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JORNAL

Semana Nacional de Ciência e Tecnologia-2013

Sexta-feira, 8 de Novembro de 2013

Edição 94

EDITORIAL - Semana Nacional de Ciência e Tecnologia-2013

A Semana Nacional de Ciência e Tecnologia-2013 é o tema da 94ª edição do Jornal do Professor. Entre as inúmeras experiências mostradas na exposição realizada em Brasília, no Pavilhão de Eventos do Parque da Cidade, selecionamos as que foram apresentadas pelo Centro de Ensino Médio 01 e Escola Classe 303, ambas de São Sebastião (DF); Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE/MEC); institutos federais de educação, ciência e tecnologia do Sul de Minas Gerais e do Sertão Pernambucano; Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac); Serviço Social do Comércio (Sesc); e Universidade de Brasília (UnB).

O Professor Alfredo Luís Mateus, do Colégio Técnico da Universidade Federal de Minas Gerais (Coltec-UFMG) é o entrevistado desta edição. A professora Neurizete da Silva Melo, da Escola Municipal de Educação Básica Firmino Araújo, na zona rural de Juruti (PA), participa da seção Espaço do Professor.

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Semana Nacional chega à 10ª edição com 30 mil atividades

Vista externa do pavilhão da exposição

Desde que foi criada, em 2004, a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) vem se firmando como importante evento para a difusão e a popularização de conhecimentos entre a população e como ponto de encontro para aqueles que apreciam ver e produzir ciência. Assim, enquanto a primeira edição contou com cerca de 1,8 mil atividades, 257 instituições e 252 municípios, a décima, realizada de 21 a 27 de outubro último, registrou aproximadamente 30 mil atividades de quase mil instituições e cerca de 670 municípios.

Em Brasília, a exposição da SNCT apresentou, no pavilhão de eventos do Parque da Cidade, projetos variados, desenvolvidos por instituições de ensino e pesquisa, escolas públicas e particulares, órgãos governamentais, entidades da sociedade civil e empresas de base tecnológica, entre outras. Além de visitar a exposição, os participantes puderam assistir a palestras e participar de jogos e oficinas.

Na mostra apresentada pela Universidade de Brasília (UnB), um dos assuntos foi o projeto de reaproveitamento de óleo de cozinha usado, desenvolvido por estudantes dos cursos de energia (câmpus do Gama) e de licenciatura em ciências naturais (câmpus de Planaltina). O óleo usado é reaproveitado para fazer sabão líquido e em barra, amaciante de roupas, biodiesel e até velas. De acordo com o estudante Vilder Silva, do segundo ano de licenciatura em ciências naturais, é importante fazer o reaproveitamento do produto. "O uso indevido do óleo já utilizado pode trazer muitos prejuízos", alerta. "Se o óleo for jogado nos rios, pode ocasionar a morte dos peixes; se cair no esgoto, pode resultar em entupimentos, devido à solidificação."

Outro tema apresentado pela UnB foi o papel artesanal, confeccionado a partir da reciclagem de papéis diversos, restos de cigarros e dinheiro velho. O trabalho é feito pelo Laboratório Experimental de Materiais Expressivos (Leme) do Departamento de Artes Visuais do Instituto de Artes. O Leme, que funciona no câmpus Darcy Ribeiro, oferece cursos gratuitos de reciclagem de papel e está aberto à visitação de escolares e de pessoas da comunidade.

O pavilhão de eventos recebeu estandes também de instituições como o Exército Brasileiro, Força Aérea Brasileira, Marinha do Brasil, Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Agência Espacial Brasileira (AEB), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Embaixada da França e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O Ministério da Educação esteve representado nos estandes dos institutos federais da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

Coordenada pela Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia tem como principal objetivo mobilizar a população, principalmente crianças e jovens, sobre temas e atividades de ciência e tecnologia. O tema, este ano, foi Ciência, Saúde e Esporte, tendo em vista a proximidade da realização de importantes eventos esportivos no país, como a Copa do Mundo no próximo e os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, em 2016. A 11ª edição, agendada para o período de 13 a 19 de outubro de 2014, terá como tema Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Social. (Fátima Schenini)

Café e equoterapia são atrações expostas por instituto federal

Professor Leandro Carlos Paiva

O café foi um dos destaques do estande do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas durante a realização da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, em Brasília. No câmpus de Machado, o produto é referência nos cursos de tecnólogo em cafeicultura e de pós-graduação lato sensu em cafeicultura empresarial.

