mais velho casa-se e os mais novos mant?m rela??es com a cunhada. (?)O amor e os cuidados da m?e pelos filhos desaparecem nas ilhas do estreito de Torres [Austr?lia] e nas ilhas Andaman [?ndia], em que o filho ou a filha s?o oferecidos de boa vontade aos h?spedes da fam?lia como presentes, ou aos vizinhos, como sinal de amizade. A sensibilidade a que chamamos masculina pode ser, de resto, uma caracter?stica feminina, como nos Tchambuli [Nova Guin?], por exemplo, em que na fam?lia ? a mulher quem domina e assume a dire??o. Os diferentes povos criaram e desenvolveram um estilo de vida que cada indiv?duo aceita ? n?o sem reagir, decerto ? como um prot?tipo.
Lucien Malson, As crian?as selvagens, Livraria Civiliza??o, 1988, pp. 26-28.
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Texto 2 - POR QUE MUTILAM O CLIT?RIS?Baseado no texto da Revista Superinteressante, abril de 2002
Nos ?ltimos anos, o mundo vem fazendo uma guerra contra a mutila??o genital nas mulheres mu?ulmanas e a ONU escalou um time de celebridades para sair protestando contra o costume ancestral dos mu?ulmanos de arrancar o clit?ris das mulheres. Mas n?o s? as mulheres mu?ulmanas fazem essa coisa "terr?vel". Aqui pertinho, do lado do Brasil, algumas mulheres peruanas tem esse mesmo costume. Um ?ndio da tribo shipibo-conibo desenha esse ritual para a revista superinteressante, editora abril."Afinal, porque eles fazem isso? Respostas que as mulheres da tribo shipibo-conibo deram: "A mulher com clit?ris fica mais ociosa; para que engorde; para tirar seu mau cheiro; se n?o tirasse, cresceria um p?nis ali; se n?o, ela seria descriminada; a verdadeira mulher n?o tem, e o que a maioria respondeu: e o costume. O fato ? que a capadura era, al?m de uma obriga??o, uma virtude, um ato de cidadania. A mulher que n?o extirpasse seu clit?ris n?o arrumava homem." Alguns estudiosos falaram sobre este assunto para a revista: "Antrop?logo peruano, Maneul Cuents disse: um rito de transi??o: ela entra com um status e sai com outro, apta para o matrim?nio. J? Jacques Tourneau, etnocientista franc?s acha que se trata de uma castra??o simb?lica para dominar as mulheres e uma forma de retirar seu apetite sexual, diminuindo as rela??es extramatrimoniais. Para a Psican?lise, o clit?ris pode ser considerado um pequeno p?nis e sua extirpa??o tira o aspecto masculino e caracteriza a jovem sem ambig?idade como mulher."
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Atividade 3 - Descri??o das atividades: Propor a leitura do resumo do texto de Horace Minner, Os Sonaciremas, em sala de aula. De um modo geral, a leitura desse texto tamb?m produz um enorme estranhamento nos alunos. Ap?s a leitura do texto permita que eles discutam e, ap?s a considera??o das impress?es dos alunos, introduz-se o debate sobre cultura e estranhamento ou choque cultural. Destaque quais pr?ticas que eles consideram mais diferentes.
