Maria Cristina Weitzel Tavela
Modalidade / Nível de Ensino | Componente Curricular | Tema |
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Ensino M?dio | Literatura | Estudos liter?rios: an?lise e reflex?o |
Ensino M?dio | Literatura | Literatura brasileira, cl?ssica e contempor?nea: cria??es po?ticas, dram?ticas e ficcionais da cultura letrada |
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Habilidades b?sicas de leitura e escrita;
Conhecimentos b?sicos da estrutura de um poema.
Professor, esta aula tem por objetivo um estudo sobre o g?nero "soneto", bastante utilizado pelos poetas h? muitos s?culos.
Por?m, como toda regra, j? que o soneto ? um exemplo de rigidez formal, em determinadas ?pocas tal g?nero foi combatido devido ? sua estrutura fixa, por ser visto como restritivo para a liberdade art?stica.
Veremos como essas vis?es antag?nicas, a favor ou contra o soneto, se manifestaram no Brasil, principalmente a partir da virada do s?culo XIX para o XX, focando os sucessivos per?odos em que os poetas parnasianos, os modernistas e os contempor?neos produziram.
Professor, inicie a aula conversando com seus alunos sobre o que entendem do soneto. O que pensam ser este poema de forma fixa? Se podem exemplificar com textos conhecidos, se sabem de varia??es quanto ao n?mero de estrofes, de s?labas m?tricas etc.
Procure, a partir das manifesta??es de seus alunos, tra?ar um perfil deste g?nero po?tico.
Para auxiliar este trabalho, e justificar as conclus?es sobre o soneto, veja abaixo algumas importantes defini??es do g?nero:
Olavo Bilac e Guimaraens Passos ?, (o soneto) apesar da guerra que lhe tem sido movida, e apesar do abuso que dele t?m feito os poetas med?ocres, a mais dif?cil e mais bela das formas da poesia l?rica (...) O soneto ? uma composi??o po?tica, constitu?da por 14 versos, distribu?dos em 2 quartetos e 2 tercetos. A tradi??o quer que o ?ltimo verso do soneto seja sempre uma ?chave de ouro?, encerrando a ess?ncia do pensamento geral da composi??o. (...) O soneto cl?ssico (petrarcheano e camoneano) ? o soneto em versos decass?labos ou her?icos (com a cesura na 6? e na 10? s?labas). Mas nunca houve regras fixas para a coloca??o das rimas dos quartetos e dos tercetos (...). h?, muitas variantes, geralmente admitidas. (BILAC, Olavo; PASSOS, Guimaraens. Tratado de Versifica??o. 6? ed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1930, p. 168-185). |
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Manuel Bandeira O soneto apresenta duas variedades: o soneto italiano e o soneto ingl?s. O soneto italiano comp?e-se de dois quartetos e dois tercetos. A distribui??o das rimas ? muito vari?vel. No soneto cl?ssico os quartetos s?o constru?dos sobre duas rimas; os tercetos, sobre duas ou tr?s. Eis os esquemas para os quartetos: abba /abba;abab /abab. Para os tercetos: cdc / dcd; cde / cde; ccd / eed; cdd / dcd; cdc / dcd; cde / ede. ? considerado irregularidade misturar os dois esquemas de quarteto; por exemplo, rimar num quarteto abba e no outro baab ou abab ou baba. Mais irregular ainda ? n?o rimar os versos do segundo quarteto com os do primeiro (abab / cdcd). O esquema que parece comunicar ao soneto maior unidade e harmonia formais ? abba / abba / cdc / dcd. (...) O soneto ingl?s, s? muito recentemente introduzido em nossa l?ngua, comp?e-se de tr?s quartetos e um d?stico. Obedece ao esquema abab / cdcd / efef / gg ou Abba / effe /gg, (...). S? tem pois de comum com o soneto italiano o n?mero de versos. (BANDEIRA, Manuel. ?A versifica??o em L?ngua Portuguesa?. in: Seleta de Prosa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997, p. 547-548). |
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Antes de partirmos para o s?culo XX, ? importante a leitura do poema "? certa personagem desvanecida". Trata-se de uma s?tira de Greg?rio de Matos ao Conde de Ericeira, D. Luis de Meneses.
