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JORNAL

Prêmio Professores do Brasil-2013

Sexta-feira, 27 de Dezembro de 2013

Edição 96

EDITORIAL - Prêmio Professores do Brasil-2013

A edição nº 96 do Jornal do Professor apresenta o Prêmio Professores do Brasil. O concurso foi criado pelo Ministério da Educação em 2005, para premiar as melhores experiências pedagógicas desenvolvidas ou em desenvolvimento por professores das escolas públicas, em todas as etapas da educação básica e que, comprovadamente, tenham sido ou estejam sendo exitosas no enfrentamento de situações-problema, considerando as diretrizes propostas no Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação.

Das 40 experiências pedagógicas premiadas, apresentamos sete: Construindo caminhos: identidade e autoestima nos fios do cabelo, da professora Márcia Maria da Cunha, de Camaragibe (PE); Brincando de matemática, da professora Amanda Oliveira de Souza Araújo, de Nova Brasilândia D’ Oeste (RO); Projeto Educativo Cultural Afro Som, do professor José Kleber Andrade Lopes de Jesus, de Capim Grosso (BA); Minha escola sustentável, da professora Shirlei dos Santos Catão, de Boa Vista (RR); Conhecendo Alfredo Wagner, da professora Caroline Pereira, de Alfredo Wagner (SC); Podcast café com sociologia como recurso didático para (re) encantar educandos no processo ensino-aprendizado, do professor Roniel Sampaio Silva, de Ariquemos (RO).

Ainda nesta edição, a professora Giseli Barreto da Cruz, da Faculdade de Educação da UFRJ, está na seção Entrevista e a professora Cilene Maria Ebeneser Cavalcanti Revelles, da Escola Municipal Professor Washington Manoel de Souza, de Queimados (RJ), aparece na seção Espaço do Professor.

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

Saiba mais sobre o Prêmio Professores do Brasil

Confira a relação dos vencedores do Prêmio Professores do Brasil 2013

 

Fios de cabelo inspiram projeto sobre o resgate da autoestima

Alunos mostram cabeças feitas com massa de modelar

Valorizar as características físicas individuais e melhorar a autoestima dos estudantes a partir do conhecimento e reconhecimento das raízes culturais africanas é proposta contida em projeto da arte-educadora Márcia Maria da Cunha. O trabalho, desenvolvido com turmas de educação infantil da Escola Municipal Santa Maria, em Camaragibe, município da região metropolitana de Recife, foi inspirado na observação de que o cabelo de sua pequena sobrinha era visto e tratado como um cabelo “rebelde”, que deveria permanecer preso. Isso acontecia também com outras crianças de cabelos crespos ou cacheados.

O projeto Construindo Caminhos: Identidade e Autoestima nos Fios do Cabelo foi um dos vencedores da sétima edição do Prêmio Professores do Brasil, na Categoria Temas Livres, subcategoria Educação Infantil. “A premiação representa o reconhecimento e a valorização do trabalho como professora”, diz Márcia. “Um dos benefícios é o de mostrar que o professor da escola pública é competente, que tem um olhar sensível e mais próximo das questões sociais do Brasil.”

De acordo com a professora, o educador pode e deve promover experiências e vivências significativas. “É nas primeiras idades que a criança começa a formar as bases psicológicas, valores e relações morais e sociais entre outros pilares do ser”, afirma. Em sua visão, a influência do “belo”, que chega às crianças de forma direta ou indireta pelos meios de comunicação de massa, as leva a buscar um padrão de beleza quase único, massificado no cabelo liso, o que muitas vezes ocasiona o descontentamento com as características físicas individuais e a baixa autoestima, dentre outros transtornos.

Desenvolvido no primeiro semestre deste ano, com aulas expositivas, apreciações visuais, audições, práticas artísticas e jogos, o projeto resultou em mudanças de comportamento e atitudes dos estudantes. Posto em prática durante as aulas semanais de arte-educação, teve início com aula sobre o elemento linha. Após sondagem inicial sobre o que os estudantes conheciam como linha, a professora mostrou retas e curvas e repassou noções de espessura, com representações gráficas.

