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JORNAL

Folclore na Escola

Quinta-feira, 23 de Janeiro de 2014

Edição 97

EDITORIAL - Folclore na Escola

Na 97ª edição do Jornal do Professor, que tem como tema Folclore na Escola, trazemos até vocês experiências desenvolvidas por professores dos municípios de Presidente Médici, em Rondônia; Bom Retiro do Sul, no Rio Grande do Sul; e de Cocal do Sul e Içara, em Santa Catarina.

As professoras Lauriana Gonçalves de Paiva-Gutierrez e Liliana Mendes, de Juiz de Fora, Minas Gerais, estão na seção Espaço do Professor. Elas integram o grupo de vencedores da 7ª edição do Prêmio Professores do Brasil.

Nossa entrevistada é a museóloga Elizabeth Bittencourt Paiva Pougy, Chefe do Museu de Folclore Edison Carneiro, no Rio de Janeiro (RJ).

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

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Tema deve ser desenvolvido com os alunos ao longo do ano, diz professora

Crianças junto ao quadro mural

Professora na Escola Estadual Carlos Drummond de Andrade, em Presidente Médici (RO), Lucimara Lopes França considera importante que o folclore seja um tema trabalhado com os estudantes durante todo o ano letivo. Para a professora, que está há 19 anos no magistério, o folclore é um dos principais fatores para a identificação de um povo. “Quando os estudantes são convidados a conhecer um pouco mais da história do seu país por meio do folclore têm a oportunidade de compreender o povo e, assim, fazer parte de sua história”, analisa.

Segundo a professora, lendas, cantigas, ditados populares e trava-línguas (espécie de jogo verbal, que consiste em dizer, com clareza e rapidez, versos ou frases com grande concentração de sílabas difíceis de pronunciar, ou de sílabas formadas com os mesmos sons, mas em ordem diferente) são algumas das formas usadas por povos antigos para compreender o mundo. "Eles usavam a imaginação para resolver os mistérios da natureza e entender as dificuldades da vida e seus próprios temores", diz.

Pedagoga, com pós-graduação em psicopedagogia institucional e especialização em mídias na educação, Lucimara foi uma das vencedoras da edição de 2012 do Prêmio Professores do Brasil, com o projeto Gêneros Textuais: Manifestações da Cultura Popular, dentro do tema Folclore Brasileiro. O projeto foi desenvolvido em uma turma do segundo ano do ensino fundamental, composta por 22 alunos de 7 a 9 anos de idade. Dividido em dez etapas, envolveu as disciplinas de língua portuguesa e história, proporcionou o contato com diferentes gêneros textuais e estimulou o uso de mídias na sala de aula. À medida que novos conteúdos eram estudados, passavam a fazer parte de um mural, o que contribuiu para sistematizar o conhecimento. As atividades desenvolvidas eram postadas no blogue da turma.

Ao elaborar o projeto, Lucimara buscou valorizar a linguagem oral e escrita da cultura popular, com o uso de diferentes formas de mídia. Os alunos tiveram a oportunidade de ler sobre mitos e lendas e conhecer personagens como Saci-Pererê, Mula-sem-Cabeça, Curupira, Iara, Boitatá e Negrinho do Pastoreio. Também aprenderam sobre danças e brincadeiras folclóricas. No laboratório de informática da escola, participaram de jogos, quebra-cabeças e palavras cruzadas on-line e assistiram a vídeos sobre parlendas, cantigas de roda e trava-línguas.

Uma das atividades mais apreciadas pelos alunos foi a apresentação de cantigas de roda, que eles próprios fizeram. A atuação de cada grupo foi gravada em vídeo pela professora e postada no blogue.

De acordo com Lucimara, durante a execução do projeto, os estudantes tiveram a oportunidade de aprender que o computador é uma ferramenta para a aprendizagem. Ele serve tanto para a diversão quanto como fonte de pesquisa. "Os estudantes perceberam que ao sentir dificuldade com algum conteúdo podem usar esse recurso e avançar na aprendizagem", salienta.

