Logo Portal do Professor

JORNAL

Dança na Escola

Quinta-feira, 17 de Outubro de 2013

Edição 93

EDITORIAL - Dança na Escola

Em sua 93ª edição, o Jornal do Professor trata do tema Dança na Escola, escolhido por 72,5% dos leitores que votaram na enquete em nossa página.

Nesta edição, apresentamos experiências de dança desenvolvidas por professores de instituições de Fortaleza (CE), Goiânia (GO), Londrina (PR) e Sangão (SC).

Nossa entrevistada é a professora Lisete Arnizaut Machado de Vargas, da Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Esef-UFRGS). O professor Aloizio Pedersen, das escolas estaduais Tom Jobim e Padre Reus, de Porto Alegre (RS), participa da seção Espaço do Professor.

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

Atividade extra ajuda a resgatar a autoestima dos estudantes

Alunos durante apresentação de dança

Desde que passou a oferecer ensino em período integral, em 2006, a Escola Municipal Professora Silene de Andrade, em Goiânia, passou também a oferecer aulas de dança. Embora a novidade tenha encontrado um pouco de resistência, no início, entre o público masculino, acabou por conquistar a maioria dos estudantes. O projeto é vinculado ao programa Mais Educação, do Ministério da Educação, de ensino em tempo integral.

"As alunas logo se adaptaram às aulas, já com o grupo masculino o processo foi um pouco mais lento", diz o professor de educação física, bailarino e coreógrafo Eurim Pablo, que participa do projeto desde o começo. Ele explica que depois da adesão de alguns alunos mais "corajosos", outros foram conquistados. Logo, um grande número de estudantes começou a dançar, o que provocou uma imediata transformação no grupo. "Alunos que não estavam bem nas demais disciplinas e eram considerados problemáticos logo viram a dança como uma forma de comprovar que eram bons em alguma coisa", avalia. "Com a autoestima elevada, o senso de responsabilidade trabalhado, um professor que lhes dava voz, pois o corpo fala, eles se tornaram referência na escola", destaca o professor, que também é aluno de mestrado em performances culturais na Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás.

Para a diretora da instituição, Marlúcia Rodrigues Coutinho, as aulas de dança ajudam a resgatar a autoestima dos jovens, principalmente daqueles à margem da sociedade, em estado de risco. "Em consequência, eles passam a se cuidar, cuidar do outro, socializar emoções e atitudes, discipliná-las e viver tranquilos, embora com suas realidades", analisa.

De acordo com Marlúcia, os estudantes sentem-se verdadeiros dançarinos. Muitos têm feito matrículas em cursos de dança oferecidos por instituições estaduais de artes, em busca da especialização na modalidade. "Alguns até já trabalham na área", revela a diretora, que está há 26 anos no magistério e há oito na direção. Com licenciatura em educação artística e bacharelado em artes visuais, Marlúcia é professora de artes em todos os níveis.

Embora as aulas de dança sejam oferecidas aos 150 alunos que participam da jornada integral, eles não são obrigados a participar da parte prática da aula. Eles só dançam, efetivamente, quando sentem vontade, mas ninguém fica sem fazer nenhuma atividade. Quem não quer dançar pode responder questões, ler textos relacionados à dança ou participar de outras atividades propostas.

Ensaios — Os ensaios das coreografias com os alunos que participam de apresentações são realizados uma vez por semana, em aula específica de dança. "Nesses ensaios, o grupo é observado para definir quem vai representar a escola em determinado evento", explica Eurim Pablo. A seleção é feita por ele e por professores e coordenadores da escola convidados a ajudar. "De modo geral, todos entendem que não se trata de julgamento, pois várias são as questões levadas em conta no momento", esclarece o professor. Isso engloba pontos como o tipo de evento, participação do aluno nas demais atividades propostas pela escola, dedicação às aulas e responsabilidade ao sair da escola.

Os grupos que ocasionalmente ficam fora de uma de uma apresentação, sabem que terão uma próxima oportunidade. Há sempre o cuidado em explicar bem aos estudantes os porquês da não participação naquele determinado momento. Entretanto, quando a apresentação ocorre na própria escola, que dispõe de grande espaço, existe apenas uma regra: "Querer dançar".

Assim, não há um grupo de dança permanente. Os componentes variam de acordo com o local e o espaço onde ocorrerá a apresentação — na própria escola ou em eventos promovidos pela Secretaria de Educação do município, como mostras pedagógicas ou culturais. Também ocorrem convites de outras escolas ou de entidades particulares.

