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JORNAL

Aulas no Exterior

Sexta-feira, 21 de Fevereiro de 2014

Edição 98

EDITORIAL - Aulas no Exterior

Para a edição nº 98 do Jornal do Professor, voltada ao tema Aulas no Exterior, optamos por apresentar experiências de professores da educação básica que participaram de programas de aperfeiçoamento oferecidos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Ministério da Educação.

Mostramos as vivências de professores de variados estados brasileiros e de diferentes disciplinas que participaram de cursos de qualificação na Alemanha, Áustria, França, Inglaterra, Portugal, Suíça e Estados Unidos. Apresentamos, também, a experiência de um professor que participou de um programa voltado para o ensino da língua portuguesa no Timor-Leste.

Salientamos que os professores selecionados para esta edição representam apenas uma pequena amostra dos profissionais já beneficiados pelos programas da Capes, principalmente nas áreas de educação superior e de pós-graduação, ao longo de seus mais de 60 anos.

Nossa entrevistada é a Titular da Diretoria de Formação de Professores da Educação Básica (DEB) da Capes, Carmen Moreira de Castro Neves. Na seção Espaço do Professor, temos a participação do professor Cleiton Marino Santana, da Escola Municipal Jardim das Palmeiras, em Campo Novo do Parecis (MT), um dos vencedores da 7ª edição do Prêmio Professores do Brasil.

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

Professor nordestino diz ter nova visão do mundo após aulas no exterior

Prof. Everaldo Freire e alunos no campus da UTPA

Participante de dois programas para professores de português no exterior, Everaldo Freire teve a oportunidade de estudar, adquirir novos conhecimentos e também lecionar. Em Timor Leste, ele participou do Programa de Qualificação de Docentes e Ensino de Língua Portuguesa. Nos Estados Unidos, do Programa Professor Assistente de Língua Portuguesa (FLTA).

“Reaprendi a enxergar o mundo por diversos prismas, sem perder a referência sociocognitiva de ser brasileiro, nordestino, oriundo de uma família humilde e batalhador”, diz Freire, que dá aulas desde os 17 anos. Morador de Aracaju, ele leciona português no Colégio Estadual Presidente Costa e Silva e também no Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Sergipe, no vizinho município de São Cristóvão.

Durante sua participação no programa em Timor Leste, no período de 2007 a 2008, Freire deu aulas de língua portuguesa, elaborou cursos específicos para professores timorenses, desde o nível básico até a pós-graduação, fez revisão de livros didáticos, em português, de diferentes disciplinas e coordenou o projeto Ensino da Língua Portuguesa Instrumental, entre outras atividades desenvolvidas na Faculdade de Ciências da Educação da Universidade Nacional Timor Lorosa’e (UNTL), em Díli, capital daquele país do Sudeste Asiático. “O povo timorense é muito acolhedor, e me senti em casa”, diz Freire. “Enriqueci-me como profissional e também estabeleci relações de amizade que duram até hoje.”

O Programa de Qualificação de Docentes e Ensino de Língua Portuguesa, promovido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), visa à formação, em língua portuguesa, de professores de diferentes níveis de ensino em Timor Leste. A proposta é reforçar o aprendizado do português, uma das línguas oficiais daquele país — a outro é o tétum. Colonizado por Portugal, o Timor Leste esteve sob domínio da Indonésia durante 24 anos (1975-1999), período no qual a população esteve impedida de falar o português.

Com licenciatura em letras, habilitação em português–inglês, Freire tem especialização em linguística e mestrado em letras. Fascinado pela escolha do português como língua oficial do país, em um cenário multilíngue, ele resolveu escolher esse tema para objeto de pesquisa no curso de mestrado. O Lugar da Língua Portuguesa em Timor-Leste: Poder, Controle e Acesso foi o tema da tese. O mestrado foi concluído em 2011, na Universidade Federal de Sergipe.

Nos Estados Unidos, Freire ficou na Universidade Pan-Americana do Texas (UTPA), em Edinburg, entre fevereiro de 2012 e janeiro de 2013, como participante do Programa Professor Assistente de Língua Portuguesa. Por meio desse programa promovido em parceria pela Capes e Comissão Fulbright, ele teve a oportunidade de cursar quatro disciplinas em nível de mestrado e de dar aulas de português durante dois semestres acadêmicos.