Em 2013, a professora apresentou aos alunos a obra de Monteiro Lobato [1882-1948], com leitura compartilhada e estudos da biografia do autor. As disciplinas envolvidas foram língua portuguesa, história e artes. "Busquei atividades sobre parlendas, trava-línguas, cantigas de roda e ditados populares", revela. (Fátima Schenini)

Acesse o blog da turma

Dança e canto envolvem alunos e comunidade no interior de SC

Alunos durante apresentação de Boi de Mamão

No pequeno município catarinense de Cocal do Sul, eventos promovidos pelas escolas em épocas de festas juninas e julinas e na Semana do Folclore, em agosto, são aguardados com ansiedade pela comunidade. “As crianças gostam das festividades e impulsionam os pais para que participem”, analisa o professor Rodrigo Cardoso, que leciona em três escolas do município.

“O que mais chama a atenção é o envolvimento dos alunos nesses eventos culturais”, diz o professor. “Notamos o orgulho de cada um nas apresentações e nos ensaios.”

Professor de artes no Colégio Cocal e de musicalização nas escolas municipais de ensino fundamental Cristo Rei e Demétrio Bettiol, Rodrigo trabalha com diversos temas, mas o que mais o emociona é o Boi de Mamão, manifestação folclórica típica de Santa Catarina, que envolve dança e cantoria. Ele coordena o grupo do Boi na escola Demétrio Bettiol. Além de cuidar da parte musical, ajuda na confecção dos personagens.

Toda a escola, porém, é mobilizada a ajudar na parte de figurinos e manutenção. Os estudantes participam da cantoria, tocam instrumentos, pintam os bichos e ajudam na costura, colagem e acabamentos.

Para as apresentações, têm prioridade os alunos das turmas do nono ano, por serem maiores. “Há mais facilidade, se houver necessidade de participação em turno diferente”, explica. O grupo é convidado, com frequência, a fazer apresentações em outras escolas e instituições e já se apresentou em municípios vizinhos. Em 2013, foi produzido um vídeo sobre o trabalho.

Rodrigo atua no magistério há 14 anos. Nas aulas, ele procura sempre estimular a troca de experiências com os alunos. “Possibilito que eles tragam instrumentos musicais que tocam e trago os que eu toco”, diz. “Confeccionamos instrumentos, aprendemos cantorias.”

O professor também usa recursos de vídeo e de áudio. “Não utilizo músicas que contenham conteúdo inapropriado ou façam algum tipo de apologia nociva à saúde mental e física dos alunos”, enfatiza Rodrigo, que tem graduação em artes e pós-graduação em metodologia do ensino da música. (Fátima Schenini)

Acesse o blogue da EMEF Demétrio Bettiol

 

Cultura popular é rotina em escola do interior catarinense

Crianças fantasiadas participam de apresentação

Na Escola Municipal de Educação Fundamental Quintino Rizzieri, em Içara, sul de Santa Catarina, trabalhos sobre folclore são rotineiros para os mais de 800 alunos. A diretora da instituição, Jaqueline dos Santos, considera o folclore importante para resgatar a cultura do povo e excelente meio de transmissão de conhecimento. Para ela, que está há 27 anos no magistério, o fato de a cultura catarinense apresentar tanta diversidade contribui para que os estudantes venham a ser cidadãos que conheçam e saibam conviver com as diferenças.

Em 2013, ano em que Içara foi sede da 20ª edição da Festa da Cultura Açoriana de Santa Catarina (Açor), os professores desenvolveram temas ligados a essa cultura, como o folguedo do Boi de Mamão, a Festa do Divino Espírito Santo, artesanatos, lendas e brincadeiras infantis. Uma das atividades foi a realização de evento que incluiu palestra da escritora local Iêde Cardoso dos Santos sobre o livro O Bicho-Papão Não é Mais Aquele. “Várias apresentações marcaram o dia em homenagem à escritora, valorizando a cultura de um povo passada de geração em geração”, ressalta Jaqueline, que tem graduação em educação física e pós-graduação em atividade física e saúde.

