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A expressão da sensualidade e da feminilidade em “Casamento” e “Com licença poética”

 

26/01/2011

Autor y Coautor(es)
Marilene de Mattos Salles
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JUIZ DE FORA - MG Universidade Federal de Juiz de Fora

Maria Cristina Weitzel Tavela

Estructura Curricular
Modalidad / Nivel de Enseñanza Disciplina Tema
Ensino Médio Literatura Literatura brasileira, clássica e contemporânea: criações poéticas, dramáticas e ficcionais da cultura letrada
Datos de la Clase
O que o aluno poderá aprender com esta aula

Esta aula objetiva sensibilizar os alunos quanto à leitura de poemas de Adélia Prado, buscando discutir o papel da mulher, seja pela expressão da sensualidade, seja pela busca da determinação. Também serão analisados alguns recursos literários que contribuam para a construção do sentido, especialmente as metáforas.

Duração das atividades
4 horas/aula
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

Aulas elaboradas para alunos do 2° ano do ensino médio, que conheçam os processos de figuração (metáforas, personificação, ironias, etc).

Estratégias e recursos da aula

Aulas 1 e 2

Professor: conduza seus alunos ao laboratório de informática e projete a imagem abaixo.

http://bondeonline.files.wordpress.com/2010/11/adelia-prado.jpg

Durante a projeção da imagem, declame o poema abaixo como parte da sensibilização dos alunos.

 

GRANDE DESEJO

Não sou matrona, mãe dos Gracos, Cornélia,

sou é mulher do povo, mãe de filhos, Adélia.

Faço comida e como.

Aos domingos bato o osso no prato pra chamar o cachorro

e atiro os restos.

Quando dói, grito ai,

quando é bom, fico bruta,

as sensibilidades sem governo.

Mas tenho meus prantos,

claridades atrás do meu estômago humilde

e fortíssima voz pra cânticos de festa.

Quando escrever o livro com o meu nome

e o nome que eu vou pôr nele, vou com ele a uma igreja,

a uma lápide, a um descampado,

para chorar, chorar, e chorar,

requintada e esquisita como uma dama. 

 

Pergunte aos seus alunos se conhecem a poeta Adélia Prado. Fale um pouco a respeito dela. (Há indicação de fontes de pesquisa em "Recursos complementares")

Na sequência, acesse o site http://www.youtube.com/watch?v=rgzrp7K9nV4&NR=1 para que os alunos assistam a um vídeo com a poeta Adélia Prado.   

Terminada a apresentação, projete a imagem abaixo. Trata-se da capa do livro "Bagagem" onde estão inseridos todos os poemas a serem trabalhados nesta aula, com exceção de "Casamento". A referência bibliográfica completa encontra-se também em “Recursos complementares”. 

http://2.bp.blogspot.com/_ns6Eq-yoRXQ/SpCVG-OM2WI/AAAAAAAAAXY/2mhTZUwpyqU/s320/bagagem.jpg

Dando continuidade, faça a atividade abaixo, cujo objetivo é promover a leitura interativa dos poemas, propiciando a desinibição e a socialização entre os alunos. Se alguém tiver facilidade para memorização, convide-o a declamar.  

Atividade 1

Distribua cópias xerocadas dos poemas abaixo. Inicialmente faça você, professor, a leitura interativa. Em seguida, solicite a participação da turma.

POEMA ESQUISITO   

Dói-me a cabeça aos trinta e nove anos.

Não é hábito. É rarissimamente que ela dói.

Ninguém tem culpa.

Meu pai, minha mãe descansaram seus fardos,

não existe mais o modo

de eles terem seus olhos sobre mim.

Mãe, ô mãe, ô pai, meu pai. Onde estão escondidos?

É dentro de mim que eles estão.

Não fiz mausoléu pra eles, pus os dois no chão.

Nasceu lá, porque quis, um pé de saudade roxa,

que abunda nos cemitérios.

Quem plantou foi o vento, a água da chuva.

Quem vai matar é o sol.

Passou finados não fui lá, aniversário também não.

Pra quê, se pra chorar qualquer lugar me cabe?

É de tanto lembrá-los que eu não vou.

Ôôôô pai

Ôôôô mãe

Dentro de mim eles respondem

tenazes e duros,

porque o zelo do espírito é sem meiguices:

Ôôôôi fia.