O público que participou da exposição pôde conhecer o laboratório móvel de ensino a distância nas áreas de produção de café, usado para ensinar aos cafeicultores como obter mais qualidade no produto. Esse laboratório integra a rede e-Tec, iniciativa do Ministério da Educação para a oferta de cursos técnicos a distância e para a formação inicial e continuada de trabalhadores egressos do ensino médio ou da educação de jovens e adultos.

"O laboratório móvel permite ao produtor ver diferentes etapas da produção do café, como a torra, a moagem e o preparo da bebida", explica o professor Leandro Carlos Paiva, coordenador do curso de tecnólogo em cafeicultura. O produtor assiste a vídeos e palestras, vê fotos que mostram os principais problemas enfrentados na cafeicultura e recebe orientação sobre as formas de evitá-los ou saná-los.

Os cafeicultores também têm a oportunidade de fazer a degustação do produto para observar os efeitos ocasionados por eventuais problemas ocorridos durante o cultivo. "O propósito é obter mais qualidade e mais retorno no preço, gerando sustentabilidade para os produtores", revela Leandro. Os produtores aprendem ainda a diferenciar as diversas qualidades e defeitos apresentados pelo café de diferentes amostras, por meio de metodologias nacionais e internacionais de classificação. "Trabalhamos desde a adubação, e os cafeicultores realmente são capacitados", diz Leandro, que é agrônomo, com especialização em cafeicultura, mestrado e doutorado em agronomia e licenciatura plena em agricultura.

No decorrer do processo, os produtores tiram dúvidas com o professor ou com estudantes como Vonilson Almeida Alves, dos cursos de engenharia agronômica e de tecnólogo em cafeicultura. Filho de um pequeno cafeicultor da região, Vonilson sentiu aumentar o interesse pelo produto durante as aulas. Sua meta para o futuro inclui mestrado na área e atividades de consultoria, ensino e pesquisa. “Quero seguir os caminhos do professor Leandro", salienta.

No câmpus de Machado, localizado em uma fazenda, os estudantes têm à disposição as diversas etapas do agronegócio relativas ao café, como mudas, maquinário, cooperativa e até uma cafeteria. Além dos cursos regulares, o instituto oferece aulas voltadas para atividades de interesse da comunidade, que não exigem pré-requisitos. Assim, é possível participar de cursos de barista (especialista no preparo do café) e que ensinam a torrar e a preparar o café de diferentes maneiras.

Equoterapia — O trabalho desenvolvido pelo Centro de Equoterapia do câmpus de Machado foi outro destaque da exposição do instituto na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. Inaugurado em agosto deste ano, o centro oferece atendimento gratuito a pessoas com deficiência. Uma equipe básica do centro, formada por um profissional de equitação, uma psicóloga e um fisioterapeuta, conforme as normas da Associação Nacional de Equoterapia (Ande), atende dez pessoas atualmente, às sextas-feiras.

De acordo com a Ande, a equoterapia é um método terapêutico que usa o cavalo em uma abordagem interdisciplinar nas áreas de saúde, educação e equitação para o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiência. As atividades do centro são acompanhadas por um grupo de 24 estudantes dos cursos de técnico em agropecuária e de engenharia agronômica, liderados pela professora Daiane Moreira. Para esse trabalho, eles recebem treinamento especial. "Os alunos aprendem a lidar com pessoas que apresentam dificuldades especiais, e isso tem gerado uma diminuição de preconceitos", destaca Daiane.

