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JORNAL

Estímulo à Leitura

Quinta-feira, 8 de Agosto de 2013

Edição 90

EDITORIAL - Estímulo à Leitura

Estimulo à Leitura é o assunto da 90ª edição do Jornal do Professor. O tema foi escolhido por 66,54% dos leitores que votaram na enquete em nossa página.

Nesta edição, apresentamos experiências desenvolvidas por professores de instituições de ensino de Diamantino (MT), Jaraguá do Sul (SC), Porto Alegre (RS) e Rio Branco (AC).

A seção Entrevista apresenta a professora Marisa Lajolo, do Centro de Comunicação e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo (SP). E na seção Espaço do Professor, a participante é a professora Marli Borges, de Joinvile (SC).

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

 

Escola incentiva o interesse por obras de literatura infantil

Criança manuseia livro

Desde que foi criada, há 17 anos, a Escola Municipal Valneri Antunes, de Porto Alegre, incentiva o gosto pela leitura entre os alunos, todos da educação infantil. Localizada no Parque Chico Mendes, no bairro Mário Quintana, a escola tem 204 alunos com idades de um ano a 5 anos e 11 meses. Eles ficam na instituição das 7 às 19 horas.

O interesse pelas obras de literatura infantil é estimulado constantemente. Em um espaço de leitura usado pelas 11 turmas, os estudantes têm a oportunidade de escutar histórias, podem manusear livros e são orientados a tratar as obras com cuidado. "Achamos que a literatura seria uma ajuda à comunidade, que enfrenta muitos problemas com drogadição e violência", explica a pedagoga Lia Fernanda Fadini, diretora da escola há seis anos. Especializada em educação infantil, ela está há 19 anos no magistério.

A preocupação da escola em incentivar a leitura levou à participação no Concurso Escola de Leitores – Programa Prazer em Ler. O projeto Pipoletras (carrinho de pipoca com livros), criado pela professora Sigrid Fraga Moreira, ficou entre os vencedores da segunda edição (2011-2012). "A premiação provocou uma verdadeira revolução literária", diz Nara de Freitas, vice-diretora da instituição. As mudanças ocorreram não só no espaço de leitura, revitalizado, com paredes coloridas, pufes, mesinhas e cadeiras coloridas adequadas à faixa etária, mas em todas as salas de aula, que dispõem agora de um cantinho de leitura.

Nara considera como principal mudança a postura de educadores e funcionários. Eles aprenderam, em cursos de formação, que os livros não têm de ficar fechados e começaram a incentivar e a valorizar a literatura entre os próprios colegas. Segundo a professora, o grupo tinha grande dificuldade em abrir o armário e liberar o acervo à comunidade. Houve compra de novos livros, tanto de literatura infantil quanto para adultos e até os funcionários começaram a ler mais, nos períodos de intervalo ou retirando obras para ler em casa. "Hoje, os armários foram substituídos por prateleiras ao alcance das crianças", ressalta a pedagoga, com especialização em educação infantil e 21 anos de magistério.

Orgulho — Os alunos com mais de cinco anos podem levar livros para casa todas as semanas. “Eles fazem isso com muito orgulho, levam para casa um tesouro que dividirão com a família", diz Nara.

A cada período de 15 dias, o carrinho de pipocas com livros percorre locais da comunidade a fim de aproximar os livros das pessoas. O Pipoletras visita instituições como creches comunitárias e entidades que apoiam menores de 6 a 14 anos em situação de vulnerabilidade econômica e social por meio do Serviço de Apoio Socioeducativo (Sase), da prefeitura. De acordo com Lia, é possível perceber o interesse e o cuidado com os livros demonstrados pelos adolescentes atendidos.

