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Gênero discursivo: crônica

Autor e Co-autor(es)

Eliane Candida Pereira imagem do usuário

SAO PAULO - SP Universidade de São Paulo

Estrutura Curricular

Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Ensino Médio Língua Portuguesa Gêneros discursivos: narrativo, argumentativo, descritivo, injuntivo, dialogal
Ensino Médio Literatura Estudos literários: análise e reflexão
Ensino Médio Literatura Literatura brasileira, clássica e contemporânea: criações poéticas, dramáticas e ficcionais da cultura letrada

Dados da Aula

O que o aluno poderá aprender com esta aula

Refletir sobre o gênero discursivo Crônica

Duração das atividades

5 aulas

Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

É interessante levantar o que os alunos já sabem sobre crônicas para provocar desestabilização de hipóteses e, ou, ampliação dos conhecimentos.

Estratégias e recursos da aula

  • Exibir o vídeo com a biografia de Luís Fernando Veríssimo disponível no Portal do Professor:



 

  • Perguntar  aos alunos se já conheciam o autor e  o que são “crônicas”.
  • Propor a leitura compartilhada da crônica O Lixo, de Luis Fernando Veríssimo, um aluno lendo as falas da personagem masculina e outra as falas da personagem feminina, oferecendo-lhes cópias do texto:


O lixo


Encontram-se na área de serviço. Cada um com seu pacote de lixo. É a primeira vez que se falam.
- Bom dia...
- Bom dia.
- A senhora é do 610.
- E o senhor do 612
- É.
- Eu ainda não lhe conhecia pessoalmente...
- Pois é...
- Desculpe a minha indiscrição, mas tenho visto o seu lixo...
- O meu quê?
- O seu lixo.
- Ah...
- Reparei que nunca é muito. Sua família deve ser pequena...
- Na verdade sou só eu.
- Mmmm. Notei também que o senhor usa muito comida em lata.
- É que eu tenho que fazer minha própria comida. E como não sei cozinhar...
- Entendo.
- A senhora também...
- Me chame de você.
- Você também perdoe a minha indiscrição, mas tenho visto alguns restos de comida em seu lixo. Champignons, coisas assim...
- É que eu gosto muito de cozinhar. Fazer pratos diferentes. Mas, como moro sozinha, às vezes sobra...
- A senhora... Você não tem família?
- Tenho, mas não aqui.
- No Espírito Santo.
- Como é que você sabe?
- Vejo uns envelopes no seu lixo. Do Espírito Santo.
- É. Mamãe escreve todas as semanas.
- Ela é professora?
- Isso é incrível! Como foi que você adivinhou?
- Pela letra no envelope. Achei que era letra de professora.
- O senhor não recebe muitas cartas. A julgar pelo seu lixo.
- Pois é...
- No outro dia tinha um envelope de telegrama amassado.
- É.
- Más notícias?
- Meu pai. Morreu.
- Sinto muito.
- Ele já estava bem velhinho. Lá no Sul. Há tempos não nos víamos.
- Foi por isso que você recomeçou a fumar?
- Como é que você sabe?
- De um dia para o outro começaram a aparecer carteiras de cigarro amassadas no seu lixo.
- É verdade. Mas consegui parar outra vez.
- Eu, graças a Deus, nunca fumei.
- Eu sei. Mas tenho visto uns vidrinhos de comprimido no seu lixo...
- Tranqüilizantes. Foi uma fase. Já passou.
- Você brigou com o namorado, certo?
- Isso você também descobriu no lixo?
- Primeiro o buquê de flores, com o cartãozinho, jogado fora. Depois, muito lenço de papel.
- É, chorei bastante, mas já passou.
- Mas hoje ainda tem uns lencinhos...
- É que eu estou com um pouco de coriza.
- Ah.
- Vejo muita revista de palavras cruzadas no seu lixo.
- É. Sim. Bem. Eu fico muito em casa. Não saio muito. Sabe como é.
- Namorada?
- Não.
- Mas há uns dias tinha uma fotografia de mulher no seu lixo. Até bonitinha.
- Eu estava limpando umas gavetas. Coisa antiga.
- Você não rasgou a fotografia. Isso significa que, no fundo, você quer que ela volte.
- Você já está analisando o meu lixo!
- Não posso negar que o seu lixo me interessou.
- Engraçado. Quando examinei o seu lixo, decidi que gostaria de conhecê-la. Acho que foi a poesia.
- Não! Você viu meus poemas?
- Vi e gostei muito.
- Mas são muito ruins!
- Se você achasse eles ruins mesmo, teria rasgado. Eles só estavam dobrados.
- Se eu soubesse que você ia ler...
- Só não fiquei com eles porque, afinal, estaria roubando. Se bem que, não sei: o lixo da pessoa ainda é propriedade dela?
- Acho que não. Lixo é domínio público.
- Você tem razão. Através do lixo, o particular se torna público. O que sobra da nossa vida privada se integra com a sobra dos outros. O lixo é comunitário. É a nossa parte mais social. Será isso?
- Bom, aí você já está indo fundo demais no lixo. Acho que...
- Ontem, no seu lixo...
- O quê?
- Me enganei, ou eram cascas de camarão?
- Acertou. Comprei uns camarões graúdos e descasquei.
- Eu adoro camarão.
- Descasquei, mas ainda não comi. Quem sabe a gente pode...
- Jantar juntos?
- É.
- Não quero dar trabalho.
- Trabalho nenhum.
- Vai sujar a sua cozinha?
- Nada. Num instante se limpa tudo e põe os restos fora.
- No seu lixo ou no meu?

Fonte: Disponível em http://literal.terra.com.br/verissimo/porelemesmo/porelemesmo_lixo.shtml?porelemesmo

Originalmente publicada em O Analista de Bagé. L&PM, 1981.
 

  • Discutir com a turma conteúdo do texto, a linguagem utilizada, a estrutura escolhida pelo autor.
  • Na sala de informática, pedir que os alunos acessem outras crônicas de Veríssimo disponíveis em http://literal.terra.com.br/verissimo/ , apontem quais as temáticas abordadas nos textos e o que caracteriza a produção textual desse autor, levando-os a reflexão sobre esse gênero discursivo.
  • Peça que os alunos façam pesquisas em dicionários, enciclopédias, livros de teoria literária e na Internet, sobre o histórico das crônicas no Brasil.
  • Promova uma socialização das informações pesquisadas e da reflexão sobre o gênero discursivo.
  • Divida a turma em grupos e definam temas para que pesquisem crônicas de diversos autores (exemplo: futebol, amor, escola, família, etc.). Cada grupo assume um tema e tem a tarefa de compartilhar crônicas sobre o mesmo na aula seguinte. Alerte-os que na Internet encontram-se muitos textos que têm autoria duvidosa atribuídos a autores famosos, devendo-se analisar a procedência da informação e a autoria do site.
  • Ao final, promova um sarau de crônicas.

 

 

Recursos Educacionais

Nome Tipo
Luis Fernando Veríssimo Vídeo

Recursos Complementares

Saiba mais sobre crônicas em http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=literatura/docs/literatura1 e http://www.sitedeliteratura.com/Teoria/cronicas.htm

Avaliação

Observe quais os aspectos analisados pelos alunos ao discutirem as crônicas de Luís Fernando Veríssimo, bem como, o envolvimento e o interesse dos grupos no sarau.