As crianças apresentaram paródias com personagens do folclore, músicas e coreografias de incentivo à leitura e participaram de exposições de bichos-papões confeccionados com materiais reutilizados. Também prepararam perguntas para a autora. “Foi um bate-papo ótimo”, diz a professora de língua portuguesa Elenice Alvim de Oliveira. Ela explica que o trabalho de preparação foi realizado com outros professores, com antecedência. Assim, a professora de artes Gabriela Fernandes contou a história para os alunos, com a ajuda de um aparelho Data Show. Gabriela colaborou, ainda, com a montagem de um mural, com as crianças, sobre como imaginavam ser o bicho-papão e ajudou na encenação de peça de teatro sobre o livro.

Leitura — Segundo Elenice, o bicho-papão também aparece no Boi de Mamão, manifestação folclórica típica de Santa Catarina, por meio do personagem Bernúncia, animal que engole crianças malcriadas. “Tivemos como partir desse mesmo personagem para trabalhar a questão da cultura açoriana”, diz a professora. Ela acredita que o trabalho teve resultado excelente. “Percebi que as crianças compreenderam o que era um autor e tomaram gosto pela leitura”, destaca. “Foi uma fase em que a leitura deu um salto de qualidade na sala de alfabetização porque despertou o interesse.”

Elenice observou, além disso, que o tema folclore desperta a atenção das crianças e contagia a turma. “Eles entram em contato com a cultura, pesquisam, reúnem informações presentes em seu cotidiano e aprofundam os conhecimentos referentes a elementos históricos que desconheciam”, analisa. Graduada em pedagogia, ela tem especialização em psicopedagogia e em gestão, supervisão e orientação escolar. Está no magistério há nove anos.

De acordo com a professora Gabriela, os alunos recebem o tema folclore com muito interesse, curiosidade e participação, por serem assuntos do cotidiano. “O resgate do folclore é muito importante, pois faz parte da identidade do povo. Quem não conhece a própria história tem uma experiência de vida limitada”, afirma.

Gabriela levou para a sala de aula imagens de obras de artistas que abordam, de alguma maneira, o folclore popular. Entre eles, o catarinense Willy Zumblick, que retrata o folclore do estado inspirado na cultura açoriana. Os alunos fizeram a releitura das obras com desenhos, pinturas e colagens. Também produziram máscaras com os personagens do Boi de Mamão e confeccionaram animais com argila e papel higiênico. Há dois anos no magistério, Gabriela tem licenciatura em artes visuais e cursa especialização em arte-educação. (Fátima Schenini)

Acesse o blogue da EMEF Quintino Rizzieri

Trabalho com lendas e mistérios oferece estímulo à aprendizagem

A Escola Municipal de Ensino Fundamental Isabel Luíza Bittencourt, no município gaúcho de Bom Retiro do Sul, tem o tema folclore incluído no currículo. É uma forma de atrair a atenção dos alunos para uma aprendizagem significativa. “O assunto é permeado de curiosidade e mistério, que atraem o interesse dos alunos da educação infantil e anos iniciais”, justifica a diretora da instituição, Jussara Maria Ribeiro.

Em agosto de 2013, projeto pedagógico desenvolvido por três professoras dos primeiros anos do ensino fundamental chamou a atenção da comunidade. Rosimeri Fröhlich, Eliane Girelli e Clenir da Silva decidiram levar aos alunos o conhecimento das mais diversas manifestações do folclore brasileiro. O projeto teve como tema a descoberta e a valorização das diferentes culturas do Brasil e envolveu conteúdos de matemática, linguagem e ciências naturais e humanas.

O trabalho, que incluiu atividades como narração de lendas e histórias e redescobriu brincadeiras e jogos, acabou por envolver as famílias dos estudantes. Por fim, foi realizado um desfile com personagens populares do folclore brasileiro. Mais de 50 estudantes representaram personagens de lendas, como Cuca, Saci, Iara e Negrinho do Pastoreio, confeccionados pelos familiares. Após o desfile, foram escolhidas as melhores representações. “De mais positivo, pode-se citar o envolvimento das famílias e o prazer das crianças em relatar a parceria com pais, irmãos, padrinhos e vizinhos para a confecção dos bonecos”, destaca Eliane.

