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Detetives e culpados em ação.

 

10/12/2009

Autor y Coautor(es)
Maria Luiza Scafutto
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JUIZ DE FORA - MG Universidade Federal de Juiz de Fora

Maria Cristina Weitzel Tavela

Estructura Curricular
Modalidad / Nivel de Enseñanza Disciplina Tema
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Língua oral e escrita: prática de produção de textos orais e escritos
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Língua oral e escrita: prática de escuta e de leitura de textos
Datos de la Clase
O que o aluno poderá aprender com esta aula

As atividades ajudarão o aluno a:

Conhecer os elementos constitutivos das histórias de detetives (narrativas de enigma);
Observar o modo como são construídos os personagens tanto o “detetive” quanto os “suspeitos” e "o culpado";
Perceber, na construção da história, as pistas, os engodos e suas relações lógicas que ajudaram/atrapalharam o detetive e o leitor na elucidação do crime;
Construir uma história de detetive a partir do conhecimento das "Vinte regras para escrever histórias de detetive" de Van Dine;
Envolver-se na elucidação e criação de um enigma, fazendo com que passe a apreciar este gênero pelo que ele tem de “jogo”.

Duração das atividades
seis aulas de cinquenta minutos
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

O aluno já deve conhecer um pouco sobre alguns elementos da narrativa, especialmente, sobre personagens e enredo.

Estratégias e recursos da aula

O professor vai precisar de cópias da história de detetive O Último Cuba-libre de Marcos Rey - volume 12 da coleção "Para Gostar de Ler" - Histórias de Detetive bem como das atividades que serão realizadas em pequenos grupos e de cópias das "Vinte regras para escrever histórias de detetive" de Van Dine.

Atividades de Pré-Leitura

Em dia anterior à leitura da história de detetive, solicitar aos alunos as seguintes tarefas:

1. Conversar com os adultos mais velhos pedindo-lhes que expliquem o significado das palavras: inferninho, elepê e cuba libre.
2. Descobrir em que situações se usam as expressões: "puxar o fio da meada" e "livrar a cara".
3. Consultar o dicionário e anotar os verbetes: acústica, bistrô, circunscrito, esporádico, obsessão e obstar.

Se não houver possibilidade de os alunos realizarem tais tarefas, o professor deverá trabalhar, em sala, todas essas palavras e expressões:
Acústica: parte da física que estuda as oscilações e ondas sonoras que são percebidas pelo ouvido.
bistrô: restaurante pequeno e simles, porém muito aconchegante.
circunscrito: limitado, restrito.
cuba libre: bebida feita à base de rum claro e refrigerante de coca, com suco de meio limão.
elepê: disco de vinil, (Long Play).
esporádico: casual, raro.que acontece com pouca frequência.
inferninho: bboate em recinto pequeno com música barulhenta.
obsessão: ideia fixa, mania, preocupação excessiva.
obstar: opor-se, contrapor-se.
"puxar o fio da meada": encontrar o início da solução de um problema ou enigma.
"livrar a cara": isentar de culpa, tirar alguém de um problema.

Apresentação do livro do qual foi retirada a história de detetive que irão ler:
Histórias de detetive
Conan Doyle, Medeiros e Albuquerque, Edgar Allan Poe, Jerônimo Monteiro, Marcos Rey e Edgar Wallace
139 páginas