Entre as técnicas que aprendeu, o professor pernambucano destaca a chamada Team Based Learning (TBL). Ou seja, aprendizagem baseada em equipe. “Significa estimular a interação face a face para o aprendizado de grupos a fim de lidarmos em contextos de salas de aulas lotadas”, explica.

“Foi a realização de um sonho conviver com a cultura americana e reinterpretá-la com meus próprios olhos, sendo embaixador cultural do Brasil, aluno de uma instituição americana e professor de americanos”, ressalta. Para ele, o principal benefício do programa é o de fazer parte de uma rede de relações “com pessoas que partilham o ideal de um mundo melhor por meio do intercâmbio entre povos, suas culturas e suas representações, ao mesmo tempo em que se aperfeiçoa o inglês e se aprende in loco sobre a cultura norte-americana”. (Fátima Schenini)

Curso nos EUA foi oportunidade excelente, diz professor

Prof. Tiago Macedo em frente ao Capitólio (EUA)

Professor de inglês no município de Balsas, sul do Maranhão, Tiago da Costa Barros Macedo nunca viajara ao exterior. Em junho de 2013, ele participou do Programa de Aperfeiçoamento para Professores de Língua Inglesa (PDPI) nos Estados Unidos. A oportunidade de estudar na Universidade da Flórida, na cidade de Gainesville, durante seis semanas, é considerada fundamental em sua vida.

“Procurei aproveitar cada momento”, garante. “Fiz várias amizades duradouras e amadureci as habilidades comunicativas em língua inglesa.”

Tiago aproveitou a permanência nos EUA para interagir com as pessoas, conhecer igrejas e pontos turísticos e se familiarizar com a cultura norte-americana. “O enriquecimento cultural foi extremamente útil, pois agora estou mais confiante para falar do modo de pensar da cultura anglo-saxã, bem como suas virtudes e fraquezas”, avalia.

Assim que retornou ao Brasil, Tiago desenvolveu projetos com os alunos no Centro de Ensino Médio Dom Daniel Comboni. Um deles, uma exposição de fotos e vídeos de locais que visitou, como a Casa Branca, o Capitólio e a Biblioteca do Congresso, em Washington; a residência de George Washington, no estado da Virgínia; e a igreja adventista afro-americana Emmanuel, no estado de Maryland.

Ainda no segundo semestre de 2013, Tiago realizou mais uma edição do projeto Normal's got Talent. Cada turma é desafiada a pesquisar aspectos informativos e artísticos relacionados a diferentes estados dos EUA e regiões do Reino Unido para apresentação posterior a toda a escola. Segundo o professor, o resultado agradou. “Foram muito criativos e interativos”, ressalta. Há seis anos no magistério, ele tem licenciatura em letras (língua portuguesa, língua inglesa e respectivas literaturas) e especialização em docência universitária, métodos e técnicas. Além de lecionar a alunos de ensino médio, ele dá aulas a estudantes de nível superior e de cursos particulares de inglês.

Fluência — O PDPI é desenvolvido em parceria pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) do Ministério da Educação, Comissão Fulbright e Embaixada dos EUA. O programa se propõe a fortalecer a fluência oral e escrita em inglês, compartilhar metodologias de ensino e avaliação que estimulem a participação do aluno em sala de aula e estimular o uso de recursos on-line e outras ferramentas na formação continuada de professores e na preparação de planos de aula.

Para participar, é necessário ser professor de inglês efetivo na rede pública de ensino básico, com estágio probatório concluído, ter nacionalidade brasileira e residência permanente no Brasil. (Fátima Schenini)

Curso na França tem aprovação dos professores de matemática

Prof. Thiago Jacomino no jardim do Ciep, em Sèvres

A experiência de participar de um curso de aperfeiçoamento na França, durante quatro semanas, resultou em benefícios pessoais e profissionais, de aprendizagem e aperfeiçoamento, ao professor fluminense Thiago Marques Zanon Jacomino. “Foi uma oportunidade inigualável e uma realização pessoal e profissional sem precedentes”, diz o professor, que leciona matemática no Colégio Estadual Padre Mello, em Bom Jesus do Itabapoana, município do norte do Rio de Janeiro.

