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Soneto: morte e ressurrei??o no Brasil do s?culo XX

Autor e Co-autor(es)

wendell de freitas amaral imagem do usuário

JUIZ DE FORA - MG COL DE APLICACAO JOAO XXIII

Maria Cristina Weitzel Tavela

Estrutura Curricular

Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Ensino M?dio Literatura Estudos liter?rios: an?lise e reflex?o
Ensino M?dio Literatura Literatura brasileira, cl?ssica e contempor?nea: cria??es po?ticas, dram?ticas e ficcionais da cultura letrada

Dados da Aula

O que o aluno poderá aprender com esta aula

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  • ler poemas parnasianos, modernistas e p?s-modernistas;
  • identificar as caracter?sticas mais utilizadas para a produ??o de um soneto;
  • relacionar as caracter?sticas discursivas e ideol?gicas sobre o soneto ao contexto hist?rico de sua produ??o, circula??o e recep??o;
  • reconhecer a import?ncia "positiva" ou "negativa" do soneto para a consolida??o de uma determinada est?tica liter?ria;
  • debater sobre os efeitos da forma po?tica fixa.

Duração das atividades

3 aulas de 50 minutos

Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

Habilidades b?sicas de leitura e escrita;

Conhecimentos b?sicos da estrutura de um poema.

Estratégias e recursos da aula

Professor, esta aula tem por objetivo um estudo sobre o g?nero "soneto", bastante utilizado pelos poetas h? muitos s?culos.

Por?m, como toda regra, j? que o soneto ? um exemplo de rigidez formal, em determinadas ?pocas tal g?nero foi combatido devido ? sua estrutura fixa, por ser visto como restritivo para a liberdade art?stica.

Veremos como essas vis?es antag?nicas, a favor ou contra o soneto, se manifestaram no Brasil, principalmente a partir da virada do s?culo XIX para o XX, focando os sucessivos per?odos em que os poetas parnasianos, os modernistas e os contempor?neos produziram.

1? Atividade

Professor, inicie a aula conversando com seus alunos sobre o que entendem do soneto. O que pensam ser este poema de forma fixa? Se podem exemplificar com textos conhecidos, se sabem de varia??es quanto ao n?mero de estrofes, de s?labas m?tricas etc.

Procure, a partir das manifesta??es de seus alunos, tra?ar um perfil deste g?nero po?tico.

Para auxiliar este trabalho, e justificar as conclus?es sobre o soneto, veja abaixo algumas importantes defini??es do g?nero:

Olavo Bilac e Guimaraens Passos

?, (o soneto) apesar da guerra que lhe tem sido movida, e apesar do abuso que dele t?m feito os poetas med?ocres, a mais dif?cil e mais bela das formas da poesia l?rica (...)

O soneto ? uma composi??o po?tica, constitu?da por 14 versos, distribu?dos em 2 quartetos e 2 tercetos. A tradi??o quer que o ?ltimo verso do soneto seja sempre uma ?chave de ouro?, encerrando a ess?ncia do pensamento geral da composi??o. (...)

O soneto cl?ssico (petrarcheano e camoneano) ? o soneto em versos decass?labos ou her?icos (com a cesura na 6? e na 10? s?labas). Mas nunca houve regras fixas para a coloca??o das rimas dos quartetos e dos tercetos (...). h?, muitas variantes, geralmente admitidas.

(BILAC, Olavo; PASSOS, Guimaraens. Tratado de Versifica??o. 6? ed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1930, p. 168-185).

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Manuel Bandeira

O soneto apresenta duas variedades: o soneto italiano e o soneto ingl?s.

soneto italiano comp?e-se de dois quartetos e dois tercetos. A distribui??o das rimas ? muito vari?vel. No soneto cl?ssico os quartetos s?o constru?dos sobre duas rimas; os tercetos, sobre duas ou tr?s. Eis os esquemas para os quartetos: abba /abba;abab /abab. Para os tercetos: cdc dcdcde cdeccd / eedcdd dcdcdc dcdcde ede. ? considerado irregularidade misturar os dois esquemas de quarteto; por exemplo, rimar num quarteto abba e no outro baab ou abab ou baba. Mais irregular ainda ? n?o rimar os versos do segundo quarteto com os do primeiro (abab / cdcd). O esquema que parece comunicar ao soneto maior unidade e harmonia formais ? abba / abba / cdc / dcd.