Religião — Há casos de pais que não permitem a participação dos filhos por entenderem que é algo não aceito pela religião que professam. "Esses pais são convidados a assistir a uma aula para perceber, na prática, que a ideia que fazem da dança é equivocada", salienta Eurim Pablo.

Apesar de a estratégia obter sucesso em muitos casos, há pais que não aceitam o convite e não autorizam os filhos a dançar. Esses alunos participam apenas da parte teórica da aula. De modo geral, no entanto, segundo o professor, a maioria dos pais procura a escola para saber mais sobre as aulas de dança, pois percebem que a atividade atrai o interesse dos filhos. (Fátima Schenini)

Prática pedagógica contribui na formação crítica do estudante

Alunos durante apresentação de dança

Vencedora da etapa microrregional do Festival Escolar Dança Catarina, edição de 2013, nas categorias mirim e infantojuvenil, a Escola Estadual Maria Duarte Vasconcelos, no município catarinense de Sangão, prepara-se agora para a competição regional, em novembro. Na primeira participação, no ano passado, conquistou o segundo lugar na categoria mirim e o quarto na infantojuvenil.

"Ficamos emocionados e orgulhosos de nossos alunos. Priorizamos a participação, mas o resultado nos motivou a continuar, com mais empenho", diz a diretora da unidade, Elisângela Reynaldo Rodrigues. Segundo ela, o uso da dança como prática pedagógica favorece a criatividade e o processo de construção do conhecimento e da valorização da heterogeneidade do grupo. "É um importante instrumento de socialização para a formação de cidadãos críticos, participativos e responsáveis", avalia. Além disso, de acordo com Elisângela, a dança possibilita novas formas de expressão e comunicação e leva os alunos à descoberta da linguagem corporal, o que contribui para o processo de ensino-aprendizagem.

Professora de inglês e de língua portuguesa nas séries finais do ensino fundamental e no ensino médio, há 15 anos no magistério, Elisângela assumiu a direção há três anos. Ao tomar conhecimento da oferta, pelo governo do estado, de atividades curriculares complementares, ela decidiu criar um projeto de aulas de dança e de música. Foram formadas três turmas de dança e duas de violão. Os participantes passaram a se apresentar em todas as reuniões e eventos realizados pela escola. "Foi uma experiência incrível", destaca a diretora. Com graduação em letras e mestrado em ciências da linguagem, Elisângela cursa especialização em coordenação pedagógica (escola de gestores).

Com a extinção das atividades curriculares complementares em 2012, o projeto foi encerrado. A escola pretendia participar do Festival de Dança Municipal, mas nenhum professor da unidade se sentiu capacitado a ensaiar os grupos. A diretora recorreu então aos professores de dança Alex Santana e Morgana Ristow, ambos com experiências anteriores na rede pública de ensino, e Rafaela Bussolo, ex-aluna de Morgana. Eles tiveram tempo de realizar apenas dois ensaios com os estudantes, antes da apresentação, mas foi o suficiente, segundo a diretora. "Muitas mães choraram de alegria; afinal, era muito orgulho e emoção. Muitos alunos de nossa escola são de áreas de vulnerabilidade", lembra Elisângela.

Ensaios — O sucesso levou a escola a querer participar também do Festival Escolar, promovido pela Fundação Catarinense de Esportes de setembro a novembro de cada ano. "A partir daí, todos os sábados, no período matutino, abro as portas da escola para os alunos ensaiarem", afirma. A unidade tem aproximadamente 800 estudantes, matriculados no ensino fundamental e médio. Todos podem participar. Basta querer dançar. Em 2012, foram oferecidas as modalidades balé, danças urbanas e estilo livre. Este ano, jazz e estilo livre.

O trabalho está sob a responsabilidade de Morgana e Rafaela, com o apoio de Elisângela. "Fazemos o trabalho gratuitamente porque gostamos de dança e de participar de festivais, apresentações", diz a diretora. "Temos uma parceria com a prefeitura de Sangão, que oferece o transporte aos estudantes."