Em 2013, com outros 25 educadores de todo o Brasil, selecionados para o Programa de Desenvolvimento Profissional para Professores de Matemática (PDPM), Jacomino participou de curso de formação em didática da matemática no Centre International D’Études Pédagogiques (Ciep), em Sèvres. Segundo ele, o aprendizado compreendeu não só conteúdos matemáticos. Estendeu-se também à convivência pessoal.

Na França, os brasileiros mantiveram contato com pesquisadores, que fizeram palestras sobre trabalhos e pesquisas em matemática. “Foi possível presenciar métodos e ideias que podem ser facilmente aplicados em salas de aulas no Brasil, com efetivos resultados para a educação. E é isso que venho tentando fazer”, ressalta. Os professores tiveram ainda a oportunidade trocar experiências para saber o que é feito em termos de matemática nas diversas regiões brasileiras. “É uma oportunidade única”, diz Jacomino. “É tudo tão intenso e diferente que o acréscimo profissional e pessoal não tem explicação.” Com licenciatura e mestrado em matemática, ele está no magistério desde 2007.

O entusiasmo é compartilhado pelo professor Ronaldo Dias, do município paulista de Junqueirópolis, que também participou do programa em 2013. “Quem puder, não pode perder a oportunidade de participar”, afirma. “O ganho profissional e pessoal é muito grande e qualquer sacrifício é recompensado.”

Há 15 anos no magistério, com experiência em escolas públicas e particulares, Dias jamais imaginou que teria a oportunidade de participar de curso no exterior. “Foi inesquecível e marcante”, revela. Para ele, conhecer um país com uma história relevante, desenvolver uma nova língua, fazer contatos, trocar ideias e informações são benefício obtidos com a participação no programa. “Após o curso, passei a ser mais crítico quanto ao meu trabalho”, ressalta o professor, que leciona também no município paulista de Dracena.

Apoio — Entre os novos conhecimentos obtidos, o professor destaca o uso da informática como ferramenta de apoio ao trabalho do professor. “Pude perceber que, com um bom preparo, os equipamentos eletrônicos, como computador, celular, tablet e outros podem ajudar, e muito, o trabalho”, salienta. “Hoje, a lousa digital é uma realidade e a uso sempre.”

Dias reconhece que participar da formação foi fundamental, tanto na vida profissional quanto na intelectual, marcada por difícil trajetória escolar. Criado em um sítio, na área rural, trabalhou na lavoura desde os 9 anos de idade. Aos 5 anos ingressou na escola, como aluno ouvinte, pois não havia instituição de educação infantil próxima. Ao terminar o ano, estava alfabetizado. A professora recomendou então ao supervisor que o aceitasse como aluno concluinte. Dias passou assim para o segundo ano do ensino fundamental.

“Naquele momento da vida, o acontecido foi fantástico, mas ao terminar o ensino médio eu tinha apenas 16 anos, e a maturidade não havia chegado”, explica. Após um período difícil, no qual se recusou a cursar a educação superior, Dias mudou de ideia e ingressou na universidade aos 22 anos. Hoje, tem graduação e mestrado em matemática. “Meus pais, mesmo com pouco estudo, sempre me incentivavam a estudar”, diz. Daquele período em diante dedicou-se aos estudos como nunca, sempre inspirado na frase: “Você não precisa ser melhor do que as outras pessoas, mas precisa ser o melhor para você mesmo”.

O Programa de Desenvolvimento Profissional para Professores de Matemática, desenvolvido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) do Ministério da Educação é voltado para professores que concluíram o programa Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional (Profmat). Uma nova edição do PDPM está prevista para o segundo semestre de 2014. (Fátima Schenini)

Professoras enaltecem curso na Alemanha e na Áustria

Foto de Nádia Maria França Friebe na Áustria

Sonho de muita gente, a participação em curso no exterior foi realidade, no ano passado, para três professoras do Sul do Brasil. Durante cinco semanas, Nádia Maria França Friebe, Ranice Dulce Trapp e Patrícia Meinerz participaram de aulas de língua alemã, cultura, metodologia e didática na Alemanha e na Áustria.

