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Mem?rias

Autor e Co-autor(es)

Lazuita Goretti de Oliveira imagem do usuário

UBERLANDIA - MG ESC DE EDUCACAO BASICA

Eliana Dias

Estrutura Curricular

Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Educa??o de Jovens e Adultos - 2? ciclo L?ngua Portuguesa Linguagem escrita: leitura e produ??o de textos
Ensino Fundamental Final L?ngua Portuguesa L?ngua oral e escrita: pr?tica de produ??o de textos orais e escritos

Dados da Aula

O que o aluno poderá aprender com esta aula

? Compreender o que ? mem?ria;
? ler e analisar textos de mem?ria;
? identificar e usar palavras e express?es que marcam o tempo passado;
? observar o uso do pret?rito perfeito e do imperfeito;
? produzir um texto de mem?rias.

Duração das atividades

4 aulas de 50 minutos

Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

? demonstrar habilidades b?sicas de leitura;
? conhecer a estrutura narrativa;
? conhecer tempos e modos verbais.

Estratégias e recursos da aula

                   

Utiliza??o do laborat?rio de inform?tica;
atividades em pequenos grupos em sala de aula.


Aula 1
Atividade 1

A tem?tica a ser trabalhada trata-se do g?nero discursivo mem?rias.

Importante: S?o textos que recuperam uma ?poca com base em lembran?as pessoais. Esse tipo de texto geralmente desperta emo??es no leitor por meio da beleza e profundidade da linguagem.


Para motivar os alunos a respeito do tema, o professor dever? conversar com eles, perguntando:
a. Quem se lembra de um acontecimento marcante acontecido quando era crian?a? Uma festa, uma viagem, uma travessura, um passeio?
b. Fotografias e objetos antigos podem nos ajudar a recuperar lembran?as do passado?
c. H? diferen?a de sentido entre a palavra mem?ria no singular e mem?rias no plural?

Atividade 2

Em c?rculo, o professor dever? informar aos alunos que geralmente mem?rias liter?rias s?o produzidas por escritores a convites de editoras, no entanto, qualquer pessoa mais velha t?m muito o que contar.  Na sequ?ncia, o professor dever? apresentar aos alunos o texto ?Como num filme? de Ant?nio Gil Neto e pedir que o leiam (se o professor considerar conveniente, poder? fazer a leitura do texto em voz alta  para os alunos).

Como num filme

N?o foi dif?cil cair nas gra?as de Seu Amalfi. Direto, sincero, amoroso, foi logo falando de sua vida, com um jeito meio solto, especial, como quem vai montando uma seq??ncia de cenas em nosso pensamento. De in?cio, est?ticas e em preto-e-branco, e, aos poucos, em impulsos coloridos. Depois de uma ou outra pergunta, quase nem precisei falar mais nada. Apenas ouvir, entregar-se ? brincadeira da mem?ria era o que bastava.
Ele foi contando, contando e imagens foram se instalando em mim como quem entra em um filme.
"Esse cheirinho de caf? pendurado no vento leve conduz a meu tempo mais antigo.
Pensei ouvir bem baixinho um fiapo de uma can??o napolitana e tudo veio ? tona. Logo lembrei-me de minha m?e torrando caf?, fazendo o p?o, a macarronada. Bem que procuro n?o pensar muito para n?o marejar os olhos.
O come?o de tudo foi na It?lia. De l? vieram meus pais. Fugidos do horror da guerra, acabaram por fazer a vida aqui em S?o Paulo, onde nasci.
? a partir dessas lembran?as que minha cabe?a parece uma m?quina de fabricar filmes.
Recordo muita coisa. N?o s? do que minha m?e contava, mais ainda das que eu vivi.
L? pelos idos de 1929, com cerca de sete anos de idade, era menino feito. Minha vida era um misto de cowboy com Tarzan. Onde hoje fica o Shopping Center Norte era s? mato, ?gua e muita, muita terra. Era l? meu para?so. Meu e dos meus amigos: o Vitorino, o Zacarias... Vivia para jogar futebol, nadar, pescar e ca?ar passarinhos.
Uma brincadeira de que gost?vamos muito era ?chocar o trem?. Sabe o que ? isso?
Era subir rapidinho no trem em movimento. Ele andava bem devagar, ? claro, levando pedras da Serra da Cantareira para construir a cidade. Com o tempo seu trajeto se encheu de bairros: Tucuruvi, Ja?an?, Vila Mazzei, ?gua Fria e mais o que h? agora. Lembra aquela m?sica do Adoniran? Tem a ver com esse trem...

