IV Conferência Infantojuvenil pelo Meio Ambiente
Sexta-feira, 6 de Dezembro de 2013
Edição 95
A edição nº 95 do Jornal do Professor é dedicada à IV Conferência Nacional Infantojuvenil pelo Meio Ambiente. O evento realizado no período de 23 a 28 de novembro de 2013, pelos ministérios da Educação e do Meio Ambiente, abordou o tema Vamos cuidar do Brasil com escolas sustentáveis.
Nesta edição, apresentamos experiências desenvolvidas em escolas de Minas Gerais, Pará, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Sul e Roraima.
A professora Elza Aparecida Pereira, diretora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Vila Aparecida, de Portão (RS) participa da seção Espaço do Professor. E o coordenador-geral de Educação Ambiental do Ministério da Educação, José Vicente de Freitas, é o entrevistado desta edição.
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A IV Conferência Nacional Infantojuvenil pelo Meio Ambiente reuniu este ano mais de mil pessoas para tratar do tema Vamos Cuidar do Brasil com Escolas Sustentáveis. O evento foi realizado de 23 a 28 de novembro, no Centro de Treinamento Educacional (CTE) da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Indústria (CNTI), no município goiano de Luziânia, no entorno do Distrito Federal. Participaram 673 estudantes com idades entre 11 a 14 anos (delegados) e cerca de 250 educadores de todo o Brasil.
Realizada desde 2003, a conferência tem como proposta fortalecer a educação ambiental nos sistemas de ensino com a participação ativa das escolas na construção de políticas públicas. Além do tema da conferência, os participantes discutiram os subtemas Terra, Água, Fogo e Ar. Também participaram de oficinas e de atividades culturais. Foram oferecidas 13 oficinas sobre técnicas de rádio, teatro, publicidade e fotografia.
“A conferência nos oferece a oportunidade de aprender muitas coisas sobre o meio ambiente e sobre a cultura de outros estados”, destaca o estudante Welton Sousa Silva, 13 anos, delegado da Escola Estadual Voltaire Pinto Ribeiro, de Boa Vista, Roraima. “Abre ainda a possibilidade de fazermos novos amigos.”
Welton ficou entusiasmado com a oportunidade de participar da oficina de rádio: “Vou aplicar o que aprendi, pois nossa escola vai criar uma rádio comunitária, e poderei ajudar nesse trabalho”, adianta o jovem, aluno do sétimo ano do ensino fundamental. Com o projeto Horta na Escola, a instituição em que Welton estuda propõe o cultivo de legumes e hortaliças para a merenda escolar. A implantação está prevista para o início do próximo ano letivo. A escola dispõe de uma pequena horta com plantas medicinais.
Em Taquara, Rio Grande do Sul, a Escola Municipal Rudi Lindenmeyer desenvolve o projeto Água nossa de cada dia. Uma das ações é o aproveitamento da água da chuva, armazenada em cisternas, para regar a horta escolar. De acordo com o delegado da instituição na conferência, Robson da Silva Alves, 11 anos, estar da conferência foi uma experiência excelente. Ele aproveitou a oportunidade para participar da oficina de teatro.
O estudante Afonso Murilo Ferreira Silva, 14 anos, delegado da Escola Municipal de Ensino Fundamental Lauro Sodré, do município paraense de Moju, na região do Baixo Tocantins, apreciou a oportunidade de participar da conferência. “É bom conhecer um pouco mais do Brasil e de sua diversidade cultural”, enfatiza. A instituição de ensino também desenvolveu projeto de aproveitamento da água da chuva — Irrigação Sustentável para a Horta da Escola. De acordo com Afonso, o processo ocorre por gotejamento (pequenos canos com furos) ou com mangueira. As hortaliças são usadas na merenda escolar.
Regionais — Os temas debatidos em Luziânia pelos delegados foram discutidos previamente em escolas de todo o país, nas conferências municipais ou regionais e nas estaduais.
