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Cr?nica: O lixo de Lu?s Fernando Ver?ssimo

Autor e Co-autor(es)

Alessandra Fernandes de Azevedo imagem do usuário

JUIZ DE FORA - MG Universidade Federal de Juiz de Fora

Maria Cristina Weitzel Tavela

Estrutura Curricular

Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Ensino Fundamental Final L?ngua Portuguesa L?ngua oral e escrita: pr?tica de escuta e de leitura de textos

Dados da Aula

O que o aluno poderá aprender com esta aula

? Ler, compreender e interpretar o texto.
? Refletir sobre a cr?tica contida no texto.
? Conhecer as caracter?sticas de uma cr?nica.
? Analisar o uso dos pronomes de tratamento.

? Produzir um di?logo dando continuidade ? hist?ria

Duração das atividades

2 aulas de 50 minutos

Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

? Habilidades b?sicas de leitura;
? Caracter?sticas do g?nero textual: cr?nica
? Uso dos pronomes de tratamento

Estratégias e recursos da aula

? C?pia da cr?nica ?O lixo? de Lu?s Fernando Ver?ssimo para os alunos

1? AULA


Antes de iniciar a leitura da cr?nica ?O lixo? de Lu?s Fernando Ver?ssimo, converse com os alunos sobre o autor, conte um pouco sobre sua a vida e sua obra. Voc? encontra informa??es sobre o autor no site: http://www.releituras.com/lfverissimo_bio.asp


? interessante tamb?m levar para sala de aula alguns livros do autor, que podem ser selecionados na biblioteca da escola. Assim, os alunos poder?o depois lev?-los para casa e se deliciarem com as divertidas cr?nicas de Ver?ssimo.


Depois, escreva no quadro o t?tulo da cr?nica ?O lixo? e fa?a um levantamento de hip?teses com os alunos sobre o que este texto tratar?. Anote no quadro as hip?teses dos alunos.


Em seguida, distribua o texto e pe?a aos alunos que fa?am uma leitura silenciosa. Escolha dois alunos para representarem os personagens da cr?nica e um para ser o narrador. Observe a entona??o e o uso dos sinais de pontua??o.

PROFESSOR: Saiba um pouco mais sobre o g?nero:

O g?nero textual cr?nica (Heloisa Amaral* )

