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Preconceito linguístico: abismos entre a linguagem culta e coloquial

 

28/09/2009

Autor y Coautor(es)
ANA GRAZIELA CABRAL
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BELO HORIZONTE - MG ESCOLA DE EDUCACAO BASICA E PROFISSIONAL DA UFMG - CENTRO PEDAGOGICO

Edna Maria Santana Magalhães

Estructura Curricular
Modalidad / Nivel de Enseñanza Disciplina Tema
Ensino Médio Língua Portuguesa Relações sociopragmáticas e discursivas
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Análise linguística: variação linguística: modalidades, variedades, registros
Educação de Jovens e Adultos - 2º ciclo Língua Portuguesa Análise linguística
Datos de la Clase
O que o aluno poderá aprender com esta aula

Professor, esta aula permite que os alunos aprendam:


1º - reconhecer a existência de variações de uso da língua Portuguesa  decorrentes de fatores diversos: geográficos, sociais, profissionais, culturais e situacionais;

2º - aceitar as variações linguísticas sem nenhum preconceito em relação aos falantes;


3º – transformar um texto construído em linguagem coloquial para linguagem padrão;


4º – fazer as escolhas linguísticas pertinentes a cada situação, levando em consideração a quem está se dirigindo, por escrito ou oralmente.

Duração das atividades
4 aulas de 50 minutos cada (200 minutos)
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

- Professor, para o bom desenvolvimento dessa proposta de aula, é necessário que o aluno entenda que a língua tem duas formas distintas de manifestação: uma culta (padrão, formal), determinada pela existência de uma gramática normativa e outra coloquial (informal), que se aproxima da manifestação oral da língua, e não segue uma estrutura convencional, ou seja, tem uma organização própria e varia de acordo com as situações de comunicação e os falantes nelas envolvidos. Essas diferenças geram variações diversas que serão abordadas no decorrer desta proposta.

- É também preciso saber que no Brasil, um país de território extenso, há uma infinidade de variações liguísticas e que essas variações não podem gerar preconceito, já que não há um modo certo e outro errado no que se refere ao uso da língua, mas sim uma convenção que estabelece normas de conduta linguística. Nesse sentido, é ineressante chamar a atenção dos alunos para o fato que, além do Brasil, há outros países cuja língua nacional ou materna é o Português. Cada um desses, a exemplo do que ocorre em nossa língua, também possui variantes linguísticas e que são características de cada um dos povos. São vários os Portugueses, assim como vários são os fatores que influenciaram a evolução de linguística de cada povo.

Estratégias e recursos da aula

1ª AULA

- Professor, comece explicando para os alunos que os falantes de uma língua aprendem desde cedo algumas estruturas básicas que permitem o uso para a comunicação. Essas estruturas são relativamente fixas e uniformes, mas elas podem sofrer variações devido a alguns fatores específicos como a idade do falante. Um adolescente não usaria o mesmo vocabulário que o avô, por exemplo. Aproveite esse gancho para pedir aos alunos que mencionem diferenças entre o vocabulário usado por eles, os pais e os avós. Instigue-os para que lembrem de gírias que costumam dizer e ainda das palavras estranhas que aprenderam com os mais velhos. Crie no quadro duas listas com esse vocabulário (Linguagem do adolescente X Linguagem dos mais velhos).


A tirinha abaixo pode ser apresentada aos alunos para exemplificar o uso de uma linguagem coloquial, com fins humorísticos.


Sobre a imagem, faça os seguintes questionamentos com os alunos (Podem ser feitos por escrito ou oralmente):


A) No texto é utilizada uma linguagem mais formal ou menos formal? (Para isso, antecipe uma breve explicação sobre níveis de formalidade da linguagem.

Professor, você poderá consultar o site: http://www.klickeducacao.com.br/2006/materia/21/display/0,5912,-21-98-861-,00.html - (acessado em 12/09/2009), para ter mais elementos sobre o tema.


B) Peça aos alunos que identifiquem na charge expressões populares que aparecem nos balões. Incite-os a justificar o uso de tais  expressões e que pessoas usualmente a empregariam.