Se o professor não tiver acesso ao livro, pode usar a resenha abaixo:

http://www.atica.com.br/resenhas/?r=111




O reformulado volume 12 da coleção "Para Gostar de Ler", Histórias de Detetive, tem tudo para ser adotado como um dos livros favoritos dos leitores. O livro agrada logo em sua apresentação, feita pelo inesquecível poeta e ensaísta José Paulo Paes. Nela, Paes explica a "árvore genealógica" desse tipo de literatura.
"Embora alguns estudiosos da literatura policial pretendam descobrir seus primeiros traços no Velho Testamento e no antigo teatro grego, aquela que se pode considerar a primeira história policial de mistério só veio a ser publicada em 1841", lembra Paes nessa introdução. "Apareceu nas páginas de uma revista da Filadélfia. Chamava-se ´Os assassinos da rua Morgue` e seu autor era o poeta Edgar Allan Poe, que escreveu também contos de terror."
José Paulo Paes destaca também em seu texto que "o gosto da descoberta e da perseguição está entre os instintos fundamentais do ser humano. As histórias de detetive e contos policiais também são, de certa forma, uma dramatização para adultos desse mesmo instinto". Em seguida, Paes lembra que dois tipos básicos compõem a espinha dessas histórias: os contos de mistério e os de ação.
Entre os autores estrangeiros representados neste volume estão nada menos do que Conan Doyle, Edgar Allan Poe e Edgar Wallace. Os nacionais incluídos também se saíram muito bem neste gênero: Medeiros e Albuquerque, Jerônimo Monteiro e Marcos Rey. Além da maestria de todos os autores representados no volume, um ingrediente tipicamente brasileiro também aparece: o humor, mais especificamente no conto "O último cuba-libre", de Marcos Rey.

Histórias de detetive
Conan Doyle, Medeiros e Albuquerque, Edgar Allan Poe, Jerônimo Monteiro, Marcos Rey e Edgar Wallace
139 páginas

Atividades de Leitura

Explicar a os alunos que eles vão aprender um pouco sobre a construção de uma narrativa de enigma. Para isso, eles vão ler, inicialmente, uma parte de uma história de detetive - O Último Cuba-libre - e vão realizar, em dupla ou em pequeno grupo, as atividades que exploram os elementos típicos deste gênero textual. Importante que esta atividade seja em grupo para possibilitar a discussão, o levantamento de hipóteses, testar a lógica do raciocínio.
O professor deverá estimular esta leitura aguçando a curiosidade dos alunos para descobrir quem é o culpado.

Distribuir para os alunos parte do conto que vai de "Durante o dia, Adão Flores era um gordo como qualquer outro.[...] até "E o homem fez mais, forneceu certo endereço que Flores considerou importantíssimo."