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O Ritual do Corpo entre os Sonacirema - Horace Minner
Os Sonacirema s?o um grupo norte americano cuja cultura ainda ? pouco compreendida. Eles constituem um grupo norte-americano que vive no territ?rio que se estende entre os Cree, do Canad?, aos Yaqui e Tarahumara, do M?xico, e aos Caribe e Aruque, das Antilhas. Pouco se sabe quanto ? sua origem, embora a tradi??o m?stica afirme que eles vieram do leste.A cultura Sonacirema se caracteriza por uma economia de mercado altamente desenvolvida, que se beneficiou de um ?habitat? natural muito rico. Embora, nesta sociedade, a maior parte do tempo das pessoas seja devotada ? ocupa??o econ?mica, uma grande por??o dos frutos destes trabalhos, e uma consider?vel parte do dia, s?o despendidas em atividades rituais. O foco destas atividades ? o corpo humano, cuja apar?ncia e sa?de constituem a preocupa??o dominante dentro do ?ethos? deste povo.A cren?a fundamental subjacente a todo o sistema parece ser a de que o corpo humano ? feio, e que sua tend?ncia natural ? a debilidade e a doen?a. Encarcerado em tal corpo, a ?nica esperan?a do homem ? evitar essas caracter?sticas, atrav?s do uso de poderosas influ?ncias do ritual e da cerim?nia. Todo o grupo dom?stico possui um ou mais santu?rios dedicados a tal prop?sito. A maioria dos Sonacirema mostra tend?ncias masoquistas bem definidas, ressaltando que um povo dominantemente masoquista desenvolve especialistas s?dicos. Como exemplo, cita um ritual cotidiano realizado apenas pelos homens que envolve uma escarifica??o e lacera??o da superf?cie do rosto por meio de objeto cortante e cerim?nias femininas especiais que ocorrem quatro vezes por m?s lunar, em que as mulheres assam suas cabe?as em pequenos fornos durante mais ou menos uma hora. Para concluirmos, deve-se mencionar certas pr?ticas que est?o baseadas na est?tica nativa, mas que dependem da avers?o generalizada ao corpo e ?s fun??es naturais. H? jejuns rituais para fazer pessoas gordas ficarem magras, e banquetes cerimoniais para fazer pessoas magras ficarem gordas. Outros ritos ainda s?o usados para tornar maiores os seios das mulheres, se eles s?o pequenos, e menores, se s?o grandes. Uma insatisfa??o geral com a forma dos seios ? simbolizada pelo fato de que a forma ideal est? virtualmente fora do espectro da varia??o humana. Umas poucas mulheres que sofrem de quase inumano desenvolvimento hipermam?rio s?o t?o idolatradas que podem viver bem atrav?s de simples viagens de aldeia em aldeia, permitindo aos nativos admira-las mediante uma taxa.
Continua??o da atividade 3: Ap?s a discuss?o preliminar do texto sonacirema, afirme que existe um mist?rio nesse texto e deixe que os alunos tentem descobrir. Voc? pode escrever a palavra SONACIREMA no quadro para ajudar. Caso n?o descubram, dizer que sonacirema ? americanos ao contr?rio e que esse texto, na verdade, descreve nossas pr?ticas com o corpo, como o fazer a barba masculino, o secador de cabelo feminino e as pl?sticas. Essa ? uma excelente forma de explorar tanto o etnocentrismo quanto o relativismo cultural. Devemos ressaltar que o objetivo do texto ? explorar a quest?o do etnocentrismo ocidental, mais especificamente norte-americano. Destacar que quando julgamos outras culturas, esquecemos de observar como nossas pr?ticas podem chocar e provocar espanto quando observadas de fora e analisadas sem que se considere o significado delas em determinado contexto social.
Atividade complementar: Caso exista a proximidade e seja poss?vel, agende uma visita a alguma tribo ind?gena, a alguma comunidade religiosa espec?fica ou mesmo um bairro que tenha pessoas de outros pa?ses ou culturas. Permita que os alunos observem a depois, em sala de aula, discuta suas impress?es e curiosidades sobre diversidade cultural.
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T?rmino da aula: Propor aos alunos que cada um diga que ? um pa?s, uma etnia ou um povo, e propor um abra?o entre todos, para celebrar o respeito ?s diferen?as e ?s outras culturas. Ler em voz alta: "RESPEITAR A VIS?O DO OUTRO, EM QUALQUER ASPECTO, ? UMA DAS MAIORES VIRTUDES QUE UM SER HUMANO PODE TER. AS PESSOAS S?O DIFERENTES, AGEM DIFERENTE, E PENSAM DIFERENTE. NUNCA JULGUE. APENAS COMPREENDA?.
Sugest?o de outros filmes: Como era gostoso meu franc?s; Os Deuses devem estar loucos; O Sacrif?cio.
Solicitar aos alunos que pesquisem tribos urbanas e que discutam as diferen?as entre os grupos, exemplos de viol?ncia contra grupos minorit?rios e como a discuss?o sobre relativismo e etnocentrismo se coloca nessas situa??es.