C) Crie uma fala para a árvore, usando a linguagem informal.


D) Questione com os alunos: se trocássemos as falas dos balões por outras como "Não há uma folha sequer em seus galhos, árvore!" o efeito humorístico continuaria? Qual a função da linguagem nesse contexto?


Na sequência, discuta outro tipo de variação: a profissional. Demonstre aos alunos que cada profissional desenvolve uma linguagem técnica própria da área a que se dedica. Faça uma nova divisão no quadro e peça a eles que digam expressões tipicamente utilizadas por algum profissional, como médico, advogado, engenheiro, mecânico. Depois disso, lembre-se de dizer o quanto é importante que cada profissional escolha os termos corretos para conversar com um leigo. Por exemplo, explique que não é conveniente nem seguro que um médico empregue uma linguagem extremamente técnica e complicada para se dirigir diretamente a um paciente ao explicar-lhe ou comunicar-lhe dados sobre seu estado de saúde. Apresente a tirinha abaixo e instigue-os a analisar os efeitos de sentido provocados pela fala do médico. Será que ele atingirá os seus objetivos: informar ao paciente os cuidados necessários para tomar o medicamento?


- Fale ainda sobre as variações situacionais, que dizem respeito à adequação da língua à situação de comunicação (o lugar onde se encontram os falantes, a função e os objetivos da comunicação, o grau de (in)formalidade entre os sujeitos, o assunto, os conhecimentos prévios compartilhados - de língua e de mundo -  pelos falantes). 

- Proponha aos alunos as seguintes situações: 1)Um advogado encontra um outro advogado, c olega de escritório, em um clube no fim de semana e diz: “E aí , amigão, tudo em ci ma?” O que eles acham disso? Está adequada ou não a fala e por quê? Ouça com atenção os argumentos dos alunos e avalie se com eles pode se concluir que não há  problemas nessa fala, porque eles estão em uma situação informal, fora do trabalho e que não exige um tratamento formal entre eles.

2) Os dois advogadosse encontram numa audiência, no Fórum,  e estão ambos em frente ao juiz. Como deve ser  o cumprimento deles um para o outro? E, se algum deles quiser se dirigir ao juíz, como será a fala? Nesse caso, as respostas devem ser direcionadas para a utilização de um tom mais sério e menos espontâneo, com a escolha cuidadosa de termos a serem empregados. ( Se você achar adequado, poderia trabalhar aqui o uso de pronomes de tratamento, algumas palavras do jargão jurídico.)

3) Construa no quadro, junto com os alunos mais alguns exemplos de variação situacional. Aproveite as indicações deles.


A charge Niquel Náusea abaixo é um exemplo de adequação da fala à situação. Os dois ratos iniciam uma conversa cortês sobre o pedaço de queijo e goibada que cada um deles encontrou. No entanto o nível da conversa se modifica por causa da rivalidade pela comida, passando de uma linguagem extremamente rebuscada, para um diálogo host il.

- Professor, insista com os alunos sobre a necessidade de se considerar ainda a época em que o falante vive (variação histórica ), o sexo (homens terão um vocabulário diferente das mulheres), o lugar (variação geográfica) e o grupo social (variação sociocultural), pois esses fatores podem influenciar muito o uso da língua. Deixe bem claro para os alunos que, embora no território brasileiro todos falem  o idioma Português, haverá diferenças que conferem nuanças específicas a cada contexto de utilização. Um exemplo típico de variação sociocultural pode ser encontrada nos textos do poeta Patativa do Assaré, que se encontram no link abaixo http://www.tanto.com.br/patativa-classicos.h tm (acesso em 13/09/09).