As visitas do carrinho, que obedecem a um cronograma, são acompanhadas, geralmente, pela professora Sigrid. Durante a visita, cada instituição recebe uma caixa com diversas obras para empréstimos aos interessados. Elas devem ser devolvidas à escola depois de 15 dias. Lia destaca o comprometimento observado no momento do retorno dos livros à biblioteca. "Mães envolvidas com drogadição têm demonstrado interesse e cuidado em devolver os livros", ressalta. O Pipoletras sempre está presente em atividades da escola que têm a participação das famílias, como as festas juninas.

Uma experiência vivida em visita à Colômbia, em 2012 — uma área especial de leitura para mães e bebês na escola, a bebeteca —, despertou em Nara a disposição de implantar algo semelhante. Assim, no berçário da Escola Valneri Antunes foi organizado um espaço que permite aos bebês interagir com livros específicos para a faixa etária — de pano e de plástico, com sons e imagens, que despertam a curiosidade. (Fátima Schenini)

Acesse o blog da EM Valneri Antunes

Publicação de jornal escolar serve de estímulo a estudantes

Três alunos sentados durante apresentação na sala de aula

Interessada em mudar o cenário da falta de interesse dos estudantes pelos textos literários trabalhados nos livros didáticos, a professora Márcia Timidati Raimundo, de Diamantino, Mato Grosso, desenvolve, desde 2004, o projeto Jornal da Turma. A proposta da professora da Escola Estadual Irmã Lucinda Facchini não é o abandono dos textos, mas a construção de uma ponte entre aluno e professor capaz de fornecer instrumentos para que os jovens percebam a leitura como uma necessidade e um prazer.

"Ler é uma atividade que exige habilidade de fazer perguntas a um texto, buscar respostas e saber onde encontrá-las. Nesse contexto, ler seria dialogar com o texto, no sentido mais amplo possível", diz Márcia, que leciona língua portuguesa para alunos do nono ano do ensino fundamental (oitava série). Em sua visão, a produção de um jornal pode levar os alunos a desenvolver não só o intelecto, mas a competência e as habilidades necessárias em situações que envolvam a linguagem verbal. Ela acredita, ainda, que essa atividade pode contribuir para capacitar os estudantes a produzir e interpretar diferentes textos.

O projeto de montagem, criação e edição do jornal é desenvolvido de agosto a outubro. Depois de pronto, ele fica exposto em painéis para ser visto e lido por todos na escola e pelos familiares dos alunos. A publicação tem várias seções, como notícias culturais e esportivas, curiosidades, moda, culinária e editorial. "Esperado e aguardado por todos, o jornal já é tradição na escola", destaca Márcia. Para ela, essa é uma forma diferente de se produzir leitura, que usa a criatividade e desenvolve o senso critico e a cidadania. Um dos resultados alcançados é a mudança de comportamento dos alunos nas aulas de língua portuguesa. "Principalmente quanto ao interesse e participação", esclarece.

Com graduação em pedagogia e em letras anglo-portuguesas e especialização em psicopedagogia e no método Montessori-Lubienska, Márcia desenvolve outras atividades relacionadas à leitura, como elaboração de diálogos e participação em grupos de produção de texto, nos quais os alunos cantam, fazem mímica e dramatizações. Os estudantes também leem os blogues da escola e da professora e publicam atividades no facebook.

Autoestima — A fim de estimular o hábito de ler entre os alunos, ela procura sempre incentivá-los e mostrar que são capazes, pois acredita que o ponto-chave é a autoestima. "Todos nós precisamos de elogios, palavras de ânimo e muito incentivo", afirma. "Atividades prazerosas despertam interesse nos alunos e desenvolvem o senso crítico e a criatividade."

