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Etnocentrismo, genocídio e aculturação: marcas da colonização européia na América

 

07/10/2010

Autor y Coautor(es)
LEIDE DIVINA ALVARENGA TURINI
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UBERLANDIA - MG Universidade Federal de Uberlândia

Aléxia Pádua Franco

Estructura Curricular
Modalidad / Nivel de Enseñanza Disciplina Tema
Ensino Fundamental Final História Nações, povos, lutas, guerras e revoluções
Educação de Jovens e Adultos - 2º ciclo História Relações de poder e conflitos sociais
Educação de Jovens e Adultos - 1º ciclo Estudo da Sociedade e da Natureza Atividades produtivas e as relações sociais
Datos de la Clase
O que o aluno poderá aprender com esta aula

Definir e compreender os elementos centrais presentes nos conceitos de etnocentrismo, genocídio e aculturação.   

Reconhecer o etnocentrismo, o genocídio e a aculturação como elementos fundamentais do processo de colonização européia na América.  

Identificar a presença de argumentos etnocêntricos nas justificativas utilizadas pelos europeus para a dominação dos povos indígenas da América.

 

Duração das atividades
5 aulas de 50 minutos
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

As transformações ocorridas nas sociedades feudais da Europa, a partir do século XI, as quais motivaram as chamadas "Grandes Navegações".

Atividades das aulas "A chegada dos europeus na América: descobrimento, encontro ou invasão?" e "A conquista da América sob o ponto de vista das populações nativas".

Estratégias e recursos da aula

I- O Etnocentrismo: fundamento da colonização européia na América

1- Iniciar a aula apresentando aos alunos a seguinte figura:

 

Fonte: http://www.wikigallery.org/wiki/artist37153/Abraham-Ortelius/page-1 

Orientações para a atividade:

a- A imagem encontra-se no Atlas "Theatrum Orbis Terrarum", de Ortelius Abraham (1527/1598), cuja primeira edição foi publicada em 1570. Pedir aos alunos que descrevam o que veem. (A intenção é que eles percebam que se trata de uma estrutura arquitetônica onde vemos a base, as colunas, o teto e figuras humanas representando as quatro partes: superior, inferior, direita, esquerda.)

b- Informar aos alunos que se trata de uma representação dos quatro continentes: Europa, América, Ásia e África. Pedir que associem cada continente a uma imagem e que justifiquem a associação feita. As conclusões devem ser socializadas oralmente.

c- Informar aos alunos que a imagem na parte superior representa a Europa, na parte inferior representa a América, à direita representa a África e à esquerda representa a Ásia. Os alunos podem conferir quantas associações corretas foram feitas por eles.

d- Orientar os alunos a observarem, em detalhes, a representação feita para cada continente. A Europa na parte superior, indicando poder e domínio sobre os outros continentes. África e Ásia representadas como colunas de sustentação que mantêm a Europa no topo; a América na base, caracterizada pelos hábitos "selvagens" e natureza primitiva. Estimular os alunos a se posicionarem a respeito destas representações predominantes na cartografia moderna.

e- Para aprofundar o debate, discutir as idéias centrais do texto abaixo, relativo à imagem que se encontra na página de abertura do Atlas de Ortelius Abraham:

  "Em posiçao proeminente encontramos a Europa.(...) Está retratada com vestes de soberana, com coroa e cetro e segura um globo imperial que simboliza claramente a hegemonia das potências católicas. À esquerda, uma princesa oriental ornada de jóias, com um turíbulo de incenso, personifica a Ásia das especiarias; em frente, do outro lado, a África tem um aspecto de uma negra pobremente vestida, à qual meteram na mão um raminho de bálsamo, a santa planta de Nossa Senhora, que floresce, apenas, num jardim egípcio. A América reconhece-se na mulher impudicamente nua que jaz embaixo, com uma cabeça de homem cortada na mão e brandindo uma clava, a indicar que se alimenta de carne humana e que vive no estado de 'natura', isto é, na ignorância de qualquer forma de organização civil e política."                                     

(TUCCI, apud MICELI, Paulo. A terceira margem - notas breves sobre a representação do espaço no trabalho do historiador. In: MIGUEL, Antonio; ZAMBONI, Ernesta (Org.) Representações do espaço: multidisciplinaridade na educação. Sao Paulo/Campinas: Autores Associados, 1996, p. 12)

f- Instigar os alunos a discutirem sobre estas representações que colocam a Europa em posição de superioridade em relação aos outros continentes.

