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?O Tropicalismo e a Revolu??o Est?tica na Can??o Brasileira?

Autor e Co-autor(es)

Juliana Ventura de Souza Fernandes imagem do usuário

BELO HORIZONTE - MG Universidade Federal de Minas Gerais

L?gia Beatriz de Paula Germano.

Estrutura Curricular

Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Educa??o de Jovens e Adultos - 2? ciclo Hist?ria Cidadania e cultura contempor?nea
Educa??o de Jovens e Adultos - 2? ciclo Hist?ria Rela??es de poder e conflitos sociais
Ensino M?dio Hist?ria Cultura
Ensino M?dio Hist?ria Mem?ria
Ensino M?dio Hist?ria Sujeito hist?rico

Dados da Aula

O que o aluno poderá aprender com esta aula

Nessa aula o aluno ter? oportunidade de aprender o que foi o Tropicalismo, entendendo suas principais caracter?sticas e perspectivas. Tamb?m poder? compreend?-lo dentro de um contexto cultural e pol?tico mais amplo, como mais uma forma contestat?ria particular, que se diferencia de outras formas de arte engajada. 

Duração das atividades

4 aulas de 50 minutos.

Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

? necess?rio que o aluno compreenda aspectos do golpe de 1964 e da ditadura instaurada, sobretudo no que se refere ?s implica??es ao campo art?stico (censura, persegui??es pol?ticas etc...). 

Estratégias e recursos da aula

4.1 Introdu??o aos Professores

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            Se como movimento contestat?rio, ? importante que o Tropicalismo seja compreendido no contexto da ditadura ? tamb?m necess?rio lembrar que ele se relaciona com debates do campo art?stico-pol?tico anteriores, do in?cio dos anos 1960.

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4.2 Desenvolvimento

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Aula 1

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Contextualiza??o

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? importante esclarecer que o ?Tropicalismo? foi um movimento de contracultura, que se manifestou no Brasil a partir de 1967 e 1968. O ?Tropicalismo? dialogou tanto com os movimentos contraculturais internacionais, que se caracterizaram pela contesta??o social e pol?tica e com a produ??o art?stica de vanguarda (por exemplo, a ?pop-art? americana) como tamb?m com experi?ncias nacionais tais como o modernismo da Semana de Arte de 1922 (que mobilizaram quest?es dos hibridismos tradi??o x contemporaneidade, dissolu??o das fronteiras entre o ?popular? e o ?erudito?).

Apesar do t?tulo da aula dar destaque ? vertente musical do ?Tropicalismo?, sugerimos que o professor apresente aos alunos algumas quest?es b?sicas acerca do movimento, esclarecendo inclusive seu car?ter plural no que diz respeito ? diversidade de manifesta??es art?sticas. V?rios eventos inaugurais do Tropicalismo s?o localizados em 1967, com destaque para as can??es apresentadas por Caetano Veloso e Gilberto Gil no ?3? Festival de M?sica Popular da TV Record de 1967? (?Alegria, Alegria? e ?Domingo no Parque?, respectivamente). Ao mesmo tempo, as propostas tropicalistas se materializavam no teatro com as experi?ncias do Grupo Oficina (as montagens de O Rei da Vela e Roda Viva), enquanto no cinema, Terra em Transe, de Glauber Rocha radicalizava as teses do Cinema Novo, partilhando os debates tropicalistas. Nas artes pl?sticas, destaca-se, sem d?vida, a obra de H?lio Oiticica ?Tropic?lia?. Contudo, ele passaria a ser reconhecido por essa denomina??o apenas em 1968. O pr?prio Gil chega a dizer que o Tropicalismo surgiria mais como ?uma preocupa??o entusiasmada pela discuss?o do novo do que propriamente um movimento organizado?. (Gilberto Gil). O movimento n?o foi coeso, nem h? um significado un?voco para a palavra. 