As três fazem parte do grupo de 22 professores de escolas públicas selecionados para a primeira edição do Programa de Desenvolvimento Profissional de Professores da Língua Alemã (PDPA). Desenvolvido em parceria entre a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) do Ministério da Educação e a Universidade Federal do Paraná (UFPR), o programa prevê quatro semanas de aulas no Herder-Institut, da Universidade de Leipzig, Alemanha, e uma semana no Ministério da Educação da Áustria, em Viena.

“Foi gratificante participar do programa”, diz Nádia Maria. “Recomendo a outros professores que participem e, assim, colaborem para um Brasil melhor, desenvolvido, globalizado.” Segundo a professora, o programa contribuiu para melhorar o desempenho profissional em sala de aula, com aulas dinâmicas e retorno no aprendizado dos estudantes. “Percebi que os alunos ganharam motivação”, afirma. “Alguns deles obtiveram, com sucesso, aprovação para participar do Programa Ciência sem Fronteiras.”

De acordo com Nádia Maria, a experiência contribuiu para o aprofundamento dos conhecimentos do idioma e de novas metodologias de ensino. Professora de alemão no Colégio Estadual do Paraná, em Curitiba, há nove anos, ela tem graduação em letras (português–alemão) e pós-graduação em ensino de língua estrangeira.

Cultura — A catarinense Ranice Trapp, da Escola Básica Municipal Dr. Amadeu da Luz, do município de Pomerode, garante que a experiência proporcionou contato direto e continuado com a língua alemã e mais conhecimentos sobre a cultura e o modo de viver das populações das regiões visitadas. “Aprendi conteúdos da cultura que uso diariamente com meus alunos”, destaca. Para a professora, a vivência em um país que fala a língua que ela ensina é fundamental. “Posso melhorar e ampliar meus conhecimentos”, justifica.

Ranice dá aulas de alemão a turmas da educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental. Com graduação em letras (português–alemão) e em pedagogia, ela tem especialização em ludopedagogia e em teoria e prática para professores de língua alemã.

Valorização — Na visão de Patrícia Meinerz, professora no município gaúcho de Westfália, o profissional que tem segurança nos conhecimentos que transmite é mais valorizado, tanto pelos alunos quanto pelos demais educadores. “Recomendo que outros professores participem do programa, pois a experiência adquirida transforma uma pessoa”, avalia.

Patrícia revela que conheceu novas dinâmicas de ensino e recebeu sugestões de livros e material a serem usados com alunos de diferentes idades. “Quando voltei ao Brasil, trouxe não somente muitos livros, mas uma bagagem de conhecimento e novas perspectivas de vida e de trabalho”, enfatiza.

Durante o curso no exterior, os professores brasileiros tiveram a oportunidade de visitar escolas e conhecer outras realidades educacionais. Também foram a museus e a outros pontos turísticos. “Ensinar uma língua estrangeira é também transmitir a cultura dos países”, diz Patrícia. Graduada em letras (português–alemão), ela leciona a língua alemã em várias escolas, em turmas que incluem do jardim de infância ao terceiro ano do ensino médio. Também dá aulas particulares e em cursos de idiomas. (Fátima Schenini)

Professor reconhece valorização após curso de formação na Suíça

Professor Francisco Eduardo, em aula, junto com outros professores

A oportunidade de participar de curso na Europa será sempre lembrada pelo professor Francisco Eduardo da Silva do Carmo, de Quixadá, Ceará. “Foi gratificante”, diz o professor, que participou, em agosto e setembro de 2012, do Programa de Desenvolvimento Profissional de Professores de Física na Suíça (PDPF).

O programa, realizado em parceria pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) do Ministério da Educação e pela Sociedade Brasileira de Física (SBF), oferece curso de formação na Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (Cern), em Genebra, para professores brasileiros da rede pública de educação básica. Em 2012, o programa incluiu visita a Portugal. Os participantes puderam conhecer o Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas, em Lisboa.

Integrante de família pobre, Francisco Eduardo, que nunca viajara de avião, nem saído do país, revela que a experiência resultou em valorização, novos conhecimentos, metodologias e habilidades. “Todos os professores deveriam participar de cursos como esse para ter ainda mais propriedade no que vão falar ou expor”, enfatiza. Ele leciona física e matemática em Quixadá e ciências em Choró, municípios cearenses.

Para o professor, estar em locais como os que visitou e vivenciar experiências descritas em livros garante novas referências e possibilita o crescimento profissional. “Bons professores podem mudar o país, pois trabalhamos diretamente com o futuro do Brasil”, ressalta.