O Último Cuba-libre
Marcos Rey

Durante o dia, Adão Flores era um gordo como qualquer outro. Sua atividade e seu charme começavam depois das 22 horas e às vezes até mais tarde. Então era visto levando seus 120 quilos às boates, bistrôs e inferninhos da cidade, profissionalmente, pois não só gostava da noite como também vivia dela. Empresário de modestos espetáculos, era a salvação última de cantores, mágicos, humoristas decadentes. [...]
Como o tempo, Adão Flores adquiriu outra profissão, paralela à de empresário da noite, a de detetive particular, mas sem placa na porta e mesmo sem porta, atividade restrita apenas a cenários noturnos e pessoas conhecidas. Apesar de agir esporadicamente e circunscrito a poucos quarteirões, Adão Flores começou a ganhar certa fama graças a um jornalista, Lauro de Freitas, que começava a fazer dele personagem frequente em sua coluna, a ponto de muita gente supor tratar-se de ficção e mais nada.
Adão Flores apareceu no “Yes-Club”, cumprindo seu itinerário habitual. Rara era a noite em que não comparecia ao tradicional estabelecimento da Bianca, onde seus casos tinham grande repercussão [...]. Mas nem teve tempo de sentar-se. Uma mulher, nervosíssima, que já o aguardava, aproximou-se dele um tanto ofegante.
- Lembra-se de mim, Adão?
- Estela Lins?! Como vai o malandro do seu marido? Anda sumido!
- É por causa dele que estou aqui. Adão, você pode me acompanhar? Meu carro está na porta. É um caso grave.
- O que aconteceu?
- Direi tudo no carro.
Júlio Barrios, mexicano, cantor de boleros, fora um dos contratados de Adão que mais lhe deram dinheiro nos quase dez anos que estivera sob contrato. [...] Quando o público se cansou dele, Flores levou-o às churrascarias, salões da periferia e cidades do interior, etapas do declínio de qualquer cantor. Júlio não se abateu totalmente, pois, enquanto tivesse uma mulher apaixonada a seu lado, podia levar a vida.
Estela dirigia atabalhoadamente um fusca em estado de desmaterialização.
- Disse que Júlio está assustado?
- Disse apavorado.
- Por quê?
- Telefonemas ameaçadores.
- Quem seria a pessoa?
- Ele diz que não sabe.
- Mas você acha que sim.
- Pode ser algum traficante de drogas.
- Ora, Júlio nunca mexeu com isso. Trabalhamos juntos anos a fio e nunca o vi cheirar nada suspeito. Sua obsessão sempre foi outra...
O que o empresário-detetive imaginava era a ameaça de algum marido ou amante ciumento, daí Júlio não revelar nada a Estela, sua terceira ou quarta mulher desde que chegara ao Brasil. Apesar da decadência artística Júlio continuava bem-sucedido nessa modalidade esportiva. [...]
- Júlio sabe que veio me buscar?
- Sabe. Disse que quer tomar um cuba-libre com você, como nos velhos tempos.
- Espero que ele não acredite muito na coluna do Lauro de Freitas. Não sou tão bom detetive assim.
- Estamos chegando.
Estela estacionou o carro diante de um pequeno edifício de três andares. O casal morava no primeiro, cujas luzes estavam acesas.[...] A mulher abriu a porta, [...] indicou um velho divã ao empresário. Foi se dirigindo ao interi or do apartamento, an unciando:
- Adão está aqui, querido!< br />O empresário-detetive largou todo o seu peso numa mirrada poltrona, que protestou, rangendo. Não conhecia aquele apartamento. Júlio, sempre que mudava de mulher, mudava também de endereço.[...]
- Quem é o senhor? – Adão ouviu de repente a voz de Estela, vinda do quarto, em tom de pavor. – O que faz aqui?
Adão levantou-se: algo de anormal acontecia.
Novamente a voz de Estela, agora num grito:
- Juuuulio!
Adão deu uns passos enquanto Estela aparecia à porta do quarto, tentando dizer alguma coisa. O detetive entrou precipitadamente. A primeira imagem que viu foi Júlio sobre a cama, ensanguentado.
Estela apontou para a janela aberta.
- Ele fugiu!
Adão correu para sala e Estela abriu a porta do apartamento. Os dois precipitaram-se para a rua, ela na frente. Logo adiante havia uma esquina, que o criminoso já devia ter dobrado. Estela segurou Adão pelo braço.
- Vamos socorrer Júlio.
Regressaram ao apartamento. A lâmina toda de uma tesoura comprida estava enterrada nas costas de Júlio. O detetive apalpou-lhe o peito. O coração já não batia nem no ritmo lento do bolero.
Enquanto a polícia não chegava, Adão dava uma olhada no quarto. Estela, em prantos, aguardava a presença do cunhado, um de seus únicos parentes. Flores notou que algumas gavetas de uma cômoda estavam abertas. O criminoso estivera procurando alguma coisa. No peitoril da janela, um pouco de terra, certamente deixada pelos sapatos do homem que saltara. E sobre o criado-mudo um copo, o último cuba-libre que Júlio não terminara de beber. Sem gelo. Quem tomaria um cuba sem gelo num calor daquele? Foi ao encontro de Estela, na sala, e a achou dobrada sobre o divã.