Fios — O segundo passo foi a identificação da linha no corpo humano, a partir de uma relação com os fios de cabelo. Os alunos observaram o cabelo dos colegas de sala e desenharam os fios próprios e dos familiares. A partir de fotos visualizadas em computador, identificaram e desenharam os diversos tipos de fios. A professora fez os alunos ouvirem a música Fuá, de Jana Figarella, e lerem as histórias infantis O Cabelo de Lelê, de Valeria Belém, e As Tranças de Bintou, de Sylviane A. Diouf. Isso para desenvolver temas sobre respeito à diversidade, conceito de beleza e origens africanas. Além de desenhos sobre elementos das histórias, os alunos confeccionaram, com massa de modelar, miniaturas de cabeças e seus penteados.

Em uma das aulas, as crianças fizeram penteados diversos, com uso de cremes, fivelas e outros adereços. Em outra, modelaram fios, ao gosto de cada uma, com papel crepom de cores variadas. “Esperamos que esse projeto deixe sementes e construa caminhos na vida das crianças”, salienta Márcia Maria, que pretende dar continuidade ao trabalho em 2014, pois entende que é um projeto não só para a escola, mas para a vida. Há 16 anos no magistério, ela tem licenciatura em educação artística e especialização em história das artes e das religiões. (Fátima Schenini)

Os projetos vencedores da 7ª edição do Prêmio Professores do Brasil estão no Portal do Professor.

Jogos e brincadeiras ajudam a descontrair ensino de matemática

Alunos expõem materiais do projeto

Ao perceber que seus alunos do quinto ano do ensino fundamental não tinham os conhecimentos básicos de matemática, não manifestavam interesse nas aulas e chegavam a apresentar reações de antipatia pela disciplina e até de medo, a professora Amanda Oliveira de Souza Araújo resolveu buscar uma metodologia capaz de modificar a situação. Ela criou, assim, o projeto Brincando de Matemática.

Com uma proposta de aulas mais atrativas, que procura integrar atividades lúdicas com o conteúdo proposto pela disciplina, o projeto foi um dos vencedores da sétima edição do prêmio Professores do Brasil, na categoria Temas Livres, subcategoria Séries ou Anos Iniciais do Ensino Fundamental. “O objetivo geral do projeto é dinamizar as aulas de matemática, de modo que os alunos participem ativamente e construam conhecimentos de forma lúdica e prazerosa”, explica Amanda, professora da Escola Estadual de Ensino Fundamental Alexandre de Gusmão, em Nova Brasilândia d’Oeste, Rondônia.

O projeto desperta a curiosidade dos estudantes por meio de jogos que estimulam a criatividade e a capacidade de resolver problemas. Além disso, como as atividades são desenvolvidas em grupo, os alunos podem trocar ideias e compartilhar o conhecimento.

Na visão da professora, os jogos e as brincadeiras são importantes no desenvolvimento das atividades de matemática. Entre as razões para isso, ela cita a possibilidade de se criar um ambiente alegre e descontraído, “essencial a uma proposta de aprendizagem significativa”. Os estímulos à interação, o desenvolvimento de atitudes éticas e de respeito, de criar e seguir as regras dos jogos e de colaboração são outras vantagens citadas.

De acordo com Amanda, os estudantes devem se tornar agentes ativos no processo de aprendizagem e vivenciar a construção de seus conhecimentos. Ela salienta que cabe ao professor, como orientador dos alunos, oferecer a oportunidade para que eles formem o hábito de pensar e criar as próprias estratégias, desenvolver o raciocínio, adquirir mais segurança e fazer redescobertas. As aulas devem ser práticas e interessantes para que o aluno possa se sentir motivado e desafiado a construir o conhecimento de maneira agradável. “As aulas precisam ter sabor, despertar a curiosidade e ter significado para o educando”, ressalta.

Recursos — Durante a execução do projeto foram usados recursos como ábaco, quebra-cabeça Tangram, bloco lógico, fita métrica, balança, computadores, jogos fabricados pelos alunos, palitos de picolé, embalagens de produtos e outros materiais reciclados. Tais recursos ajudaram os estudantes a apreender conteúdo relativo a medidas de tempo, massa, comprimento e capacidade, área e perímetro, sólidos geométricos, adição, multiplicação e subtração e frações equivalentes, próprias e impróprias. “O projeto proporcionou notável desenvolvimento dos alunos na aprendizagem e também no interesse pelas aulas”, destaca a professora.