A IV Conferência Nacional Infantojuvenil pelo Meio Ambiente foi promovida pelos ministérios da Educação e do Meio Ambiente. (Fátima Schenini)
O alto consumo de energia no município mineiro de Mar de Espanha, na Zona da Mata, ocasionado pela existência de grande número de confecções têxteis, levou a Escola Estadual Mannarino Luigi a criar o projeto Evite gastos, economize energia, a fim de sensibilizar a comunidade para essa questão.
Preocupados em manter os recursos naturais, professores e alunos resolveram mobilizar os moradores do município, que é um polo de confecção de roupas. Segundo a professora de ciências e matemática, Armanda dos Santos Linhares, o trabalho começou com a distribuição de panfletos pelos estudantes, mas não parou por aí. A economia de energia foi assunto também nas aulas da professora de geografia. “Ela trabalhou o tema com a análise das contas de luz de um período de três meses”, explica Armanda. E os estudantes foram orientados a mudar hábitos, em suas famílias, que proporcionassem uma redução nas contas de luz.
O projeto foi apresentado na IV Conferência Nacional Infantojuvenil pelo Meio Ambiente, realizada no município goiano de Luziânia, de 23 a 28 de novembro. Promovido pelos ministérios da Educação e do Meio Ambiente, o evento reuniu mais de mil participantes para discutir o tema Vamos cuidar do Brasil com escolas sustentáveis.
A Escola Estadual Nossa Senhora Aparecida, localizada no município de Ilicínea, no sul do estado, escolheu o tema Educação ambiental e reciclagem de eletrônicos. Iniciado em junho deste ano, o projeto tem como foco o reaproveitamento de materiais e o descarte correto de objetos, como pilhas, televisores e telefones celulares.
As atividades começaram com alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental e do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). “Os alunos do Pronatec tiveram importância fundamental no projeto. Eles ficaram encarregados do reaproveitamento dos aparelhos eletrônicos doados, explica a coordenadora do projeto, Lílian Cardoso de Oliveira Nascimento Vilela. Professora de ciências, biologia e química, Lílian redigiu o projeto juntamente com o professor Maikren Wilson França Jacinto, coordenador do Pronatec.
De acordo com Lílian, o projeto busca conscientizar os alunos e a comunidade no que se refere a consumismo e sustentabilidade, levando em conta o aumento do resíduos eletrônicos e a importância de adotar práticas de redução, reutilização e reciclagem. “Começamos a repensar nossas atitudes de consumo e a verificar se respeitamos e nos preocupamos com os outros”, enfatiza a professora, há três anos no magistério.
Com o apoio da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, a escola conseguiu implantar na cidade uma maneira de destinar os resíduos eletrônicos que não podem ser reciclados ou recuperados. Além disso, a coleta de lixo eletrônico agora é realizada de forma contínua, a cada semestre, sob supervisão dos estudantes do curso técnico em informática.
“Com gestos simples, a gente pode mudar o amanhã”, enfatiza a estudante Helena Maria Trindade Costa, 14 anos, delegada da Escola Nossa Senhora Aparecida na conferência. Ela revela que a escola também criou uma horta orgânica e um aquecedor solar – “os dois contribuem para a sustentabilidade.”
Outra instituição de Minas Gerais que participou da conferência foi a Escola Estadual Coração de Jesus, de Varginha, no sul do estado. Em execução desde o início de agosto, o projeto Educar para a sustentabilidade: educação, Terra, ação! tem a participação de todos os professores do 6º ao 9º ano do ensino fundamental, funcionários e direção. A ideia inicial partiu da responsável pela biblioteca, professora Adriana Mara Pessi da Cunha, com o objetivo de implantar a sustentabilidade na escola.
As atividades incluem o recolhimento do lixo com o destino correto a cada tipo. Assim, além do encaminhamento de materiais, como pilhas e baterias, a empresas encarregadas pelo descarte desse tipo de material, a escola passou a fazer o reaproveitamento de materiais, como papel e óleo de cozinha usado.
Com mais de dez anos de atuação no magistério, Adriana passou a trabalhar na biblioteca, em 2013, por opção própria. “É a oportunidade de desenvolver projetos paralelos que os demais professores, geralmente, não têm tempo”, esclarece.