(...)

soneto ingl?s, s? muito recentemente introduzido em nossa l?ngua, comp?e-se de tr?s quartetos e um d?stico. Obedece ao esquema abab / cdcd / efef / gg ou Abba / effe /gg, (...). S? tem pois de comum com o soneto italiano o n?mero de versos.

(BANDEIRA, Manuel. ?A versifica??o em L?ngua Portuguesa?. in: Seleta de Prosa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997, p. 547-548). 

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Antes de partirmos para o s?culo XX, ? importante a leitura do poema "? certa personagem desvanecida". Trata-se de uma s?tira de Greg?rio de Matos ao Conde de Ericeira, D. Luis de Meneses.

Indique para seus alunos a pesquisa do poema:

http://www.revista.agulha.nom.br/gregoi04.html

Abaixo, o poema na voz de V?nia Gomes da Silva

http://www.recantodasletras.com.br/audios/poesias/32980

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Ap?s a leitura e a audi??o do texto de Greg?rio de Matos:

a) pe?a aos alunos para copiarem no caderno os versos que fazem refer?ncias ? estrutura do soneto.

Pergunte:

b) qual ? o tema do poema?

c) ? poss?vel dizer que o texto de Greg?rio de Matos ? um poema metalingu?stico? (poema que tematiza o pr?prio fazer po?tico).

d) como o autor trata a sua composi??o (o soneto)? Tem prazer em faz?-lo ou demonstra faz?-lo apenas para cumprir as normas estruturais? Por qu??

e) mesmo sendo ir?nico, Greg?rio de Matos respeita a estrutura do soneto? Classifique os versos quanto ao n?mero de s?labas m?tricas e destaque o esquema de rimas com as letras (AB - CD).

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Outro exemplo interessante e ir?nico sobre a forma soneto ? o poema de Tristan Corbi?re, poeta franc?s do fim do s?culo XIX, traduzido por Augusto de Campos:

http://www.guesaerrante.com.br/2005/12/1/Pagina474.htm

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2? Atividade

Modernismo X Parnasianismo

No fim do s?culo XIX, o poeta franc?s Th?ophile Gautier, iniciador da famosa teoria da arte pela arte, que objetivava apenas a cria??o da beleza, pregava princ?pios de rigor na composi??o, e a busca de sugest?o pl?stica ao inv?s do individualismo subjetivista. A beleza, neste caso, deveria ser alcan?ada por meio de um trabalho duro, obstinado, que tratasse a palavra como objeto; e n?o pela a??o da inspira??o. Portanto, a arte deveria voltar-se para si mesma, princ?pio que sintetizava os objetivos do movimento.

O Parnasianismo, Escola po?tica que cumpriu ? risca a teoria da arte pela arte, cultuava as divindades gregas e as formas cl?ssicas como exemplo de beleza. Al?m disso, os parnasianos valorizavam demasiadamente os aspectos formais do poema, como o g?nero soneto, muito usado na antiguidade, com versos Alexandrinos (12 s?labas) ou decass?labos (10 s?labas), a rima rica e rara, a chave de ouro (final perfeito para o poema), a tematiza??o de objetos e de formas concretas. O poeta parnasiano, portanto, como um ourives, um escultor, tem o seu poema como um produto material, onde o que importa n?o ? o sentimento, mas a t?cnica, a capacidade artesanal do criador devidamente associada a seu esfor?o.

Essa preocupa??o exagerada com o poema, tratando-o como produto concreto, final e acabado, a ?nsia pela constru??o do objeto, muitas vezes esquecendo-se do conte?do ou as emo??es po?ticas individuais, fizeram com que os parnasianos fossem vistos como uma esp?cie de oper?rios do verso, ou m?quinas, como ironizou o modernista Oswald de Andrade: "S? n?o se inventou uma m?quina de fazer versos ? j? havia o poeta parnasiano".

Nas primeiras d?cadas do s?culo XX, no Brasil, os poetas do Modernismo manifestaram um grande desejo de liberdade de express?o e uma tend?ncia para transmitir a emo??o pessoal e a realidade do Pa?s. Em rela??o a isso, afirmaram sua liberta??o de diversas formas: pelo vocabul?rio, pela sintaxe, nos temas. Al?m disso, rejeitaram os padr?es est?ticos tradicionais, buscando uma express?o mais coloquial, pr?xima do modo de falar do brasileiro e combatendo a literatura discursiva e o estilo ret?rico dos seus antecessores. Havia tamb?m o desejo de traduzir em literatura os fatos da modernidade, como a velocidade, as novas formas de express?o art?stica e a m?quina.