Indique para seus alunos a pesquisa do poema:
http://www.revista.agulha.nom.br/gregoi04.html
Abaixo, o poema na voz de V?nia Gomes da Silva
http://www.recantodasletras.com.br/audios/poesias/32980
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Ap?s a leitura e a audi??o do texto de Greg?rio de Matos:
a) pe?a aos alunos para copiarem no caderno os versos que fazem refer?ncias ? estrutura do soneto.
Pergunte:
b) qual ? o tema do poema?
c) ? poss?vel dizer que o texto de Greg?rio de Matos ? um poema metalingu?stico? (poema que tematiza o pr?prio fazer po?tico).
d) como o autor trata a sua composi??o (o soneto)? Tem prazer em faz?-lo ou demonstra faz?-lo apenas para cumprir as normas estruturais? Por qu??
e) mesmo sendo ir?nico, Greg?rio de Matos respeita a estrutura do soneto? Classifique os versos quanto ao n?mero de s?labas m?tricas e destaque o esquema de rimas com as letras (AB - CD).
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Outro exemplo interessante e ir?nico sobre a forma soneto ? o poema de Tristan Corbi?re, poeta franc?s do fim do s?culo XIX, traduzido por Augusto de Campos:
http://www.guesaerrante.com.br/2005/12/1/Pagina474.htm
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Modernismo X Parnasianismo
No fim do s?culo XIX, o poeta franc?s Th?ophile Gautier, iniciador da famosa teoria da arte pela arte, que objetivava apenas a cria??o da beleza, pregava princ?pios de rigor na composi??o, e a busca de sugest?o pl?stica ao inv?s do individualismo subjetivista. A beleza, neste caso, deveria ser alcan?ada por meio de um trabalho duro, obstinado, que tratasse a palavra como objeto; e n?o pela a??o da inspira??o. Portanto, a arte deveria voltar-se para si mesma, princ?pio que sintetizava os objetivos do movimento.
O Parnasianismo, Escola po?tica que cumpriu ? risca a teoria da arte pela arte, cultuava as divindades gregas e as formas cl?ssicas como exemplo de beleza. Al?m disso, os parnasianos valorizavam demasiadamente os aspectos formais do poema, como o g?nero soneto, muito usado na antiguidade, com versos Alexandrinos (12 s?labas) ou decass?labos (10 s?labas), a rima rica e rara, a chave de ouro (final perfeito para o poema), a tematiza??o de objetos e de formas concretas. O poeta parnasiano, portanto, como um ourives, um escultor, tem o seu poema como um produto material, onde o que importa n?o ? o sentimento, mas a t?cnica, a capacidade artesanal do criador devidamente associada a seu esfor?o.
Essa preocupa??o exagerada com o poema, tratando-o como produto concreto, final e acabado, a ?nsia pela constru??o do objeto, muitas vezes esquecendo-se do conte?do ou as emo??es po?ticas individuais, fizeram com que os parnasianos fossem vistos como uma esp?cie de oper?rios do verso, ou m?quinas, como ironizou o modernista Oswald de Andrade: "S? n?o se inventou uma m?quina de fazer versos ? j? havia o poeta parnasiano".
Nas primeiras d?cadas do s?culo XX, no Brasil, os poetas do Modernismo manifestaram um grande desejo de liberdade de express?o e uma tend?ncia para transmitir a emo??o pessoal e a realidade do Pa?s. Em rela??o a isso, afirmaram sua liberta??o de diversas formas: pelo vocabul?rio, pela sintaxe, nos temas. Al?m disso, rejeitaram os padr?es est?ticos tradicionais, buscando uma express?o mais coloquial, pr?xima do modo de falar do brasileiro e combatendo a literatura discursiva e o estilo ret?rico dos seus antecessores. Havia tamb?m o desejo de traduzir em literatura os fatos da modernidade, como a velocidade, as novas formas de express?o art?stica e a m?quina.