- Gostaria de conversar com o zelador.
- O prédio não tem zelador, apenas uma faxineira no período da manhã.
- Acha que poderia reconhecer o homem?
- Nunca mais o esquecerei – garantiu Estela. – Era baixo, troncudo e tinha os olhos puxados.
- Já o vira antes?
- Não.
Adão retornou ao quarto, para dar mais uma espiada. Dali a instantes a polícia chegou: um delegado e dois tiras.
- Não mexi em nada – disse Flores. – E cuidado com o peitoril da janela. Há terra de sapato nele. Foi por onde o criminoso fugiu.
- O senhor o viu?
- Não, mas dona Estela poderá ajudar a fazer o retrato falado dele. Ela o encontrou no quarto de Júlio.
O delegado encarou o detetive.
- Você não é um tal Adão Flores, metido a Sherlock?
- Sou esse tal, mas vim aqui como amigo, chamado por Estela. Julio tinha recebido uns telefonemas ameaçadores.
Adão deixou os tiras trabalharem e saiu do quarto. O criminoso saltara da janela para um corredor cimentado que rodeava o edifício. Para baixo o santo tinha ajudado, mas subir pela janela teria sido difícil. Certamente ele tocara a campainha e entrara pela porta. Antes, porém, pisara em algum jardim, como atestava a terra do peitoril. Havia jardim à entrada do edifício?
Um dos tiras apareceu à porta com uma pergunta.
- O senhor deixou uma ponta de cigarro no cinzeiro? Há duas lá, mas só uma é da marca que Julio fumava.
- Só fumo em reuniões ecológicas. O criminoso deve ter tido tempo para fumar um cigarro. Só pode ter sido ele, pois Estela não fuma.
Adão permaneceu no apartamento até a chegada da Polícia Técnica, quando Estela Lins, no bagaço, foi levada pelo cunhado, que, antes de sair, declarou com todas as letras:
- Julio bem que mereceu isso. Um vagabundo, um explorador de mulheres! A polícia não devia perder tempo procurando o assassino.
Já era madrugada quando Flores retornou ao “Yes-Club”. [...] Contou a todos o que sucedera, recebendo em troca uma informação. Julio Barrios aparecera por lá, naquela semana, muito feliz. Uma gravadora resolvera lançar um elepê com seus maiores sucessos, Recuerdos, no qual depositava muitas esperanças. Planejava inclusive pintar os cabelos pa ra renovar o visual. E stava animadíssimo.No dia seguinte, Adão Fl ores compareceu à polícia para prestar depoimento. Estela, por sua vez, estava cooperando. O retrato falado do criminoso já estava pronto e sairia em todos os jornais. O delegado, porém, já manifestava uma suspeita.
- Não gostei da cara daquele cunhado. Estela pode até estar tentando protegê-lo.
- Não creio – replicou Adão. – Era apaixonada pelo cantor.
- Mas amores passam – comentou o delegado. – Como certas modas musicais...
Adão Flores foi ao jornal onde trabalhava Lauro de Freitas.
- Quantos quilos você pesa, Lauro?
- Acha que estou engordando?
- Que mal há nisso? Os gordos são belos.
- Setenta quilos.
- Então, venha.
- Onde?
- Você tem o mesmo peso do homem que matou Barrios, segundo declaração de Estela na delegacia.
- E isso me torna um suspeito?
- Vamos ao apartamento.
À porta do edifício, Adão identificou-se a um guarda, que vigiava o lugar desde o assassinato. Não foi fácil convencê-lo a deixar que o detetive e o jornalista entrassem no apartamento.
- Estamos aqui. E agora, Adão?
- Você vai fazer uma coisa, Lauro: saltar do peitoril da janela para o corredor.
Abriram a janela e o jornalista espiou.
- Altinho. Posso sentar no peitoril?
- Não, suba nele e salte.
- E se o pára-quedas não abrir?
- Não salte ainda. Vou para a sala. Aguarde minhas ordens, então salte e corra até a entrada do edifício.
Adão voltou para a sala, deu as instruções e ficou atento. Ouviu o baque dos pés de Lauro no cimento e, em seguida, seus passos rumo ao portão. Pouco depois, Lauro voltou à sala.
- O que quer mais? Sei plantar bananeira.
- Como atleta amador você não pode ser pago. Mas vou lhe fornecer uma bela história para sua indigna coluna. Não tire os olhos de mim. Agora vamos à gravadora Metrópole.
- Por quê?
- Porque quero pôr na cadeia a pessoa que matou o melhor intérprete de “Perfume de Gardênia”. Quem fez isso é meu inimigo pessoal. Não se apaga assim um parágrafo da História.
Adão e Lauro foram à gravadora, onde o detetive conversou com o diretor-artístico. Sim, Barrios ia gravar mesmo um elepê. Esperavam vendê-lo para uns cem mil saudosistas. E o homem fez mais, forneceu certo endereço que Flores considerou importantíssimo.