A Escola Estadual Joaquim Vieira, de Indaiabira, no norte de Minas, optou por desenvolver um projeto intitulado + Água na escola. O propósito é de sensibilizar a comunidade para o consumo consciente da água, pois o município costuma enfrentar problemas de seca. (Fátima Schenini)
Melhorar a Qualidade da Energia na Escola e na Comunidade é o título de projeto apresentado pela Unidade Escolar João Soares de Brito, do município de Castelo do Piauí, na IV Conferência Nacional Infantojuvenil pelo Meio Ambiente. A ideia é chamar a atenção das autoridades do município.
“A comunidade da área rural de Palmeirinha enfrenta muitos problemas com a energia elétrica, pois os transformadores não são suficientes para atender à demanda”, explica a professora Antônia Eronita Soares. Segundo ela, o prefeito esteve na escola e ouviu as reivindicações dos professores.
“Nossa necessidade, agora, é a internet. Sem ela, estamos praticamente analfabetos”, avalia Antônia. Com graduação em letras e pós-graduação em psicopedagogia institucional, a professora está no magistério há 15 anos, com atuação voltada sempre para a alfabetização.
Também representada na conferência, a Escola Família Agrícola Santa Ângela, do município de Pedro II, apresentou o projeto Problemas de Outrora, Sementes do Hoje, Frutos do Amanhã. “Nosso objetivo é reflorestar o entorno da escola e a comunidade. E já começamos a fazer isso”, afirma a professora Maria da Conceição de Oliveira.
As mudas de árvores nativas foram obtidas a partir de sementes coletadas em mata próxima por alunos e professores. “Toda a escola está envolvida no projeto”, destaca Maria da Conceição. Graduada em letras e com pós-graduação em língua portuguesa e literatura, ela leciona português no ensino fundamental e médio.
A Unidade Escolar Francisco Teixeira, do município de Socorro do Piauí, desenvolveu o projeto Sou o Remédio da Minha Terra. “O remédio da nossa terra é a reciclagem. Se você reciclar o lixo, vai evitar a poluição e o uso de fogo”, analisa a professora Gícia Mesquita de Amorim, que dá aulas de ciências no ensino fundamental e de química no ensino médio.
O projeto, desenvolvido com alunos do sexto ano, incluiu atividades como palestras, visitas a comunidades para sensibilizar os moradores sobre a importância do ar que respiram e debates com agricultores que ainda usam o método de queimar a roça. Professores de todas as disciplinas estiveram envolvidos no projeto, que procurou conscientizar a comunidade escolar a respeito das vantagens da reciclagem do lixo. Os estudantes também confeccionaram peças como lixeiras, cestas e pufes a partir de material reciclado.
Sem Poluição, Nosso Pulmão Agradece foi o tema escolhido pela Escola Municipal Camillo da Silveira Filho, de Teresina, para o projeto apresentado na conferência. O trabalho aborda formas de preservação do ar e alerta sobre as consequências da poluição para a vida do planeta Terra. Tornar a escola um lugar limpo, com iniciativas autossustentáveis é outra proposta.
Palestras, coleta seletiva de materiais como papel, vidro e plástico para reciclagem e campanhas contra queimadas e para estimular o uso de transporte coletivo e alternativo (bicicletas) foram algumas das ações desenvolvidas. (Fátima Schenini)
Os perigos da poluição atmosférica inspiraram a Escola Municipal de Ensino Fundamental Antônio Prevedello em projeto para transformar a instituição em escola sustentável. O trabalho foi apresentado na IV Conferência Nacional Infantojuvenil pelo Meio Ambiente, promovida pelos ministérios de Educação e do Meio Ambiente, em Luziânia (GO), de 23 a 28 de novembro último.
Localizada na área rural do município de Cruz Alta, noroeste do Rio Grande do Sul, às margens da rodovia BR 377, a escola sofre com a poluição sonora e do ar, consequência do intenso tráfego de carros e veículos pesados. Outra causa de poluição atmosférica na região é o uso de defensivos agrícolas nas lavouras.
