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JORNAL

Profissão Professor

Quarta-feira, 18 de Junho de 2008

Edição 1

EDITORIAL - Profissão Professor

Educar, ensinar a aprender, ampliar o universo cognitivo, conduzir os alunos na busca do conhecimento e fortalecer o processo de ensino aprendizagem. Essas tarefas com nomes rebuscados são apenas algumas que esse profissional que tem pela frente. E tratar de temas ligados à educação e ao cotidiano da sala de aula sem resvalar no óbvio ou no que não representa as milhares de histórias de professores brasileiros parece ser uma missão bastante complicada.

 

O nome, simples e direto, já sentencia: o Jornal do Professor tem um foco e um interlocutor colaborador. São educadores preocupados em se capacitar, docentes do ensino superior que formam os novos profissionais do mercado, professores de alunos carentes que conseguem transformar o cotidiano da sala de aula, tutores do ensino a distância que superam as dificuldades físicas para ensinar e mestres que materializam a idéia de educação inclusiva, ora lidando com alunos portadores de necessidades educacionais especiais, ora sendo um professor pra lá de especial.

 

Essas e outras reportagens você encontra no Jornal do Professor. Semanalmente você escolherá o tema da próxima edição além de colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

 

Seja bem-vindo!

LDB exigiu melhora do nível de formação

Há dez anos, entrou em vigor a lei que estabeleceu o nível superior completo como padrão mínimo de formação para os docentes da educação básica.

 

JP (Brasília) – A partir de 1996, a capacitação dos professores passou a ser mais do que uma cobrança do mercado de trabalho. Naquele ano, a melhora do nível de formação dos professores passou a ser exigida também por lei com a vigência da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº 9.394 editada em 20 dezembro de 1996). A chamada LDB estabeleceu a exigência de formação em nível superior para os professores atuarem na educação básica, admitindo formação em nível médio, na modalidade Normal, somente para docentes da educação infantil e primeiras séries do ensino fundamental.

De lá pra cá, ocorreram mudanças significativas no sistema educacional do país. Em aproximadamente dez anos, o número de professores da educação básica com nível superior completo mais do que triplicou de acordo com dados do Censo Escolar. Em 1998, havia 172.715 professores com nível superior lecionando em turmas de 1ª a 4ª série. Já em 2006, o número saltou para 423.994 docentes. No mesmo período, houve também uma diminuição drástica do número de docentes com nível fundamental incompleto atuando nas primeiras séries do ensino fundamental. Em 1998, havia 44.335 professores nesta situação, já em 2006, foram registrados apenas 297. (veja infográfico)

No decorrer dos últimos dez anos, foram criados vários programas de capacitação de professores. O PróInfantil, programa do Ministério da Educação, por exemplo, é destinado aos professores do ensino infantil que ainda não têm formação em educação. É o caso da professora Ângela Santos, que há seis anos trabalha na Creche Municipal Paulo Freire, em Vitória da Conquista (BA). “Eu tinha concluído apenas a oitava série e foi um desafio entrar em sala de aula no começo, mas descobri que gostava de trabalhar com crianças, me identifiquei com a profissão”, contou. Segundo ela, por trabalhar diretamente com crianças de dois a três anos, sua grande preocupação era em cuidar das crianças e não educar. “Achávamos que, por as crianças serem tão novinhas, elas não aprenderiam. Com o curso vimos que, com atividades lúdicas e por meio de histórias, elas aprendem brincando”, explicou.

De acordo com a coordenadora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, professora Sonia Terezinha Penin, a LDB estabeleceu novos critérios de formação e resultou no surgimento vertiginoso de novos cursos voltados para a capacitação de professores. “A exigência de nível superior constituiu uma mudança importante para educação brasileira. Em São Paulo, por exemplo, foi criado o Programa de Formação Continuada - Formação de Professores, da Universidade de São Paulo, que já atendeu sete mil professores desde 2001”, afirmou. Segundo Penin, a constante atualização dos professores é necessária. “Mais do que permitir o acesso a novas técnicas, os cursos possibilitam a interlocução entre os docentes e uma troca de experiências fundamental para transpor as dificuldades de seu cotidiano”, ressaltou a especialista.