Satisfeita com o crescimento educacional dos alunos e com a premiação recebida, Amanda sente-se valorizada. “Ter meu trabalho reconhecido pelo MEC foi maravilhoso”, diz. Graduada em pedagogia (séries iniciais), pós-graduada em psicopedagogia e com 15 anos de experiência em sala de aula, ela diz que o prêmio representa um marco em sua vida, pois permitiu que levasse a sala de aula para todo o Brasil. “Conquistei a confiança da comunidade escolar com meu trabalho e a valorização da minha escola”, destaca. (Fátima Schenini)

Trabalho escolar alerta comunidade sobre a preservação ambiental

Aluno planta muda de árvore

O projeto Minha Escola Sustentável garantiu à professora Shirlei dos Santos Catão, da Escola Municipal Francisco de Souza Bríglia, em Boa Vista, Roraima, um lugar entre os vencedores da sétima edição do Prêmio Professores do Brasil. O projeto foi premiado na categoria Temas Específicos, subcategoria Educação Integral e Integrada. O concurso é promovido pelo Ministério da Educação.

Desenvolvido no período de agosto a dezembro de 2012, o projeto foi criado para formar uma consciência crítica na comunidade escolar sobre problemas socioambientais a partir da busca por soluções concretas e coletivas. Estiveram envolvidos cerca de 600 alunos da escola, matriculados em turmas do primeiro ao quinto ano do ensino fundamental. “Todos participaram do projeto, mas o enfoque maior foi dado aos alunos do primeiro ao terceiro ano”, destaca Shirlei.

A professora revela que o projeto surgiu a partir de uma situação-problema — quais as consequências da falta de preservação ambiental? Um igarapé poluído, o Pricumã, próximo à escola, contribuiu para a escolha do tema.

Segundo a diretora da instituição, Adaíze de Rosas de Souza, o projeto colaborou para a conscientização de toda a comunidade sobre a necessidade de proteger os recursos naturais. “Foi um trabalho constante”, enfatiza. Adaíze explica que o trabalho contou com a participação dos pais. Durante a Gincana do Meio Ambiente, por exemplo, a mãe de um aluno conseguiu arrecadar 10 mil latas de alumínio. “O dinheiro obtido com a venda do material arrecadado possibilitou a compra de artigos para o desenvolvimento do projeto”, salienta a diretora.

Na gincana, promovida de 6 a 10 de agosto, houve atividades como cultivo de árvores para a arborização da escola, elaboração e recitação de poemas relacionados ao meio ambiente, confecção de brinquedos a partir de material reaproveitado e criação de cartões-postais, com sugestões de economia de água e de energia.

“A natureza é perfeita. O homem só precisava preservá-la”, diz Shirlei. “A ausência de ações resolutivas pode deixar para as futuras gerações uma herança de incertezas, transformando qualquer bom lugar para se viver num verdadeiro pesadelo.”

A professora, que tem licenciatura em pedagogia e em química e mestrado em ciências da educação, enfatiza a necessidade de conscientizar e sensibilizar a população para o problema. “Talvez ainda haja tempo para recuperarmos o que foi destruído.” (Fátima Schenini)

Projeto cultural transforma vida de estudantes no interior baiano

Integrantes do Projeto Afro Som

A premiação recebida na sétima edição do Prêmio Professores do Brasil representa, para o professor José Kleber Andrade Lopes de Jesus, muito mais do que um simples reconhecimento. A conquista obtida pelo projeto educativo-cultural Afro Som, na categoria Temas Livres, subcategoria Ensino Médio, representa, acima de tudo, vida.

“A premiação significa vida porque pode nos ajudar a dar continuidade a esse trabalho, que tem a participação de 40 jovens e já tirou muitos deles da droga”, explica José Kleber, professor no Colégio Estadual Edna Moreira Pinto Daltro, no município baiano de Capim Grosso. O trabalho é desenvolvido de forma voluntária, sem nenhuma ajuda financeira. O sonho do professor é de que a sociedade brasileira contribua para a continuidade da iniciativa. “Os jovens de Capim Grosso estão gritando por ajuda”, diz.