TRABALHO EM GRUPO

Exploração dos Elementos Constitutivos da História de Detetive

1. Especifique as características de cada um dos personagens abaixo discriminados envolvidos na história até onde leram, especialmente, as psicológicas.

a) O DETETIVE, Adão Flores:
b) A VÍTIMA, Júlio Barrios:
c) Estela Lins
d) Lauro de Freitas
e) O cunhado

2. Nas histórias de detetive, sempre há um crime a ser desvendado. No conto lido, alguém foi assassinado. Diga:
a) Quando?
b) Onde?
c) Como?(especifique a arma do crime)
d) Quem foi a primeira pessoa a ver a vítima?

3. Para solucionar o enigma, é muito importante a análise da CENA DO CRIME em busca de PISTAS que ajudem a construir o raciocínio lógico.
a) O que foi destacado em relação aos móveis e a qual a hipótese esta informação levou?
b) Havia terra no peitoril da janela. Qual a conclusão a que o detetive chegou sobre este fato?
c) Uma pista interessante que até motivou o título da história foi o copo de cuba-libre. Que detalhes são dados sobre ele e o que o detetive estranhou neste objeto?
d) Que pista foi encontrada pela polícia e o que se deduziu a partir dela?

4. Observando da janela por onde o assassino fugiu, o detetive tira mais uma conclusão. Qual?

5. Qual era o estado de ânimo da vítima nos dias que antecederam seu assassinato?

6. No dia seguinte as assassinato, o que o detetive foi fazer no local do crime? Na opinião do grupo, com que finalidade ele fez isso?

7. Depois de voltar ao local do crime, Adão Flores foi à gravadora Metrópole. Por que será que Flores achou importa ntíssimo certo endereço que o diretor-artíst ico lhe forneceu?

8. Nas histórias de detetive, o autor sugere SUSPEITOS que possam ter MOTIVO ou INTERESSE para realizar o crime. Até onde vocês leram, que suspeitos o autor sugeriu e qual vocês pensam ser o real CULPADO? Discutam, a partir das pistas, e proponham a solução deste enigma.

APRESENTAÇÃO DO TRABALHO EM GRUPO

Os alunos deverão ficar dispostos em uma grande roda e o professor orientará a apresentação do trabalho realizado, por item. Quando da exposição da questão 8, o professore pedirá aos alunos para avaliarem, juntamente com ele, a coerência das soluções propostas pelas equipes.

TRABALHO EM DUPLA

Os alunos, em dupla, receberão a parte final da narrativa O Último Cuba-libre que começa em "Quando os jornais revelaram o assassino de Julio Barrios..." .