Segundo Márcia, que está no magistério há 24 anos, o trabalho nunca acaba e vai sempre se repetindo. "Corrigem-se as falhas, cria-se um novo formato, mexe-se aqui e ali, e vamos sempre em busca do aprendizado, o nosso e o de nossos alunos." (Fátima Schenini)

Saiba mais nos blogues da Escola Irmã Lucinda Facchini e da professora Márcia Raimundo

Projeto de leitura envolve mais de mil alunos em escola do Acre

Alunos durante apresentação do projeto

A Escola Estadual Raimundo Gomes de Oliveira, em Rio Branco, Acre, desenvolve, desde 2009, o projeto Leitura de Mundo, com a participação de aproximadamente mil alunos em turmas do quinto ao nono ano do ensino fundamental e da educação de jovens e adultos. Uma biblioteca e um laboratório de informática auxiliam os estudantes nas pesquisas e leituras.

A cada edição, um novo tema é abordado — a escolha é feita por toda a comunidade escolar no início do ano letivo. Como o projeto é interdisciplinar, cada professor desenvolve, dentro de sua área de conhecimento, um miniprojeto, orientado pelo principal. As atividades são realizadas no decorrer do primeiro semestre letivo. O primeiro tema tratado foi Uma Chuva de Ideias. Em 2010, Uma Visão Afro; em 2011, Viajando pelo Acre; em 2012, Meu Brasil Brasileiro; este ano, Tour pela América do Sul.

"Temos como objetivo compreender a ‘leitura de mundo’, não como ferramenta de decodificação de palavras, mas como processo de interpretação do ambiente social que permeia a raça humana, aprendendo novos conceitos através da pesquisa, análise e socialização das informações", explica o diretor da escola, Osleno Freitas da Silva. Segundo ele, conhecer os diversos países que formam a América da Sul por meio de pesquisa, na perspectiva de todas as disciplinas que compõem o currículo escolar, e valorizar a cultura latino-americana são alguns dos objetivos específicos do projeto deste ano. Levar a família à escola para compartilhar os resultados das pesquisas e divulgar entra as unidades de ensino próximas os trabalhos confeccionados ao longo do projeto são outros objetivos.

"Os pais dos alunos são parceiros e apoiam os filhos na execução das atividades", destaca o diretor. "Contamos também com a participação efetiva de todos os funcionários de apoio, como zelador, porteiro e merendeira."

Para a finalização do projeto, durante feira interdisciplinar, a escola conta com o apoio de uma igreja, que fornece os equipamentos de som. “Grandes mudanças no aprendizado têm influenciado a autoestima e o comportamento dos alunos, principalmente os de educação de jovens e adultos e aqueles com necessidades educacionais especiais”, salienta Osleno, que tem graduação em educação física e pós- graduação em psicopedagogia. "Esses estudantes fazem questão de participar efetivamente de todas as atividades e da apresentação nos estandes."

Unidade — Na visão da professora de língua portuguesa Christia Monteiro da Rocha, que está há 19 anos no magistério, é incrível a unidade do corpo escolar nos preparativos e na finalização do projeto. Formada em letras, com especialização em psicopedagogia, Christia leciona a uma turma do sétimo ano e a quatro do nono. "Toda a escola trabalha em equipe, sempre auxiliando, dentro das possibilidades, uns aos outros para que os objetivos sejam alcançados com êxito", afirma.

A professora Carla Eliane, que leciona língua portuguesa a turmas do sexto ano, revela que suas principais atividades estão voltadas para a leitura, compreensão, interpretação e produção de textos, bem como para a pesquisa. "A construção do conhecimento acontece, gradativamente, com a orientação do professor, dentro e fora da sala de aula", diz a professora, formada em letras e há 15 anos no magistério.

As atividades incluem visitas pedagógicas a museus, parques ecológicos e pontos turísticos na própria cidade e em municípios vizinhos, como Bujari, Sena Madureira e Plácido de Castro. Encontros com escritores e personalidades que de alguma forma contribuem para o processo também fazem parte dos trabalhos.