O Manifesto Antrop?fago de Oswald de Andrade ? o exemplo mais enf?tico deste desejo de mudan?a po?tica:

http://www.lumiarte.com/luardeoutono/oswald/manifantropof.html

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O Modernismo da primeira fase, mais radical, tomou o soneto como s?mbolo da falta de inventividade e de liberdade na poesia nacional, pelo fato de ser uma forma fixa ? qual o poeta, mesmo variando rimas e ritmos, deveria ser submisso, nem excedendo nem sendo econ?mico. Isto ?, uma forma em que se junta os versos, os p?e na medida exata e, pronto, est? feito o poema. Por isso a analogia com a f?brica de fazer versos, como se os sonetos fossem produtos em s?rie.

Professor, para que seus alunos possam comparar alguns sonetos dos parnasianos com poemas modernistas que representavam a liberdade da express?o do verso, indique para a turma a pesquisa dos seguintes autores e seus poemas:

Sonetos parnasianos

Olavo Bilac

http://www.revista.agulha.nom.br/bilac.html#poeta

http://www.revista.agulha.nom.br/bilac1.html#inania

http://www.revista.agulha.nom.br/bilac2.html#nel

Alberto de Oliveira

http://www.revista.agulha.nom.br/ao02.html

http://www.revista.agulha.nom.br/ao03.html

http://www.revista.agulha.nom.br/ao04.html

Poemas modernistas

Oswald de Andrade

http://www.revista.agulha.nom.br/oswal.html#pronominais

http://www.revista.agulha.nom.br/oswal.html#vicio

http://www.revista.agulha.nom.br/oswal.html#oferta

http://www.revista.agulha.nom.br/oswal.html#erro

http://www.revista.agulha.nom.br/oswal.html#ocapoeira

http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/oswald-de-andrade/3-de-maio.php

Manuel Bandeira

http://www.revista.agulha.nom.br/manuelbandeira01.html#sapos

http://www.revista.agulha.nom.br/manuelbandeira03.html#poetica

http://www.revista.agulha.nom.br/manuelbandeira04.html#poema

Carlos Drummond de Andrade

http://www.revista.agulha.nom.br/drumm1.html#poemaqueaconteceu

http://www.revista.agulha.nom.br/drumm2.html#nomeio

http://www.revista.agulha.nom.br/drumm2.html#poemadojornal

http://www.revista.agulha.nom.br/drumm1.html#poesia

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Professor, para a pesquisa e o desenvolvimento da atividade:

a) divida os alunos em 5 grupos;

b) sorteie um poeta para cada grupo pesquisar;

c) pe?a para os grupos lerem os poemas pesquisados em voz alta na sala de aula;

d) pe?a para cada grupo destacar nos poemas lidos:

I - o esquema de rimas;

II - o n?mero de s?labas m?tricas dos versos e observar se h? uma regularidade entre eles;

III - palavras de uso coloquial;

IV - palavras de uso erudito ou pouco comuns no uso cotidiano;

V - poss?veis defini??es da poesia ou de alguma po?tica;

VI - manifesta??o do humor e da ironia;

VII - tem?tica;

VIII - rela??es entre a forma e o conte?do.

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Aquilo que foi destacado e visto como importante para a interpreta??o dos poemas pesquisados por cada grupo dever? ser apresentado em forma de semin?rio para o restante da turma e comparado ?s apresenta??es anteriores, para isso:

a) sugira que os alunos utilizem data-show, retroprojetor ou mesmo o quadro negro;

b) inicie a apresenta??o a partir dos sonetos parnasianos, como na ordem indicada acima;

c) abra espa?o entre as apresenta??es para a an?lise dos alunos espectadores sobre os textos lidos pelos colegas;

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O que dever? ficar claro ao fim desta atividade ? que a liberta??o do verso pelos modernistas permitiu maior mobilidade r?tmica e sint?tica, enquanto os sonetos parnasianos, mesmo muito bem feitos, n?o permitem, pela obedi?ncia ? forma fixa, tantas varia??es.