Para Elisângela, a dança possibilita o autoconhecimento, o que resulta em autoestima e autoconfiança e no fim da timidez. "Os alunos melhoraram o comportamento, a forma de expressar e pensar e, consequentemente, o desempenho escolar", garante. (Fátima Schenini)

Acesse o blog da Escola Estadual Maria Duarte Vasconcelos

Em Londrina, espetáculos são acessíveis à comunidade escolar

Alunos durante apresentação de dança

No norte do Paraná, o município de Londrina incentiva o amor pela dança a partir da realização de atividades nas escolas. Dois projetos proporcionam oportunidades de contato de estudantes e demais integrantes da comunidade escolar com espetáculos de dança e possibilitam o surgimento de talentos.

Os projetos Dança nas Escolas e Iniciação à Dança são desenvolvidos pela Fundação Cultura Artística de Londrina (Funcart), em parceria com a Secretaria de Cultura do município. Eles atendem estudantes, coordenadores pedagógicos e professores da educação infantil e do ensino fundamental. “Dança nas Escolas oferece a oportunidade de contato com as linguagens artísticas, especificamente a dança, sob as esferas do fazer, do conhecimento e da apreciação artística, além de identificar novos talentos para o exercício da dança”, explica a professora Patrícia Alzira Proscêncio, coordenadora dos projetos.

Desenvolvido em quatro etapas, com duração total de oito dias, o Dança nas Escolas é um projeto itinerante, realizado em cinco unidades de ensino da rede municipal a cada ano. Na visão da diretora da Escola Municipal Professora Ruth Lemos, Ivanete da Silva Teixeira, o projeto garante aos estudantes benefícios como conhecimento musical e corporal, gosto pela música e dança, bem como a elevação da autoestima. “A dança como prática pedagógica favorece a criatividade e o processo de construção de conhecimento”, destaca Ivanete. Há 19 anos no magistério, ela é graduada em educação física, com pós-graduação em gestão escolar e em supervisão e orientação escolar.

Em uma primeira etapa, o projeto promove uma oficina teórica e prática com professores da escola. Na segunda, desenvolve oficinas com todos os alunos da escola sobre formação, profissão e dia a dia da vida de um bailarino profissional. Também são tratados os temas das apresentações nos espetáculos. “Esse procedimento, além de fortalecer o trabalho da direção na formação de plateias, oferece conteúdos importantes quanto às possibilidades de uso da dança no cotidiano escolar através de atividades práticas”, enfatiza Patrícia.

Na terceira etapa, ocorrem as apresentações de dança em cada escola, de manhã e à tarde. Segundo a coordenadora, as apresentações têm sido uma novidade dentro do espaço escolar, tanto para os adultos quanto para as crianças. “Em todas as escolas visitadas, o momento da apresentação torna-se mágico”, afirma Patrícia. “Fica visível, em cada criança que assiste ao espetáculo, o brilho nos olhos e a magia que a arte da dança consegue realizar.”

Na quarta etapa, são realizadas as oficinas práticas de dança, com aulas de balé clássico em nível iniciante, durante quatro dias. Podem participar estudantes interessados em concorrer a bolsas de estudos para o curso de dança clássica na Escola Municipal de Dança da Funcart. São selecionados dez estudantes, entre 8 e 12 anos de idade. Também é elaborada uma lista de espera, caso os selecionados não façam a matrícula. “Há um total de 40 bolsas de estudos a serem distribuídas, somadas as escolas pelas quais o projeto passará”, diz a coordenadora.

Iniciação — Enquanto o Dança nas Escolas tem como foco principal a apreciação, o Iniciação à Dança envolve diretamente os alunos no “fazer artístico”. Realizado ao longo do ano, em quatro escolas do município, o projeto proporciona aulas de dança no período do contraturno, ministradas por monitoras da Funcart. Ele teve origem em 2001, quando professores da Escola Municipal de Dança começaram a dar aulas de balé clássico, dança contemporânea e jazz na periferia de Londrina como instrumento de reinserção social para crianças em condição de risco.

A partir de 2011, o projeto passou por transformações e estabeleceu, entre os objetivos, explorar a realidade, o contexto e o repertório de movimento das crianças e introduzir ritmos de dança e música ainda não conhecidos por elas. Nessa segunda fase, foi realizado em oito escolas, com a participação de cerca de 800 estudantes.