De acordo com a professora Aline Rizzardi, o projeto, criado por alunos do oitavo e do nono anos do ensino fundamental, visa principalmente a conscientizar os agricultores em relação ao uso indevido de agrotóxicos em áreas próximas a escolas rurais. A ideia é a substituição dos produtos químicos por defensivos naturais. Além disso, o projeto pretende alertar as autoridades sobre a falta de sinalização adequada na rodovia — não há indicações aos motoristas sobre a existência de escola nas proximidades. Os estudantes pretendem ainda orientar a população quanto à necessidade de respeitar os níveis de som aceitáveis à saúde humana.
Iniciado em agosto último, o projeto tem como primeira ação o combater ao uso indevido de agrotóxicos. A escola quer treinar os agricultores sobre os cuidados a serem tomados no uso de defensivos e a substituição dos produtos químicos por defensivos naturais. Para isso, conta com o apoio de universidades locais e da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater).
Perigos — Para resolver o problema da poluição sonora, os estudantes confeccionaram maquetes com material reciclado. Com elas, esperam mostrar os problemas resultantes da falta de sinalização. “O objetivo é mostrar a dirigentes municipais e órgãos de trânsito os perigos a que os alunos são submetidos diariamente, além da poluição sonora”, diz Aline, que tem graduação em ciências biológicas, especialização em gestão ambiental em espaços rurais e mestrado em agronomia.
Segundo a professora, o ruído provocado por excesso de velocidade, buzinas e freadas, entre outros, chega, algumas vezes, a interromper as aulas. Além de Aline, participam do projeto as professoras Tatiane Ritter e Vanessa Godoi. (Fátima Schenini)
Cidade Arborizada, Saúde Preservada é o tema do projeto apresentado pela Escola Municipal de Educação Básica Professora Laura de Sousa Oliveira, de Pedra Branca, no sertão da Paraíba, durante a IV Conferência Nacional Infantojuvenil pelo Meio Ambiente. Desenvolvido inicialmente pelas professoras Rafaela Teotônio, de geografia, e Joana Fortunato, de ciências, com alunos do sexto ano do ensino fundamental, o projeto teve sucesso tão grande que acabou envolvendo toda a escola e também a comunidade.
O que havia começado apenas com o objetivo de melhorar a qualidade do ar na escola passou a incluir as áreas urbanas do município. Segundo Rafaela, o plantio de mudas começou na própria escola, com a doação de mudas de árvores feitas por pais de alunos e agricultores. Entretanto, com a observação de que havia a necessidade de arborização em algumas ruas, a partir do plantio de mudas ou da substituição de árvores, a escola firmou parceria com a prefeitura e entidades locais para a execução das tarefas.
A professora lembra que as árvores contribuem para atenuar o calor do Sol e renovam o oxigênio do ar, além de estabilizar a temperatura ambiente. “Estamos planejando colocar vários tipos de árvores frutíferas e ornamentais, que se adaptem ao clima local, muito quente”, afirma. De acordo com Rafaela, as árvores também servem de ambiente para os pássaros e contribuem para melhorar o microclima.
O projeto, que terá continuidade em 2014, inclui atividades como debates, apresentação de vídeos e de músicas, produção de textos e de maquetes, além do plantio de árvores. “Esperamos conscientizar os alunos sobre a importância das plantas na conservação do ar”, diz Rafaela, que está no magistério há quatro anos.
Reflorestamento — Em Baía da Traição, no litoral norte paraibano, a Escola Estadual Indígena Pedro Poti, da aldeia indígena São Francisco, de etnia potiguara, apresentou o projeto Reflorestamento nas Margens do Rio Sinimbu. De acordo com a professora Sônia Barbalho de Macedo, o rio, que banha grande parte das aldeias indígenas do município, sofre com assoreamento, consequência do desmatamento em suas margens. “Houve uma sensibilização dos alunos no sentido de evitar esse problema”, diz Sônia, que leciona história nos anos finais do ensino fundamental.
Para a professora, a disciplina de história é importante na educação ambiental por fazer uma retrospectiva. “Começa pela pergunta: como era esse rio antigamente?”, salienta. “Nós trabalhamos o ano todo com esse problema do rio. Precisamos ter um conhecimento amplo de tudo, nos dedicar”, diz.