- Para dar continuidade à aula, professor, fale com os alunos sobre o que é certo e errado na língua. Explique que o principal critério usado para estabelecer um padrão é eleger o modo de falar do segmento social que tem mais prestígio, de forma que a determinação da língua culta (ou linguagem padrão, formal) está diretamente ligada ao poder social. As demais variedades linguísticas (linguagem informal ou coloquial) passam a ser consideradas erradas. No entanto, precisa ficar claro aos alunos que não há uma forma errada ou certa de uso da língua. O que há é um padrão estabelecido pela gramática normativa, que rege o que é gramaticalmente correto, mas as outras formas de comunicação linguística, desde que transmitam uma mensagem, são consideradas linguísticamente corretas. Em todo caso, cabe ao usuário buscar dominar as estruturas e regras da língua, para que possa utilizá-la de forma eficaz.

- Para exemplificar essa etapa, fica como sugestão a exibição de um pequeno filme, da série Orto e Grafia, disponibilizado pelo MEC no portal do Domínio Público. http://www.youtube.com/watch?v=krE5AIHbYhM (acesso em 13/09/09) - O vídeo traz um típico diálogo familiar em que são colocados n a tela exemplos de c oncordância verbal n o ato da fala dos perso nagens.

Adote como procedimento o seguinte esquema:


Exiba o v ídeo uma vez para os alunos e peça a eles que digam se o diálogo obedece a uma estrutura formal do uso da língua. Eles devem ilustrar a fala deles com trechos de que se lembram. Se for preciso, enfatize o fato de que os personagens empregaram corretamente os verbos durante o diálogo.

Tire a prova com os alunos: exiba novamente o vídeo e coloque no quadro pelo menos algumas frases que aparecem no decorrer da conversa entre os membros da família . Então, confira com os alunos a concordância verbal, fazendo-os analisar o emprego da pessoa, o número, o tempo verbal etc.


- Com o tópico anterior, os alunos devem chegar à conclusão de que a linguagem utilizada é uma modalidade do português culto. A segunda proposta é que os alunos assistam a um vídeo produzido pelos formandos do curso de Letras da Universidade Federal de Brasília. No vídeo há entrevistas com pessoas de diversos estados brasileiros. Durante a exibição do vídeo, peça aos alunos que façam anotações no caderno sobre o que ouvem, para um debate posterior.

- Após a exibição do vídeo, converse com os alunos sobre as suas impressões a respeito do que viram e ouviram. Inves tigue se há algum aluno na classe ou na escola que seja de uma região diferente. Caso haja, leve os alunos a perceber as peculiaridades da fala desse colega.

- Pensando no contexto familiar, converse com os alunos sobre pess oas da família que possam, por algum dos fatores de variação , fazer um uso diferenciado da língua.

- Nos moldes do vídeo assistido, sugira que os alunos entrevistem pessoas da família, em especial pessoas mais velhas ou alguém conhecido que tenha vindo de outra região, com vista a uma análise das variações  linguísticas que eles reconheceram.  Seria bom que essas entrevistas fossem gravadas. Os alunos podem usar os celulares, aparelhos de MP3/MP4 ou outros equipamentos de que dispuserem. É interessante também gravar uma conversa com alguém que não tenha frequentado a escola, que conviva com pessoas de nível cultural disti nto e que possua profissões também diferenciadas.

- Oriente-os a fazer um po rtifólio de entrevista, colocando além das perguntas e respostas obtidas, um fichamento contendo as impressões que tiveram com as respostas do questionários, da seguinte maneira:

Nome do entrevis tado:


*Idade:


*Sexo:


*Naturalidade:


*Onde vive atualmente:


*Escolaridade:


*Profissão:


Perguntas ao entrevistado:


1) Você se lembra de alguma expressão que é típica do lugar onde você mora?


2) Você já foi criticado alguma vez por falar/escrever alguma palavra errada? Lembra-se qual foi o erro cometido?


3) Você costuma corrigir as pessoas quando as ouve dizer/escrever alguma coisa "errada"?


*Observação: trabalhe com os alunos o conteúdo do questionário, tirando dúvidas e enfatizando a importância das respostas obtidas acima (sexo, idade, naturalidade, escolaridade, etc), para a construção do perfil de variação linguística do entrevistado.


Conclusões do entrevistador:


Com a entrevista você descobriu alguma palavra que não faz parte de seu vocabulário do dia-a-dia? Qual? A que tipo de variação você atribui essa palavra (sociocultural, idade, sexo, geográfica, profissional, etc)?