Professora de dança na Funcart desde 2001, Patrícia desenvolve as disciplinas de corpo e movimento, dança, artes visuais e musicalização. Com formação em dança clássica e contemporânea, ela atuou como bailarina do Balé de Londrina de 1993 a 2006. Graduada em geografia, com mestrado em educação, faz graduação em pedagogia. Além da Escola Municipal de Dança, a Funcart mantém a Escola de Teatro, o Balé de Londrina e o Circo Teatro Funcart, espaço cênico para realização de espetáculos. (Fátima Schenini)

Programa destaca formação de estudantes por meio da arte

Professora Elane Fonseca e alunos durante apresentação

Em Fortaleza, um programa se propõe a despertar os alunos para o universo da arte por meio da dança. É o Dançando na Escola, para estudantes de 7 a 11 anos de idade, em 20 escolas da rede pública do município. Desde que entrou em funcionamento, em 2009, o projeto atendeu cerca de 2,2 mil alunos.

Criado em parceria pelas secretarias municipais de Cultura e de Educação, o Dançando na Escola é coordenado pela Escola Pública de Dança da Vila das Artes, local de formação, difusão, pesquisa e produção de diversas linguagens artísticas. As aulas, com duração de uma hora, são ministradas no contraturno, duas vezes por semana.

“O programa foi proposto a partir da convicção de que a arte tem papel fundamental na formação do ser humano, de que a dança é um meio privilegiado de acesso a uma dimensão frequentemente excluída da educação formal, a vivência do próprio corpo, e de que o acesso à formação em dança não deve ser privilégio de uma elite”, revela Cláudia Pires, diretora da Vila das Artes. Segundo Cláudia, além de promover o acesso democrático à iniciação em dança, a iniciativa permite a identificação de alunos talentosos, que são encaminhados para uma formação básica em dança, também na Vila das Artes.

A escolha das escolas-sede do projeto foi feita a partir do interesse manifestado pelos diretores das unidades de ensino e em razão do espaço disponível para as atividades. “O passo seguinte foi equipar as salas e formar um corpo docente, constituído por 20 profissionais da cidade, especializados em distintos estilos e com experiência no ensino de dança”, diz Cláudia, que é graduada em pedagogia e especialista em arte-educação.

Ao longo do processo, são realizados vários minicursos — Seminários de Alinhamento Pedagógico. O objetivo é o de promover uma plataforma pedagógica comum, independentemente do estilo de dança trabalhado. “São ocasiões em que profissionais com vasta trajetória ligada à docência em dança compartilham experiências e conhecimentos em torno do ensino dessa linguagem”, diz Cláudia.

A cada nova edição, o programa passa por ajustes a fim de obter eficácia maior em sua ação. Este ano, a Vila das Artes faz gestões para ampliar o número de escolas atendidas. Além do programa Dançando na Escola, ela oferece diversas atividades, como cursos de formação básica em dança, ateliê de composição coreográfica, programa de aulas abertas em dança, laboratório de arte contemporânea em artes visuais e programa de formação em teatro. (Fátima Schenini)

 

 

 

Professor utiliza a arte para reinserção social de menores

Aloizio Pedersen

Artista plástico, diretor de teatro e professor em duas escolas da rede estadual de ensino, Aloizio Pedersen desenvolve, desde março deste ano, projeto para ressocialização de adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas em Porto Alegre.

É o projeto Artinclusão – A linguagem simbólica do desenho e da pintura como ferramenta de reinserção social –, que o professor desenvolve durante o período em que atua na Escola Estadual de Ensino Fundamental Tom Jobim. Nesse trabalho, Pedersen promove oficinas para menores internos da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Fase), na capital gaúcha.

As obras podem ser vistas na mostra Um novo olhar sobre a reinserção social, no Espaço Cultural do Centro Administrativo do estado. As 25 telas em acrílico sobre tela e sobre cartão ficam em exposição até 17 de outubro, no horário comercial.

“Expressando-se simbolicamente, o indivíduo alivia-se de traumas e predispõe-se à aquisição de novas formas de comportamento", destaca Pedersen, arte-educador experiente no trabalho com adolescentes. Desde 2007, ele desenvolve um projeto para combater a violência, a agressividade e o bullying entre os estudantes da Escola Estadual de Ensino Médio Padre Reus.