Sônia está no magistério há 25 anos. Graduada em história e em pedagogia, ela faz pós-graduação em gestão e supervisão. (Fátima Schenini)
Apaixonada pela profissão, a professora gaúcha Elza Aparecida Pereira está no magistério há 29 anos. “Amo de paixão o que faço e tenho como lema que as pessoas sejam melhores depois de estarem comigo”, diz Elza, há 11 anos na direção da Escola Municipal de Ensino Fundamental Vila Aparecida, localizada em Portão, na região metropolitana de Porto Alegre.
Ela diz que sempre procura incentivar as crianças, a fim de despertar o que elas possuem de melhor. “E quando acontecem as diferenças, nada como uma conversa franca, um olho no olho e um sorriso”, revela. Em suas aulas nunca faltou o riso, a participação e as brincadeiras. E isso não se perdeu: “até hoje ainda sou meio moleca”, avalia.
Para ela, ser professora representa a oportunidade de fazer brotar ideias, pensamentos, ações e pessoas engajadas. “É na escola que se fomenta a vida. Ela acontece a cada instante a cabe a nós ter a sensibilidade para perceber e não desperdiçar cada segundo”, enfatiza.
Dinâmica, movimenta sua escola com inúmeras atividades. Seu objetivo é fazer com que sua escola seja melhor a cada dia. Elza acredita que a comunidade escolar é protagonista da própria história e que escola é um lugar mágico e que deve ser alegre, colorido, cheio de riso, de brincadeiras e de descobertas. “As pessoas devem gostar de estar na escola, o conhecimento precisa estar ali e o que for inovação e novidade precisa estar ali também”, ressalta.
Balanço – Ao fazer um balanço de 2013, Elza revela que a principal preocupação de sua escola foi com a leitura, o que motivou a realização de variadas atividades. Um exemplo é a leitura realizada pelos alunos maiores para os menores, que ocorre uma vez por semana.
Quanto ao ponto mais importante do ano, ela destaca a participação da escola na Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia (Mostratec), realizada em Novo Hamburgo. A instituição conquistou o primeiro lugar na categoria séries iniciais da Mostratec Júnior, com o projeto Práticas alimentares saudáveis na prevenção e acompanhamento das doenças relacionadas à má alimentação. O projeto foi desenvolvido pelos alunos do 5º ano do ensino fundamental, mas contou com a participação de toda a escola – um total de 143 alunos, de quatro a dez anos, matriculados.
“Penso que todos os que chegam à Mostratec já são vencedores, mas sair de lá campeões é uma sensação indescritível”, revela Elza, que tem especialização em alfabetização e educação infantil e pós-graduação em gestão escolar. (Fátima Schenini)
A grande estratégia da Conferência Nacional Infantojuvenil pelo Meio Ambiente é promover o desenvolvimento da cidadania socioambiental, diz o coordenador-geral de Educação Ambiental do Ministério da Educação, José Vicente de Freitas.
Para ele, é fundamental que essa cidadania socioambiental seja desenvolvida e incorporada no processo de formação dos jovens. “Assim, pouco a pouco a gente vai criando os fundamentos de uma sociedade que a gente quer e a que a gente precisa”, enfatiza.
Professor do Instituto de Ciências Humanas e Informação da Universidade Federal de Rio Grande (FURG) e doutor em História e Sociedade, José Vicente foi secretário executivo da Comissão de Desenvolvimento Sustentável e Agenda 21 Brasileira CPDS e diretor adjunto do Departamento de Educação Ambiental, unidade então vinculada à Secretaria Executiva do Ministério do Meio Ambiente.
Exerceu, ainda, entre outros, cargos de gerente de projeto e de coordenador nacional do Programa Agenda 21 Brasileira, na Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental do Ministério do Meio Ambiente.
Jornal do Professor – Quais são os principais objetivos da Conferência Nacional Infantojuvenil pelo Meio Ambiente?
José Vicente de Freitas – A Conferência Nacional Infantojuvenil pelo Meio Ambiente é uma estratégia pedagógica voltada para escolas dos sistemas estaduais e municipais, particularmente as que trabalham do 6º ao 9º ano, e tem o objetivo muito claro de promover uma grande discussão e mobilização das escolas para algum tema voltado à temática da sustentabilidade. Com esse processo de mobilização, articulação e reunião da comunidade escolar discutindo um determinado tema, o nosso grande objetivo é que, nesse contexto da discussão da conferência, se consiga promover o desenvolvimento da cidadania socioambiental. Essa é a grande intenção dessa estratégia pedagógica.