De acordo com a professora, a participação dos estudantes faz parte da disciplina do curso técnico em agropecuária – atividades de pesquisa, extensão e cultura (Apec), na qual os alunos escolhem uma atividade. Os alunos do curso superior participam por livre escolha, pois a atividade não está ligada a nenhuma disciplina. Com graduação em zootecnia e mestrado em ciências veterinárias, Daiane faz doutorado em zootecnia, com linha de pesquisa em equinocultura. (Fátima Schenini)

Saiba mais na página do câmpus Machado do Instituto Federal do Sul de Minas

Saiba mais sobre a rede e-TEC

Acesse a página da Ande

Estudantes descobrem jogo de tabuleiro criado por indígenas

Estudantes participam do jogo da onça

Em meio a tantas histórias e curiosidades em exposição durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, em Brasília, eram as mesinhas com o jogo da onça que mais capturavam estudantes de diferentes idades no estande do Serviço Social do Comércio (Sesc). Atraídos pelo tabuleiro, eles sentavam-se para aprender as regras do jogo, conhecido pelos indígenas brasileiros antes mesmo da chegada dos portugueses.

O jogo, disputado em dupla, exige estratégia. Um jogador fica com a onça e o outro com 14 sementes ou pedrinhas que representam os cachorros. O jogador com a onça deve capturar cinco cachorros enquanto o oponente precisa encurralar a onça e impedi-la de se mover pelo tabuleiro. “Para não ser cercado, fui pelas beiradas e ganhei dos cachorros”, explicou David Patrick, 11 anos, aluno do quinto ano da Escola-Classe 407 Norte. Ele não conhecia o jogo e se divertiu.

“Como o jogo era muito popular em Portugal, acreditava-se que os portugueses o haviam introduzido no Brasil, mas é um tesouro nacional e revela o contato dos nossos índios com as civilizações mais desenvolvidas da América pré-colombiana”, explica Zenildo Caetano, 52 anos, professor de educação física do Sesc. Segundo ele, os indígenas traçavam o tabuleiro no chão e usavam sementes como peças.

Zenildo sugere que os jogos, dentro do lúdico, devem ser explorados pelos professores como prática de recreação. “Os indígenas nos deixaram vários exemplos de atividades lúdicas e esportivas, como o pião, o bilboquê e a peteca. Os estudantes não precisam ficar só no jogo de xadrez, que tem origem indiana”, afirma o professor.

Em 2006, o jogo da onça e um documentário sobre a forma em que era disputado pelos indígenas brasileiros foram enviados a 20 mil escolas públicas próximas a aldeias. Em 2010, foi distinguido com o Prêmio Nacional de Inovação da Confederação Nacional das Indústrias (CNI).

Membro de uma sociedade internacional que se dedica ao estudo de jogos, o professor e jornalista Maurício Lima foi o responsável pelo resgate da história do jogo. Antes dele, não havia registro de nenhum jogo de tabuleiro tipicamente brasileiro. “Em 2001, em Barcelona, levantei a hipótese de que esse jogo tinha origem nos indígenas brasileiros”, informa. Após visitar oito aldeias, Maurício descobriu que os mais velhos sabiam desenhar o tabuleiro no chão e jogar.

Olimpíadas — Além do Jogo da Onça, o estande do Sesc mostrou curiosidades de outras modalidades esportivas que estarão em evidência nas Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro. Os estudantes e demais visitantes puderam observar a evolução da tecnologia nas roupas e nos objetos usados pelos atletas, como a bola de futebol, a raquete de tênis e as bicicletas de corrida.

Um minicampo com grama sintética foi aproveitado por estudantes dispostos a praticar esporte. Os visitantes também ouviram explicações sobre os benefícios dos exercícios físicos no corpo humano, como a formação de músculos, e alertas sobre a alimentação correta e ingestão de suplementos alimentares. Na entrada do estande, duas estátuas vivas, com vestimentas gregas, anunciavam a origem dos esportes olímpicos e sua importância na história — as antigas olimpíadas interrompiam as guerras. (Rovênia Amorim)

Exposição apresenta realidade desconhecida de alunos do DF

Professora Fernanda Costa prepara sucos

Sucoterapia foi o projeto apresentado por estudantes de três turmas de segundo ano do ensino fundamental da Escola-Classe 303, de São Sebastião, região administrativa do Distrito Federal, durante a exposição da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, realizada de 21 a 27 de outubro. O projeto engloba disciplinas de ciências, português e matemática, além de conteúdos transversais.