Professor de educação física no ensino fundamental e médio e músico autodidata, há mais de 15 anos no magistério, José Kleber deu início ao projeto em abril de 2012, durante as aulas, para ampliar o conhecimento sobre estilos de dança e de música afro, além de promover experiências e assegurar a formação cultural e humana dos alunos. O trabalho, interdisciplinar, envolve as áreas de educação física, artes e história.

A receptividade entre os estudantes levou ao crescimento do projeto e fez surgir uma banda, com instrumentos comprados pela própria escola, um grupo de balé e outro, de estudos, para desenvolver o conhecimento da temática afro e outros temas. Os encontros são realizados sempre fora do horário das aulas.

“Somos o barulho que pensa”, salienta o professor. “Para isso, estudamos juntos e refletimos sobre temas importantes, que possam dar fundamentação aos estudantes no desenvolvimento de seminários itinerantes, realizados antes das apresentações da banda e do balé.”

José Kleber pretende dar continuidade ao projeto e trabalhar com canto, dança, música, percussão, expressão corporal. As metas incluem a criação de várias escolas dentro da escola — uma de canto, uma de dança, uma de música. “Transformar a vida desses estudantes é uma vitória”, destaca.

“O projeto Afro Som lança um olhar crítico dialético com a intenção de abordar as questões que valorizam e compreendem a beleza e a diversidade da cultura afro-brasileira”, ressalta o professor. Sua intenção é a de contribuir para a disseminação e reflexão dessa cultura. (Fátima Schenini)

Confira o blogue da banda do projeto Afro Som

 

Trabalho de estudantes resgata tradições em cidade catarinense

Alunos participam de saída de campo

O município catarinense de Alfredo Wagner, na região da Grande Florianópolis, tornou-se conhecido depois de o projeto da professora Caroline Pereira ser escolhido como um dos ganhadores da sétima edição do Prêmio Professores do Brasil. Desenvolvido na Escola de Educação Básica Silva Jardim, o projeto Conhecendo Alfredo Wagner foi premiado na categoria Temas Específicos, subcategoria Educação Integral e Integrada. O trabalho consistiu no resgate histórico do município, de colonização alemã, constituído por cerca de 10 mil habitantes, em 49 comunidades.

O projeto foi iniciado em março deste ano, com alunos do segundo ano do ensino médio inovador, sistema que adota eixos para nortear o ensino. Nele, três dias por semana, os estudantes ficam na escola em período integral para participar de aulas e oficinas técnicas práticas. “Trabalhando com o eixo escola e comunidade, nasceu a ideia de explorar a cidade, resgatar sua história e relacionar o conteúdo de sala de aula com as saídas de campo”, explica Caroline, professora de informática e orientadora de tecnologia educacional.

De acordo com Caroline, é preciso resgatar as histórias do município. Elas estão ficando esquecidas ou morrendo com seus protagonistas. A professora considera fundamental fazer o registro histórico desse material para a propagação das tradições, culturas e costumes do povo. “Conhecer a cidade em que se vive é algo primordial para que se possa criar uma harmonia entre o passado e o futuro”, diz.

Por meio de visitas de campo, os estudantes tiveram a oportunidade de estudar a história das comunidades, a origem dos primeiros colonizadores e como era a vida em outras épocas. Em cada comunidade, professores e alunos foram recebidos por uma família local.

Interligação — Os alunos também observaram as belezas naturais da região, conheceram espécies animais e vegetais e estudaram os ecossistemas e o equilíbrio biológico. “Conhecer o lugar em que se vive é a melhor forma de entender o contexto social, bem como criar uma interligação entre espaço e indivíduo”, diz Caroline.

A constatação do potencial da cidade para o turismo rural levou à elaboração de um plano-piloto, com sugestões de viagens e formas de tornar a atividade sustentável, sem agredir a natureza. O plano foi apresentado pelos estudantes à prefeitura para estudo de viabilidade. Os alunos também produziram um vídeo, com imagens obtidas durante as saídas de campo, para divulgação do município.