A professora Clenir também destacou o envolvimento das famílias e da comunidade escolar nas atividades, além da aprendizagem proporcionada. “Foi possível trabalhar os mais diversos conteúdos de todas as disciplinas do currículo”, ressalta.

A repercussão em outros ambientes, como a secretaria de Educação e demais escolas do município, que puderam apreciar uma exposição sobre o projeto no centro administrativo, foi enfatizada pela professora Rosimeri. “O evento teve muito valor para as crianças que participaram e se motivaram para outras realizações parecidas”, avalia a pedagoga, com experiência de 12 anos no magistério.

De acordo com Eliane, o projeto começou como uma das atividades do curso de formação do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic), do Ministério da Educação, do qual as três professoras participavam na época, mas logo tomou proporções e acabou por envolver outras turmas da escola. “O tema folclore é visto de forma muito prazerosa pelos alunos”, diz. “Além disso, aguça a curiosidade e incentiva a aprendizagem de diferentes conteúdos.” Pedagoga com pós-graduação em psicopedagogia, Eliane está no magistério há 10 anos.

Também há dez anos no magistério, Clenir procura trabalhar o tema folclore com um foco diferente a cada ano. “É um tema que atrai a atenção dos alunos em todas as faixas etárias”, constata a professora, que tem formação em magistério. Segundo ela, a grande maioria dos estudantes ainda escuta de seus familiares histórias e lendas passadas de geração em geração e se diverte com brincadeiras e jogos de tempos atrás. (Fátima Schenini)

Acesse o blogue da EMEF Isabel Luíza Bittencourt

Professoras mineiras criam biblioteca virtual infantil

Premiadas na sétima edição do Prêmio Professores do Brasil pelo projeto Desenvolvimento de uma biblioteca virtual infantil a partir da construção/produção de textos produzidos por crianças no processo de escolarização, Lauriana Gonçalves de Paiva-Gutierrez e Liliana Mendes estão muito felizes.

Elas desenvolveram a experiência em três turmas de terceiro ano do ensino fundamental no Colégio de Aplicação João XXIII, escola pública vinculada à Universidade Federal de Juiz de Fora, onde lecionam língua portuguesa. O projeto foi premiado na categoria Temas Específicos, subcategoria Educação Digital Articulada ao Desenvolvimento do Currículo.

A proposta pedagógica que desenvolveram visa ao uso social da leitura e da escrita, de forma articulada ao potencial multimídia das tecnologias educacionais. O produto final foi a construção de uma biblioteca virtual infantil com um acervo composto por textos construídos por crianças em processo de escolarização. Um total de 60 livros escritos pelos alunos faz parte desse acervo, disponível, gratuitamente, no endereço http://www.ufjf.br/bibliotecavirtualinfantil/.

"Quando desenvolvemos uma experiência pedagógica em sala de aula, em muitos momentos não temos a dimensão macro do trabalho", diz Lauriana. "O prêmio nos deu um pouco dessa dimensão, afinal concorremos com muitas experiências pedagógicas de grande qualidade em todo país", analisa a professora, há dez anos no magistério. Bacharel em educação e licenciada em pedagogia, tem mestrado e doutorado em educação. Ela acredita que o trabalho que desenvolveram poderá inspirar novos olhares e possibilidades a inúmeros educadores de todo o país.

"Estamos desenvolvendo novas práticas e abordagens teórico-metodológicas, pensando as potencialidades do trabalho pedagógico com os gêneros digitais a partir da produção textual pelas crianças em processo de alfabetização, a fim de torná-los alunos-autores", diz Liliana. "O prêmio, de alguma forma, nos mostra que estamos desbravando um caminho possível", avalia a pedagoga com mestrado em educação, que está há 22 anos no magistério.

Segundo as professoras, a biblioteca virtual infantil é hoje um projeto em construção permanente, desenvolvido para incentivar os alunos à leitura, em especial aqueles que ainda não criaram e enraizaram o hábito de ler. Elas explicam que essa biblioteca, "além de disponibilizar livros de diversos assuntos, permite que os alunos interajam entre si e suas próprias histórias na construção dos textos."