Veja a evolução do nível de formação dos professores

 

Quando professores se tornam alunos

Aula em município de Manicoré (AM)

Além de ampliar os conhecimentos dos professores, cursos de capacitação dão mais segurança aos docentes

 

JP (Brasília) - Estar atualizado. Hoje, esta é uma necessidade cada vez mais importante para profissionais de todas as áreas. No setor educacional, estar em constante processo de aprendizagem se faz ainda mais essencial para renovar as práticas educacionais dentro de sala de aula. Neste cenário, a variedade de cursos é tremenda e abrange os mais diferentes níveis de graduação dos professores: desde a formação inicial na modalidade Normal, até a graduação em nível superior e pós-graduação.

Com algo próximo de 30 cursos de curta duração no currículo, o professor Alex Sandro Pereira diz ter mudado sua visão de sala de aula. Formado em pedagogia, ele leciona em turmas de 1ª a 4ª séries e também como professor orientador de informática educativa na Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Antonio Rodrigues de Campos, localizada em São Paulo. “Minha visão era muito fechada e depois dos cursos percebi que a educação ocorre em todos os lugares e o tempo todo”, explicou. Ele ressaltou que, além de colaborar para a formação dos professores, a capacitação também contribui para a vida funcional dos docentes de escolas públicas. “Nosso plano de carreira valoriza os professores que têm esses cursos”, afirmou.

Professora do ensino infantil em Manicoré (AM), a técnica em contabilidade Ana Lea Rodrigues abraçou a carreira docente em 1998. Natural de Bauru (SP), ela mora há 20 anos no município que tem cerca de 40 mil habitantes e fica a três dias de barco de Manaus. “Havia uma carência muito grande de professores no nosso município e comecei a dar aulas numa barraca de lona ao lado de uma igreja, para 23 alunos. Depois não consegui mais fechar as portas”, contou.

Segundo ela, em 2000, a escolinha passou da lona à alvenaria e foi registrada pela Secretaria de Educação Municipal. Apesar da luta para levar educação para a comunidade amazonense, sem formação em educação, Ana Lea se sentia insegura em sala de aula. “Me sentia um peixe fora d´água por não ter um curso de magistério”, afirmou.

Em dezembro deste ano ela conclui o curso a distância na modalidade Normal e garante que já houve uma mudança significativa dentro de sala de aula. “Passamos da água para o vinho. Antes achávamos que o ideal era ter os alunos sempre em sala de aula escrevendo. Hoje, estamos sempre valorizando as experiências das crianças e trazendo as famílias para a escola”, destacou.

Tutores: o calor humano nos cursos a distância

Alunos se reúnem para receber tutoria.

Em cursos onde a distância entre alunos e professores é grande, tutores se tornam ponto de apoio e orientação

 

Acompanhar, orientar e supervisionar. Estas são as tarefas de professores que atuam como tutores de cursos ministrados na modalidade a distância. São eles que fazem a ponte entre os alunos e os coordenadores, estabelecendo o que alguns tutores chamam de “calor humano” dos cursos a distância.

Moradora do município de Natividade, da região Norte Fluminense, a professora de matemática Dayselane Pimenta Lopes atua como tutora do pólo do Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro (Cederj) na cidade. Formada em matemática pelo Cederj, a tutora conhece bem a rotina de estudos de um aluno a distância. Segundo ela, a tutoria oferece o apoio presencial necessário para estimular os alunos. “Os cursos a distância exigem autonomia muito grande. Muitas vezes os estudantes não estão preparados para isso e, se não fosse a tutoria, eles desistiriam do curso”, destacou.

Já o professor Clever Peterson Freire Bezerra, cursista do programa Formação pela Escola, está estudando para ser tutor. Morador do município de Sena Madureira (AC), ele contou que os tutores são orientados a não responder as dúvidas dos alunos de imediato, mas estimulá-los na busca do saber. “Nossa função é guiar o aluno a descobrir a resposta com autonomia ou então levar as dúvidas para o debate com os outros estudantes”, contou.

Com mestrado e doutorado, Tarciro Nortason Chaves é tutor de física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele conta que o maior desafio do tutor é explicar os conceitos pelo telefone ou por meio do computador. “Na física, isso exige uma capacidade pedagógica muito grande porque lidamos com imagens mentais”, explicou. Segundo ele, o acompanhamento do processo de ensino-aprendizagem dos alunos é fundamental para o sucesso do curso.