O projeto Escola sem Violência, que alia artes plásticas, dança e teatro, é desenvolvido em 14 turmas, atualmente. O professor também mantém turmas de pintura em seu atelier e ministra oficinas de formação para professores em todo o estado. (Fátima Schenini)

Lisete Arnizaut Machado de Vargas (UFRGS): "Dança traz benefícios a todos que a praticam"

Profa. Lisete Arnizaut Machado de Vargas

Professora no curso de licenciatura em dança da Escola de Educação Física (Esef) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Lisete Arnizaut Machado de Vargas atua nas áreas de graduação, pós-graduação e extensão. Graduada em educação física, tem doutorado em filosofia e ciências da educação pela Universitat de Barcelona, com tese defendida Dança, Educação e Sociedade no Rio Grande do Sul.

Pesquisadora em dança, líder do grupo de pesquisa Arte, Corpo e Educação (Grace), é autora de vários artigos, livros e trabalhos nas áreas de dança — dança-educação, dança-terapia e figurinos de dança. Atuou como bailarina do Ballet Phoenix, de Porto Alegre, e dirige o Balé da UFRGS.

Em entrevista ao Jornal do Professor, Lisete diz que a dança traz benefícios a todos os que a praticam, como auxílio ao desenvolvimento das funções mentais, do senso estético, da expressão artística e no aprimoramento das funções motoras, como equilíbrio e flexibilidade. Para ela, a prática da dança na escola pode contribuir para a educação de crianças e adolescentes. "O objetivo da dança na escola engloba a sensibilização e a conscientização dos estudantes, tanto para a postura, atitudes, gestos e ações cotidianas quanto para a necessidade de expressar, comunicar, criar, compartilhar e interatuar na sociedade em que vivemos", avalia. "Ao praticar diferentes formas de dança, os alunos não só reproduzem expressões, mas encontram nelas todo o elemento social que os converte em seres totais."

Jornal do Professor — Quais os benefícios da dança a seus praticantes?

Lisete Vargas — A prática da dança auxilia o desenvolvimento das funções mentais, como atenção, memória, raciocínio, curiosidade, observação, criatividade, exploração, entendimento qualitativo de situações e poder de crítica. Ela aprimora as funções motoras — coordenação, equilíbrio, flexibilidade, resistência, agilidade e elasticidade. Através da educação do movimento, a dança desenvolve o domínio da orientação espacial, o domínio do sentido muscular para a resolução de problemas físicos com economia de esforços e permite a obtenção de melhores resultados. Promove ainda a melhora das funções respiratória e circulatória e a boa formação corporal e da postura. Por seu caráter artístico, desenvolve o senso estético, a expressão cênica, a educação do sentido rítmico e musical, a sensibilidade e a expressão artística.

Quais os benefícios da dança, na escola, para os estudantes?

— Além dos benefícios gerais a todos praticantes, a dança na escola pode contribuir para a educação de crianças e adolescentes de diversas formas. O relacionamento social é favorecido pela prática da dança, por estabelecer laços de solidariedade e companheirismo e desenvolver a democracia, o respeito e a união entre o grupo. As relações também se estreitam, pelo fato de se encontrar os colegas em aula, olhar os outros enquanto dançam, ouvir música, conversar sobre o conteúdo aprendido, sobre as atividades escolares e demais interesses. Uma coreografia em conjunto pode oferecer aos praticantes a experiência de sentir como as pessoas podem se adaptar e se auxiliar mutuamente. O trabalho coletivo permite vivências de organização, comunicação, partilha e cooperação que contribuem para a construção do ser humano e sua inserção na comunidade. Pode também apresentar uma série de riscos, incertezas, desafios e diferenças, que contribuem fortemente com a formação do caráter dos participantes.

A prática da dança desenvolve o senso de responsabilidade, que se traduz no desejo de executar da melhor forma possível os movimentos e coreografias, nos quais o auxílio mútuo se faz indispensável para o êxito do trabalho do grupo. O movimento e a aceitação do próprio corpo estimula a sensualidade, traz novas vivências e novas sensações que regulam as tensões e enriquecem as próprias experiências. Além disso, brincar, tocar, dar as mãos, pegar pelos ombros, dançar ao mesmo ritmo com um companheiro ou com uma companheira pode contribuir também de maneira saudável para a educação sexual. Ao praticar diferentes formas de dança, os estudantes não só reproduzem expressões, mas encontram nelas todo o elemento social que os converte em seres totais.