Elas ainda criaram um espaço para que os leitores encaminhem seus próprios textos, tornando-se também autores, o que possibilita a multiplicação da experiência. As professoras contam que o projeto foi amplamente socializado na região de Juiz de Fora e elas têm obtido relatos de professores que utilizam os livros da biblioteca virtual infantil com seus alunos.

O Prêmio Professores do Brasil foi criado em 2005 pelo Ministério da Educação a fim de reconhecer o mérito de professores das redes públicas de ensino pela contribuição dada para a melhoria da qualidade da educação básica, por meio de experiências pedagógicas bem-sucedidas, criativas e inovadoras. (Fátima Schenini)

Os projetos vencedores da 7ª edição do Prêmio Professores do Brasil estão no Portal do Professor.

Elizabeth Bittencourt Paiva Pougy: "Relacionar saberes com as disciplinas pode dar mais sentido à pesquisa e ao estudo"

A chefe do Museu de Folclore Edison Carneiro, do Rio de Janeiro, Elizabeth Bittencourt Paiva Pougy, acredita que trabalhar temas relacionados ao folclore na escola possibilita a aproximação entre as experiências de vida dos estudantes e o conteúdo escolar. “Relacionar saberes e fazeres cotidianos com as diferentes disciplinas didáticas pode dar mais sentido à pesquisa e ao estudo”, defende.

Na visão de Elizabeth, a prática de desafiar o estudante a pesquisar as manifestações culturais em sua própria comunidade pode gerar um processo de construção de identidade e mais interesse em investigar, participar e aprender. Além disso, segundo a museóloga, o aluno pode relacionar a cultura local a outras e, assim, perceber a natureza dinâmica da cultura em permanente construção e transformação.

O Museu de Folclore integra o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Jornal do ProfessorQual a importância de se trabalhar com o folclore na escola?

Elizabeth Bittencourt Paiva Pougy — O folclore e a cultura popular estão presentes em nosso dia a dia. A importância de se trabalhar com esse conteúdo na escola é justamente a possibilidade de aproximar o conhecimento que os estudantes trazem de suas experiências de vida do conteúdo escolar. Relacionar saberes e fazeres cotidianos com as diferentes disciplinas didáticas pode dar mais sentido à pesquisa e ao estudo.

Como a escola deve tratar o conteúdo de folclore? É necessário dar ênfase ao folclore local e ao regional?

— Se o estudante é desafiado a pesquisar as manifestações culturais em sua própria comunidade, essa prática pode gerar um reconhecimento dos sujeitos sociais envolvidos, um processo de construção identitária (sic), maior interesse em investigar, participar e aprender, além de poder relacionar a cultura local a outras e perceber a natureza dinâmica da cultura que está em permanente construção e transformação. Quanto à questão do regional, para uma escola do Sudeste, por exemplo, faz mais sentido trabalhar a cultura nordestina, tomando por referência os movimentos migratórios, as dificuldades de adaptação decorrentes do preconceito e as influências que os nordestinos exercem sobre outros brasileiros com os quais se relacionam.

Quais as áreas englobadas pelo folclore? E quais disciplinas podem se beneficiar com conteúdos relacionados ao folclore?

— Quando falamos sobre folclore e cultura popular, estamos nos referindo não apenas às manifestações festivas e às tradições orais e religiosas de diferentes grupos sociais brasileiros, mas ao conjunto de suas criações, à maneira como se organizam e se expressam, aos significados e valores que atribuem ao que fazem, aos diferentes modos de trabalhar, aos jeitos de falar, aos tipos de música que criam, às misturas que fazem na religião, na culinária, na brincadeira. Muitas são as disciplinas que podem dialogar com o conteúdo cultural de toda a comunidade escolar. Geografia, ciências, literatura, história e as diferentes áreas da educação artística são algumas das que certamente se beneficiam com o conteúdo cultural dos sujeitos envolvidos no processo dialógico de ensino e aprendizagem no contexto escolar.

Há exemplos de atividades que podem ser desenvolvidas em aulas que tratem de conteúdo relacionado a folclore?