Da escola n?o gostava tanto. N?o era um bom aluno, mas era esperto, vivido. Isso sim. O que acabava ajudando em muitas situa??es... Em um abrir e fechar dos olhos da mem?ria l? est?o a escola, o corre-corre das crian?as e todos eles, intactos e em plena labuta do dia: Dona Albertina, Dona Isabel, Seu Lu?s, os professores. Ainda o Seu Peter, o diretor, e Seu Luigi, o servente. Quantas vezes em meio ? c?pia da lousa, que seguia plena em sil?nci o e dever, disparava um piscar enviesado para meus companheiro s de time. Quebr?vam os as pontas dos l?pis e com o descaramento e a falsa pretens?o de de ixarmos todos eles apontadinhos para a letra ficar bem desenhada e bem bonit a nas nossas brochuras, l? ?amos n?s, atr?s da porta e com a gilette em punho, armar em cochichos a melhor estrat?gia para o pr?ximo jogo. Tudo lorota!
Meio moleque, meio mocinho, sempre dava algum jeito de arranjar um dinheirinho para ir ? Volunt?rios, uma das poucas ruas cal?adas do bairro, nas matin?s do cine Orion.
Meu figurino era feito por minha m?e: uma camisa clara, bem limpa e passadinha com ferro de brasa. Com meus colegas ia ver o que estava em cartaz. Bangue-bangue era o melhor. Lembro-me do BuckJones, do Rin Tin Tin, do Roy Rogers e mais uma por??o daqueles bambas do momento. Tamb?m me recordo do cine Vogue e de Seu Carvalho, seu dono e operador, que, ao constatar a enorme fila na bilheteria, dizia para n?s, garotos, com certo orgulho solene, s? haver lugares em p?. Entr?vamos mesmo assim. Depois de alguns minutos j? t?nhamos nossos lugares escolhidos e... sentados. No escurinho do filme come?ado, queim?vamos um barbante malcheiroso que fazia todo mundo desaparecer de nosso lugar preferido. Com?dia pura, n?o ??
Com o passar dos anos, veio o tempo do trabalho para valer. De aprendiz de qu?mico tornei-me o titular na f?brica de perfumes dos libaneses. Fiz de tudo l?: brilhantina, rouge, p?-de-arroz, produtos muito usados na ?poca. Veio tamb?m o tempo do namoro s?rio e, com ele, o cinema com sorvete a dois. Minha vida era um filme de aventuras, mais que outra coisa. Tive de vencer muitos obst?culos. E foi um bom tempo assim.
Construir uma fam?lia n?o ? f?cil, mas, como se sabe, o amor sempre vence.
Como nos filmes de amor, acabei me casando em technicolor e em cinemascope, como um gal?, com minha Mercedes, mais bonita que Greta Garbo ou qualquer outra estrela de Hollywood. Com ela comecei a freq?entar o centro de S?o Paulo. ?amos de bonde el?trico, desc?amos na Pra?a do Correio e and?vamos de bra?os dados pelos pontos mais elegantes da cidade.
Misturados aos carros que pertenciam a gente muito rica, estavam os cabriol?s, uma esp?cie de carro?a puxada a cavalos... Na Avenida S?o Jo?o estavam os melhores cinemas: o Marab?, o Olido, com seus camarotes e frisas. Quantos filmes! ?O Canal de Suez?, ?O Morro dos Ventos Uivantes?, ?E o Vento Levou!?. Vejo-nos direitinho, como em um musical indo para a cidade de bonde. O condutor, o Delmiro, mais parecia um bailarino, um Fred Astaire tropical, por conta dos trejeitos, malabarismos de corpo que fazia ao parar, descer, cumprimentar, receber as pessoas, acomod?-las e, enfim, conduzir o bonde.
Era mais que um motorneiro. Esse era um show ? parte!
Se bem me lembro, o cinema me acompanhou a vida inteira. Isso porque sou do tempo do cinema mudo, veja voc?, onde os violinos e o piano faziam nossa imagina??o ouvir as vozes e sentir as emo??es dos artistas que passavam r?pidos nas telas. Depois veio o cinema falado e para n?s isso era a maior e a melhor inven??o. Olhando para o que se passou, constato que fui um bom freq?entador das telas. Com chuva ou com sol!
At? nossa primeira filha, com poucos meses de idade, n?o impedia nossa divers?o preferida! Era nossa figurante proibida. ?amos ao Bom Retiro, ao cine Lux. L? eu conhecia todo mundo e sent?vamos com a menina nos bra?os bem na ultima fila, caso precis?ssemos sair ?s pressas para acalmar um choro repentino. Assistimos a tantas hist?rias e nossa menina dormia profundamente. Quase sempre.
Talvez por conta de trabalho, das exig?ncias da vida, dos cuidados com a fam?lia e mesmo com a facilidade da televis?o, acabei me dando conta de que fiquei muito tempo sem ir ao cinema. Engra?ado, agora que estou praticamente sozinho, em conseq??ncia das perdas que a vida nos traz, o cinema volta com toda a for?a. N?o perco quase nada do que passa nos shoppings perto de cas a. Tudo ? mais confo rt?vel, imenso. Mas tudo ? mais barulhento, apressado e real dem ais. N?o sobra muito tempo para sonharmos.
Mesmo assim, quero ir a outros cinemas desta cidade que cresceu e cresce tanto. O jeito ? me armar de um celular para que minha filha n?o fique t?o preocupada comigo por causa dessas minhas novas aventuras cinematogr?ficas."
Quando releio o que est? escrito, n?o sei onde est? o que o Seu Amalfi me contou e onde est? o que projetei de sua vida em mim. Engra?ado mesmo! Perdi-me nos labirintos da imagina??o, onde o presente e o passado se fundem em um s? desenho. A mem?ria brinca com o tempo, como em um filme, como uma crian?a feliz.