Seu impacto foi importante na MPB exigindo a revis?o das bases est?ticas e valores culturais obrigando uma abertura a outras influ?ncias musicais que n?o os ?g?neros de raiz? ou materiais folcl?ricos. Ao mesmo tempo, n?o foi um movimento marginal no que se refere ? inser??o em estruturas de consumo de massa, as quais n?o se furtou.

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Desenvolvimento

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Como primeira atividade, ser? proposta a an?lise das can??es do LP ?Tropic?lia ou Panis et Circencis?, um ?lbum coletivo emblem?tico, lan?ado em 1968 por importantes representantes do Tropicalismo. A atividade deve tamb?m incluir a an?lise da capa do ?lbum, pois sua iconografia se confere em um importante registro de aspectos da postura de seus artistas e das propostas por ele defendidas.  Essa tarefa ter? um duplo objetivo. Por um lado, a an?lise do LP pode proporcionar ao aluno melhor compreens?o acerca do movimento tropicalista, com especial aten??o ao seu contexto de inser??o pol?tico-cultural e suas defesas est?tico-pol?ticas. Por outro lado, a atividade leva a uma maior aproxima??o do aluno ?s formas de se produzir hist?ria e ? amplia??o da no??o de ?vest?gio? e ?documento?, considerando-se a can??o (letra e m?sica) e a imagem como fontes do historiador. 

Assim, o professor pode organizar a turma em 12 pequenos grupos (h? 12 can??es no LP), aos quais caber?o a an?lise de uma das can??es e uma proposta de leitura da capa do LP, que deve ser pensada em rela??o ? an?lise que eles mesmos produziram acerca da can??o. Os alunos devem ser estimulados a buscarem interpreta??es sobre a letra (figuras de linguagem, aspectos po?ticos, alegorias...) e a m?sica (intensidade, tipos de instrumentos, melodia, ritmo, vocaliza??es...), considerando as discuss?es anteriores sobre as caracter?sticas do movimento, percebendo como as cr?ticas dos tropicalistas e as ideias por eles defendidas se configuram em sua produ??o art?stica. O mesmo vale para a capa (sobre a qual pode ser pensada a forma do retrato ? s?tira? cr?tica?, o pr?prio subt?tulo ? ?Panis et Circensis?, as cores, os objetos que seguram os artistas, suas vestimentas etc...). Observar com detalhes as can??es ?Gel?ia Real?, que sintetiza muitos dos aspectos do Tropicalismo e ?Baby?, que aponta uma s?rie de transforma??es do consumo.

Como a atividade demanda aparelho de ?udio, ela pode ser conduzida de duas maneiras. Se houver disponibilidade para uso na escola, ela pode ser iniciada em sala de aula e seguir no ?Para Casa? uma vez que demanda maior elabora??o por parte dos alunos. Caso contr?rio, ela pode ser inteiramente realizada pelos grupos fora de sala de aula.

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Capa Tropic??lia

Cr?ditos da Imagem:

http://tropicalia.com.br/identifisignificados/cronologia/tropicalia/68-3

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Can??es

1) Miserere Nobis (Gilberto Gil ? Capinan) 3:44 Int?rprete: Gilberto Gil.

2) Cora??o Materno (Vicente Celestino) 4:17 Int?rprete: Caetano Veloso.

3) Panis et Circencis (Caetano Veloso ? Gilberto Gil) 3:35 Int?rprete: Os Mutantes.

4) Lindon?ia (Caetano Veloso) 2:14 Int?rprete: Nara Le?o.

5) Parque Industrial (Tom Z?) 3:16 Int?rpretes: Caetano Veloso, Gal Costa, Tom Z?, Gilberto Gil e Os Mutantes.

6) Gel?ia Geral (Gilberto Gil ? Torquato Neto) 3:42 Int?rprete: Gilberto Gil.