Uma escola antenada

Professora de informática educativa da Escola Municipal Profa. Maria Antonieta Basto, SP (SP)

Com bom resultado no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, o Ideb, a Escola Municipal Maria Antonieta D'Alkimin Basto, em São Paulo, prova que a combinação entre a participação da comunidade e criatividade dos professores pode produzir bons resultados mesmo em ambientes adversos.

 

O cenário não poderia ser mais contrastante: encravada entre um sofisticado edifício de escritórios, a Favela do Coliseu chama a atenção de quem visita a Vila Olímpia, bairro nobre da zona sul de São Paulo (SP), por sua resistência frente ao crescimento urbano da região.

Assentada há 47 anos no local, a favela contabiliza cerca de 270 barracos onde vivem em torno de 1200 pessoas - um quarto delas, crianças. Localizada num terreno particular de aproximadamente 7 mil metros quadrados, a favela convive com a ameaça constante de remoção. Cena costumeira nas comunidades carentes dos grandes centros urbanos, a falta de pavimentação e estrutura adequada de saneamento básico obrigam a comunidade a conviver com ruas esburacadas e esgoto a céu aberto. Apesar disso, os moradores preferem continuar no local por conta do endereço privilegiado - que, entre outras vantagens, facilita o acesso ao trabalho.

A precária condição social da região, entretanto, não impediu que saísse dali uma das melhores escolas públicas de São Paulo. Situada a poucas quadras da Favela do Coliseu, a Escola Municipal Professora Maria Antonieta D'Alkimin Basto, que atende a cerca de metade das crianças da comunidade, ficou com o primeiro lugar entre as escolas municipais da capital paulista na última avaliação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, o Ideb. Uma conquista que deve muito à mobilização da comunidade e a iniciativas inovadoras dos professores daquela unidade de ensino.

Iniciativas como a da professora de informática educativa Paula Augusta Detti, de 26 anos. Profissional da rede municipal de educação há 5 anos, a educadora chegou à Maria Antonieta D'Alkimin no final do ano passado. De lá pra cá, já foi responsável por uma pequena revolução na aprendizagem dos alunos da unidade, fazendo uso de uma matéria-prima que a escola já possuía mas não utilizava.

“Assim que cheguei, percebi que a escola contava com equipamentos de rádio amador que estavam abandonados”, conta a professora. “Decidi então sondar os alunos pra ver se eles teriam interesse em trabalhar com aquele material. Como a comunidade se interessou e o retorno deles também foi positivo, demos início ao projeto em maio”.

O projeto ao qual a professora se refere é o Educomunicação nas Ondas do Rádio, uma iniciativa executada em parceria com o Núcleo de Comunicação e Educação da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). O objetivo é capacitar profissionais da educação e membros da comunidade escolar para explorar as possibilidades de utilização do rádio como instrumento para a promoção da cidadania e a melhoria do ensino.

“A gente ensina os alunos a utilizar programas de edição de áudio e a escrever roteiros. A idéia é que eles sejam capazes de produzir peças de rádio com autonomia. Eles são os protagonistas”, explica a educadora. Do começo ao fim, o processo é acompanhado pelos professores da escola: “O aluno que se interessa mais em escrever os roteiros, por exemplo, recebe um acompanhamento especial do professor de português, que orienta a produção do texto”.

A professora garante: desde que começaram a participar da empreitada, os alunos cresceram consideravelmente em termos de aprendizado e auto-estima. “O projeto permite que eles descubram suas aptidões. Vários professores relatam que o rendimento melhorou”, conta. Filha de um zelador de condomínio e de uma diarista que vivem na Favela do Coliseu, a estudante Brenda Vicente, de 11 anos, que cursa a quinta série na escola, aprovou a novidade: “É muito legal, a gente aprende muita coisa interessante. Fico mais animada pra ir pra escola”, conta a aluna.

A princípio, os alunos estão produzindo programetes experimentais com o objetivo de criar intimidade com as ferramentas. Mas a perspectiva é avançar. “A idéia é que, a partir do ano que vem, eles produzam uma programação efetiva que seja transmitida pelo sistema de rádio interno da escola”, adianta a professora Paula Detti.