A finalização do projeto é aguardada com expectativa pela comunidade escolar. O evento envolve exposição de material produzido, apresentações de danças típicas, peças teatrais e declamação de poemas, entre outras atividades. "Com a realização do projeto Leitura de Mundo, conseguimos interação total, com muito respeito e unidade entre os estudantes e, principalmente, a participação efetiva dos nossos alunos com necessidades educacionais especiais", destaca Carla Eliane. (Fátima Schenini)

Acesse o blogue da EE Raimundo Gomes de Oliveira

Professores comemoram interesse de alunos pelos livros em SC

Professores socializam experiências do projeto de leitura

Para satisfação dos professores, alunos que gostam de ler, apresentam bom nível de interpretação de textos e frequentam bibliotecas são realidade na Escola Municipal de Ensino Fundamental Atayde Machado, de Jaraguá do Sul, no nordeste de Santa Catarina. Os bons resultados obtidos pelos estudantes podem ser atribuídos às orientações do Projeto de Incentivo à Leitura, da Secretaria de Educação do município, adotadas na escola e em outras 30 unidades da rede municipal de ensino desde 2007.

"O aluno passa a compreender melhor o mundo, a adquirir conhecimentos e a ser um cidadão crítico e consciente", afirma a articuladora do projeto, Andreia Silveira Camillo. Além de aumentar o interesse dos alunos pelos livros, o projeto modificou o comportamento de alunos, pais, professores e funcionários. “Tornaram-se leitores mais assíduos”, comemora a professora.

Para a diretora da escola, Karin Hansen Voigt, o projeto abriu mais portas para a leitura e para o exercício da criatividade. “Consequentemente, foi despertado o gosto pela leitura, com formação de novos leitores e revelação de talentos adormecidos", analisa. Há 21 anos no magistério, cinco dos quais na direção da escola, que atende 230 alunos, Karin tem graduação em letras e especialização em psicopedagogia.

A cada ano, são tomadas decisões sobre a nova edição do projeto, como temas e escolha dos autores. “Quando os professores podem opinar e decidir o que querem, o projeto acontece de forma muito mais efetiva e alcança melhores resultados", diz Dionara Radünz Bard, auxiliar de biblioteca. Graduada em letras, com pós-graduação em línguas modernas – português e inglês, ela trabalhou como professora durante 20 anos.

Acervo — Segundo Dionara, a biblioteca escolar tem um acervo muito rico, com mais de quatro mil títulos de literatura. Também há estantes com livros, revistas, gibis e jornais em áreas como o pátio coberto, refeitório e sala dos professores. Mais obras estão disponíveis nos cantinhos de leitura, nas salas de aula.

Todos os professores participam do projeto de leitura. "Cada um aproveita o que acha interessante e adequado para a sua disciplina", salienta Dionara. No desenvolvimento dos trabalhos são incluídas atividades variadas e diferentes formas de contar histórias, como fantoches, teatro de sombras e dramatizações, além de diversas técnicas de leitura.

"Levo jornais para a sala de aula, para leitura de textos. Levo também revistas para que os alunos possam ver como são escritas as cartas dos leitores e para apreciação de artigos de divulgação científica", revela o professor José Ediberto Torizani, de língua portuguesa. Além disso, ele lê para os alunos histórias em capítulos. "Já li, por exemplo, Descanse em Paz, Meu Amor e A Droga da Obediência, de Pedro Bandeira, e estou lendo A Menina que Fez a América, de Ilka Brunhilde Laurito".

Torizani, que dá aulas a turmas das séries finais do ensino fundamental, já observou maior concentração de alunos durante as atividades na biblioteca e um posicionamento crítico em relação ao que eles leem. "Os estudantes conseguem, por exemplo, avaliar a qualidade de uma obra literária", afirma. O professor também notou resultados relacionados à produção textual, como uso de figuras de linguagem e de estruturas gramaticais, além de criatividade. Graduado em letras, Torizani tem mestrado em ciências da linguagem e especialização em leitura e produção de textos.

Uma atividade que envolve toda a comunidade escolar é o tempo de leitura, período de 15 minutos no qual cada um pode ler o que quiser, no espaço que quiser. Isso ocorre logo após o encontro semanal, no pátio, para cantar o Hino Nacional, da Bandeira, do estado ou do município. No fim desse tempo, todos voltam para seus locais habituais de trabalho.