A experiência de Francisco Eduardo foi inédita na região e deu destaque às atividades desenvolvidas pelo professor, que está há 14 anos no magistério. “Até hoje sou lembrado em muitas falas de autoridades locais”, revela.

Graduado em ciências, com habilitação em física e em matemática e especialização em metodologia do ensino de ciências e matemática, Francisco Eduardo explica que, além de receber convites para ministrar palestras sobre o programa do qual participou, assumiu nova função no Centro Educacional Dom Bosco, em Choró. De professor com atuação na sala de aula passou a professor-coordenador de olimpíadas de física e ciências, com a missão de estimular os alunos a vivenciar as ciências. “Hoje, nas reuniões pedagógicas, faço exposições de experimentos teóricos on-line, mostro a página do Cern na internet e o que estão pesquisando, tanto para professores da área quanto para os alunos”, salienta o professor, que também dá aulas na Escola de Ensino Fundamental e Médio José Martins Rodrigues, em Quixadá.

O PDPF é realizado desde 2010. Uma nova edição do programa está prevista para o segundo semestre. (Fátima Schenini)

Para estudante gaúcha, experiência no exterior é inesquecível

Yádini Winter exibe o certificado obtido no curso feito na França

Participar de um curso na Universidade de Nantes, França, durante quatro semanas, foi uma experiência inesquecível para a estudante Yádini Winter. Aluna de licenciatura em letras (línguas portuguesa e francesa e suas literaturas) na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ela participou do Programa de Desenvolvimento Profissional para Professores de Língua Francesa na França (PDPF), em julho de 2013.

“O programa é incrível”, ressalta Yádini. “Foi como se um mundo novo se abrisse diante dos meus olhos, cheio de novas possibilidades e novas visões da educação.”

Atendida pelo Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid) desde 2012, a estudante fez parte de um grupo de 30 bolsistas vinculados a subprojetos de língua francesa — entre coordenadores de área, supervisores e alunos — selecionados para participar do PDPF. A iniciativa proporcionou atividades acadêmicas e culturais. “A experiência no exterior abre a mente e mostra outras ideias e olhares sobre a área de atuação”, destaca a estudante. Ela diz que aproveitou bem a oportunidade e voltou para o Brasil com novas ideias e muito material para ser usado em suas atividades em cursos e oficinas de francês.

Segundo Yádini, a viagem mudou sua vida e seu caminho. “Foi realmente uma maneira de me motivar a seguir a carreira de professora e de abrir a mente para o mundo”, revela. Para ela, as possibilidades de trabalho e de estudo parecem agora infinitas.

O PDPF é promovido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) do Ministério da Educação, em parceria com a Embaixada da França no Brasil e com o Centro Internacional de Estudos Pedagógicos (Ciep). O programa busca o fortalecimento da fluência oral e escrita em francês e o compartilhamento de metodologias de ensino e avaliação que estimulem a participação do aluno em sala de aula. A próxima edição do programa está prevista para 2015. (Fátima Schenini)

Xadrez contribui para mudar a realidade de escola

Professor Cleiton, sentado, rodeado por alunos

Professor de educação física e xadrez na Escola Municipal Jardim das Palmeiras, em Campo Novo do Parecis (MT), Cleiton Marino Santana foi um dos vencedores da sétima edição do Prêmio Professores do Brasil. Seu projeto, Xadrez como Ferramenta de Inclusão Social, foi premiado na categoria Temas Livres, subcategoria Séries ou Anos Finais do Ensino Fundamental.

Segundo Cleiton, o projeto foi criado para tentar mudar a realidade da escola, inserida em um complexo de desigualdade e vulnerabilidade social. Com recursos da Fundação André Maggi, foram adquiridos móveis, computadores, impressora, lousa digital, 70 peças de xadrez escolar, dez peças de xadrez oficial, seis livros e 45 relógios específicos do jogo, entre outros equipamentos. “Nosso objetivo era criar a melhor sala de ensino de xadrez do Brasil”, diz o professor.