ENTREVISTA - VARIAÇÃO LINGUÍSTICA
*Nome do entrevistado:
*Ida de:
*Sexo:
*Naturalidade:
*Onde vive atualmente:
*Escolaridade:
*Profissã o:
Perguntas ao entrevistado:

1) Você consegue mencionar alguma expressão da língua que é típica do lugar onde você mora?

2) Você já foi criticado alguma vez por falar/escrever alguma palavra errada? Lembra-se qual foi o erro cometido?

3) Você costuma corrigir as pessoas quando as ouve dizer/escrever algumas coisa "errada"?

Conclusões do entrevistador:

Com a entrevista você descobriu alguma palavra que não faz parte de seu vocabulário do dia-a-dia? Qual? A que tipo de variação você atribui essa palavra (sociocultural, idade, sexo, geográfica, profissional, etc)?

2ª AULA


- Faça um círculo com os alunos e promova um debate sobre os resultados obtidos com as entrevistas. Peça a eles que contem suas experiências e em especial falem das conclusões a que chegaram. Se algum tiver gravado a entrevista e quiser mostrar alguma informação curiosa, esse é o momento. Estimule o grupo a dar opinião sobre as conclusões dos colegas.

- Após o debate, mantenha a turma em círculo. Peque uma grande folha de papel normalista (papel pardo.Krfat) e sente-se no chão com os alunos, tendo ao centro o papel. Juntos, vocês vão construir um grande mural para a exposição das entrevistas colhidas pelos alunos. Anote as expressões que acharam mais interessantes, a região onde é usada, a idade/sexo do informante, o significado... As variáveis que serão registradas podem ser negociadas com os alunos.


- Para concluir os trabalhos referentes à entrevista, sugerimos que você, professor, fale com os alunos  sobre o preconceito linguístico, inclusive aproveitando as duas últimas perguntas formuladas para a entrevista. Sugere-se como suporte o livro “A língua de Eulália: uma novela sociolinguística”, de Marcos Bagno, http://www.webartigos.com/articles/62 04/1/a-lingua-de-eulalia-uma-novela-sociolinguistica/pagina1.html - (acesso em 11/09/09). O livro trata do tema das diversidades linguísticas de forma bem clara e traz vários exemplos que podem ser aplicados com sucesso entre os alunos. Ele é sugerido apenas como apoio ao professor, porque alguns fragmentos extremante teóricos poderiam não ser bem aproveitados pelos alunos, mas sua leitura é primordial para as discussões sobre variação linguística.


3ª AULA

- Na terceira a ula, após já terem sido discutidos os níveis de variedade e noções de preconceito linguistico, é proposta a apresentação do vídeo do Mazzaropi, um pes ronagem que encarn a a imagem do Jeca tatu - http://www.youtube.com/watch?v=h4glcXxPt38 - (acesso em 11/09/09). A biografia completa de Mazzaropi e informações sobre a criação do pernsonagem Jeca podem ser encontradas no site Museu do Mazzaropi: http://www.museumazzaropi.com.br/index.asp .

- Antes de assistirem ao vídeo, é importante, professor, falar aos alunos sobre o esteriótipo criado em torno do homem do campo, geralmente lembrado como uma pessoa sem cultura e conhecimentos e marcado por um modo de falar característico.

Cria-se o personagem Jeca, que se torna sinônimo de ingenuidade e ignorância, dotado ao mesmo tempo de esperteza e do famoso jeitinho brasileiro. Uma representação bem viva desse personagem é a figura do Chico Bento, criado por Maurício de Sousa.

(http://www.monica.com.br/cgi-bin/load.cgi?file=news/welcome.htm&pagina=../../mural/capassetembro.htm - Site turma da Mônica)

-  Outro personagem é o Jeca Tatu apresentado nas obras de Monteiro Lobato. O Jeca de Mazzaropi também tem características bem familiares e é um ótimo exemplo de variação lingüística sociocultural, com seu modo de falar caipira.