Quando os jornais revelaram o assassino de Julio Barrios, a melhor reportagem certamente foi a de Lauro de Freitas, por dentro de tudo. [...]
Mas o local onde seus casos mais repercutiam era mesmo o “Yes-Club” [...]. Na véspera, antes de que os jornais publicassem a solução do enigma, Adão esteve lá para contar tudo em primeira mão.
- Em que momento você começou a puxar o fio da meada? – perguntou a dona da casa.
- Sou um homem do visual, da imagem – disse Flores. – Aquele cuba-libre sem gelo me chamou logo a atenção. Julio gostava de colocar verdadeiros icebergs nas suas bebidas. Como não havia mais gelo e o copo voltara à temperatura ambiente, deduzi que o crime tinha acontecido há algum tempo. Uma hora, talvez...
- Não me parece argumento suficiente para levar a conclusões – disse um homem, provavelmente um desses invejosos que estão em toda parte.
- Certamente não foi minha única dedução. Havia aquela tesoura, arma ocasional demais para servir a um criminoso determinado, que fazia ameaças telefônicas.
O mesmo freguês, que se recusava a bater palmas para Adão, voltou a obstar:
- Usar armas da casa é um meio para implicar inocentes. Os romances policiais sempre relatam coisas assim.
- Uma tesoura não oferece segurança – replicou Flores. – A não ser que o criminoso tivesse sido um alfaiate...
Bianca tinha outra pergunta a fazer:
- Houve roubo? As gavetas estavam todas abertas, não?
- Elas não foram simplesmente abertas, algumas estavam vazias. E sabem quem as esvaziara? O próprio Julio.
- O que havia nessas gavetas? – perguntaram. – Tóxico?
- Roupas, simplesmente roupas. Encontrei-as em uma pequena mala. Mas me deixem prosseguir. O que consolidou minhas suspeitas foi uma questão de acústica.
- Disse acústica?
- Disse. Aí o nosso Lauro ajudou muito. Seu peso equivale ao do homem visto por Estela. Fui com o Lauro ao apartamento do Julio e pedi que saltasse da janela e depois corresse até o portão. Eu me plantei na sala, como na noite do crime. E ouvi perfeitamente o baque e depois os passos de seus pés no cimento. Como naquela noite eu não ouvira nada?
- Então você teve a certeza – adiantou-se Bianca.
- Faltavam ainda os motivos. Na gravadora fiquei sabendo que Barrios andava aparecendo na companhia de uma jovem, seu novo amor. E obtive o endereço dela, pois era para ela que telefonavam quando precisavam contactá-lo. Fui procurá-la. Estava muito assustada com tudo, mas acabou se abrindo. Ela e Barrios iam viver juntos. Apenas faltava-lhe fazer a mala.
- E a confissão, veio fácil? – perguntou Bianca, equilibrada em sua piteira.
- Aconteceu na própria polícia onde fora olhar alguns suspeitos na passarela. Pretexto. O delegado já aceitara meu ponto de vista. Eu próprio lhe contei minha versão: Estela surpreendera Julio quando jogava roupas na mala para sumir. Espremeu-o. Ele confessou. Ia deixá-la por outra mulher. O amor é algo inesperado e o coração é fraco. Ela não gostou da letra desse bolero. Julio vivia praticamente à custa dela. Viu a tesoura sobre a mesa. Golpeou-o p elas costas. Depois do ch oque, pensou em livrar a cara. Havia terra nu ma floreira. Levou um pouco para o peitoril da janela. Deixou as gavetas abertas como estavam. E serviu um cuba-libre ao defunto. Antes ou depois, lembrou-se de Adão das Flores. Ele tinha mania de bancar o detetive. Julio sempre ria disso. Decidiu ir buscá-lo. Se o encontrasse, a encenação seria perfeita. Quanto à segunda ponta de cigarro, ela mesma esclareceu que a apanhara no “Yes”, enquanto esperava o detetive. Queria que ficasse bem claro que outra pessoa estivera com Julio. Enquanto isso o gelo do último cuba-libre derretia, pois o cadáver não podia renová-lo.
- Ela agiu como uma perfeita atriz – comentou Bianca. - E que grande talento!
Adão concordou:
- Apenas participei como ator convidado.


Após a leitura, os alunos farão a análise da narrativa a partir das orientações abaixo: 

O culpado é uma personagem essencial numa narrativa de enigma. É o culpado que se encarrega do movimento de dissimulação (indícios falsos, mentiras e engodos). Na hisatóra lida, Estela é a culpada.