2- Interpretação e debate de textos de cronistas, religiosos e colonizadores, produzidos entre os séculos XV e XVI

A proposta para esta aula é que os alunos façam a leitura, interpretação e debate de textos nos quais possam identifcar e analisar a visão etnocêntrica dos europeus em relação ao modo de viver e pensar dos povos que habitavam o continente americano à epoca da colonização.

Orientações para a atividade:

a- Dividir os alunos em grupos. Cada grupo receberá um texto para leitura e interpretação.

Exemplos de textos que podem ser trabalhados na atividade:

Os índios andam nus sem nenhuma cobertura. Vivem em aldeias com 7 ou 8 casas. Cada casa está cheia de gente e nela cada um tem sua rede de dormir armada. Não há, entre eles, nenhum Rei, nem Justiça, somente em cada aldeia tem um principal que é como capitão, ao qual obedecem por vontade e não por força. (...) Este principal tem três ou quatro mulheres (...) Não adoram coisa alguma nem acreditam que há depois da morte glória para os bons, e pena para os maus. Assim, vivem bestialmente sem ter conta, nem peso nem medida.                                                                                                      

(Pero de Magalhães Gandavo, Tratado da Terra do Brasil, século XVI)

“(...) e é por isso que as feras são domadas e submetidas ao império do homem. Por esta razão, o homem manda na mulher, o adulto na criança, o pai no filho: isso quer dizer que os mais poderosos e os perfeitos dominam os mais fracos e os mais imperfeitos. Constata-se essa mesma situação entre os homens, pois há os que, por natureza,são senhores e os que, por natureza são servos. Os que ultrapassam os outros pela prudência e pela razão, mesmo que não os dominem pela força física, são, pela própria natureza, os senhores; por outro lado, os preguiçosos, os espíritos lentos, mesmo quando tem a força física para realizar todas as tarefas necessárias, são, por natureza,servos. E é justo e útil que sejam servos, e vemos que isso é sancionado pela própria lei divina. Pois está escrito no livro dos provérbios:‘O tolo servirá ao sábio’. Assim são as nações bárbaras e desumanas,estranhas à vida civil e aos costumes pacíficos. E sempre será justo e de acordo com o direito natural que essas pessoas sejam submetidas ao império de príncipes e de nações mais cultivadas e humanas, de modo que graças à virtude dos últimos e à prudência de suas leis, eles abandonam a barbárie e se adaptam a uma vida mais humana e ao culto da virtude. E se recusam esse império, é permissível impô-lo por meio das armas e tal guerra será justa,assim como o declara o direito natural (...) Concluindo: é justo, normal e de acordo com a lei natural que todos os homens probos, inteligentes, virtuosos e humanos dominem todos os que não possuem essas virtudes.”                                                           

(Juan Gines Sepúlveda, in: CASAS, Frei Bartolomé de Las. O Paraíso destruído. Porto Alegre: L&PM, 1985,p. 23.)

b- A leitura e a interpretação do documento devem ser realizadas a partir do seguinte roteiro:

  • Quem fala?
  • Sobre o que ou sobre quem fala?
  • Quais os temas/assuntos destacados pelo autor do texto?
  • Como o grupo analisa a visão do autor do documento em relação aos povos indígenas da América?
  • O grupo concorda com a visão do autor? Justifique.

c- Em seguida, cada grupo apresentará as suas conclusões para os demais colegas da sala.

Os textos acima são alguns exemplos. Entretanto, outros documentos que revelam a visão etnocêntrica dos europeus podem ser encontrados em diversas fontes, como as cartas de Américo Vespúcio ou o diário de Cristóvão Colombo, dentre outros. Os alunos devem ser estimulados à realização do trabalho de seleção e interpretação dos textos.

3- Construindo coletivamente o conceito de etnocentrismo

a- A partir das atividades desenvolvidas nos itens 1 e 2 os alunos devem criar, coletivamente, o conceito de etnocentrismo e fazer uma reflexão a respeito do tema  no processo de colonização da América.

b- Orientar os alunos a procurarem, em dicionários e enciclopédias, o significado da palavra etnocentrismo com o objetivo de ampliar as possibilidades de discussão e construção coletiva do conceito.