Cada edição da conferência gira em torno de uma temática e provoca a comunidade escolar a discutir um determinado tema. Na quarta edição, nós propusemos às escolas discutir a temática de escolas sustentáveis. Em torno dessa temática, os objetivos são promoção da cidadania socioambiental, mobilização da comunidade escolar, intercâmbio, troca de experiência, formação de professores. A base relacionada à formação de cidadania socioambiental continua a mesma.
– Como é feita a seleção desses temas?
– Procuramos selecionar os temas de acordo com as questões que são fortes no momento em que a conferência é realizada. Por exemplo, a terceira edição da Conferência Nacional Infantojuvenil girou em torno da temática das mudanças climáticas. A ideia foi a escola pensar sua própria ação e processos educativos a partir da discussão que naquele momento, em 2008/2009, estava chegando ao conhecimento da sociedade de maneira intensa. Por isso, propusemos o tema “Vamos cuidar do Brasil pensando nas mudanças ambientais globais” e, a partir dessa discussão, tentamos situar qual o papel da escola e dos alunos. Era uma temática muito condizente naquele momento devido à importância que o tema estava ganhando no contexto social.
Ao longo dos últimos três, quatro anos, tem sido muito forte, no MEC, nas universidades e nas instituições de ensino, a discussão sobre o que seria uma escola sustentável. Então, toda a movimentação dessa quarta edição é fazer que a comunidade discuta o conceito de escola sustentável, inclusive quais são as intervenções necessárias para que a escola se torne sustentável, até mesmo para dentro e para fora, ou seja, em relação à sociedade.
– De que maneira é organizada a conferência?
– Esta conferência trabalha com três princípios fundamentais: jovem educa jovem, jovem escolhe jovem e uma geração aprende com a outra. Metodologicamente, como ela se apresenta? A ideia é de que tenhamos sucessivas fases e, nestas, a gente tenha a possibilidade da construção da cidadania socioambiental. A primeira fase é uma provocação à escola para que discuta na unidade escolar essa temática. Acontecendo essa discussão, a escola vai escolher o melhor delegado e o melhor projeto elaborado a partir daquela temática. E os delegados vão participar sucessivamente de outras fases da conferência. A fase na escola é obrigatória. Os delegados escolhidos poderão participar das fases municipais e/ou regionais, que são optativas, e depois vão participar da etapa estadual, que reúne outros delegados selecionados. Esses delegados e esses projetos escolhidos na fase estadual vão participar da última etapa, a nacional, que tradicionalmente ocorre em Brasília.
– Como é feita a seleção dos participantes?
– A Política Nacional de Educação Ambiental coloca como responsabilidade do MEC a necessidade de trabalhar com a educação ambiental em todos os níveis e modalidades de ensino, da educação infantil até a universidade. Em um processo de conferência como esse, seria muito difícil envolvermos todas as etapas de ensino. Para melhor viabilização, fazemos um recorte no contexto do segundo ciclo do ensino fundamental, ou seja, que envolve estudantes de 11 a 14 anos, do 6º ao 9º ano. Assim, na etapa nacional, trabalhamos com estudantes que estão dentro desta faixa etária e fica mais fácil acolher e garantir a integridade deles.
– Como serão aproveitados os projetos apresentados pelas escolas?
– Nessa edição, nós propusemos às escolas que discutissem a temática de escolas sustentáveis e que elaborassem um projeto para dizer como a própria escola poderia se transformar em sustentável. Todas as escolas que se envolveram nesse processo, discutiram a temática e elaboraram um projeto vão entrar no Programa Dinheiro na Escola – PDDE - Escola Sustentável para se beneficiarem de recursos em 2014. Essas escolas poderão começar o processo de implementação dos projetos que elaboraram. Então é uma conferência que já vem com proposta de intervenção. Ou seja, estamos exercendo papel de indutores de uma proposta política pedagógica e que faz que a comunidade discuta-a e tenha condições de implementá-la.