7) Baby (Caetano Veloso) 3:31 Int?rpretes: Caetano Veloso e Gal Costa

8) Tr?s Caravelas (Las Tres Carabelas) (Algueiro Jr. ? Moreau; vers?o em portugu?s: Jo?o de Barro) 3:06 Int?rpretes: Caetano Veloso e Gilberto Gil.

9) Enquanto Seu Lobo N?o Vem (Caetano Veloso) 2:31 Int?rpretes: Caetano Veloso.

10) Mam?e, Coragem (Caetano Veloso ? Torquato Neto) 2:30 Int?rprete: Gal Costa.

11) Bat Macumba (Caetano Veloso ? Gilberto Gil) 2:33 Int?rprete: Gilberto Gil

12) Hino ao Senhor do Bonfim (Artur de Sales ? Jo?o Ant?nio Wanderley) 3:39 Int?rpretes: Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil e Os Mutantes.

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Aula 2

Desenvolvimento

            O professor deve promover um espa?o para que os alunos partilhem as interpreta??es por eles constru?das. ? interessante que o professor leve em conta na apresenta??o dos alunos a ordem das can??es do LP, uma vez que a pr?pria sequ?ncia das can??es, nesse caso, j? sugere elementos de an?lise. O professor pode, a partir da fala dos alunos, organizar um quadro geral com as caracter?sticas do Tropicalismo por eles observadas. Provavelmente, essa atividade poder? levar uma aula de 50 minutos.

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Aula 3

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Contextualiza??o

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Pontuadas as caracter?sticas do ?Tropicalismo?, a terceira aula pode se concentrar na an?lise das diferen?as entre esse movimento e outras formas de arte engajada nos anos 1960. Desde o inicio da d?cada, foram in?meras as formas de se pensar/criticar as representa??es de na??o e a pol?tica no meio art?stico, cr?ticas agravadas pelos diferentes setores da esquerda ap?s o golpe de 1964. Um foco interessante ? analisar com alunos os diferentes projetos de ?Brasil? que cada uma delas apresentava.

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Desenvolvimento

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Com esse objetivo, podemos propor dois tipos de atividade ? escolha do professor. Primeiramente, teremos em vista quatro tend?ncias art?sticas dos 1960. Apesar dos limites dessas defini??es, podemos pens?-las da seguinte maneira. A primeira delas refere-se aos artistas que mais se apropriaram das heran?as da ?Bossa Nova?, que estabelecia di?logos entre o Jazz e o Samba. Uma segunda vertente, que recusava elementos da cultura pop estrangeira e o imperialismo cultural, foi a chamada ?Can??o de Protesto? (por exemplo, Geraldo Vandr?). Em terceiro lugar, o i?-i?-i? ou Jovem Guarda preocupou-se em produzir m?sica a partir das fortes influencias do rock ingl?s e norte-americano. A quarta, finalmente, se refere ao Tropicalismo. 

A partir disso, o professor pode apresentar discos que representem essas tr?s tend?ncias (excluindo o Tropicalismo), dividir a turma em tr?s grupos e pedir que cada grupo fa?a compara??es entre eles e o LP estudado na primeira atividade, colocando em perspectiva o Tropicalismo em rela??o a outras formas culturais dos 1960.

Outra alternativa ? que o professor promova um ?mini Festival da Can??o?. Nesse caso, ele pode dividir a sala em grupos que representariam essas quatro tend?ncias e reproduziriam os Festivais que aconteceram com frequ?ncia naquela d?cada, constituindo-se palco de debate dessas distintas maneiras de interpreta??o est?tico-pol?ticas. Ser? necess?rio um espa?o apropriado ou um palco improvisado em sala de aula. O professor deve orientar os alunos a reproduzirem o ambiente cultural dos artistas que representam a partir de vestimentas e formas de linguagem.