As experiências de cada viagem, ressaltados os pontos positivos, foram anotadas em um diário de bordo. Os estudantes ainda redigiram as entrevistas realizadas nas comunidades. “Com base nelas e nas experiências vividas durante a visita, escrevemos a história da comunidade e suas peculiaridades”, revela a professora. O projeto propiciou o resgate histórico de 32 personalidades do município. Os nomes iam surgindo durante as entrevistas ou por sugestões dos moradores, no blogue da escola ou no de Caroline.

A professora tem bacharelado em sistemas de informação e licenciatura em informática e faz mestrado em educação, com ênfase em tecnologia educacional. Além dela, participaram do trabalho professores de língua portuguesa, artes, biologia, história, geografia, matemática, inglês e empreendedorismo. (Fátima Schenini)

Saiba mais nos blogues da EEB Silva Jardim e da professora Caroline Pereira

Podcast dá nova motivação a aulas de sociologia em Rondônia

Alunos ouvem podcast na sala de aula

Disposto a atrair o interesse dos alunos pelas aulas de sociologia, o professor Roniel Sampaio Silva desenvolveu, com eles, uma atividade considerada então diferente e inovadora. Surgiu assim o projeto Podcast – Café com Sociologia como Recurso Didático para (re) Encantar Educandos no Processo Ensino-Aprendizagem. O trabalho, com estudantes do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia, câmpus de Ariquemes, foi um dos vencedores da sétima edição do Prêmio Professores do Brasil, promovido pelo Ministério da Educação.

Arquivo de áudio, cujo armazenamento é feito na internet e pode ser baixado no computador, tablet ou celular, de forma automática, a cada nova edição, o podcast pode ser ouvido a qualquer hora e em qualquer lugar.

Aplicado desde março de 2013, como atividade de ensino, o Podcast Café com Sociologia era transmitido na sala de aula. Os programas, com duração aproximada de 20 minutos, continham conceitos, temas e categorias da sociologia, intercalados com músicas e poemas, de forma descontraída. A novidade obteve sucesso imediato entre os estudantes. “O entusiasmo foi tanto que alguns alunos quiseram desenvolver seus próprios podcasts, e pediram ajuda para isso”, revela Roniel.

Um dos principais resultados foi a redução da rejeição a “ouvir falar de sociologia”. De acordo com o professor, houve mais motivação dos estudantes em relação às aulas e melhor rendimento escolar na disciplina. Foi constatado também o aumento no interesse pelos assuntos da “agenda da sociologia”.

A iniciativa do projeto surgiu fora da escola, a partir da parceria que Roniel desenvolve, desde 2012, com Cristiano Bodart, criador do blogue Café com Sociologia e editor-chefe da revista eletrônica Café com Sociologia. Eles participam da construção do roteiro dos podcasts. Enquanto a narração é feita por Cristiano, a montagem e a edição dos programas cabem a Roniel, com o software livre Audacity. “Realizada a montagem, o arquivo é salvo em formato mp3 e posto à disposição no blogue, em outros sites específicos para podcasts, como o www.brasilpodcast.com, e no iTunes”, explica Roniel. Isso permite que os telefones celulares dos alunos e de outros professores, previamente cadastrados, baixem automaticamente o novo programa.

“Queremos multiplicar nossas ideias, dar uma dimensão cada vez maior aos nossos trabalhos”, adianta Roniel. Professor há pouco mais de um ano, com bacharelado e licenciatura em ciências sociais, e aluno de mestrado em educação na Universidade Federal de Rondônia (Unir), ele comemora a premiação recebida. “É muito bom ter o trabalho reconhecido”, destaca. O projeto foi incluído entre os cinco premiados na categoria Temas Específicos, subcategoria Educação Digital. (Fátima Schenini)

Saiba mais sobre o Prêmio Professores do Brasil

Os projetos vencedores da 7ª edição do Prêmio Professores do Brasil estão no Portal do Professor.

Para professora fluminense, nada é mais importante do que a educação

Professora Cilene Maria Cavalcanti Revelles

Há 23 anos no magistério, Cilene Maria Ebeneser Cavalcanti Revelles, de Queimados (RJ), guarda recordações de seu trabalho como professora. Com bacharelado e licenciatura em pedagogia e mestrado em educação, ela tem grande experiência como alfabetizadora, tanto no ensino fundamental quanto na educação de jovens adultos (EJA).