– Qual é a importância de despertar o interesse pela preservação do meio ambiente entre os estudantes?
– Essa galerinha, esses meninos e meninas, serão os tomadores de decisão desse país, nas diferentes instâncias, junto às esferas municipal, estadual e nacional. E se essas crianças conseguirem desenvolver a sua consciência ambiental, naturalmente, ao tomar decisão, os indicadores socioambientais serão considerados variáveis ambientais importantes. Esse processo poderá levar a mudar a relação como a sociedade se estabelece com o meio ambiente. Então, é fundamental que esse espaço seja proporcionado, que a consciência, a cidadania socioambiental sejam desenvolvidas e incorporadas no processo de formação desses jovens. Assim, pouco a pouco a gente vai criando os fundamentos de uma sociedade que a gente quer e a que a gente precisa.
– Nesse processo de formação dos jovens, a conferência traz oficinas variadas. Explique.
– Temos cerca de 15 oficinas diferentes que não são apenas para desenvolver conceitos, teorias, mas para ensinar questões práticas aos estudantes. Todas as oficinas estão diretamente relacionadas ao tema de sustentabilidade. Por exemplo, a questão de permacultura. Um conjunto de alunos vai trabalhar com técnicos e especialistas da área para aprender permacultura em termos conceituais, inclusive fazendo intervenção durante a conferência. A permacultura é um conceito que nasce vinculado à ideia de sustentabilidade.
Hoje um dos temas mais atuais é a discussão das mudanças ambientais globais, que geram impactos nos municípios e nas escolas, bem como condição profunda de vulnerabilidade para as escolas e os municípios. Então temos uma oficina que ensina aos alunos como fazer mapeamento de risco no seu bairro e na sua escola, utilizando uma pipa associada a uma câmara. Esse mapeamento poderá ser levado para a sala de aula e discutido e compartilhado inclusive com autoridades que ainda não conhecem o problema. Todas as oficinas estão relacionadas ao campo da sustentabilidade. Depois da conferência, os alunos têm o compromisso de voltar para as escolas e replicar o que aprenderam nas oficinas nas escolas e nos territórios.
– A conferência então enriquece o cotidiano de aprendizagem das escolas e colabora para formar cidadãos mais conscientes...
– Não há dúvida de que é um processo que funciona. Há jovens que trabalham como gestores aqui no MEC, na Coordenação de Educação Ambiental, que participaram da conferência, em 2003, e depois foram para a universidade e se formaram. A conferência contribui no processo de transformação do próprio jovem. Agora, desde 2004, estamos tentando consolidar para que as escolas recebam recursos para implementarem a ideia que desenvolveram coletivamente. Esse processo de mobilização gera algum tipo de implicação em termos de consciência sobre a importância da preservação ambiental, de melhorarmos a nossa qualidade de vida e de superarmos a grave crise que o planeta e o Brasil atravessam.
– De que maneira a temática do meio ambiente entra no currículo escolar?
– Os temas meio ambiente e educação ambiental não têm disciplina específica. Essas duas áreas são incorporadas na matriz pedagógica das escolas como tema transversal. Todas as disciplinas consolidadas, direta ou indiretamente, teriam a obrigação de trabalhar essa temática. Mas um fato que auxiliou para que essa temática fosse incorporada pela sociedade, pelo governo e pelos sistemas de ensino foi a ECO-92, realizada no Rio de Janeiro. Até então, as informações ambientais que chegavam ao Brasil vinham por meio de grandes ONGs. Com essa Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a própria sociedade acordou para a temática ambiental que passa a ser vista como temática prioritária pelos governos nas esferas municipal, estadual e federal e replicada nas escolas.
A partir de 1992, o governo passou a fazer isso de forma bastante sistemática e, especialmente coordenada, a partir de 1999, com a aprovação da Política Nacional de Educação Ambiental, que obriga o MEC a implementar ações em todas as modalidades e níveis de ensino. E em 2012, aprovamos as Diretrizes Curriculares para a Educação Ambiental, para que a temática ambiental passe a ser observada em todos os níveis dos sistemas de ensino.