Antonio Gil Neto, escritor paulista.
Texto escrito com base no depoimento do sr. Amalfi Mansutti, 82 anos


Dispon?vel no site:

http://www.desvendandopalavras.com/2008/08/desvendando-palavras.html


Aula 2

Para rememorar o que foi lido na aula anterior, os alunos dever?o reler silenciosamente o texto, para responderem ?s perguntas seguintes:
1. O autor relata as mem?rias de seu entrevistado. O que mais lhe chamou aten??o na hist?ria do Sr Amalfi?
2. Qual o significado da express?o ?chocar o trem??
3. A descri??o pode ser utilizada como recurso para envolver o leitor e aproxim?-lo da experi?ncia trazida pelo autor do texto. Retire do texto, passagens descritivas em o narrador-personagem al?m de descrever conta seus sentimentos e impress?es.
4. O ponto de exclama??o ? usado para transmitir ao leitor sentimentos como espanto, admira??o, surpresa ou alegria. Identifique no texto, o emprego do ponto de exclama??o com essa fun??o.
5. Ao escreverem mem?rias, os autores se preocupam em caracterizar os lugares e as pessoas do passado. Eles fazem tamb?m a compara??o entre o tempo antigo e o atual, mostrando as diferen?as. Comprove essa afirma??o com passagens do texto.
6. A cidade de S?o Paulo era bem diferente naquele tempo.
a. Como eram os meios de transporte urbano? E o tr?nsito? E as constru??es?
b. Como era o cinema?
7. Voc? sabe quem foi Adoniran Barbosa?
8. O autor de mem?rias usa verbos no passado para marcar um tempo do qual se lembra e se foi. Os tempos verbais predominantes e essenciais no g?nero mem?rias s?o o pret?rito perfeito e pret?rito imperfeito.