O Manifesto Antrop?fago de Oswald de Andrade ? o exemplo mais enf?tico deste desejo de mudan?a po?tica:
http://www.lumiarte.com/luardeoutono/oswald/manifantropof.html
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O Modernismo da primeira fase, mais radical, tomou o soneto como s?mbolo da falta de inventividade e de liberdade na poesia nacional, pelo fato de ser uma forma fixa ? qual o poeta, mesmo variando rimas e ritmos, deveria ser submisso, nem excedendo nem sendo econ?mico. Isto ?, uma forma em que se junta os versos, os p?e na medida exata e, pronto, est? feito o poema. Por isso a analogia com a f?brica de fazer versos, como se os sonetos fossem produtos em s?rie.
Professor, para que seus alunos possam comparar alguns sonetos dos parnasianos com poemas modernistas que representavam a liberdade da express?o do verso, indique para a turma a pesquisa dos seguintes autores e seus poemas:
Sonetos parnasianos
Olavo Bilac
http://www.revista.agulha.nom.br/bilac.html#poeta
http://www.revista.agulha.nom.br/bilac1.html#inania
http://www.revista.agulha.nom.br/bilac2.html#nel
Alberto de Oliveira
http://www.revista.agulha.nom.br/ao02.html
http://www.revista.agulha.nom.br/ao03.html
http://www.revista.agulha.nom.br/ao04.html
Poemas modernistas
Oswald de Andrade
http://www.revista.agulha.nom.br/oswal.html#pronominais
http://www.revista.agulha.nom.br/oswal.html#vicio
http://www.revista.agulha.nom.br/oswal.html#oferta
http://www.revista.agulha.nom.br/oswal.html#erro
http://www.revista.agulha.nom.br/oswal.html#ocapoeira
http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/oswald-de-andrade/3-de-maio.php
Manuel Bandeira
http://www.revista.agulha.nom.br/manuelbandeira01.html#sapos
http://www.revista.agulha.nom.br/manuelbandeira03.html#poetica
http://www.revista.agulha.nom.br/manuelbandeira04.html#poema
Carlos Drummond de Andrade
http://www.revista.agulha.nom.br/drumm1.html#poemaqueaconteceu
http://www.revista.agulha.nom.br/drumm2.html#nomeio
http://www.revista.agulha.nom.br/drumm2.html#poemadojornal
http://www.revista.agulha.nom.br/drumm1.html#poesia
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Professor, para a pesquisa e o desenvolvimento da atividade:
a) divida os alunos em 5 grupos;
b) sorteie um poeta para cada grupo pesquisar;
c) pe?a para os grupos lerem os poemas pesquisados em voz alta na sala de aula;
d) pe?a para cada grupo destacar nos poemas lidos:
I - o esquema de rimas;
II - o n?mero de s?labas m?tricas dos versos e observar se h? uma regularidade entre eles;
III - palavras de uso coloquial;
IV - palavras de uso erudito ou pouco comuns no uso cotidiano;
V - poss?veis defini??es da poesia ou de alguma po?tica;
VI - manifesta??o do humor e da ironia;
VII - tem?tica;
VIII - rela??es entre a forma e o conte?do.
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Aquilo que foi destacado e visto como importante para a interpreta??o dos poemas pesquisados por cada grupo dever? ser apresentado em forma de semin?rio para o restante da turma e comparado ?s apresenta??es anteriores, para isso:
a) sugira que os alunos utilizem data-show, retroprojetor ou mesmo o quadro negro;
b) inicie a apresenta??o a partir dos sonetos parnasianos, como na ordem indicada acima;
c) abra espa?o entre as apresenta??es para a an?lise dos alunos espectadores sobre os textos lidos pelos colegas;
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O que dever? ficar claro ao fim desta atividade ? que a liberta??o do verso pelos modernistas permitiu maior mobilidade r?tmica e sint?tica, enquanto os sonetos parnasianos, mesmo muito bem feitos, n?o permitem, pela obedi?ncia ? forma fixa, tantas varia??es.