1. Cite duas pistas falsas que foram "plantadas" por Estela
2. Apresente mentiras usadas por ela.
3. Que atitudes da mulher ajudaram a esconder a verdade?
4. Por que a arma do crime foi importante no desvendar do mistério?
5. O detetive, por sua vez, usou de deduções lógicas para chegar à verdade. Qual foi o raciocínio feito a partir das seguintes pistas e ações:
a) Copo de cuba-libre
b) Gavetas abertas
c) Endereço recebido na gravadora.
d) O teste com Lauro de Freitas.
6. Que pista o autor omitiu para que não se chegasse rápido demais à verdade?

APRENDENDO A CRIAR HISTÓRIAS DE DETETIVE

O professor disporá os alunos em uma grande roda e vai distribuir e discutir As vinte regras de S. S. Van Dine para escrever um bom romance policial:


http://acasatorta.wordpress.com/2008/10/15/vinte-regras-para-escrever-historias-de-detetives/


AS VINTE REGRAS DE S. S. VAN DINE PARA SE ESCREVER UM BOM ROMANCE POLICIAL:


1. O leitor deve ter oportunidade igual à do detetive de solucionar o mistério. Todas as pistas devem ser claramente enunciadas.
2. Nenhum truque ou tapeação proposital deve ser utilizado pelo autor, senão os que tenham sido legitimamente empregados pelo criminoso contra o próprio detetive.
3. Não deve haver interesse amoroso Na narrativa. A questão a ser deslindada é a de levar o criminoso ao tribunal e não a de levar um casal ao altar.
4. Jamais o detetive ou algum investigador deve ser o culpado. Isso seria tapeação: naturalmente porque o raciocínio do leitor está voltado para o rol de suspeitos.
5. O culpado deve ser identificado mediante deduções lógicas e não por acidente, coincidência ou confissão forçada. O contrário disso seria mostrar ao leitor que todo o seu trabalho de dedução foi inútil, pois o tempo todo o autor tinha o nome do criminoso.
6. A novela de detetive tem de ter um detetive. Alguém que “detecte”. Que analise as pistas e junte-as a fim de identificar o autor da sujeira relatada no primeiro capítulo.
7. É necessário que haja um cadáver. Quanto mais morto, melhor. Os crimes menores que homicídio são insuficientes. Só o assassinato desperta no leitor seu sentimento de vingança e horror.
8. O problema do crime deve ser solucionado por meios rigorosamente naturais. Métodos como leitura da mente, reuniões espíritas, bolas de cristal estão excluídos. O leitor deve ter oportunidade igual à do detetive para solucionar o mistério; se ele tiver que competir com espíritos, bolas de cristal, etc, fica em desvantagem.
9. Cada história deve ter unicamente um detetive. Uma história com muitos detetives bagunça o raciocínio lóg ico da narrativa, além de deixar o leitor , que é único, em desvantagem. Na novela policial, o leitor se identifica com o detetive; havendo mais de um detetive, ele não sabe a quem dirigir sua atenção.
10. O culpado deve ser alguém que desempenhou papel mais ou menos destacado no entrecho. Alguém com quem o leitor se familiarizou. Se o autor apresenta um desconhecido como criminoso, estará admitindo sua derrota diante do leitor.
11. Criados – mordomos, valetes, guardas florestais, cozinheiros – não devem ser escolhidos pelo autor como culpados. Isso constitui uma solução fácil demais. O leitor ficará frustrado, achando que perdeu tempo tentando identificar um personagem tão desimportante.
12. Deve haver apenas um culpado, por maior que seja o número de homicídios cometidos. Esse culpado poderá ter um auxiliar, mas é nele que recairá a cólera do leitor.
13. As sociedades secretas, máfias, camorras, etc, não devem ter lugar em histórias de detetives. O assassinato verdadeiramente lindo e fascinante estaria comprometido por essa culpabilidade por atacado. Além disso, se o assassino pertence a um grupo criminoso, ele conta com uma rede de proteção, o que tira o fascínio do suspense.
