Eliana Dias, Lazuita Goretti de Oliveira
Modalidade / Nível de Ensino | Componente Curricular | Tema |
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Ensino M?dio | L?ngua Portuguesa | Aspectos cognitivo-conceituais: mundo, objetos, seres, fatos, fen?menos e suas inter-rela??es |
Ensino M?dio | L?ngua Portuguesa | Produ??o, leitura, an?lise e reflex?o sobre linguagens |
Ensino M?dio | L?ngua Portuguesa | Recursos lingu?sticos em uso: fonol?gicos, morfol?gicos, sint?ticos e lexicais |
No??es de concord?ncia verbal, ortografia, orto?pia e pros?dia.
handouts para os alunos;
computador e datashow;
caixas de som;
Primeiramente o professor discutir? com os alunos o que eles entendem por licen?a po?tica, pedindo inclusive exemplos que eles conhe?am de textos que se valem da licen?a po?tica para a constru??o de sentidos.
Essa discuss?o durar? de 5 a 10 minutos.
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Ap?s a discuss?o, e para complementar o que os alunos j? t?m como conceito de licen?a po?tica, o professor passar? para os alunos (oralmente se preferir) a defini??o de o que ? "licen?a po?tica" segundo o dicion?rio. [se preferir, o professor poder? pedir que os pr?prios alunos vejam se no dicion?rio deles existe uma defini??o de licen?a po?tica]
Para o Michaelis:
licen?a
li.cen.?a
sf (lat licentia) 1 Autoriza??o dada a algu?m para fazer ou deixar de fazer alguma coisa; permiss?o. 2 Autoriza??o especial concedida pelas autoridades p?blicas para exercer certas atividades, praticar certos atos, ter em seu poder certas coisas. 3 Documento que comprova essa autoriza??o. 4 Autoriza??o dada, por pessoa ou autoridade detentora de alguma patente de inven??o, a outra pessoa ou entidade para explorar a respectiva inven??o. 5 Permiss?o concedida a militares ou a empregados, a fim de poderem ausentar-se dos respectivos servi?os. 6 Desregramento. 7 Vida dissoluta. 8 Liberdade. 9 Autom Carteira de habilita??o profissional que d? permiss?o para guiar um ve?culo. 10 Autom Placa num?rica identificadora desse ve?culo. L. de favor: licen?a concedida verbalmente aos oficiais e pra?as de pr?, por um n?mero limitado de dias, sem preju?zo dos seus vencimentos. L. de uso local, Inform: licen?a entre um fornecedor de software e um usu?rio, que permite a qualquer usu?rio, naquele local, usar o software. L. em tempo de execu??o, Inform: licen?a que habilita um usu?rio a utilizar uma aplica??o. L.-maternidade: licen?a concedida ?s mulheres, quando t?m filhos, conforme a legisla??o trabalhista. L. po?tica: direito que os poetas t?m de alterar as regras de pros?dia e da sintaxe. L.-pr?mio: aquela a que um funcion?rio p?blico faz jus depois de determinados anos de servi?o. Com licen?a da palavra: modo cort?s de pedir permiss?o para dizer uma palavra grosseira.
Dispon?vel em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=licen%E7a>. Acesso em 20 jul. 2013.
Para o Houaiss:
licen?a po?tica 1 liberdade de o escritor utilizar constru??es, pros?dias, ortografias, sintaxes n?o conformes ?s regras, ao uso habitual, para atingir seus objetivos de express?o 2 p. ext. fig. exagero, desvio, afastamento do padr?o de verdade <agora, crer que sua contribui??o tenha sido seminal j? ? l. po?tica>
In: HOUAISS, Ant?nio, VILLAR, Mauro de Salles. Grande Dicion?rio Houaiss da L?ngua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva. 2001.
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Ap?s o primeiro contato, o professor distribuir? para os alunos o texto abaixo, que dever? ser impresso em handout. Os alunos dever?o fazer a leitura do texto e o professor pedir? para que alunos , ap?s terem colado o handout no caderno, leiam alternadamente os par?grafos do texto de Luka Magalh?es, sobre a licen?a po?tica. Ao final o professor e os alunos dever?o novamente discutir sobre esse conceito, procurando salientar o que o texto acrescentou de informa??es novas sobre o conceito de licen?a po?tica.