“Os alunos gostaram muito do projeto”, diz a professora Fernanda Costa, com touca na cabeça e avental, enquanto prepara receitas de sucos, às voltas com frutas, ervas, liquidificador e peneira. Segundo ela, embora tenham sido selecionados para participar do estande apenas os estudantes que se saíram melhor durante a apresentação do projeto, na própria escola, os demais tiveram a oportunidade de fazer visita à exposição.

“Uma experiência como essa amplia os horizontes dos alunos, pois permite que eles vejam coisas às quais não costumam ter acesso, seja em casa ou na escola”, destaca a professora. “Eles puderam ver, por exemplo, produtos apresentados no estande do sultanato de Omã, como tâmaras.” Segundo a professora, as crianças também ficaram entusiasmadas com o que viram nos estandes da Universidade de Brasília (UnB) e dos institutos federais de educação, ciência e tecnologia.

Petróleo — Outra instituição de São Sebastião a participar da mostra, no pavilhão de eventos do Parque da Cidade, foi o Centro de Ensino Médio nº 1 (CEM 01). Estudantes do terceiro ano apresentaram o tema Formação do Petróleo e seu Refino, falaram sobre a camada do pré-sal e trataram também do leilão da reserva de Libra, no Rio de Janeiro. “É um assunto que está em destaque na imprensa e tem a ver com o conteúdo estudado”, salienta a professora de química Sílvia Pires Batista, ao constatar o entusiasmo dos estudantes com a oportunidade de apresentar o tema na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia.

Para Sílvia, ensinar ciências é um desafio, pois os estudantes têm dificuldade em associar o que estudam com o que vivenciam. “Eles fazem química todo dia, em casa, mas não conseguem estabelecer uma associação”, afirma. Ela procura ajudá-los a relacionar teoria e prática com visitas e passeios e, durante as aulas, com projetor datashow para ilustrar o conteúdo.

A professora considera importante despertar o interesse das crianças pela ciência desde pequeninas. “Dar exemplos mais práticos, menos teóricos, pode despertar o interesse pela área científica”, defende. Com graduação em engenharia agronômica e licenciatura plena em química, Sílvia está no magistério há 22 anos, sete dos quais com atuação na rede pública do Distrito Federal (Fátima Schenini).

Merenda escolar serve como subsídio às demais disciplinas

Menina manuseia frutas

A merenda escolar servida nas escolas públicas há 50 anos vem se transformando em alimento farto para variadas disciplinas. Professores e gestores têm usado a cozinha e a horta para criar práticas pedagógicas e estimular os alunos, tanto na aprendizagem de conteúdos quanto na aquisição de hábitos alimentares saudáveis. Às vésperas do ano da realização da Copa do Mundo, a alimentação equilibrada e a prática de atividades físicas foram temas de projetos apresentados em todo o Brasil durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia.

Em Brasília, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) apresentou experiência com a alimentação escolar. Alunos de escolas públicas e particulares puderam participar de oficinas e aprender a elaborar pratos saudáveis. "Até 2002, o foco da merenda escolar era combater a evasão escolar. O legislador entendia que o aluno ia para a escola para comer. Hoje, há um entendimento que a merenda é um processo educativo, de formação de hábitos saudáveis e que deve contribuir para aprendizagem e o rendimento escolar", observa Albaneide Peixinho, coordenadora-geral do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae).

Operacionalizado pelo FNDE, o Pnae é referência para vários países em todo o mundo que usam a legislação brasileira como referência na elaboração de projetos. O programa permite às prefeituras pagar até 30% a mais por produtos de origem orgânica originários da agricultura familiar. “O foco do Pnae atualmente não é dar comida de qualquer jeito, mas oferecer um cardápio equilibrado, elaborado por nutricionista, e envolver professores na alimentação saudável”, acrescenta a coordenadora. "Os professores devem entrar com a teoria para orientar os alunos."