 

IMPRESSIONISTA   

Uma ocasião,

meu pai pintou a casa toda

de alaranjado brilhante.

Por muito tempo moramos numa casa,

como ele mesmo dizia,

constantemente amanhecendo.

 

ENSINAMENTO   

Minha mãe achava estudo

a coisa mais fina do mundo.

Não é.

A coisa mais fina do mundo é o sentimento.

Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,

ela falou comigo:

‘coitado, até essa hora no serviço pesado’.

Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente.

Não me falou em amor.

Essa palavra de luxo.

Para finalizar a atividade, convide outros alunos para responderem às questões:

a) Após a leitura dos poemas (inclusive “Grande desejo”), explique a expressão “bagagem” termo usado metaforicamente  para o título do livro.

b) Qual é a sua impressão acerca do título do primeiro poema (“Poema esquisito”)? Que relação o título mantém com a mensagem veiculada nos versos?

c) No poema “Impressionista”, que representação tem para você o verso “constantemente amanhecendo” atribuído à casa pintada de alaranjado brilhante?

d) No poema “Ensinamento” que ‘lições’ podemos aprender?

Terminada a atividade oral, distribua cópias da atividade abaixo (ou passe no quadro), para ser feita em dupla, por escrito. Recolha ao final para correção.   

Atividade 2   

Leia o poema Casamento,  de Adélia Prado e, em seguida, responda às questões propostas.

CASAMENTO   

Há mulheres que dizem:

Meu marido, se quiser pescar, pesque,

mas que limpe os peixes.

Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,

ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.

É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,

de vez em quando os cotovelos se esbarram,

ele fala coisas como "este foi difícil"

"prateou no ar dando rabanadas"

e faz o gesto com a mão.

 

O silêncio de quando nos vimos a primeira vez

atravessa a cozinha como um rio profundo.

Por fim, os peixes na travessa,

vamos dormir.

Coisas prateadas espocam:

somos noivo e noiva.

 

Questões   

a) O poema “Casamento” é bastante marcado por fatos do cotidiano, especialmente os relacionados aos afazeres domésticos. Cite alguns deles.

b) Há, no poema, duas situações bem distintas quanto à atitude das mulheres após uma pescaria dos maridos. Quais são elas? Qual é a posição do eu lírico?

c) Na sua opinião, a culinária tem o poder de atrair, de aproximar as pessoas?

d) Que percepção a leitura global do poema provoca no leitor? Há sensualidade em seus versos? Cite alguns.

e) Ao expressar a sensualidade, o eu lírico ao mesmo tempo demonstra determinação? Que tipo de determinação?

f) Buscando entender/perceber sentidos nas entrelinhas, explique:   

- o possível pleonasmo em “É tão bom,  a gente sozinhos na cozinha,” (grifos meus)   

- a personificação em   “O silêncio de quando nos vimos a primeira vez atravessa a cozinha como um rio profundo.”   Qual é a importância do silêncio quando as pessoas se veem pela primeira vez?

- a metáfora (comparação implícita entre ‘silêncio’ e ‘rio profundo’)   em "O silêncio de quando nos vimos a primeira vez atravessa a cozinha como um rio profundo.   

g) A que “coisas prateadas” o eu lírico se refere nos versos  "Coisas prateadas espocam:" / "somos noivo e noiva."

Aulas 3 e 4

Professor: inicie essa aula, apresentando a imagem do poeta Carlos Drummond de Andrade. Provavelmente todos ou quase todos já devem conhecê-lo. É relevante você prestar algumas informações sobre Drummond, porém direcionadas aos objetivos dessa aula. Primeiramente porque ele referendou a primeira obra de Adélia Prado, o livro “Bagagem” já citado (ver recomendação de leitura em “Recursos complementares”). E também porque o poema a ser estudado hoje - “Com licença poética”-  tem uma relação de intertextualidade com um poema de Drummond (“Poema de sete faces”).

http://carlosdrummonddeandrade.com.br/images/galeria/drummond.jpg

Na sequência, acesse o vídeo no site abaixo para ouvir o “Poema de sete faces”, na voz de Paulo Autran, ator consagrado do teatro brasileiro.

http://www.youtube.com/watch?v=G4fYFpHXF6g

Prosseguindo a aula, leia o poema abaixo, de Adélia Prado.

COM LICENÇA POÉTICA     

Quando nasci um anjo esbelto,

desses que tocam trombeta, anunciou:

vai carregar bandeira.