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Licen?a Po?tica - como us?-la
Luka Magalh?es
Muitas vezes escutamos que um poeta usou da ?licen?a po?tica? para compor seus versos. Mas o que significa de fato esta licen?a, quais os limites que ela tem e quais as suas caracter?sticas principais?
De forma simples, define-se o que ? a licen?a po?tica da seguinte forma:
? Licen?a Po?tica ? a permiss?o dada ao escritor para extrapolar a norma culta, deixando de lado regras gramaticais como concord?ncias e reg?ncias?.
Em outras palavras, temos, como escritores, uma autoriza??o intr?nseca de n?o seguirmos certas regras gramaticais, quando nos ? conveniente, ao escrevermos um texto po?tico.
Vejamos alguns exemplos do uso da licen?a po?tica:
M?rio Quintana, um dos maiores poetas brasileiros, inicia seu poema ?Indivis?veis? da seguinte forma:
?Meu primeiro amor sent?vamos...?
Pelo aspecto da norma culta h? um erro de concord?ncia verbal pois ditam as regras que o verbo concorda com o sujeito da ora??o e no caso e que seria correto ?Meu primeiro amor sentava?.
Arnaldo Antunes, compositor, escritor e cantor, escreveu:
?Beija eu?...
No mesmo aspecto de an?lise sob o olhar da norma culta, temos que: a forma refectiva do verbo exige o uso de um pronome pessoal do caso obl?quo. Ter?amos ent?o a frase ?Beije-me.
Nestes dois exemplos temos a vis?o de escritor e os ditames das regras. De um lado a autoriza??o para se escrever assim e de outro, uma classifica??o como erro gramatical. Onde ent?o est? a licen?a po?tica?
Disse Adoniran Barbosa, no programa Ensaio, da TV Cultura (S?o Paulo), sobre o ?Samba do Arnesto?:
" _Sei que o certo ? ?Ernesto?, ?fomos? e ?encontramos?, mas prefiro dizer ?Arnesto?, ?fumo? e ?encontremo?..."
Eis a licen?a po?tica.
Arnaldo Antunes, no programa ?Nossa L?ngua Portuguesa? , tamb?m da TV Cultura foi perguntado por Paschoale Cipro Neto sobre o ?Beija eu?. Antunes dissertou sobre a norma culta j? mencionada acima e disse:
"_Fiz a m?sica, inspirado em minha filha que, quando pequena dizia pega eu, abra?a eu e beija eu..."
Eis novamente a licen?a po?tica.
A licen?a existe com a seguinte caracter?stica b?sica:
?O escritor se utiliza do que a norma culta consideraria erro, para compor seus versos de forma criativa, dando um contexto ao escrito, muitas vezes por sua criatividade, ou para manter m?trica e ritmo, por?m o autor tem o conhecimento do que ditam as normas gramaticais.?
Esses pormenores devem estar claros ao escritor, para n?o cometer certos erros sob a justificativa de se estar usando a licen?a po?tica como escudo da ignor?ncia ?s normas cultas da linguagem. S? temos a licen?a po?tica quando escrevemos algo e sabemos o porqu? de termos escrito de tal maneira. Ao lermos ?Indivis?veis? de Quintana entenderemos muito bem a licen?a po?tica em um contexto m?gico.
O mais encontrado como licen?a po?tica ? a falta de manuten??o da pessoa gramatical em versos. Na m?sica ?Evid?ncias? gravada por Chit?ozinho e Xoror? encontramos um exemplo, vejamos:
?...Quando digo que n?o quero mais VOC?, ? porque TE quero...?
A palavra ?voc??, pela gram?tica ? considerada terceira pessoa ( por reger o verbo em tal pessoa gramatical) e o pronome ?te" se refere ? Segunda pessoa (tu). Neste caso s? saberemos se houve o uso da licen?a po?tica se os autores quando questionados sobre tal circurst?ncia trouxerem luz ao poema, mostrando seu conhecimento.