Desde 2010, escolas e creches públicas são construídas com base em desenho arquitetônico apresentado pelo FNDE. São reservados espaços para o cultivo de hortas escolares. "Com a educação integral, há repasse a mais de recursos para que a merenda escolar assegure pelo menos 70% das necessidades nutricionais diárias dos alunos”, ressalta Albaneide. "Os nutricionistas sabem que essa alimentação deve garantir o gasto calórico a mais de estudantes que serão incluídos em atividades esportivas nessa jornada ampliada da escola."

Pirâmide — Durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, a alimentação saudável foi um dos temas expostos no estande montado pelos estudantes do módulo de educação e cultura do Serviço Social do Comércio (Sesc) de Taguatinga Norte, no Distrito Federal. A base da tradicional pirâmide alimentar passou a ser a ingestão de água e a prática de educação física. Em seguida, os alimentos integrais, como pães, cereais e macarrão, que contêm maior quantidade de fibras, vitaminas e sais minerais. Antes, o segundo andar da pirâmide continha apenas alimentos refinados.

No estande do Senac, a turma do curso de análises clínicas da unidade da 903 Sul, em Brasília, explicava as consequências da alimentação desequilibrada e da vida sedentária. "Os obesos têm baixa taxa de HDL, o colesterol bom, e o acúmulo de gordura pode causar entupimento das artérias e até infarto", diz Julie Cristina Soares, 18 anos. "É preciso evitar comer salgadinhos e sucos industrializados, que contêm altas concentrações de sal e de açúcar."

Esportes — No Rio Grande do Norte, a importância do esporte na vida do jovem foi tema de projeto pedagógico desenvolvido neste segundo semestre com estudantes do primeiro ano do ensino médio da Escola Estadual Teônia Amaral, em Florânia, a 226 quilômetros de Natal. "Nosso objetivo foi misturar conhecimentos de biologia e educação física para melhorar a saúde dos alunos que estão, nas últimas décadas, desinteressados das práticas esportivas e mais sedentários", explica a professora de biologia e de química Juraci de Araújo, coordenadora do projeto.

Para envolver a comunidade escolar, foram realizadas atividades teóricas e práticas, que incluíram leitura e pesquisas, rodas de conversas e trilha ecológica. A professora conta que os moradores muitas vezes desprezam o valor nutricional das diferentes frutas, comuns nos quintais das casas. "Ficam comendo biscoito recheado e enlatados quando, em casa, têm goiaba, manga, banana, acerola, mamão, caju, coco e abacate. Muitas dessas frutas são transformadas em suco e oferecidas aos alunos na merenda", diz Juraci.

Professor de educação física há 22 anos na escola, João Maria de Souza lamenta a redução da grade curricular para a prática de esportes. "Educação física é movimentar o corpo, espaço e tempo para socialização e aprender regras esportivas", afirma. "Antes, tínhamos dois dias. Agora, resta apenas um para levar os alunos para a quadra esportiva, pois o outro dia é para ensinar teoria."

Para o professor, o projeto foi importante para motivar os demais educadores a usar os espaços públicos e desenvolver atividades fora do horário escolar para melhorar a saúde e afastar os jovens das drogas. (Rovênia Amorim)

Instituto apresenta experiências e expõe produção dos estudantes

Estudante Edson Reis no estande do IF do Sertão Pernambucano

O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano participou da exposição da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, em Brasília, com experiências na área de química e produtos como doces, geleias, picles e vinhos elaborados pelos estudantes. Também apresentou obras publicadas por professores nas áreas de tecnologia, sociologia e ciências humanas.

Aluno da licenciatura em química no câmpus de Petrolina, Edson Reis contribuiu, com demonstrações de experiências científicas, para despertar a curiosidade dos visitantes do estande da instituição. Estudante do último ano, ele pretende fazer mestrado e dedicar-se ao magistério. "Considero a química uma das ciências mais aplicáveis ao cotidiano, pois engloba ações como elaboração e ingestão de alimentos e rotinas de higiene e limpeza, por exemplo", explica.