“É simplesmente maravilhoso um aluno, em qualquer idade, chegar até você e afirmar que está lendo”, destaca. Ela lembra, com carinho, de alguns dos inúmeros estudantes que passaram em sua vida: “Alfabetizei uma senhora de 70 anos, uma aluna com síndrome de Down e ajudei uma aluna surda no início do processo de alfabetização.”

Entusiasmada com a profissão, ela acredita que educar é amar. “Não existe nada mais importante do que a educação”, afirma.

Cilene Maria trabalha como implementadora de leitura na Escola Municipal Professor Washington Manoel de Souza. Em 2013, com a professora Nacyr Monzato Barcelos Peres, ela desenvolveu um trabalho para estimular a leitura na escola. O projeto Resgatando a Cultura: Lendo, Imaginando e Vivendo, beneficiou estudantes do segundo ao nono ano do ensino fundamental. A iniciativa contou com o subprojeto Viajando com Vinícius.

Segundo Cilene, é necessário que a escola resgate o valor da leitura como ato de prazer e requisito para emancipação social e promoção da cidadania. Em sua visão, a escola tem o dever de propiciar aos estudantes momentos que contribuam para despertar o gosto pela leitura, o amor ao livro, a consciência da importância do hábito de ler. “O aluno deve perceber que a leitura é o instrumento-chave para alcançar as competências necessárias a uma vida de qualidade, produtiva e com realizações”, defende. (Fátima Schenini)

Giseli Barreto da Cruz (UFRJ): "Projetos favorecem aprendizagem de toda a comunidade escolar"

Profa. Giseli Barreto da Cruz

Professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do programa de pós-graduação em educação da mesma instituição, Giseli Barreto da Cruz acredita que a ideia central do trabalho com projetos é propiciar uma aprendizagem significativa, de forma “relacional e dialogada” entre as disciplinas e os conhecimentos escolares por elas trabalhados. Isso permite que a aprendizagem ocorra de forma global, via conexão e transformação dos conhecimentos prévios, na troca de experiências e no movimento ativo e significativo da pesquisa.

Para a professora, que coordena o curso de pedagogia e o Grupo de Estudos e Pesquisas em Didática e Formação de Professores (Geped) da UFRJ, o principal benefício dos projetos educacionais está na forma de organização do currículo, que favorece não só a aprendizagem dos alunos, como também dos professores e demais participantes da comunidade escolar.

Graduada em pedagogia, com mestrado e doutorado em educação, Giseli tem experiência na educação básica, com atuação nas funções de professora e de pedagoga em redes públicas de ensino.

Jornal do ProfessorDesde que o Prêmio Professores do Brasil foi criado, em 2005, o MEC distingue projetos pedagógicos desenvolvidos em escolas da educação básica pública de todo o país. Qual a importância de os professores trabalharem com projetos? Quais os principais benefícios dessa metodologia na aprendizagem dos alunos?

Giseli Barreto da Cruz — Os projetos permitem organizar o currículo de maneira tal que as atividades não se prendam a uma visão de disciplinas escolares rígidas, com conhecimentos separados e fragmentados. A ideia central do trabalho com projetos é propiciar uma aprendizagem significativa, de forma relacional e dialogada entre as disciplinas e os conhecimentos escolares por elas trabalhados, com base nos questionamentos e problemáticas de interesse dos alunos, de modo que os temas sejam discutidos de forma mais ampla, articulada e coesa. Assim, a aprendizagem ocorre de forma global, através da conexão e da transformação dos conhecimentos prévios, na troca de experiências e no movimento ativo e significativo da pesquisa. O principal benefício do projeto reside na forma de se organizar o currículo, que favorece não só a aprendizagem dos alunos como também dos professores e demais participantes da comunidade escolar, visto que o tempo e o espaço não são tratados de maneira fixa, cristalizada. E também porque o processo é considerado, não somente o produto final da aprendizagem.