II- Genocídio e aculturação praticados pelos europeus contra as populações indígenas da América

Para refletir:

"Tzvetan Todorov relata que "em 1500 a população mundial devia ser da ordem de 400 milhões de pessoas, dos quais 80 habitavam as Américas", sendo que, no século seguinte "restavam apenas 10 milhões". Bem antes de o homem branco europeu chegar por estas terras, o índio tinha suas normas morais e seus ritos religiosos. (...). Os espanhóis chegaram e impuseram a sua religião: em uma das mãos, a cruz do Cristo europeu, simbolizando o poder da Igreja, na outra, a espada para a conquista."  (http://br.monografias.com/trabalhos915/brasil-alteridade-outro/brasil-alteridade-outro.shtml

Problematização:  Podemos falar em genocídio e aculturação quando nos referimos ao processo de colonização européia na América?

Atividades para reflexão e debate da problematização proposta:

1- Introduzir a reflexão a partir da interpretação da figura abaixo, a qual representa a execução do Imperador Inca Atahualpa, morto pelos espanhóis, sob o comando de Francisco Pizarro, em 1533. A figura encontra-se no livro Primer Nueva Coronica y Buen Gobierno, de Felipe Guaman Poma de Ayala (indígena peruano descendente da antiga aristocracia inca), concluído no início do século XVII.

Fonte: www.cafehistoria.ning.com 

Orientação para a atividade:

a- Pedir aos alunos que descrevam o que veem na imagem. Após informá-los de que se trata da execução do imperador inca Atahualpa, instigá-los a refletir sobre o fato de Atahualpa ser executado segurando um crucifixo. Qual o significado desta representação?

b- Os alunos devem socializar, oralmente, as suas reflexões com os colegas da turma.

2- Outra atividade relevante para a reflexão do tema é a leitura da obra de Frei Bartolomé de Las Casas, intitulada "O paraíso destruído: brevíssima relação da destruição das Indias", na qual ele denuncia as atrocidades cometidas contra as populações nativas da América. A obra permite o aprofundamento dos conceitos de genocídio e aculturação, particularmente no que se refere à colonização espanhola, embora as considerações e denúncias de Las Casas possam ser generalizadas para toda a América. Excertos da obra, abaixo transcritos, dão uma idéia das possibilidades assinaladas:

"Os espanhóis, com seus cavalos, suas espadas e lanças, começaram a praticar crueldades estranhas; entravam nas vilas, burgos e aldeias, não poupando nem as crianças e os homens velhos, nem as mulheres grávidas e parturientes e lhes abriam o ventre e as faziam em pedaços como se estivessem golpeando cordeiros fechados em seu redil. Faziam apostas sobre quem, de um só golpe de espada, fenderia e abriria um homem pela metade, ou quem, mais habilmente e mais destramente, de um só golpe lhe cortaria a cabeça, ou ainda sobre quem abriria melhor as entranhas de um homem de um só golpe". A violência era uma prática comum: atiravam crianças contra os rochedos, esfacelando suas cabeças, jogavam outras nos rios, faziam forcas baixas na medida que os índios quase tocassem com os pés no chão, passavam a fio de espada crianças e mulheres, queimavam as pessoas vivas, cortavam as mãos de outras, colocavam o indivíduo em grades sobre garfos e, na parte de baixo ateavam fogo, lentamente, e, enquanto o indivíduo, aos berros, sob queimaduras, encontrava a morte, roubavam e saqueavam. Os espanhóis treinavam cães carniceiros, próprios para matar índios: "(...) despojados de qualquer piedade, ensinavam cães a fazer em pedaços um índio à primeira vista. Esses cães faziam grandes matanças e como, por vezes, os índios matavam algum (cão), os espanhóis fizeram uma lei entre eles, segundo a qual por um espanhol morto faziam morrer cem índios".   

(LAS CASAS, Bartolomé de. O paraíso destruído: brevíssima relação da destruição das Índias. Porto Alegre: L&PM, 1984, p. 32)

Orientação para a atividade:

a- Após a leitura, interpretação e debate das idéias centrais da obra, os alunos devem ser orientados a sistematizar, por escrito, os conceitos de aculturação e genocídio, com a orientação do professor.

3- Projeção e debate do filme 1492: A conquista do paraíso

Fonte da imagem: http://www.cinedica.com.br/viewinfo.php?filme=513 

Orientações para a atividade:

Professor, a projeção do filme é uma excelente oportunidade para que os alunos debatam os conceitos de etnocentrismo, aculturação e genocídio, entre outras questões relevantes relacionadas ao processo de ocupação e dominação da América pelos europeus, a partir do século XV. É importante discutir com os alunos que a obra cinematográfica não deve ser vista como a "cópia fiel da realidade" sobre um determinado tema. Entretanto, enquanto produto cultural, o filme abre possibilidades relevantes para a reflexão histórica, desde que seja trabalhado a partir de uma perspectiva crítica e problematizadora e não como atividade prioritariamente lúdica e ilustrativa.