De acordo com a professora Andreia, além dos temas definidos pela comunidade escolar, a Secretaria da Educação sugere outros, a ser trabalhados nos projetos das escolas, como culturas africana e indígena e inclusão de pessoas com deficiência.

Cada escola desenvolve as ações desenvolvidas dentro do projeto, no decorrer do ano, com participação de toda a comunidade. No quarto bimestre do ano letivo, os articuladores de leitura apresentam as ações desenvolvidas em cada escola às demais unidades da rede municipal. "É nesse momento que ocorre a troca de ideias e a melhoria do projeto de incentivo à leitura para o ano seguinte", diz Andreia. (Fátima Schenini)

Projeto de educação financeira estimula consumo consciente de alunos

Professora Marli Borges

A professora Marli Borges, de Joinville, Santa Catarina, desenvolveu trabalho de educação financeira com alunos da Escola de Ensino Básico Professor João Martins Veras. Realizado de abril a novembro de 2012, o Projeto de Educação Financeira: Preserve o seu Bolso; o Meio Ambiente Agradece atingiu estudantes do quarto e do quinto anos do ensino fundamental.

Pedagoga, com pós-graduação em séries iniciais do ensino fundamental e mestrado em gestão de instituições públicas, Marli está no magistério há mais de 30 anos. Regente de classe, ela leciona todas as disciplinas.

No projeto, a professora envolveu conteúdos de ciências, artes e matemática. A motivação inicial foi a obtenção de recursos para uma excursão. “Todos os alunos conseguiram poupar a quantia necessária para realizarmos a tão sonhada e planejada viagem, uma visita ao Parque Unipraias e ao zoológico de Balneário Camboriú”, revela Marli.

O projeto, apresentado na 28ª Feira Catarinense de Matemática, no município de Ibirama, foi transformado no curso educação financeira para crianças. (Fátima Schenini)

Resumo do projeto:

«A matemática está contextualizada no cotidiano dos alunos e de seus familiares. Assim, a proposta desse trabalho surgiu a partir da ideia das turmas do quarto e do quinto anos de arrecadar fundos para uma viagem no Dia da Criança. Seria necessário iniciar uma poupança para o respectivo custeio. O trabalho teve como objetivos gerais despertar nos alunos o interesse pela educação financeira, quanto à noção do valor do dinheiro, na prática do consumo consciente, afetando os familiares, e poupar para realizar um sonho planejado: uma viagem ao Parque Unipraias, reduto de Mata Atlântica, e ao Zoo Santur, em Balneário Camboriú, na Semana da Criança. A iniciativa foi comunicada aos pais, em reunião, a fim de que eles incentivassem e participassem dessa tarefa com os filhos. Uma economista foi convidada a fazer palestra sobre finanças pessoais e orientar alunos, professores e pais sobre conceitos como educação financeira, poupar ou economizar, planilha orçamentária doméstica e compras em supermercados.

Após pesquisa familiar, criou-se uma família virtual e sua respectiva planilha orçamentária de despesas domésticas. Ou seja, os alunos trabalharam com o orçamento familiar de R$ 1,4 mil, em junho de 2012. Eles fizeram cofrinhos, reutilizando latinhas, para guardar os valores poupados. Visitaram e fizeram pesquisas de preços em dois supermercados nos arredores da escola. Também confeccionaram panfletos com dicas de economia, distribuídos aos visitantes da Feira do Conhecimento, realizada na escola em agosto do mesmo ano.

Os conteúdos matemáticos — operações básicas (adição, subtração, multiplicação e divisão), fração e porcentagem — foram inseridos em situações-problema da família virtual, bem como o sistema monetário, nos gastos, e a estatística na representação gráfica, na comparação dos preços coletados nos supermercados. Em ciências, os conteúdos trabalhados foram o meio ambiente, com atividades humanas, reutilização de materiais e consumo consciente. Em arte, foram confeccionados, artesanalmente, bonecos e cofrinhos.