Além dos alunos que participam das aulas, o projeto conta com alunos-monitores, que ajudam na organização da sala, no ensino da modalidade e em outras atividades. Cada monitor é responsável por uma área do projeto e recebe treinamento semanal sobre os conceitos técnicos do jogo e de suas metodologias de ensino. De acordo com Cleiton, isso contribui para a evolução do aluno-monitor quanto a itens como cumprimento de horários, responsabilidade, organização, respeito, paciência, autocontrole e demais habilidades necessárias à futura inserção no mercado de trabalho.

As aulas de xadrez fizeram tanto sucesso que logo ultrapassaram o horário da educação física. O projeto foi ampliado e, hoje, a sala de xadrez fica aberta de segunda a sexta-feira, das 7 às 11 e das 13 às 17 horas. Aos sábados, das 7 às 11 horas, com atendimento a mais de 750 alunos por semana.

Com a repercussão, outras escolas mostraram interesse. Isso levou Cleiton a preparar alunos integrantes do projeto para atuar como professores-monitores nas demais instituições.

Com graduação em educação física e pós-graduação em docência do ensino superior, Cleiton considera o xadrez uma grande ferramenta escolar, pois a prática colabora para a concentração do aluno em sala de aula. Entre os bons resultados do projeto, ele cita a melhoria no rendimento, como a obtenção de notas médias melhores entre os alunos que praticam o jogo em relação aos demais.

Os estudantes convidados a participar de competições em eventos municipais, regionais ou nacionais tiveram a oportunidade de conhecer localidades e de entrar em contato com outras culturas. Para o professor, que está no magistério há 12 anos, a atividade contribui, assim, para ampliar os horizontes e as perspectivas dos alunos. Ele afirma ainda que a oportunidade de participar de torneios e fazer viagens é um estímulo para que os alunos não integrantes do projeto passem a se dedicar ao xadrez.

O desenvolvimento do projeto Xadrez como Ferramenta de Inclusão Social possibilitou, ainda, a integração entre pais e alunos, a aprendizagem de tecnologias (computador e lousa digital), a criação da Associação de Xadrez de Campo Novo e o destaque dos monitores do projeto na segunda fase das Olimpíadas Brasileiras de Matemática, entre outros pontos. (Fátima Schenini)

Assista ao vídeo sobre o projeto

Carmen Moreira de Castro Neves (DEB-Capes): "Curso fora do país traz benefícios a professor e aluno"

Profa. Carmen Moreira de Castro Neves

A professora Carmen Moreira de Castro Neves considera importante a participação em cursos no exterior. “Além de voltarem renovados e com um novo ânimo, os professores adquirem novos conhecimentos, e isso acaba beneficiando também os alunos”, ressalta.

Titular da Diretoria de Formação de Professores da Educação Básica (DEB) na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Carmem é responsável por diversos programas para professores da educação infantil e ensino fundamental e médio, tanto no Brasil quanto no exterior. Um deles é o Programa de Desenvolvimento Profissional para Professores (PDPP), que inclui oportunidades de aperfeiçoamento para profissionais das redes públicas de ensino brasileiras na Alemanha, Áustria, França, Inglaterra, Portugal, Suíça e Estados Unidos.

Segundo Carmem, a meta da Capes é melhorar a educação no Brasil por meio da valorização do professor e do investimento na carreira. Servidora pública federal da carreira de especialista em políticas públicas e gestão governamental, ela tem licenciatura em letras e mestrado em educação.

Jornal do ProfessorQue benefícios os professores podem obter com a participação em cursos ou aulas no exterior?

— Além de voltarem renovados e com novo ânimo, os professores adquirem conhecimentos. E isso beneficia também os alunos, que sentem mais motivação para aprender. Os professores têm a oportunidade de conhecer novas metodologias e tecnologias de ensino, qualquer que seja a disciplina lecionada. Podem vivenciar e aprender mais sobre os costumes, a história, a cultura, a geografia, o desenvolvimento tecnológico e outros aspectos do país que visitam. Podem também estabelecer elos e redes de trocas profissionais com os professores das instituições onde estudam e com os próprios colegas de programa, criar e desenvolver atividades conjuntas no retorno ao Brasil, tanto entre si quanto entre os alunos, unindo estados e cidades diferentes na construção do conhecimento da disciplina que lecionam.