Para o professor Ednaldo Gomes, que leciona biologia, microbiologia e meio ambiente e desenvolvimento, a participação em um evento como a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia é importante para fechar o processo de ensino, pesquisa e extensão realizado pela instituição. "Aqui, não apenas mostramos nossa produção, mas nos aproximamos do público e fazemos essa ponte, tão necessária, entre a ciência, a tecnologia e a sociedade, papel primordial das instituições federais de ensino", destaca.

Com cinco câmpus — Petrolina, Petrolina Zona Rural, Floresta, Ouricuri e Salgueiro —, a instituição oferece cursos variados, como tecnologia em viticultura e enologia, tecnologia em alimentos, tecnologia em horticultura, licenciatura em química, licenciatura em música, bacharelado em agronomia, técnico em agroindústria, técnico em agricultura e técnico em agropecuária.

"Para divulgar a cultura regional, levamos ao evento uma banda de forró, integrada pelos próprios alunos do instituto e mantida com recursos do projeto de extensão Inovação e Valorização Cultural Através da Música, que oriento no câmpus de Salgueiro", diz Ednaldo. Graduado em ciências biológicas, com mestrado em genética e doutorado em engenharia ambiental, ele está há 12 anos no magistério, três dos quais no instituto. (Fátima Schenini)

Acesse a página do Instituto Federal do Sertão Pernambucano

 

Crianças devem ser educadas para a vida, diz professora paraense

Professora Neurizete, ao centro, com participantes da Jornada Cultural

Para a professora Neurizete da Silva Melo, do município de Juruti, no oeste do Pará, é preciso educar as crianças para a vida, pois a sociedade exige isso, principalmente no mundo em que vivemos. Entusiasmada com seu trabalho e apaixonada pela profissão, ela leciona na Escola Municipal de Educação Básica Firmino Araújo, na zona rural. "Levo 50 minutos para chegar à escola, de motocicleta", revela.

Neurizete acredita que os professores devem criar maneiras de ensinar, inovando as metodologias e valorizando a criatividade dos alunos e seus saberes. Ela diz que a escola adota propostas pedagógicas, metodologia que tem dado bons resultados. Entre eles, a professora destaca o projeto Família e Escola – Construindo Cidadania, que tem como objetivo aproximar os pais dos estudantes e a instituição escolar. "Conseguimos trazer 90% dos pais á escola e, com isso, mudar a visão que eles tinham do professor", revela. "Hoje, eles ajudam a escola e somos mais valorizados."

Outro projeto citado por Neurizete é o Caminhando com a Leitura. Os estudantes, em grupo, vão até as residências para levar a leitura às famílias. "Estamos levando os pais de nossos alunos a gostar de ler e ganhamos muito com isso”, enfatiza a professora. Segundo ela, a escola incentiva os estudantes a não usar material capaz de poluir o meio ambiente. “Quero ajudar a mudar, a formar cidadãos justos e do bem, com esperança de um futuro melhor para todos", ressalta. (Fátima Schenini)

 

Alfredo Luís Mateus (Coltec – UFMG): "Crianças e adolescentes têm interesse natural pela ciência"

Professor Alfredo Luís Mateus

Em razão da grande curiosidade que demonstram pela ciência, crianças e adolescentes devem estar engajados em atividades baseadas em fenômenos e observações. A ideia é defendida por Alfredo Luís Mateus, professor de química no Colégio Técnico (Coltec) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ele considera as feiras de ciências e eventos semelhantes ótimas oportunidades para o estudante interagir com o público.

“Qualquer atividade que torne o aluno mais responsável por seu aprendizado, seja produzindo um vídeo ou um artigo num blogue, seja mostrando um experimento numa feira, é algo muito positivo”, avalia. Com graduação e mestrado em química pela Universidade de São Paulo (USP) e doutorado em química inorgânica pela University of Florida, dos Estados Unidos, Mateus coordena o projeto Pontociência, portal de experimentação para o ensino de ciências. Colaborativo, o portal conta com mais de 900 experimentos.