A palavra ?cr?nica?, em sua origem, est? associada ? palavra grega ?khr?nos?, que significa tempo. De khr?nos veio chronik?s, que quer dizer ?relacionado ao tempo?. No latim existia a palavra ?chronica?, para designar o g?nero que fazia o registro dos acontecimentos hist?ricos, ver?dicos, numa seq??ncia cronol?gica, sem um aprofundamento ou interpreta??o dos fatos. Como se comprova pela origem de seu nome, a cr?nica ? um g?nero textual que existe desde a Idade Antiga e vem se transformando ao longo do tempo. Justificando o nome do g?nero que escreviam, os primeiros cronistas relatavam, principalmente, aqueles acontecimentos hist?ricos relacionados a pessoas mais importantes, como reis, imperadores, generais etc.
A cr?nica contempor?nea ? um g?nero que se consolidou por volta do s?culo XIX, com a implanta??o da imprensa em praticamente todas as partes do planeta. A partir dessa ?poca, os cronistas, al?m de fazerem o relato em ordem cronol?gica dos grandes acontecimentos hist?ricos, tamb?m passaram a registrar a vida social, a pol?tica, os costumes e o cotidiano do seu tempo, publicando seus escritos em revistas, jornais e folhetins. Ou seja, de um modo geral, importantes escritores come?am a usar as cr?nicas para registrar, de modo ora mais liter?rio, ora mais jornal?stico, os acontecimentos cotidianos de sua ?poca, publicando-as em ve?culos de grande circula??o.
Os autores que escrevem cr?nicas como g?nero liter?rio, recriam os fatos que relatam e escrevem de um ponto de vista pessoal, buscando atingir a sensibilidade de seus leitores. As que t?m esse tom chegam a se confundir com contos. Embora apresente caracter?stica de literatura, o g?nero tamb?m apresenta caracter?sticas jornal?sticas: por relatar o cotidiano de modo conciso e de serem publicadas em jornais, as cr?nicas t?m exist?ncia breve, isto ?, interessam aos leitores que podem partilhar esses fatos com os autores por terem vivido experi?ncias semelhantes.
As caracter?sticas atuais do g?nero, por?m, n?o est?o ligadas somente ao desenvolvimento da imprensa. Tamb?m est?o intimamente relacionadas ?s transforma??es sociais e ? valoriza??o da hist?ria social, isto ?, da hist?ria que considera importantes os movimentos de todas as classes sociais e n?o s? os das grandes figuras pol?ticas ou militares. No registro da hist?ria social, assim como na escrita das cr?nicas, um dos objetivos ? mostrar a grandiosidade e a singularidade dos acontecimentos mi?dos do cotidiano.
Ao escrever as cr?nicas contempor?neas, os cronistas organizam sua narrativa em primeira ou terceira pessoa, quase sempre como quem conta um ca so, em tom intimista. Ao narrar, inse rem em seu texto trechos de di?logos, recheados com express?es cotidianas.
Escrevendo como quem conversa com seus leitores, como se estivessem muito pr?ximos, os autores os envolvem com reflex?es sobre a vida social, pol?tica, econ?mica, por vezes de forma humor?stica, outras de modo mais s?rio, outras com um jeito po?tico e m?gico que indica o pertencimento do g?nero ? literatura.
Assim, uma forte caracter?stica do g?nero ? ter uma linguagem que mescla aspectos da escrita com outros da oralidade. Mesmo quando apresenta aspectos de g?nero liter?rio, a cr?nica, por conta do uso de linguagem coloquial e da proximidade com os fatos cotidianos, ? vista como literatura ?menor?. Ao registrar a obra de grandes autores, como Machado, por exemplo, os cr?ticos v?em em seus romances como as verdadeiras obras de arte e as cr?nicas como produ??es de segundo plano. Essa classifica??o como g?nero liter?rio menor n?o diminui sua import?ncia. Por serem breves, leves, de f?cil acesso, envolventes, elas possibilitam momentos de frui??o a muitos leitores que nem sempre t?m acesso aos romances.
No Brasil, a partir da segunda metade do s?culo XIX, muitos autores famosos passaram a escrever cr?nicas para folhetins. Coelho Neto, Jos? de Alencar, Machado de Assis estavam entre aqueles que sobreviviam do jornalismo enquanto criavam seus romances.
Os cronistas, atualmente, s?o numerosos e costumam ter, cada um deles, seus leitores fi?is. Hoje, os cronistas nem sempre s?o romancistas que escrevem cr?nicas para garantir sua sobreviv?ncia. H? aqueles que v?m do meio jornal?stico ou de outras m?dias, como r?dio e TV. Por isso, a publica??o do g?nero tamb?m ocorre em meios diversificados: h? cronistas que l?em suas cr?nicas em programas de TV ou r?dio e outros que as publicam em sites na internet.
Pelo fato dos autores serem origin?rios de diferentes campos de atividade e de publicarem seus textos em v?rias m?dias, as cr?nicas atuais apresentam marcas dessas atividades. Por isso, h?, atualmente, diferentes estilos de cr?nicas, associados ao perfil de quem as escreve. Todos os estilos, por?m, acabam por encaixar-se em tr?s grandes grupos de cr?nicas: as po?ticas, as humor?sticas e as que se aproximam dos ensaios. Estas ?ltimas t?m tom mais s?rio e analisam fatos pol?ticos, sociais ou econ?micos de grande import?ncia cultural.

*Helo?sa Amaral ? mestre em educa??o, autora do Caderno do Professor - Orienta??o para produ??o de textos - Pontos de vista
Fonte: http://escrevendo.cenpec.org.br/ecf/index.php?option=com_content&task=view&id=942