Al?m de ter aproximado a forma do conte?do, os poemas modernistas parecem mais simples e objetivos n?o s? pela estrutura, mas tamb?m pela linguagem, de modo que a inclus?o dos temas cotidianos e do humor combinados ao ritmo vari?vel da fala refletem uma nova t?cnica da express?o de imagens po?ticas e uma vis?o menos idealizante da poesia, pr?prias do seu contexto de produ??o, a modernidade.

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3? Atividade

Apesar das importantes inova??es e do radicalismo dos primeiros modernistas, alguns poetas como Manuel Bandeira e Guilherme de Almeida produziram consider?vel n?mero de sonetos.

Mas, principalmente, os de gera??es posteriores decidiram revalorizar este g?nero po?tico, por se mostrar descontentes com os radicalismos da Semana de 22 e por certas formas consideradas j? desgastadas, como o chamado poema-piada. Inspirados pela leitura de cl?ssicos como Cam?es e Petrarca, e at? mesmo dos parnasianos renegados pela maioria dos modernistas, estes poetas escreveram bastantes sonetos, por?m incorporando a eles uma maior varia??o de ritmos e temas mais cotidianos.

Professor, indique a seus alunos a pesquisa dos sonetos dos poetas abaixo:

Vin?cius de Moraes

http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=1469

http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=1467

http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=5084

http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=1499

http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=1487

Oleg?rio Mariano

http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=2466

http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=2465

http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=2475

L?do Ivo

http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=2731

http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=2730

http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=2725

http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=2728

Augusto Frederico Schmidt

http://www.revista.agulha.nom.br/afs.html#soneto

http://www.revista.agulha.nom.br/afs1.html#V

http://www.revista.agulha.nom.br/afs1.html#soneto2

http://www.revista.agulha.nom.br/afs1.html#soneto

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Abaixo dois v?deos com Vin?cius de Moraes e Tom Jobim recitando o "Soneto de Fidelidade" e o "Soneto de Separa??o":

http://www.youtube.com/watch?v=eHgU4ERc7Nc

http://www.youtube.com/watch?v=sPBoIoXMgFw&feature=related

soneto de separa????o

http://depressaoepoesia.ning.com/profiles/blogs/vinicius-de-moraes-2?xg_source=activity

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Para a pesquisa e o desenvolvimento da atividade:

a) divida a turma em duplas;

b) sorteie um soneto para cada dupla;

c) pe?a para lerem o soneto em voz alta;

d) pe?a para analisarem o texto seguindo o roteiro abaixo transcrevendo no caderno:

I - destacar o esquema de rimas;

II - classificar o n?mero de s?labas m?tricas dos versos e observar se h? uma regularidade entre eles;

III - apontar o tema do soneto;

IV - destacar cenas ou fatos do cotidiano tematizados no soneto;

V - destacar marcas da linguagem coloquial.

e) ap?s o exerc?cio dos alunos, disponha-os em c?rculo na sala de aula e pe?a aos grupos para expor o resultado da atividade para a turma, permitindo que todas as duplas comparem seus resultados aos dos colegas at? que todos os pontos destacados acima sejam abordados.

Ao fim da aula, seus alunos ter?o argumentos para concluir que apesar da forma do soneto permanecer fixa e por isso restringir maiores invencionismos est?ticos, ele se modificou com o tempo, se comparado ao soneto cl?ssico ou mesmo ? maioria dos poemas parnasianos: as possibilidades de varia??o da linguagem, da m?trica e principalmente a inclus?o da tem?tica cotidiana fazem com que ele n?o pare?a velho, sendo ainda bastante praticado contemporaneamente.

soneto

http://poesia-sim-poesia.blogspot.com/2008_01_01_archive.html

Recursos Complementares

BANDEIRA, Manuel. ?A versifica??o em L?ngua Portuguesa?. in: Seleta de Prosa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.

BILAC, Olavo; PASSOS, Guimaraens. Tratado de Versifica??o. 6? ed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1930.

GOLDSTEIN, Norma. Versos, sons, ritmos. 2? ed. S?o Paulo: ?tica, 1985.

http://www.sonetos.com.br/escrever.php

http://viciodapoesia.wordpress.com/2011/02/19/a-dificil-arte-do-soneto-segundo-lope-de-vega-1562-1635-alexandre-o%C2%B4neill-1924-1986-e-manuel-alegre-1936/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Soneto

Avaliação

Professor, para a avalia??o considere todas as atividades realizadas em sala. Al?m disso, pe?a para seus alunos pesquisarem e montarem um mural na escola com sonetos de poetas contempor?neos.