A viagem, em outubro, proporcionou aos alunos novos conhecimentos in loco. A avaliação foi feita durante o processo, de forma individual e grupal. Observou-se que o trabalho prendeu os alunos em todas as etapas. De acordo com a proposta curricular de Santa Catarina, a aprendizagem foi significativa, pois a prática, aliada à teoria, em todo o processo de ensino-aprendizagem, de forma lúdica e prazerosa, possibilitou aos alunos a construção e a apropriação do conhecimento.

Concluiu-se, com o trabalho, que é importante educar financeiramente. Com a prática do consumo consciente vive-se melhor, de maneira sustentável e economicamente correta. Outro aprendizado foi o de dar prioridade ao necessário dentro de um orçamento programado, discutido em família, pois um sonho pode ser realizado, desde que planejado.»

Marisa Lajolo: "Professores precisam gostar de ler"

Professora do Centro de Comunicação e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie e professora-colaboradora voluntária na Universidade de Campinas (Unicamp), Marisa Philbert Lajolo defende a necessidade de os professores serem ótimos leitores. “Quem não gostar de ler, melhor escolher outra profissão”, salienta a professora, que desenvolve pesquisas principalmente nas áreas de história da leitura e literatura infantil e juvenil.

Com bacharelado e licenciatura em letras, mestrado e doutorado em teoria literária e literatura comparada pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutorado pela Brown University, dos Estados Unidos, Marisa tem inúmeras obras publicadas.

Jornal do ProfessorQual é a importância da leitura e o que fazer para estimular esse hábito no país?

Marisa Lajolo — Em relação à leitura, prefiro falar em “desenvolver práticas” em vez de falar em “estimular o hábito”. Hábito tem um componente de automação que não se aplica à leitura.

O Brasil tem um atraso secular em termos de leitura. A política colonial portuguesa foi obscurantista. Só pudemos produzir impressos no século 19, quando D. João VI refugiou-se aqui, corrido de Napoleão. Assim, livros e leitura são como corpos estranhos em nossa tradição cultural. Depois, os vários sistemas educacionais e políticas culturais que aqui se implantaram não conseguiram compensar os três séculos de atraso. Pesquisas relativas a este nosso século 21 sugerem isso.

É necessário um investimento maciço na formação de professores para que a escola possa ser aliada no projeto de tornar o Brasil um país de leitores. Hoje, as escolas recebem livros. Prefeituras, estados e União compram muitos e bons livros. Mas nem sempre os educadores sabem o que fazer com eles. Alguns os guardam a sete chaves, com medo de os alunos os estragarem. Além de a escola precisar deixar os livros acessíveis, os professores precisam ser leitores. Precisam gostar de ler. Precisam saber discutir livros. Precisam ter livros em casa. Precisam, enfim, aprender a ser bons, ótimos leitores.

Qual o papel da família na formação do leitor?

— A família, como parte de uma comunidade maior, pode ser sensibilizada para práticas de leitura. Mas que não se espere muito. Independentemente de classe social e renda, a leitura doméstica parece fazer parte do dia a dia apenas de muito poucas famílias. A Secretaria de Educação de Atibaia, município do interior paulista, desenvolveu experiências que levaram projetos de leitura para além de slogans, publicidade e frases de efeito. A médio e longo prazo, elas parecem dar resultados, se acreditarmos no valor do Ideb [índice de desenvolvimento da educação básica] como avaliador da competência de leitura de crianças e jovens do Brasil.