— Professores e estudantes podem investir em projetos de pesquisa sobre brinquedos e brincadeiras; sobre as trocas culturais e conflitos decorrentes dos processos migratórios em territórios brasileiros; sobre os processos de produção das festas coletivas, com ênfase naquelas que ocorrem em sua própria comunidade; sobre os diferentes ofícios de ambulantes e sua relação com profissões oficialmente reconhecidas. Ou seja, atualizando o enfoque desses estudos na escola, educadores estarão desconstruindo a tendência, que em algumas escolas ainda persiste, de associar o folclore ao passado, ao rural, ao anônimo, recontando todos os anos as lendas de saci, curupira e mula-sem-cabeça, circunscrevendo o entendimento de conteúdos culturais muito mais ricos e próximos dos educadores e estudantes a um campo restrito e distante.

Quais os benefícios que o ensino de assuntos relativos a folclore pode proporcionar aos estudantes?

— Um dos maiores benefícios é justamente dar sentido ao estudo e à pesquisa escolar, na medida em que relaciona conteúdo empírico e teórico numa perspectiva dialógica, que é como entendemos a educação. A aproximação de conteúdo das culturas populares, quando se dá a partir da investigação dos repertórios culturais que estão próximos da vida dos alunos, da comunidade escolar, do bairro e da cidade onde esse grupo se insere, permite que os sujeitos se vejam como pertencentes a contextos complexos, em que diferentes expressões culturais estão relacionadas. Essas práticas permitem enxergar o outro como um sujeito também inserido em contextos complexos, em vez de imaginar que os nordestinos se vestem como vaqueiros, como baianas ou que brincam o bumba-meu-boi todos os dias.

O que o Museu do Folclore tem a oferecer a estudantes, professores e à comunidade em geral?

— O museu faz parte do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular. Além do museu, o centro tem ainda o setor de pesquisa, a Biblioteca Amadeu Amaral e o setor de difusão cultural, onde funciona o programa educativo. A biblioteca está aberta ao público de terça a sexta-feira, entre 10 horas e 17h30. O acervo é especializado em folclore e cultura popular. É possível ainda agendar visitas para conhecer o acervo sonoro-visual da instituição. Além da exposição de longa duração, o centro realiza exposições temporárias na Sala do Artista Popular e na Galeria Mestre Vitalino, com produção de catálogos para cada uma delas. Anualmente, é realizado um curso livre de folclore, geralmente no mês de julho. O centro presta assessoria ao professor e a outras instituições na construção de projetos específicos, promove visitas preparatórias ao museu para professores e empresta projetos itinerantes para instituições escolares e culturais para enriquecer a pesquisa dos usuários. Recentemente, foi preparada a publicação Professor, para distribuição gratuita, na qual estão reunidos textos de vários especialistas na área do folclore e da cultura popular que nos ajudam a pensar sobre como trabalhar com esse campo de estudos na escola. Outra maneira de acesso a parte de nosso acervo é a internet, na página www.cnfcp.gov.br.

O que são projetos itinerantes? Como as escolas podem participar?

— Pensando na dificuldade de acesso, que muitas vezes impede estudantes de conhecerem os espaços do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, foram criados três projetos itinerantes para que o público tenha contato especial com parte do acervo e do conhecimento ali produzido. Os projetos De Mala e Cuia, Olhando em Volta e Fazendo Fita podem ser emprestados por um período de 40 dias. Atendem majoritariamente ao público escolar do ensino fundamental e médio, mas também podem ser emprestados a instituições culturais que desenvolvam ações educativas. Para ter acesso ao empréstimo de um dos projetos é imprescindível a participação na reunião de apresentação dos projetos itinerantes. São encontros mensais, previamente agendados, em que, além de informações sobre o conteúdo e o perfil de cada um, são discutidos diversos aspectos da relação entre educação, folclore e cultura popular, de modo que os educadores interessados possam preparar seu uso nas instituições em que atuam.

Mais informações sobre o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular no endereço eletrônico educacao.cnfcp@iphan.gov.br, pelos telefones 2285-0441 e 2285-0891, ramais 204 ou 206 e no endereço: Rua do Catete, 179, Glória. CEP 22220-001, Rio de Janeiro, RJ.

Acesse a página do Museu do Folclore na internet