Há ainda outros benefícios para a aprendizagem dos alunos, dentre os quais o estímulo à autonomia, assim como o desenvolvimento da capacidade investigativa; o trabalho de parceria, marcado pela cooperação e colaboração, e a possibilidade de registros, de documentação dos processos de aprendizagem realizados durante o trabalho. Enfim, a relação entre professores e alunos em torno do conhecimento escolar em um contexto situado fica ainda mais potente quando a mediação do ensino e da aprendizagem se dá pela via dos projetos de trabalho.

Os projetos oferecem contribuições aos professores? Quais as mais importantes?

— O trabalho com projetos proporciona uma mudança na concepção do trabalho docente. Possibilita que o professor saia do lugar de transmissor de conhecimento e se coloque como pesquisador, sendo ele também responsável pela busca de novos conhecimentos e informações, ao estimular a curiosidade e a criatividade dos alunos e ao compreender que os alunos não estão ali em sala para receber passivamente informações referentes aos conteúdos trabalhados.

Quais os pontos que não podem faltar em um projeto?

— Costumo considerar como base a proposta de Fernando Hernández (1996), mais a minha própria experiência de trabalho. Assim, de um modo geral, não podem faltar:

• A escolha do tema pelos alunos, sob a mediação do professor, a partir de discussão investida do ponto de vista da argumentação, da negociação e da participação na tomada de decisão

• A busca de fontes de informação sobre o tema. Essa fase, de caráter mais exploratório, possibilita o planejamento das etapas do projeto, tanto pelos alunos quanto pelos professores

• O planejamento dos professores envolvidos para captar, da proposta curricular, dos livros didáticos e das fontes de informação elencadas, o conteúdo que pode ser trabalhado durante o projeto e estabelecer o fio condutor entre eles a partir do tema escolhido.

• O planejamento dos alunos, em forma de índice. Um índice individual aponta o que o aluno quer aprender durante o projeto, as atividades que podem ser desenvolvidas, as fontes de busca das informações e o tempo estimado. Um índice grupal, consolidado a partir do índice individual (a classe pode ter quantos grupos os professores considerarem necessários, assim como pode ter um único índice grupal, orientador das atividades de todos), será o ponto de partida para desenvolvimento das atividades propriamente ditas, mediante aval dos professores

• Implementação das atividades propostas no índice grupal

• Avaliação inicial, processual e final

• Organização do índice final pelos alunos para sinalizar os conhecimentos adquiridos com o projeto

• Montagem de dossiê, a partir do índice final, para evidenciar as aprendizagens realizadas. O dossiê pode conter diferentes linguagens e ser expresso de diversas maneiras: relatório, vídeo, portfólio, teatro, jornal mural etc.

As instituições de educação superior preparam os futuros professores para trabalhar com projetos?

— Não tenho dados de pesquisa para responder fundamentadamente. Todavia, considerando minha experiência como professora formadora de professores, as organizações curriculares de cursos de licenciatura que conheço e o que ouço de estudantes, futuros professores e dos próprios professores da educação básica, o que se tem investido na formação inicial no tocante a projetos ainda é pouco.

Os formadores, diante dos limites de carga horária e da demanda de investimentos de formação, veem-se diante da necessidade de dar prioridade a eixos de estudo. Nesse processo, o conhecimento didático ocupa papel de menos relevância. Assim a formação de professores fica empobrecida ainda mais. É notório o quadro de precarização da formação e atuação de professores. Podemos observar isso em várias pesquisas que tratam do assunto (Gatti, 2010; Garcia & Vaillant, 2009). Se os cursos de licenciatura não possibilitarem aos futuros professores uma formação consistente e sólida em relação à prática pedagógica por meio de trabalhos com projetos, esses profissionais desenvolverão, ao assumir a prática docente nas escolas, aquilo que pensam ser projeto, não o que efetivamente pode ser. Contribuirão assim para perpetuar uma ideia equivocada sobre o tema.

Acesse a página do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Didática e Formação de Professores (Leped) da UFRJ

Referências

GATTI, Bernardete Angelina. Formação de professores no Brasil: características e problemas. Educação e Sociedade. Campinas: Cedes, v. 31, n. 113, p. 1355-1379, out.-dez. 2010.

MARCELO GARCIA, Carlos; VAILLANT, Denise. Desarrollo profesional docente: como se aprende a enseñar? Madrid: Narcea, 2009.