 

Em entrevista ao Jornal do Professor, a diretora da Escola Municipal Professora Maria Antonieta D'Alkimin Basto, Isabel Mangabeira, conta como a unidade de ensino conseguiu obter bom resultado no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, o Ideb.

 

Jornal do Professor - A que a senhora credita esse resultado?

Isabel Mangabeira – Acredito que o nosso bom desempenho não se deve a nenhum fator isolado, mas a um conjunto. A participação da comunidade dentro da escola, que cresceu bastante nos últimos anos, teve um peso muito importante, assim como a motivação dos professores e o apoio de empresários da região. O fato de que somos a única escola pública da Vila Olímpia, um bairro que concentra diversas escolas particulares de tradição, também colabora.

Jornal do Professor – A EMEF Professora Maria Antonieta D'Alkimin também possui uma boa tradição de ensino, não? Há quantos anos a escola existe?

Isabel Mangabeira – Sim. A escola foi criada em 1958. Com o nome atual, ela existe desde 1971. Por muitos anos, foi uma das melhores escolas da capital e atendia inclusive filhos de famílias privilegiadas, porque a qualidade de ensino era bastante prestigiada. Sabemos que a escola pública de maneira geral acabou perdendo ao longo dos anos esse prestígio que detinha, mas no nosso caso, apesar disso, o nome da escola ficou associado a um certo padrão de qualidade. Isso faz com que os pais dos alunos nos vejam como uma boa escola e passem isso para seus filhos, que possuem uma certa auto-estima por estudar aqui. Acredito que isso se reflete na dedicação deles aos estudos.

Jornal do ProfessorQuantos alunos são atendidos pela escola hoje e qual é a procedência deles?

Isabel Mangabeira – Atendemos hoje cerca de mil alunos originários principalmente de comunidades circunvizinhas de baixa renda como a Favela do Coliseu, que fica a cerca de 2 km da escola, e a de Paraisópolis, situada a 10 km daqui. Mas grande parte dos nossos alunos é formada também por filhos de trabalhadores que moram longe mas trabalham próximo à escola e por esta razão preferem que eles estudem aqui.

Quimeras

Gerson Lourenço da Silva é professor de língua portuguesa da Escola Estadual República da Colômbia, zona norte de São Paulo. Aos 38 anos o professor que deixou Minas Gerais ainda na adolescência realizou o sonho de prestar uma homenagem àqueles que influenciaram a sua trajetória profissional: os mestres.

 

Para melhorar esse enredo, o autor de Quimera, conseguiu materializar o desejo juntamente com 15 alunos da Escola Estadual República do Chile.

 

A pedido de Geo, como é carinhosamente chamado por seus alunos, publicamos aqui, na primeira edição do Jornal do Professor, os nomes dos seus antigos mestres a quem é dedicada a canção: José Nicolau Gregorin Filho, Rosa Maria M. Beloto, Wilma Rigolon e Itamires.

 

 

A letra você acompanha abaixo!

 

Conheci alguém, você

Um mestre, um professor

Eu era tão carente

Você me ensinou

A ser tão persistente com amor

 

Portas quisera abrir, quimera

Um mundo a construir

Eu quis o horizonte, o monte

Destes o mais importante

O ser, o ter e o querer conhecer

 

We don't need no education

Ru ru ru ru ru dia lindo

We don't need no thought control

Ru ru ru ru ru dia lindo

 

 

Você me ensinou a ser

A querer conhecer

O mais importante amor

Fizestes-me compreender

 

Ler, descobri o ser

Que há dentro de você

Respeitar, amar o ser

Lembro-me de você

 

You taught me to be

To want and to know

The most important, is love

You made me understand

 

If it hadn’t been for you

I wouldn’t be here

To respect and love life

I remember you

 

We don't need no education

Geo And The Kids

We don't need no thought control

Geo And The Kids

 

Entrevista professora Marialva Barbosa

Professora Marialva Barbosa, da Universidade Federal Fluminense, fala da sua experiência como professora.

Entrevista professor Afonso de Albuquerque

Professor Afonso de Albuquerque, coordenador de Estudos de Mídia da Federal Fluminense, fala sobre sua atuação como professor