Jornal do ProfessorComo escolas e professores podem despertar o interesse de crianças e adolescentes por temas científicos e tecnológicos?

Alfredo Luís Mateus — Crianças e adolescentes têm interesse natural, uma grande curiosidade pela ciência. A questão é como escolas e professores podem não tirar a curiosidade que as crianças já têm pela ciência. Basta ver alguns canais de vídeos de experimentos no YouTube, com centenas de milhares de visualizações. Neles, crianças dizem: “Ah, se meu professor fizesse isso!”. A ciência trata do mundo ao nosso redor. Não permitir que as crianças descubram este mundo por elas mesmas, com ajuda do professor, é decepcionante. Como um aluno pode sair do ensino médio sem nunca ter olhado em um microscópio? Após olhar em um microscópio, como ele pode não querer entender o que viu? Engajar o estudante em atividades a partir de fenômenos e observações é fundamental para manter o interesse dele na ciência. Contar como as coisas funcionam na frente da sala e dar um monte de exercícios repetitivos não ajuda.

Qual a importância do lúdico nesse tipo de aprendizado?

— A importância de atividades divertidas que envolvam a ciência está mais ligada a uma mudança de atitude em relação à matéria do que ao aprendizado em si. As atividades informais têm como objetivos atrair a curiosidade, dar a oportunidade de as pessoas pensarem nos tópicos ligados à ciência num ambiente mais relaxado do que a sala de aula, mas com o entretenimento como pano de fundo. O que é ótimo. Não existe nada de errado em se divertir e aprender, muito pelo contrário. Mas o aprendizado formal precisa acontecer também para que os jovens possam realmente ter uma noção melhor de como o nosso mundo científico e tecnológico funciona. A nossa cultura tem de valorizar esse esforço a mais, que é necessário para dominar o básico da ciência. Então eu não consigo ver as atividades de divulgação científica para jovens dissociadas da escola formal. As comunidades que estudam a divulgação científica e o ensino de ciências têm de juntar esforços para conseguir que o trabalho informal ajude o formal e vice-versa.

Qual a importância de realizar eventos como feiras de ciências?

— Nas feiras de ciências, os estudantes têm uma oportunidade ótima de falar com o público sobre o que fizeram. Essa conversa sobre ciência é fundamental, pois desenvolve habilidades muito importantes para qualquer pessoa, mesmo que ela não vá trabalhar na área científica. É possível perceber nos alunos, quando apresentam trabalhos, como adaptam a linguagem ao falar com alunos mais novos ou mais velhos, como criam estratégias para explicar o que fizeram. As feiras de ciências dão voz aos estudantes, e qualquer atividade que os tornem mais responsáveis pelo próprio aprendizado, seja produzindo um vídeo ou um artigo num blogue, seja mostrando um experimento numa feira, é algo muito positivo e que, na minha experiência, sempre surpreende o professor com os resultados.

— Qual a contribuição da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia para a popularização da ciência no Brasil?

— O evento coloca as atividades de divulgação científica no calendário das cidades de todo o Brasil. Quem acompanhou o esforço e o crescimento do número de atividades e de cidades, ano a ano, pôde perceber o impacto que ela teve. Esse impacto deve ser especialmente importante nas cidades menores, onde a Semana Nacional não é uma atividade a mais. É o grande encontro de divulgação científica do ano. É um momento importante para a reflexão sobre as direções que o ensino e a divulgação científica devem tomar no Brasil.

Os professores da educação básica estão bem preparados para ensinar conteúdo científico e tecnológico?

— O Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer na formação de professores. Um número muito grande de pessoas leciona na área de ciências, química e física, principalmente, sem a formação adequada. Além disso, boa parte dos que hoje fazem cursos de licenciatura teve um ensino livresco, voltado para o vestibular, sem acesso a experimentações ou a abordagens diferenciadas. Ao chegar à universidade, essas pessoas são bombardeadas com disciplinas voltadas para formá-las como futuras pós-graduandas, não como profissionais da educação. Como convencê-las de que existe um universo inteiro de outras possibilidades e abordagens para aulas de ciências se elas não puderam vivenciar isso e verificar que fazem a diferença? Com certeza, acham que aprenderam bem nos cursos, pois foram até aprovadas nos vestibulares.