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Aula 4

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Contextualiza??o

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            Considerado o debate sobre as distintas interpreta??es pol?ticas, o professor pode, por fim, analisar os di?logos est?ticos do Tropicalismo. Podem-se destacar a Antropofagia, a Pop Art e o Concretismo.

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Desenvolvimento

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O programa ?Divino Maravilhoso? foi ao ar na TV Tupi por apenas tr?s meses (de outubro a dezembro de 1968). A sua frente, Caetano Veloso e Gilberto Gil. A curta dura??o deveu ao inc?modo da audi?ncia com aquilo que viam. Transmitidas ao vivo, as apresenta??es n?o tinham roteiro e os cantores aproveitavam para farrear diante das c?meras. Resultado: choviam cartas de reclama??es pelo mau comportamento. A pesquisadora Ana de Oliveira, que mant?m o site http://tropicalia.com.br/, considera que ?a gota d'?gua foi quando Caetano cantou uma m?sica com um rev?lver apontado para a cabe?a". Sugere-se que o professor utilize-se de duas reportagens de Jornal  sobre o programa e sobre o Tropicalismo publicadas ? ?poca (links a seguir) e do v?deo do Programa "O Som do Vinil" da TV Brasil sobre Tropicalismo (http://www.youtube.com/watch?v=yEh2IqtoER8) para fomentar a discuss?o sobre as apropria??es pol?tico-culturais constru?das pelos Tropicalistas. Esse v?deo ? interessante por explorar contradi??es e diverg?ncias entre o pr?prio grupo e as reportagens para que se analise ? repercuss?o desse movimento cultural. 

Refer?ncia: http://tropicalia.com.br/eubioticamente-atraidos/reportagens-historicas/baianos-na-tv-divino-maravilhosohttp://tropicalia.com.br/eubioticamente-atraidos/reportagens-historicas/tropicalismo-movimento-mito-escola-ou-cafajestada-sob-encomenda

CONCLUS?O: A partir da pesquisa, da an?lise do LP e das m?sicas, da dramatiza??o e da discuss?o do programa o aluno deve ser capaz de compreender aspectos gerais do Tropicalismo, compreendendo-o como uma manifesta??o da contracultura que, apesar de cr?tica, se diferenciava de outras formas de engajamento art?stico. Tamb?m deve ser capaz de compreender o impacto do Tropicalismo na MPB. 

Recursos Complementares

Para uma discuss?o mais consistente acerca do tema, ver trabalhos de Marcos Napolitano como: NAPOLITANO, M. Seguindo a Can??o: engajamento pol?tico e Industria Cultural na. MPB (1959-1969). S?o Paulo, Annablume: Fapesp, 2001 e NAPOLITANO, Marcos. Hist?ria & m?sica: hist?ria cultural da m?sica popular. 2. ed. Belo Horizonte: Aut?ntica, 2005 120 p. Para uma discuss?o bastante aprofundada a respeito dos usos can??o no ensino de hist?ria ver o interessante trabalho de HERMETO, Miriam. Can??o Popular Brasileira e Ensino de Hist?ria. Palavras, Sons e tantos sentidos. Belo Horizonte: Aut?ntica. 2012. 

Alguns V?deos Interessantes:

http://www.youtube.com/watch?v=bl7xHuEtlyg (Entrevista de Caetano e Gilberto Gil no Festival de 1967. Aproximadamente 8 minutos) 

http://www.youtube.com/watch?v=5Ipp3_RmBcQ (Trecho de Programa Som do Vinil Tropic?lia. Parte 2. Aproximadamente 25 minutos)

https://www.youtube.com/watch?v=B-_loVXEv6M (?udio Completo do LP Tropic?lia)

Para Informa??es sobre os Festivais:

Arquivo N: Programa Produzido pela Globo News 

http://www.youtube.com/watch?v=WtcjywRsVTY

Avaliação

Os alunos ser?o avaliados por sua participa??o nas discuss?es, pela atividade de interpreta??o do LP, pela dramatiza??o e debate final.