- Depois desses esclarecimentos, passe o fragmento do fil me Tristeza do Jeca e peça e eles que durante o filme observem o vocabulário utilizado tanto pelo personagem principal , quanto pelos demais personagens http://www.youtube.com/watch?v=h4glcXxPt38 - (acesso em 11/09/09)


- Após assistir a primeira vez o filme, proponha aos alunos o seguinte:


O vídeo será passado novamente e serão dadas pausas a cada fala dos personagens. O alunos deverão transcrever para o caderno o diálogo que acontece na cena, desde o momento da chegada dos visitantes à casa do Jeca até a transição para a cena do palanque. Aconselhe os alunos a copiarem as cenas exatamente como elas acontecem, mesmo que isso implique em cometer erros de português.


O diálogo ficará da seguinte forma:

Jeca: Já vai, infortúnio. Bom dia!

Doutor Márcio: Bom dia!

Amigo do doutor: Dia! Esse é o doutor Marcio, ele é filho do meu patrão. É médico, é pediatra.

Jeca: Fala bestera aí que tem muié aí dentro, viu? Prazer!

Amigo do doutor: Ele veio conversar com você, nós podemos entrar?

Jeca: Pode sim. Muíeeee, vai entra homi aí... vamo...

Amigo do doutor: Obrigado!

Jeca: Primero o dotor, né? (...) O senhor não, peraí, né! O sen hor né dotor! Primero o dono da casa. Seja educado! Vamo sentano! Muíe, vê visita pras cadera!

Filó: Quê?

J eca: Vê cadera pras visita.

Amigo do doutor: Dou tor Márcio, está é a dona Filó, senhora do Jeca.

Filó: Parabéns dotor.

D outor Márcio: Encantado madame.

Jeca: Ei, que negócio é esse aí? Precisa ta dano a mão pros otro assim? Precisa?

Filó: Foi ele que pego na minha mão.

Jeca : E ocê, precisava virá os ói desse jeito? Precisava? Vai embora pra lá.

Amigo do doutor: Vamos sentar, doutor?

Doutor Mácio: Vamos.

Doutor Sérgio: Com licença.

Amigo do doutor: Jeca, esse é o doutor Sérgio, outro filho do coronel.

Doutor Sérgio: Encantado em conhecê-lo, Jeca.

Jeca: Assim seja.

Doutor Sérgio: E aí, pessoal, está tudo combinado?

Amigo do doutor: Nós chegamos agora mesmo. Jeca, os doutore s querem conversar com você.

Doutor Márcio: Com licença, Jeca, poço dar uma fumadinha?

Jeca: Só tem esse e ainda saiu...

Doutor Márcio: Eu tenho o meu cigarro.

Jeca: Então purque já num ta fumano a mais tempo?

Doutor Márcio: Bem...

Doutor Sérgio: Bem...

Doutor Márcio: Fala você, mano.

Doutor S érgio: Bem, Jeca, o assunto que nos traz até a sua casa é que ... problema?

Jeca: Peraí que eu vô abri a porta pra vê um negócio.

Jamanta: Que isso , Jeca, isso é jeito de abrir a porta?

Jeca: Isso é jeito de entra na caso dos outro, cavalada? Dotor, não repara! O Jamanta não tem educação. É narfabeto de pai e mãe.

Dou tor Márcio: Entendo.

Jeca: Pode contin uá.

Doutor Sérgio: O senhor como homem honesto, sincero, trabalhador, deve compreender que o coronel Policarpo é o único que traz na sua plataforma política, defesa, defesa, a defesa do homem do campo.

Jeca: Ce num vai na missa não, ô?

Filha do Jeca: Vô sim, pai.

Jeca: E o quê que ta esperanu?

Fi lha do Jeca: Nada.

Jeca: Então vai que a conversa aqui é pra homi. Pode continuá.

Doutor Sérgio: Bem, continuando meu amigo Jeca, eu direi que para que o nosso candidato se faça vitorioso no pleito que se aproxima, se faz necessário que você convença os seus amigos a votarem na nossa causa. Engraçado, os dois tão falano a mesma coisa. Ocê intro pra repiti tudo.