Uma experiência desenvolvida em Atibaia foi organizar, mensalmente, uma praça de leitura na cidade. A Secretaria de Educação montou um acervo de bons livros de todos os tipos — autoajuda, culinários, religiosos, antologias, infantis, policiais, clássicos da literatura universal, poesia, histórias de aventuras, crônicas etc. Escolhia-se uma praça que, num sábado de manhã, recebia bancas e estantes para exposição dos livros. O critério de escolha da praça era a proximidade com escolas. Estas preparavam pequenas peças, números musicais ou declamações de poesia — sempre atividades que se iniciavam com leitura de livros — a serem apresentados na praça. A população, mediante documento, podia levar livros para casa e devia devolvê-los, em três semanas, em uma das escolas próximas da praça. A perda de livros foi mínima. Várias regiões da cidade reivindicavam praças de leitura. Foi instrutivo e comovente, para educadores e profissionais ligados a questões de cultura, ouvir da população comentários surpresos e favoráveis relativos à variedade de formatos e de tamanhos dos livros, tipos de ilustração, gratuidade do empréstimo, confiança na devolução, expectativas criadas por um ou outro título e pedidos de sugestões de leitura.

Outra experiência foi a distribuição, no Dia do Trabalho, a todos os funcionários da prefeitura, de um livreto, um impresso fininho e que cabia no bolso, com contos sobre trabalho e trabalhadores. Outra experiência foi o sorteio de livros, em algumas escolas, durante reuniões de pais e mestres, antecedendo o sorteio uma conversa sobre leitura e sobre os livros a serem sorteados. A ideia desta conversa inicial era despertar vontade de ler o livro.

As instituições de educação superior preparam os novos professores para estimular a leitura entre os alunos?

— Geralmente, a formação de professores na universidade fica por conta de faculdades de educação e de pedagogia cujo currículo não costuma contemplar, salvo, é claro, as eventuais honrosas exceções, disciplinas voltadas para a formação de profissionais habilitados ao trato de línguas e linguagens, domínios essenciais para lidar com questões de leitura e de escrita. No caso dos cursos de letras que conheço melhor — o do Mackenzie e o da Unicamp —, há disciplinas voltadas para a preparação do professor como mediador de leitura, além de algumas iniciativas, das quais alunos de graduação participam, voltadas para leitura e escrita no ensino fundamental e médio. Literatura infantil também é disciplina de Letras. Uma questão interessante e alvissareira é o elevado número de alunos que procuram a pós-graduação em áreas que contemplam licenciatura, como a de letras, com o objetivo de desenvolver projetos voltados para questões de ensino.

A realização de eventos, como feiras de livros, contribui para disseminar o hábito da leitura? Por quê? Que outras atividades poderiam ser desenvolvidas?

— Eventos pontuais não me entusiasmam muito. No entanto, é bom que livros e escritores estejam na mídia. Não creio, entretanto, que a exposição midiática tenha consequências positivas diretas na formação de leitores.

A internet mudou o perfil do leitor? Ela pode ser uma aliada do professor no estímulo à leitura? De que forma?

— O mundo digital favorece a leitura. A interação, quer nas redes sociais, quer em sites e em games, se faz muitas vezes através de comandos escritos, ainda que nem sempre a escrita seja a verbal. A cultura digital pode e deve ter entrada na sala de aula. Mas, insisto: como acredito que ocorra com a leitura livresca, muitos educadores não estão suficientemente familiarizados com telas e teclados para se sentirem à vontade usando-os como instrumento de trabalho. Penso que programas experimentais, na modalidade de ensino a distância, de capacitação de professores como mediadores competentes de leitura seriam muito interessantes. Tais programas, voltados para disciplinas relacionadas a leitura e escrita, deveriam valer-se de internet, e-books, pesquisas em bancos de dados eletrônicos, enfim, das ferramentas que o mundo digital oferece.

Programas assim concebidos, desenvolvidos e rigorosamente avaliados, acompanhados de facilidade de acesso a computadores, permitiriam testes empíricos de diferentes plataformas e ajudariam no desenvolvimento do know-how necessário se quisermos mesmo superar aqueles 300 anos de atraso com que chegamos ao mundo do livro e da leitura.