O filme é apresentado sob o ponto de vista da personagem central, Cristóvão Colombo, o que pode levar o público espectador a assumir uma cumplicidade com as suas ações e intenções durante a projeção e dificultar uma avaliação crítica da obra. Entretanto, um olhar mais atento e problematizador pode encontrar, em várias passagens, material para uma reflexão relevante acerca dos conceitos de etnocentrismo, genocídio e aculturação, propostos para discussão nesta aula.  

Neste sentido, como sugestão para o trabalho do professor, algumas cenas foram destacadas:

 Cena 1:

Assim que desembarcam na Ilha de Guanahani, na região das Antilhas, a personagem "Cristóvão Colombo" nomeia a ilha de "São Salvador" e continua a nomear outros territórios pelos quais sua expedição vai passando nesta primeira viagem ao continente, mesmo depois de encontrar com grupos indígenas habitantes daqueles lugares.

Esta cena pode ser destacada para se discutir o conceito de etnocentrismo, pois o ato de nominação desconsiderava a visão dos povos indígenas sobre o avanço do domínio espanhol, bem como os seus direitos como nativos do continente. Por outro lado, as investidas dos colonizadores sobre as terras do continente sempre representaram morte, massacre dos povos nativos.

Cena 2:

Em outra cena do filme, Utapan, o nativo que acompanhou Cristóvão Colombo desde a sua chegada ao continente e aprendeu com ele a falar a "língua do branco" tirou a roupa (de branco) que estava usando e voltou a se pintar e a usar o cabelo como antes, correndo em direção à floresta com arco e flecha nas mãos. Colombo o chamou e disse: "Utapan, fale comigo!" Utapan respondeu: "Você nunca aprendeu a falar a minha língua".

É uma cena excelente para aprofundar a reflexão sobre o conceito de aculturação, questionando a idéia de encontro entre culturas.

Cena 3:

A cena de construção da igreja, por Colombo, seus homens e os nativos.

A cena simboliza o primeiro passo dos espanhóis na ação colonizadora e permite discutir o papel da Igreja Católica no processo de dominação e escravização dos nativos, possibilitando a reflexão sobre como a "espada" sempre teve a "cruz" como aliada.

Cena 4:

Cena na qual Moxica, percebendo que outro espanhol olha de forma insistente para uma nativa, diz a  ele que, se quisesse, podia tomá-la para si. 

A cena possibilita uma discussão sobre a visão que os espanhóis tinham dos nativos, como objetos/escravos que deviam serví-los sem questionamentos, em qualquer tipo de interesse que pudessem manifestar.

Outras cenas, como aquelas que enfatizam a guerra e a escravização, também contribuem para uma discussão dos conceitos trabalhados na aula.

Produção de Texto dissertativo

Para sistematizar as atividades desta aula, propor aos alunos a produção de texto dissertativo, no qual relacionem os conceitos de etnocentrismo, genocídio e aculturação ao processo de colonização européia na América.

Recursos Complementares

Sugestões para o professor:

Livros:

1- TODOROV, Tzvetan. A Conquista da América: a questão do outro. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

2- O'GORMAN, Edmundo. A invenção da América. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1992.

Artigo:

Filme na aula de História: diversão ou hora de aprender? http://revistaescola.abril.uol.com.br/historia/fundamentos/filme-aula-historia-423034.shtml 

Para saber mais sobre a obra de Felipe Guaman Poma de Ayala e a sua visão sobre a conquista:

http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=alunos&id=289 

Avaliação

A ação avaliativa deve permear toda a prática pedagógica do professor, dando-lhe constantemente elementos que lhe possibilitem contribuir para o processo de desenvolvimento cognitivo do estudante, particularmente no que diz respeito ao seu raciocínio histórico. Desta maneira, o professor poderá avaliar os alunos a cada etapa do trabalho, por meio das atividades desenvolvidas: leitura, interpretação, debate, apresentações orais e produção de texto dissertativo. Poderá também avaliar os alunos na sistematização das conclusões registradas no caderno. A avaliação deve permitir ao professor observar se os objetivos propostos para a aula foram efetivamente alcançados pelos alunos.

Opinión de quien visitó

Cinco estrelas 1 calificaciones

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Opiniones

  • Selton, IFMT , Mato Grosso - dijo:
    seachagas@gmail.com

    21/11/2011

    Cinco estrelas

    Excelente dica para o trabalho com esse conceito e análise sociológica do genocídio e aculturação!


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