Doutor Sérgio: O problema é de vocês, heim! Passar bem, Jeca.

Jeca: Eu não vou passar nada, quem lava e passa é ocê, né. Fala prele pintiar macaco.

Filó: Vá pintiar macaco.

Doutor Márcio: Bem, Jeca, durante a campanha nos poremos a sua disposição tudo o que for necessário.

Amigo do doutor: A sua casa, por exemplo, você precisa melhorar. Aqui não tem goteira?

Jeca: Não sinhor, só pinga.

Amigo do doutor: Você não tem uma idéia pra dar pra gente?

Jeca: engraçado, ocê anda junto com o dotor vem pedi ideia preu?

Doutor Márcio: É que eu não conheço a psicologia do caboclo, Jeca.

Jeca: Não conhece o quê?

Doutor Macio: A psicol ogia.

Jeca: Vai imbora pra lá, muié. Eu falei proceis que se fosse intra aqui pra falar bestera nóis ficava lá no campo mesmo, viu? Lugar de animar é lá.

Doutor Márcio: Bem Jeca, eu gostaria que você pedisse a seus amigos para votarem no candidato do meu pai, o coronel Policarpo .

Jeca: Aqui, cê qué sabe duma coisa? Eu não vo pedi nada pra ninguém purque eu num tenho nada cum a vida dos otro. E depois, taí uma coisa que homi direitu num faz.

Filó: É isso memo.

Jeca: Isso memo é o quê?

Filó: Sei lá.

Jeca: E purque que se meti na conversa q uando ocê num ta sabenu nem o que nóis ta cunversano aqui? Vai pro fugão, muié.

Filó: Ora, vô!

Amigo do doutor: Mas o que é que homem direito não faz?

Jeca: Atraí o patrão.

Amigo do doutor: Atrair? Trair! Verbo trair!

Jeca: Pois é, e verbo trair. Ocê ta pensando que eu sô ignorante, eu não sou não, eu sei o que é verbo. Eu lembro até quando a professora, viu, dotor, insinava eu: eu traíra, tu traíra, ele traírova, nóis...

Doutor Márcio: Pra mim chega, vamos embora!

A migo do doutor: Vamos!

Jeca: E tem mais ainda, nóis trairovamos...

Amigo do doutor: Não tem mais nada, vamos embora.

Amigo do doutor: Tenho certeza que você vai pensar e vai dar uma resposta satisfató ria, heim?!

Eleitor 1: Ô Jeca, eu estou com você.

Eleitor 2: Eu ap óio o Jeca.

Jeca: Eu num preciso do apoio de ninguém, pra andar sozinho já cansa tanto.

Eleitor 3: O candidato nosso é o nosso patrão. Nói devemo tudo pra ele.

Jeca: Não, peraí, eu num devo nada pra ninguém. Só se oceis deve. Oia gente, oceis num repararo que hoje é domingo, hoje é dia de descaso. Ah, vão trabaía, dexa eu descansar. Vai embora pra dentro, muié, sai do meio dos homi.

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- Em seguida, peça aos alunos para reescreverem o diálogo alterando a forma coloquial para a forma padrão, observando em especial as concordâncias verbais e nominais.

- Por último, faça um rápido debate em que os alunos devem apontar as principais diferenças entre a fala do Jeca e dos demais personagens. Qual é o diferencial da linguagem utilizada por ele? Isso causa algum efeito nas cenas vistas? Qual? Os alunos d evem reconhecer que o tom de humor da cena é atribuído, em especial, à variação linguística do personagem principal. É ele que faz confusões devido a sua “ignorância” em relação ao significado de certas palavras e à sua pronúncia e isso atribui humor ao filme.


4ª AULA

- Como fechamento da proposta, a quarta aula terá como alvo a música Cuitelinho, cantada por Pena Branca e Xavantinho. Transcrevo-a abaixo.