Portanto, n?o basta-nos utilizar de erros sem ter conhecimento. Devemos sim abusar da licen?a po?tica para mostrar que, como escritores temos a norma culta a nosso favor.
Dispon?vel em: <http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/1244135>. Acesso em 20 jul. 2013.
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Ap?s terem aprofundado um pouco a no??o de licen?a po?tica, o professor exemplificar? esse conceito por meio de duas m?sicas nas quais os compositores se utilizam da licen?a po?tica utilizando constru??es que fogem ? norma padr?o de forma proposital.
Sugerimos que o professor exemplifique primeiramente com a m?sica Saudosa Maloca, de Adoniram Barbosa, dispon?vel no youtube, no link abaixo. Nesse primeiro momento o professor poder? pedir para os alunos apenas escutarem a m?sica, e depois o professor passa uma segunda vez a m?sica para eles irem marcando as partes do texto que eles perceberem constru??es que fogem ?s regras da norma urbana de prest?gio, no que se refere ? pron?ncia, concord?ncia, sintaxe, etc.
Dispon?vel em: <http://www.youtube.com/watch?v=V_N4Jum5h2A&list=PL62844064229D9AC1>. Acesso em 20 jul. 2013.
A letra est? dispon?vel em: http://letras.mus.br/adoniran-barbosa/43969/ . Acesso em 20 jul. 2013.
Disponibilizamos a letra abaixo, para que o professor coloque tamb?m no handout a ser entregue aos alunos.
Adoniran Barbosa
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Si o senhor n?o "t?" lembrado
D? licen?a de "cont?"
Que aqui onde agora est?
Esse "edif?cio arto"
Era uma casa v?ia
Um palacete assombradado
Foi aqui seu mo?o
Que eu, Mato Grosso e o Joca
Constru?mo nossa maloca
Mais, um dia
N?is nem pode se alembr?
Veio os homi c'as ferramentas
O dono mand? derrub?
Peguemo todas nossas coisas
E fumos pro meio da rua
Aprecia a demoli??o
Que tristeza que n?is sentia
Cada t?uba que ca?a
Duia no cora??o
Mato Grosso quis grit?
Mas em cima eu falei:
Os homis t? c? raz?o
N?s arranja outro lugar
S? se conformemo quando o Joca falou:
"Deus d? o frio conforme o cobertor"
E hoje n?is pega a p?ia nas grama do jardim
E pr? esquec? n?is cantemos assim:
Saudosa maloca, maloca querida,
Dim dim donde n?is passemos os dias feliz de nossas vidas
Saudosa maloca,maloca querida,
Dim dim donde n?is passemo os dias feliz de nossas vidas.
A segunda m?sica a ser apresentada ? a m?sica In?til, do Ultraje a Rigor. Seguem os links para a m?sica e para a letra. Da mesma forma o professor pedir? que os alunos primeiramente apenas escutem, e num segundo momento escutem e acompanhem a letra (no handout), pois dessa forma eles percebem melhor o uso da licen?a po?tica na pron?ncia, sem a interfer?ncia da letra da m?sica no primeiro momento.
Dispon?vel em: <http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=kiyvRs7JEAU>. Acesso em 20 jul. 2013.
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Letra:
In?til
Ultraje a Rigor
?
A gente n?o sabemos
Escolher presidente
A gente n?o sabemos
Tomar conta da gente
A gente n?o sabemos
Nem escovar os dente
Tem gringo pensando
Que n?is ? indigente...
"In?teu"!
A gente somos "in?teu"!
"In?teu"!
A gente somos "in?teu"!
A gente faz carro
E n?o sabe guiar
A gente faz trilho
E n?o tem trem pr? botar
A gente faz filho
E n?o consegue criar
A gente pede grana
E n?o consegue pagar...
"In?teu"!
A gente somos "in?teu"!
"In?teu"!
A gente somos "in?teu"!
"In?teu"!
A gente somos "in?teu"!
"In?teu"!
A gente somos "in?teu"!
"In?teu"!
A gente somos "in?teu"!
"In?teu"!