Observe estas passagens do texto:
a. ?At? nossa primeira filha, com poucos meses de idade, n?o impedia nossa divers?o preferida! Era nossa figurante proibida. ?amos ao Bom Retiro, ao cine Lux. L? eu conhecia todo mundo e sent?vamos com a menina nos bra?os bem na ultima fila, caso precis?ssemos sair ?s pressas para acalmar um choro repentino. Assistimos a tantas hist?rias e nossa menina dormia profundamente. Quase sempre.?
Qual ? o tempo verbal predominante nesse trecho?
b.?Com o passar dos anos, veio o tempo do trabalho para valer. De aprendiz de qu?mico, tornei-me o titular na f?brica de perfumes dos libaneses. Fiz de tudo l?: brilhantina, rouge, p?-de-arroz, produtos muito usados na ?poca. Veio tamb?m o tempo do namoro s?rio e, com ele, o cinema com sorvete a dois.?
Qual ? o tempo verbal predominante neste trecho?
Compare os dois trechos e explique a diferen?a entre os dois tempos verbais do passado.


Importante: o professor dever?  aproveitar o momento e explorar com os alunos o emprego do pret?rito perfeito e do imperfeito: o pret?rito perfeito marca as a??es que se destacam ?o cinema me acompanhou a vida inteira?. J? o uso do pret?rito imperfeito marca o ?tempo do relembrar? que ? o tempo das mem?rias.

9. Nas mem?rias, h? palavras e express?es que ajudam o leitor a localizar a ?poca em que os fatos ocorreram. Marque no texto, al?m dos verbos, todas as palavras que mostram que os epis?dios ocorreram no passado .
10. r ouge; lorota. Procure n o dicion?rio o significado des sas palavras com o objetivo de levar a melhor acep??o para o contexto de onde foi retirada.
11. No ?ltimo par?grafo, o autor compara as mem?rias a qu?? Voc? concorda com essa compara??o? Explique.


Aula 3
Produ??o de texto

O professor dever? propor aos alunos que se re?nam em pequenos grupos (tr?s alunos) para conversar com pessoas mais velhas da escola, amigos, familiares ou vizinhos. Eles dever?o pedir a essas pessoas que falem de suas lembran?as.Os alunos dever?o fazer uma colet?nea dos relatos ouvidos. Poder?o gravar a entrevista, com a permiss?o do entrevistado.
De posse dessa colet?nea, em sala de aula, cada aluno dever? ocupar o lugar de um memorialista e escrever um texto em primeira pessoa, assim como o autor Ant?nio Gil Neto no texto ?Como num ffilme?.
Os alunos dever?o trocar os textos entre si para leitura e aprecia??o.


Aula 4
O professor dever? levar os alunos ao laborat?rio de inform?tica para que eles digitem seus textos. Ap?s a corre??o dos textos pelo professor, os textos dever?o ser expostos em um mural apropriado da escola, para aprecia??o da comunidade escolar.

Avaliação

O professor far? a avalia??o durante todo o processo, ou seja, em todos os momentos em que os estudantes estiverem participando das discuss?es propostas e, individualmente, por meio da realiza??o das diferentes atividades escritas. Em rela??o ? produ??o do texto de mem?rias, ao corrigi-lo, o professor dever? verificar se o aluno desenvolveu a proposta e se o objetivo da produ??o foi atingido.