Cuitelinho


Pena Branca e Xavantinho - Composição: Paulo Vanzolini / Antônio Xandó


Cheguei na beira do porto
Onde as ondas se espáia
As garça dá meia volta
E senta na beira da praia
E o cuitelinho não gosta
Que o botão de rosa caia, ai, ai, ai
Aí quando eu vim de minha terra
Despedi da parentaia
Eu entrei no Mato Grosso
Dei em terras paraguaia
Lá tinha revolução
Enfrentei fortes bataia, ai, ai, ai
A tua s audade corta
Como aço de nav aia
O coração fica aflito
Bate uma, a outra faia
Os óio se enche d`água
Que até a vista se atrapaia, ai, ai, ai

Letra: http://letras.terra.com.br/pena-branca- e-xavantinho/48101/ - Cuitelinho – Pena Branca e Xavantinh o (acesso em 13/09/2009)


Vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=E3Uaqd4CCR – Cuitelinho – Pena Branca e Xavantinho (acesso em 11/09/09)


- Entregue có pias xerografadas da música para os alunos e coloque-a para tocar. Na primeira vez, eles vão apenas ouvir, observando o vocabulário e a linguagem utilizada. Em seguida, peça que eles grifem as palavras que estão escritas fora do portugu ês padrão e que circulem aquelas cujos significados não conhecem. Então eles deverão ir ao dicionário e encontrar os significados dessas palavras  e selecionar o que convém ao texto. Certamen te uma das palavras que causará dúvida é “cuitelinho”, que quer dizer beija-flor.


- Na sequência, peça aos alunos que façam a reescrita da letra da música, adequando-a ao português padrão.
- Discuta com os alunos porque uma música como esta foi escrita na modalidade coloquial da língua portuguesa, relacionando-a com a música caipira e com as tradições rurais do país.


- Como finalização da proposta, peça aos alunos que escrevam um texto incorporando os novos conhecimentos adquiridos com a sequência de aulas. O Texto deve obedecer ao esquema de um relato, em que os alunos poderão falar sobre a experiência de fazer uma entrevista, sobre a conclusão a que chegaram em relação as variedades linguísticas e ao preconceito diante das várias formas de expressão da língua.

Recursos Complementares

- http://www.youtube.com/watch?v=iBIFuYbI4Sw - Trabalho sobre variação linguística do Português do Brasil, produzido por alunos da graduação do curso de Letras da Universidade de Brasília.

- http://www.youtube.com/watch?v=h4glcXxPt38 - filme Jeca Tatu, de  Mazzaropi.

- http://www.youtube.com/watch?v=krE5AIHbYhM - Concordância Verbal: Vídeo da Série Orto e Grafia, disponibilizado pelo MEC no portal do domínio público utilizado em aulas sobre Variação Linguistica para discutir Preconceito Linguístico.

- http://www.webartigos.com/articles/6204/1/a-lingua-de-eulalia-uma-novela-sociolinguistica/pagina1.html - A Língua de Eulália – Marcos Bagno (acesso em 11/09/09)

- http://www.youtube.com/watch?v=E3Uaqd4CCR8 – Cuitelinho – Pena Branca e Xavantinho.

Avaliação

Professor, o processo de avaliação dessa proposta deve acontecer aula a aula. As atividades desenvolvidas permitem que os alunos sejam avaliados individualmente quanto à capacidade de produção escrita e de identificação do uso de modalidades não padrão da língua. Permitem ainda observar a predisposição do aluno para interagir com as discussões em grupo e para refletir de forma isolada, produzindo seu próprio ponto de vista. Também pode ser avaliada a qualidade da entrevista feita, de acordo com o capricho, a escolha dos entrevistados e a produção escrita das respostas dos entrevistados. No decorrer das aulas, observe a capacidade de cada um ao fazer substituições proposta e ao converter um texto de origem coloquial para a norma culta. Observe também a sua competência para extrapolar os limites que os textos impõem, analisando se ele é capaz de se adequar a modalidades de variação textual diferentes, sem emitir juízos preconceituosos. Além disso, vale notar a capacidade do aluno de reunir em um texto final os aspectos mais relevantes que foram aprendidos nas aulas, de forma ao mesmo tempo concisa e completa. É ainda muito importante ouvir os alunos na hora da avaliação, para que se descubra realmente o nível de aprendizado que tiveram sobre o assunto específico e a forma como fazem uso da expressão escrita e oral da língua.