A gente somos "in?teu"!
A gente faz m?sica
E n?o consegue gravar
A gente escreve livro
E n?o consegue publicar
A gente escreve pe?a
E n?o consegue encenar
A gente joga bola
E n?o consegue ganhar...
"In?teu"!
A gente somos "in?teu"!
"In?teu"!
A gente somos "in?teu"!
"In?teu"!
"In?teu"!
"In?teu"!
In?! in?! in?..
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Dispon?vel em: <http://letras.mus.br/ultraje-a-rigor/49189/>. Acesso em 20 jul. 2013.
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Ap?s ter apresentado as m?sicas "Saudosa Maloca" e "In?til" para os alunos, o professor dividir? os alunos em grupos de at? 4 integrantes, para que eles analisem as letras, visando identificar em quais trechos da m?sica os compositores utilizaram-se de licen?a po?tica, e qual o efeito de sentido isso provoca.
Para essa atividade o professor apresentar? o seguinte roteiro de an?lise:
Voc? est? estudando sobre licen?a po?tica. Sobre as m?sicas Saudosa Maloca e In?til, responda:
O professor alocar? em torno de 25 minutos para os alunos analisarem as duas m?sicas. Findo o prazo, o professor abrira espa?o para que os grupos apresentem suas respostas, incentivando a discuss?o sobre como os compositores lan?aram m?o da licen?a po?tica na composi??o dessas m?sicas.
Ap?s a an?lise das m?sicas o professor levar? os alunos ao laborat?rio de inform?tica para que eles, em trios, procurem mais exemplos de m?sicas que apresentem trechos que fogem ?s regras da norma padr?o, evidenciando o uso da licen?a po?tica na m?sica.
Sugest?o de sites para busca:
http://letras.kboing.com.br/#!/home
Cada grupo dever? salvar a letra da m?sica para socializar com os colegas, al?m de um link onde se possa escutar/assistir ? apresenta??o da m?sica.
Os grupos dever?o nesse momento entregar para os colegas uma c?pia da letra da m?sica que eles consideram que os compositores utilizaram-se da licen?a po?tica, e, ap?s apresentarem a m?sica, comentarem sobre qual efeito de sentido foram provocados pela altera??o da pron?ncia ou desvios da norma padr?o.
O professor pedir? aos alunos que produzam uma par?dia de alguma m?sica ou de um trecho de m?sica, valendo-se de licen?a po?tica de forma a dar mais expressividade ?s par?dias produzidas.
Para facilitar a cria??o da par?dia, o professor poder? agrupar novamente os alunos, em duplas ou trios. Ao final da produ??o, o professor abrir? espa?o para que os alunos apresentem suas par?dias.
Samba do Arnesto (citado no texto de Luka Magalh?es)
Dispon?vel em: <http://letras.mus.br/demonios-da-garoa/478690/>. Acesso em 20 jul. 2013.
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Trecho do programa do professor Pasquale em que ele responde sobre um suposto deslize gramatical, justific?vel pela licen?a po?tica, numa m?sica de Roberto Carlos:
Dispon?vel em: <http://radioglobo.globoradio.globo.com/com-a-palavra,-o-professor-pasquale/2013/02/28/LICENCA-POETICA.htm>. Acesso em 20 jul. 2013.
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Refer?ncia ao termo Licen?a po?tica na poesia:
Poema de Ad?lia Prado "Com Licen?a Po?tica".
Dispon?vel em: <http://pensador.uol.com.br/frase/MTY4MzUz/>. Acesso em 20 jul. 2013.
Nesse texto a licen?a po?tica na verdade ? um pedido de licen?a para fazer intertextualidade com o texto de Carlos Drummond de andrade:
Dispon?vel em: <http://www.horizonte.unam.mx/brasil/drumm1.html>. Acesso em 20 jul. 2013.
Os alunos dever?o ser avaliados durante todo o processo, pela participa??o nas atividades. Contudo, a an?lise da produ??o das par?dias, se eles se valem ou n?o de licen?a po?tica ? um ?timo instrumento para avaliar se eles compreenderam bem o conte?do.