Em palestras e cursos a licenciandos em química, pergunto se fizeram experimentos com alguma frequência nas aulas de química do ensino médio. Em geral, de uma sala com 100 pessoas, duas ou três levantam a mão. Então, é um círculo vicioso. Professores com repertório de práticas fraco e conhecimento da matéria reduzido contribuem de maneira negativa na formação de novos professores, que acabam com as mesmas dificuldades. Mas há motivos para um pouco de otimismo, com o surgimento de iniciativas como o Pibid [Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência], que leva licenciandos às escolas e permite o contato de uma nova geração com a anterior. Desse modo, eles podem aprender juntos uma maneira diferente de ensinar ciências. Essa troca de experiências é muito importante.

É importante que os professores participem de oficinas ou cursos de formação continuada para o aprendizado de novas técnicas de ensino nas áreas de ciência e tecnologia? Como isso pode ser feito sem que os professores se afastem da sala de aula?

— É fundamental que o professor, como todo profissional, esteja sempre aberto a aprender. O grande desafio dos cursos de formação continuada é balancear a quantidade de conhecimentos da área (química, física, biologia) com os conhecimentos pedagógicos. Achar que a pessoa consegue dar uma boa aula apenas com o domínio da matéria ou da parte pedagógica é um erro. Outro desafio é como tratar questões pedagógicas para um público (os professores) que tem, em geral, grande resistência a entrar nesse universo. É necessário que essas questões sejam levadas aos professores de uma forma menos acadêmica, mais integrada com a prática de sala de aula. Assim, é possível que mais professores tentem ir além e busquem mais conhecimentos. É fundamental que os governos invistam muito na qualificação dos professores. Faz sentido que sejam liberados para participar de cursos e recebam incentivos para isso. Nos Estados Unidos, cursos de qualificação profissional são comuns. Alguns ocorrem nas férias, com oferta de bolsas aos professores participantes. Há a alternativa de liberar material na internet. Para o professor usar esse material, ele precisa, porém, aprender a ter autonomia, o que deveria ser o grande foco dos cursos de formação continuada.

Qual o papel da academia na disseminação de conhecimentos científicos entre professores da educação básica e a população em geral?

— A academia tem um papel extremamente importante na melhoria dos cursos de licenciatura. Tem o dever de estar sempre cobrando melhores condições de trabalho para os professores, de mostrar à população para onde o dinheiro das pesquisas está indo e quais são os resultados, que muitas vezes são fascinantes. Esse trabalho não é simples, pois é necessário adequar a linguagem para um público amplo, sem que os conceitos sejam explicados de maneira incorreta. As universidades, aos poucos, estão acordando para a necessidade da divulgação científica. Na UFMG, diversas iniciativas vêm sendo tomadas, como a transmissão de programas na Rádio UFMG Educativa, a participação de professores em museus de ciências e, na internet, projetos como o portal Pontociência.

Quais as principais atividades desenvolvidas pelo portal?

— O Pontociência é um portal colaborativo. Nossa equipe e qualquer pessoa que queira participar põem à disposição roteiros de experimentos de química, física e biologia. Esses roteiros contêm instruções, passo a passo, sobre montagem de experimentos, com fotos e vídeos. Já temos mais de 900 experimentos. A ciência por trás de cada fenômeno é explicada em uma linguagem acessível. Mais do que apenas um portal para oferecer conteúdos, esperamos criar uma comunidade de pessoas que trocam experiências. Os usuários podem comentar cada experimento, tirar dúvidas, compartilhar resultados. O Pontociência está aos poucos se tornando uma referência importante para professores de ciências. Temos mais de quatro mil acessos por dia e estamos trabalhando para inserir novas seções. Uma parte do portal será dedicada ao ensino de ciências e à acessibilidade, com instruções sobre montagem de recursos para pessoas com deficiência e sobre o uso de tecnologia no ensino de ciências, com simulações, vídeos, blogues, etc.

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