Al?m de ter aproximado a forma do conte?do, os poemas modernistas parecem mais simples e objetivos n?o s? pela estrutura, mas tamb?m pela linguagem, de modo que a inclus?o dos temas cotidianos e do humor combinados ao ritmo vari?vel da fala refletem uma nova t?cnica da express?o de imagens po?ticas e uma vis?o menos idealizante da poesia, pr?prias do seu contexto de produ??o, a modernidade.
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Apesar das importantes inova??es e do radicalismo dos primeiros modernistas, alguns poetas como Manuel Bandeira e Guilherme de Almeida produziram consider?vel n?mero de sonetos.
Mas, principalmente, os de gera??es posteriores decidiram revalorizar este g?nero po?tico, por se mostrar descontentes com os radicalismos da Semana de 22 e por certas formas consideradas j? desgastadas, como o chamado poema-piada. Inspirados pela leitura de cl?ssicos como Cam?es e Petrarca, e at? mesmo dos parnasianos renegados pela maioria dos modernistas, estes poetas escreveram bastantes sonetos, por?m incorporando a eles uma maior varia??o de ritmos e temas mais cotidianos.
Professor, indique a seus alunos a pesquisa dos sonetos dos poetas abaixo:
Vin?cius de Moraes
http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=1469
http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=1467
http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=5084
http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=1499
http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=1487
Oleg?rio Mariano
http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=2466
http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=2465
http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=2475
L?do Ivo
http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=2731
http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=2730
http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=2725
http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=2728
Augusto Frederico Schmidt
http://www.revista.agulha.nom.br/afs.html#soneto
http://www.revista.agulha.nom.br/afs1.html#V
http://www.revista.agulha.nom.br/afs1.html#soneto2
http://www.revista.agulha.nom.br/afs1.html#soneto
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Abaixo dois v?deos com Vin?cius de Moraes e Tom Jobim recitando o "Soneto de Fidelidade" e o "Soneto de Separa??o":
http://www.youtube.com/watch?v=eHgU4ERc7Nc
http://www.youtube.com/watch?v=sPBoIoXMgFw&feature=related
http://depressaoepoesia.ning.com/profiles/blogs/vinicius-de-moraes-2?xg_source=activity
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Para a pesquisa e o desenvolvimento da atividade:
a) divida a turma em duplas;
b) sorteie um soneto para cada dupla;
c) pe?a para lerem o soneto em voz alta;
d) pe?a para analisarem o texto seguindo o roteiro abaixo transcrevendo no caderno:
I - destacar o esquema de rimas;
II - classificar o n?mero de s?labas m?tricas dos versos e observar se h? uma regularidade entre eles;
III - apontar o tema do soneto;
IV - destacar cenas ou fatos do cotidiano tematizados no soneto;
V - destacar marcas da linguagem coloquial.
e) ap?s o exerc?cio dos alunos, disponha-os em c?rculo na sala de aula e pe?a aos grupos para expor o resultado da atividade para a turma, permitindo que todas as duplas comparem seus resultados aos dos colegas at? que todos os pontos destacados acima sejam abordados.
Ao fim da aula, seus alunos ter?o argumentos para concluir que apesar da forma do soneto permanecer fixa e por isso restringir maiores invencionismos est?ticos, ele se modificou com o tempo, se comparado ao soneto cl?ssico ou mesmo ? maioria dos poemas parnasianos: as possibilidades de varia??o da linguagem, da m?trica e principalmente a inclus?o da tem?tica cotidiana fazem com que ele n?o pare?a velho, sendo ainda bastante praticado contemporaneamente.
http://poesia-sim-poesia.blogspot.com/2008_01_01_archive.html
BANDEIRA, Manuel. ?A versifica??o em L?ngua Portuguesa?. in: Seleta de Prosa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.
BILAC, Olavo; PASSOS, Guimaraens. Tratado de Versifica??o. 6? ed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1930.
GOLDSTEIN, Norma. Versos, sons, ritmos. 2? ed. S?o Paulo: ?tica, 1985.
Professor, para a avalia??o considere todas as atividades realizadas em sala. Al?m disso, pe?a para seus alunos pesquisarem e montarem um mural na escola com sonetos de poetas contempor?neos.