Cargo muito pesado pra mulher,

esta espécie ainda envergonhada.

Aceito os subterfúgios que me cabem,

sem precisar mentir.

Não sou tão feia que não possa casar,

acho o Rio de Janeiro uma beleza e

ora sim, ora não, creio em parto sem dor.

Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.

Inauguro linhagens, fundo reinos

— dor não é amargura.

Minha tristeza não tem pedigree,

já a minha vontade de alegria,

sua raiz vai ao meu mil avô.

Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.

Mulher é desdobrável. Eu sou.

Terminada a leitura, promova uma discussão acerca de alguns aspectos do poema, visando à sua compreensão.   

Atividade 4   

a) Sabendo que o poema de Adélia Prado é uma paráfrase do “Poema de sete faces”, explique o título "Com licença poética". (Resposta possível: pode se tratar de uma referência direta ao parafraseamento como também à sua estreia como poeta)

b) Que mensagens os anjos de cada poema anunciaram?

c) O que significa a expressão “carregar bandeira”? (3º verso) (Resposta possível: carregar bandeira pode significar “defender causas”, ressignificar a vida, enfim, se desdobrar).

d) Segundo a sua percepção, por que a mulher é considerada ‘espécie envergonhada’?

e) A palavra ‘subterfúgio’ significa ‘pretexto’, ‘evasiva’.  No contexto do poema, o eu lírico admite aceitar, sem precisar mentir, esses pretextos que ao longo dos anos são atribuídos à mulher. Quais são eles? (Resp.: ser mãe, dona de casa, esposa. E ainda: ter medo de não se casar, medo do parto.)   

f) Neste poema, o eu lírico se declara desdobrável. O que isso quer dizer? (Resp.:ao mesmo tempo em que cumpre sua sina, essa mulher se reinventa, e através da poesia inaugura linhagens e funda reinos. É a mulher exercendo por meio da escrita literária um novo papel, ampliado pelas conquistas empreendidas ao longo dos tempos na nossa sociedade ainda muito desigual.)   

Finalizando, passe no quadro a atividade abaixo, para ser feita em dupla, por escrito. Recolha ao final para correção.   

Atividade 5

Atenda ao que se pede.   

a) Compare o papel social exercido pela mulher em “Casamento” e os papéis atribuídos a ela em “Com licença poética”.   

b) Em “Com licença poética” o eu lírico manifesta a sua feminilidade por duas vertentes: a mulher que cumpre a sina a ela destinada e aquela que inaugura linhagens e funda reinos. É a mulher desdobrável. Explique por meio de exemplos esse desdobramento do eu lírico. Destaque o papel da conjunção mas introdutora do verso “Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.”   

c) Explique os versos   “Minha tristeza não tem pedigree, / já a minha vontade de alegria, /sua raiz vai ao meu mil avô.”   (Resposta possível: ao dizer que sua tristeza não tem pedigree, o eu lírico a banaliza, desvaloriza. Em contrapartida, há uma valorização da alegria, cuja “raiz vai ao meu mil avô, possivelmente querendo dizer que ela é extensa e profunda.Vem de longe.)

Recursos Complementares

Leia informações e análise de alguns poemas abordados nessa aula em http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/resumos_comentarios/b/bagagem   

Leia biografia de Adélia Prado em

http://www.releituras.com/aprado_bio.asp   

Textos retirados em

PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.   

Avaliação

Leia o poema Sensorial, de Adélia Prado. Em seguida, responda às questões.

Obturação, é da amarela que eu ponho.

Pimenta e cravo, mastigo à boca nua e me regalo.

Amor, tem que falar meu bem,

me dar caixa de música de presente,

conhecer vários tons pra uma palavra só.

Espírito, se for de Deus, eu adoro,

se for de homem, eu testo

com meus seis instrumentos.

Fico gostando ou perdoo.

Procuro sol, porque sou bicho de corpo.

Sombra terei depois, a mais fria.

Questões   

a) Relacione o título do poema com a temática.

b) Explique o termo "instrumentos" no 9º verso.

c) No verso “Fico gostando ou perdoo”, o verbo ‘gostar’ e o verbo ‘perdoar’ têm o mesmo complemento?

d) O que ou quem o eu lírico se propõe a perdoar?   

e) É possível afirmar que, nesse poema, Adélia Prado manifesta tanto a sensualidade como a determinação? Justifique a sua resposta.

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