14. O método utilizado para o assassinato e o meio de descobri-lo devem ser lógicos e científicos. Quer dizer que os meios pseudocientíficos e os dispositivos puramente imaginativos ou especulativos não serão tolerados no romance policial. O autor deve se limitar aos venenos e drogas conhecidos da população. Se inventar coisas mirabolantes sairá da área do romance policial e entrará no romance de aventura.
15. A verdade do problema deve estar bem à vista em todos os momentos da narrativa. O leitor tem que ser arguto para perceber. Quando o leitor chegando à última página recomeça a leitura deve pensar: Puxa, por que eu não percebi isso? O leitor tem que se convencer que não é tão arguto quanto o detetive. Uma novela de mistério nunca será de mistério para todos os leitores, pois alguns deles descobrirão o assassino antes do detetive.
16. Uma novela de detetives não deve conter compridas passagens descritivas, nenhum rebuscamento literário em questões secundárias, nenhuma análise sutilmente elaborada dos personagens, nenhuma preocupação “atmosférica”. Tais procedimentos retardam a ação e carreiam para a história elementos que não têm nada a ver com ela. Leitores de novelas policiais não buscam enfeites literários, estilo, belas descrições, mas o estímulo mental e a atividade intelectual.
17. Jamais se deve atribuir a um criminoso profissional a culpabilidade do crime em uma história de detetives. Os crimes cometidos por arrombadores e bandidos estão na esfera da polícia – e não na esfera de autores e detetives amadores (leitores). O crime verdadeiramente fascinante é o cometido por uma beata da igreja ou alguma solteirona conhecida por seus atos de caridade.
18. O crime na história policial jamais deve ocorrer por acidente ou suicídio. Encerrar a história com esse anticlímax corresponde a um truque contra o leitor.
19. O móvel do crime na novela policial deve ser de ordem pessoal. Ciúme, cobiça, amor, ódio, vingança, medo, tara, etc. Sair desses motivos equivaleria a retirar do leitor um elemento de dedução. Tramas internacionais pertencem a outro gênero – o gênero da espionagem. O crime deve refletir a vivência cotidiana do leitor, proporcionar-lhe certo escapamento para seus próprios desejos e emoções reprimidas.
20. O autor “policial” não deve usar os meios dedutíveis ou provas já usados em demasia por outros autores, pois eles já são conhecidos dos leitores de romances policiais. Quando o escritor usa esses meios está confessando sua falta de talento e originalidade.
Anotado e adaptado por Joaquim Nogueira, do livro O MUNDO EMOCIONANTE DO ROMANCE POLICIAL de Paulo de Medeiros e Albuquerque.
S. S. Van Dine, pseudônimo de Willard Huntington Wright, é o escritor norte-americano que criou o detetive Philo Vance.“Twenty rule s for writing detective stories ” (1928) (Originally published in the American Magazine (1928-sep), and included in the Philo Vance investigates omnibus (1936). by S.S. Van Dine (pseud. for Willard Huntington Wright)

Recursos Complementares

Sugestão de leitura para o professor:

DOLZ, Joaquim e SCHNEUWLY, Bernard e Colaboradores. Gêneros Orais e Escritos na Escola. Tradução e organização Roxane Rojo e Glaís Sales Cordeiro. Campinas, SP: Mercado das Letras, 2004.

Avaliação

Os alunos, divididos em dupla, irão avaliar a aplicação, pelo autor, de cada uma das vinte regras para escrever histórias de detetives de Van Dine na história lida:
a) O autor atendeu à regra integralmente, parcialmente ou não atendeu?
b) Justifique a resposta dada à pergunta anterior, com informações retiradas da narrativa.

Opinión de quien visitó

Quatro estrelas 3 calificaciones

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  • Quatro estrelas 2/3 - 66,67%
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