Os professores de línguas, por exemplo, melhoram a proficiência ao aperfeiçoar a pronúncia, a escrita, a escuta, a compreensão de textos. Os professores de física que participam de curso na Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (Cern), em Genebra, Suíça, sabem que estão em uma das mais prestigiadas instituições de pesquisa e inovação do mundo. Em Londres, os professores são recebidos no Science Museum, para conhecê-lo e, simultaneamente, ampliar o vocabulário na área de ciências. A autoestima e as representações sociais a respeito da importância de ser professor da educação básica são também realçadas positivamente com a possibilidade de imersão em uma instituição de alto nível.

A Capes é reconhecida por seus programas de doutorado e pós-doutorado no exterior. O que a levou a oferecer essa oportunidade também a professores do ensino básico?

— Foi exatamente a boa experiência da Capes com a pós-graduação que a levou a estender a cooperação internacional aos professores da educação básica. Assim como a mobilidade de professores contribuiu e contribui para elevar a qualidade dos cursos de pós-graduação, a vivência e os estudos dos professores da educação básica vão contribuir para que esses docentes possam elevar sua qualificação e ensinar com mais segurança, competência e criatividade. A meta da Capes é melhorar a educação no Brasil por meio da valorização do professor e do investimento em sua carreira.

Quais os países que oferecem cursos a professores brasileiros da educação básica por meio de parcerias com a Capes?

— A Capes tem parcerias com Estados Unidos e Inglaterra, para professores de inglês. Com a França, para professores de francês e de matemática. Estes, selecionados entre professores do mestrado profissional em matemática (Profmat). Com a Suíça, para professores de física. Com Alemanha e Áustria, para professores de alemão. Com Portugal, para professores de física, química, biologia e educação infantil. Estamos em negociação com a Espanha e com Argentina e México, além de outros países da América Latina, para atender professores de espanhol e gestores escolares, entre outros.

Quantos professores da educação básica foram beneficiados por bolsas no exterior? E desde quando?

— Mais de dois mil professores da educação básica foram beneficiados por esses programas, no período de 2010 a 2013. Os dados indicam, entre os professores de inglês, que 1.675 foram para os EUA e 107 para o Reino Unido. Estiveram na França 32 professores de francês e 26 de matemática. Na Alemanha e na Áustria, 25 professores de alemão. Na Suíça, 100 professores de física. Participaram de cursos em Portugal 167 professores de ciências, língua portuguesa e educação infantil.

Existe algum estudo que comprove bons resultados da participação de professores em cursos no exterior?

— Além dos relatórios apresentados pelos participantes, a Capes está organizando um banco de dados de todos os que participam da cooperação internacional para enviar às redes estaduais e municipais. Dessa forma, os secretários de Educação poderão organizar atividades formativas que valorizem os profissionais e permitam a eles disseminar na rede o conhecimento adquirido. Acreditamos que todas as redes de ensino tenham um ganho com a participação dos professores em cursos no exterior.

Uma avaliação externa também será objeto de contratação da Capes para que sejam conhecidos todos os benefícios do programa, eventuais lacunas que devam ser preenchidas e possibilidades de aperfeiçoamento. Entretanto, deve-se destacar que os relatórios e depoimentos dos professores que participam do programa são muito contundentes. Veja-se, por exemplo, o depoimento assinado por 25 professores de inglês que fizeram o curso em Londres:

Dear Capes/IOE representatives, directors, professor and organizers,

We are the 25 teachers from public schools in Brazil that received the reward and scholarship to participate in the five-week-course at IOE in London.

There will be no words, neither to thank you enough for the opportunity, nor to explain how much knowledge improvement we faced during this period of studies and cultural experience.

Trying to highlight the importance of the course and to motivate this initiative to continue and benefit other hard-working-teachers from the public system in Brazil, some of our colleagues organized what we can call a summary of our experiences, a thank-you message and most deeply the desire to have it again. We send you the link to a blog, where we wrote (in portuguese) a short comment about our stay, and the link to a video, produced by some of us, using the memories of all, and most importantly, the techniques we learned in one of the many interesting classes we had at IOE.

With the most sincere feelings we subscribe (seguem-se 25 assinaturas)

Onde e como os interessados podem obter informações sobre cursos no exterior?

— Os editais são publicados na página da Capes na internet. Os cursos ocorrem, em geral, no período de férias escolares dos professores. É preciso acompanhar as publicações na página da Capes.