TEXTO

O lixo

Lu?s Fernando Ver?ssimo

Encontram-se na ?rea de servi?o. Cada um com seu pacote de lixo. ? a primeira vez que se falam.
- Bom dia...
- Bom dia.
- A senhora ? do 610.
- E o senhor do 612
- ?.
- Eu ainda n?o lhe conhecia pessoalmente...
- Pois ?...
- Desculpe a minha indiscri??o, mas tenho visto o seu lixo...
- O meu qu??
- O seu lixo.
- Ah...
- Reparei que nunca ? muito. Sua fam?lia deve ser pequena...
- Na verdade sou s? eu.
- Mmmm. Notei tamb?m que o senhor usa muito comida em lata.
- ? que eu tenho que fazer minha pr?pria comida. E como n?o sei cozinhar...
- Entendo.
- A senhora tamb?m...
- Me chame de voc?.
- Voc? tamb?m perdoe a minha indiscri??o, mas tenho visto alguns restos de comida em seu lixo. Champignons, coisas assim...
- ? que eu gosto muito de cozinhar. Fazer pratos diferentes. Mas, como moro sozinha, ?s vezes sobra...
- A senhora... Voc? n?o tem fam?lia?
- Tenho, mas n?o aqui.
- No Esp?rito Santo.
- Como ? que voc? sabe?
- Vejo uns envelopes no seu lixo. Do Esp?rito Santo.
- ?. Mam?e escreve todas as semanas.
- Ela ? professora?
- Isso ? incr?vel! Como foi que voc? adivinhou?
- Pela letra no envelope. Achei que era letra de professora.
- O senhor n?o recebe muitas cartas. A julgar pelo seu lixo.
- Pois ?...
- No outro dia tin ha um envelope de telegrama amassado.
- ?.
- M?s not?cias?
- Meu pai. Morreu.
- Sinto muito.
- Ele j? estava bem velhinho. L? no Sul. H? tempos n?o nos v?amos.
- Foi por isso que voc? recome?ou a fumar?
- Como ? que voc? sabe?
- De um dia para o outro come?aram a aparecer carteiras de cigarro amassadas no seu lixo.
- ? verdade. Mas consegui parar outra vez.
- Eu, gra?as a Deus, nunca fumei.
- Eu sei. Mas tenho visto uns vidrinhos de comprimido no seu lixo...
- Tranq?ilizantes. Foi uma fase. J? passou.
- Voc? brigou com o namorado, certo?
- Isso voc? tamb?m descobriu no lixo?
- Primeiro o buqu? de flores, com o cart?ozinho, jogado fora. Depois, muito len?o de papel.
- ?, chorei bastante, mas j? passou.
- Mas hoje ainda tem uns lencinhos...
- ? que eu estou com um pouco de coriza.
- Ah.
- Vejo muita revista de palavras cruzadas no seu lixo.
- ?. Sim. Bem. Eu fico muito em casa. N?o saio muito. Sabe como ?.
- Namorada?
- N?o.
- Mas h? uns dias tinha uma fotografia de mulher no seu lixo. At? bonitinha.
- Eu estava limpando umas gavetas. Coisa antiga.
- Voc? n?o rasgou a fotografia. Isso significa que, no fundo, voc? quer que ela volte.
- Voc? j? est? analisando o meu lixo!
- N?o posso negar que o seu lixo me interessou.
- Engra?ado. Quando examinei o seu lixo, decidi que gostaria de conhec?-la. Acho que foi a poesia.
- N?o! Voc? viu meus poemas?
- Vi e gostei muito.
- Mas s?o muito ruins!
- Se voc? achasse eles ruins mesmo, teria rasgado. Eles s? estavam dobrados.
- Se eu soubesse que voc? ia ler...
- S? n?o fiquei com eles porque, afinal, estaria roubando. Se bem que, n?o sei: o lixo da pessoa ainda ? propriedade dela?
- Acho que n?o. Lixo ? dom?nio p?blico.
- Voc? tem raz?o. Atrav?s do lixo, o particular se torna p?blico. O que sobra da nossa vida privada se integra com a sobra dos outros. O lixo ? comunit?rio. ? a nossa parte mais social. Ser? isso?
- Bom, a? voc? j? est? indo fundo demais no lixo. Acho que...
- Ontem, no seu lixo...
- O qu??
- Me enganei, ou eram cascas de camar?o?
- Acertou. Comprei uns camar?es gra?dos e descasquei.
- Eu adoro camar?o.
- Descasquei, mas ainda n?o comi. Quem sabe a gente pode...
- Jantar juntos?
- ?.
- N?o quero dar trabalho.
- Trabalho nenhum.
- Vai sujar a sua cozinha?
- Nada. Num instante se limpa tudo e p?e os restos fora.
- No seu lixo ou no meu??


Fonte: http://7leitores.blogspot.com/2008/07/o-lixo-luis-fernando-verssimo.html

2? AULA:

Ap?s a leitura coletiva, entregue aos alunos atividades referentes ao texto. Segue abaixo uma sugest?o de atividade.