A dança pode representar ainda um fator de comunhão e preservação cultural quando transmite ideias e costumes de uma geração a outra, sobretudo em sua forma folclórica, baseada em tradições, lendas, cerimônias religiosas e fatos, prolongando no tempo o espírito de uma comunidade. A aproximação das gerações se faz muitas vezes por meio das linguagens corporais e da dança tradicional quando, em algumas ocasiões, os meios verbais já não são suficientes. Fomentar a dança na escola não significa buscar a perfeição ou a execução de danças espetaculares e brilhantismos isolados, levando em conta somente a estética, a beleza plástica e a descoberta de talentos, mas permitir que o efeito benéfico da dança ajude no desenvolvimento dos estudantes pela recreação e pela criação. O objetivo da dança na escola engloba a sensibilização e a conscientização dos alunos, tanto para a postura, atitudes, gestos e ações cotidianas quanto para as necessidades de expressar, comunicar, criar, compartilhar e interatuar na sociedade em que vivemos.

A partir de que idade os estudantes podem participar de aulas de dança?

— Em nosso curso de licenciatura em dança, na UFRGS, nossos alunos realizam práticas docentes na educação infantil desde o berçário. Claro que com atividades adequadas a essa faixa etária. Trabalhamos em todas as fases do desenvolvimento humano. Sempre há uma metodologia e uma proposta de aula que atenda qualquer idade.

Há danças mais indicadas do que outras para serem oferecidas nas escolas?

É necessário que as primeiras experiências em dança vivenciadas pelas crianças sejam suficientemente neutras no aspecto estilístico e estético, até que essas crianças tomem consciência de seu corpo e de suas possibilidades. Não é conveniente a prática de danças muito estilizadas ou codificadas, que ofereçam precisamente um modelo a ser seguido, resultando em uma aprendizagem pacífica frente a imposições e prescrições pré-estabelecidas. Os movimentos de uma aula de dança na escola devem ser trabalhados e moldados de acordo com as experiências vividas, com as referências que as crianças trazem, acrescentadas pelo que o professor propõe e com a fruição estética proporcionada, de forma a permitir técnicas particulares, que recriam passos, gestos, gostos e movimentos e propiciam uma maneira particular de dançar.

Como os professores podem incluir, nas aulas de danças, pessoas com diferentes deficiências? Existem metodologias apropriadas para isso?

— Nas experiências com a dança praticada pelos alunos com algum tipo de deficiência, vimos que quase não há uma maneira específica de trabalhar. As metodologias mudam muito de acordo com a deficiência, e esta direciona e adequa o trabalho. O grupo é muito importante, pois as relações estabelecidas podem gerar afetos que desenvolvem ambas as partes. Vimos escolas onde alunos com e sem deficiência vivem uma relação de compreensão e auxílio que traz o crescimento de todos. Cada caso é particular, e o professor é preparado nas licenciaturas para tratar dessas questões. Uma experiência negativa, um trabalho corporal inadequado ou uma exposição não desejada frente ao grupo pode acarretar um trauma para qualquer aluno, deficiente ou não, e consequentemente uma negação a novos encontros com a dança. O professor deve, com toda a sensibilidade, buscar resolver tais situações, respeitadas as individualidades e os limites de cada aluno, para transformar essas vivências em experiências positivas frente a novas circunstâncias que possam se apresentar.

Os estudantes devem participar de eventos de dança na própria escola e em outras ou em teatros? Por quê?

— Certamente, ver e ser visto é parte integrante do processo artístico. Estabelece relações entre os estudantes, suas famílias e a comunidade em geral. Estimula a participação e a colaboração, principalmente nas apresentações em que, muitas vezes, deles depende a confecção de figurinos, cenários e saídas. Participar de atividades de dança em outras escolas é ainda mais rico, pois a troca de experiências e a observação do trabalho dos colegas agrega repertório. O teatro, a assistência a espetáculos de dança, viver o palco com os elementos que enriquecem uma apresentação também contribuem com o entendimento da dança como expressão cênica.

O interesse e a procura dos estudantes pelo curso de licenciatura em dança tem aumentado?

— A partir da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 [Lei de Diretrizes e Bases da Educação], que considera a arte obrigatória na educação básica, a procura foi significativa. Atualmente, o crescimento do número de cursos de licenciatura em dança tem possibilitado a formação, até agora restrita a poucas faculdades. Ainda temos um número pequeno de licenciados para a demanda que vem se estabelecendo, mas é cada vez maior o número de alunos que buscam a formação. (Fátima Schenini)

Confira a página da licenciatura em dança da Escola de Educação Física da UFRGS