Opinión de quien visitó

Quatro estrelas 12 calificaciones

  • Cinco estrelas 10/12 - 83,33%
  • Quatro estrelas 2/12 - 16,67%
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Opiniones

  • Parabéns pela aula. Muito linda, SEDUC , Pará - dijo:
    pepa-olga@hotmail.com

    17/03/2015

    Cinco estrelas

    Amei. Não tenho tempo para fazer uma pesquisa tão diversificada


  • vanessa, dourados , Mato Grosso do Sul - dijo:
    vanessa_13duquini@hotmail.com

    22/06/2012

    Cinco estrelas

    muito bom


  • zilda teodoro, prefeitura de são paulo , São Paulo - dijo:
    zildasteodoro@yahoo.com.br

    08/06/2012

    Cinco estrelas

    vc esta de parabens.


  • Maria Almeida, Uneb , Bahia - dijo:
    mariaoliveira@uneb.br

    19/01/2012

    Cinco estrelas

    Parabés!!! Trabalho com esse livro nas turmas de pedagogia... Atividades realmente propiciam o conhecimento. Agora, quem vai utiliza-la deve ler o livro.


  • Sarah, E.E. Irmã D. Pimentel , Mato Grosso - dijo:
    sarabatista12@hotmail.com

    15/08/2011

    Quatro estrelas

    adorei as sugestões de aula. vou elaborar um plano e aplicarei em sala a do 'cuitelinho'.


  • Barbara Falcão, Vicente Bastos , São Paulo - dijo:
    naohaoquelamentar@yahoo.com.br

    05/08/2011

    Quatro estrelas

    Muito interessante, trabalharei algumas propostas com meus alunos do EJA. Obrigada.


  • Mariane Gimenez, Universidade Uniabeu , Rio de Janeiro - dijo:
    gimenez_anne@hotmail.com

    02/04/2011

    Cinco estrelas

    Excelente aula vai me ajudar muito atualmente, pois, é sobre esse tema que eu vou lecionar e é a minha primeira vez em uma sala de aula!Parabéns!


  • Maria Dolores dos Santos, Escola Estadual Corsina Braga , Pernambuco - dijo:
    m.doloressantos@yahoo.com.br

    13/02/2011

    Cinco estrelas

    Parabenizo-as pela excelente sequência didática, está muito detalhada e o passo a passo completo para ser vivenciado em sala de aula. Estava com bastante material para trabalhar o conteúdo, mas sem norte e as orientações estão eficazes para realização do trabalho. Grata, Dolores


  • maria perira santos de carvalho, FUMEC , São Paulo - dijo:
    bia.amanda@yahoo.com.br

    07/10/2010

    Cinco estrelas

    maravilhoso !!!!!!!!!!com sua permissão irei trabalhar com meus alunos do Eja......Que Jesus continue te iluminando ....sucessossss


  • Maria da Conceição dos Santos , Colégio Estadual Tereza Borges de Cerqueira , Bahia - dijo:
    nennah_cte@hotmail.com

    04/04/2010

    Cinco estrelas

    Adorei a proposta desta aula, este é um assunto que eu adoro trabalhar porque tem muito material e mesmo assim pude encontrar novidade nesta aula. Vou usar as charges e o vídeo do youtube com a música de Pena Branca e... em minhas aulas. Obrigada pela sugestão.


  • Pericles Peri, Cederj , Rio de Janeiro - dijo:
    pericles.peri@hotmail.com

    24/03/2010

    Cinco estrelas

    Excelente proposta, bons textos, imagens e vídeo. Inspirador. Vou usá-la com meus alunos.


  • Ariselha, Centro de Ens. Gov. Roseana Sarney , Maranhão - dijo:
    prof.ariselha@hotmail.com

    24/03/2010

    Cinco estrelas

    Adorei as sugestoes de aulas. Com certeza irei aplicá-las.


Sem classificação.
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