1) Preencha o quadro abaixo:

T?tulo
Assunto
Personagens
G?nero textual
Autor
Fonte

PARA CONHECIMENTO DO PROFESSOR

Observa??o:
G?nero (textual, de texto, discursivo, do discurso)
Trata-se de textos orais ou escritos materializados em situa??es comunicativas recorrentes. Os g?neros textuais s?o os textos que encontramos em nossa vida di?ria com padr?es s?cio-comunicativos caracter?sticos definidos por sua composi??o, objetivos enunciativos e estilo concretamente realizados por for?as hist?ricas, sociais, institucionais e tecnol?gicas. Os g?neros constituem uma listagem aberta, s?o entidades emp?ricas em situa??es comunicativas e se expressam em designa??es tais como: serm?o, carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete, reportage m jorna l?stica, aula expositiva, not?cia jornal?stica, hor?scopo, receita culin?ria, bula de rem?dio, lista de compras, card?pio de restaurante, resenha, edital de concurso, piada, conversa??o espont?nea, c onfer?ncia, e-mail, b ate-papo por computador, aul as virtuais e assim por diante. Como tal, os g?neros s?o formas textuais escritas ou orais bastante est?veis, hist?rica e socialmente situadas.
Fonte: http://escrevendo.cenpec.org.br/ecf/index.php?option=com_content&task=view&id=181&Itemid=60

2) A cr?nica ? um g?nero textual que traz, expl?cita ou implicitamente, uma cr?tica a algum aspecto da vida em sociedade. Em rela??o ? cr?nica ?O lixo? , de Ver?ssimo, qual a cr?tica presente?

3) Onde aconteceu o primeiro encontro dos personagens?

4) No in?cio do di?logo, os personagens se cumprimentam e, em seguida, iniciam uma conversa.
a) Qual ? a forma de tratamento usada por eles?
b) Que palavra representa essa forma de tratamento?

5) A conversa entre os personagens continua. A senhora do 610 diz: ?Me chame de voc??.
a) Qual foi a mudan?a ocorrida quanto a forma de tratamento?
b) Qual a palavra que aponta para essa mudan?a?
c) Quanto ao uso do pronome ?me? na frase acima, ele est? de acordo com a variedade padr?o ou n?o? Justifique sua resposta.

4) Qual a estrat?gia utilizada pela senhora do 610 para saber se o senhor do 612 tem fam?lia ou n?o?

5) Por meio dos objetos jogados no lixo pelos personagens podemos levantar hip?teses quanto ? condi??o social deles. Qual ? a condi??o social de cada um? Justifique sua resposta com elementos do texto.

6) Como o senhor do 612 descobriu que a senhora do 610 tinha parentes no Esp?rito Santo? Quem ? o parente distante da senhora? O que mais ele descobriu sobre essa pessoa (parente)?

7) Em ?Isso ? incr?vel!! Como foi que voc? adivinhou??, o elemento destacado retoma qual ideia?

8) De acordo com a cr?nica, os elementos abaixo fazem com que cada personagem chegue a uma conclus?o. Aponte a conclus?o a que cada um chegou a partir dos elementos:
a) telegrama amassado:
b) carteira de cigarro amassadas:
c) vidrinhos de comprimidos
d) buqu? de flores:
e) palavras cruzadas:
f) fotografia:

9) Em ?Voc? brigou com o namorado, certo??, o senhor do 612 conclui que a senhora do 610 havia terminado com o namorado. Descreva os passos do racioc?nio do homem para alcan?ar essa conclus?o.

10) Toda a conversa revela um drama muito comum entre os habitantes das grandes cidades. Que drama ? esse?

Avaliação

Produ??o textual

Releia o final da cr?nica ?O lixo? de Ver?ssimo:

?- Acertou. Comprei uns camar?es gra?dos e descasquei.
- Eu adoro camar?o.
- Descasquei, mas ainda n?o comi. Quem sabe a gente pode...
- Jantar juntos?
- ?.
- N?o quero dar trabalho.
- Trabalho nenhum.
- Vai sujar a sua cozinha?
- Nada. Num instante se limpa tudo e p?e os restos fora.
- No seu lixo ou no meu??


Escreva um pequeno di?logo dando continuidade deste encontro entre o senhor do 612 e a senhora do 610.