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JORNAL

Física no Ensino Médio

Sexta-feira, 4 de Abril de 2014

Edição 99

EDITORIAL - Física no Ensino Médio

O tema da 99ª edição do Jornal do Professor é Física no Ensino Médio. O assunto foi escolhido por 40,89% dos leitores que votaram na enquete colocada em nossa página.

Trazemos para vocês, as experiências dos professores Alex Farias, da Escola Estadual Francisco Soares de Oliveira, em Pires Ferreira (CE); Geraldo Marcelo Horta, da Escola Estadual Presidente Tancredo Neves, em Dom Silvério (MG); José Alberto Casto Nogales Vera, da Universidade Federal de Lavras (MG); Lealci Sabino de Paiva, da Escola Estadual de Ensino Médio Isabel Amazonas, em Ulianópolis (PA); Nicolau Gilberto Ferraro, de São Paulo (SP), diretor pedagógico do Colégio Objetivo NHN.

Há também uma entrevista especial com o coordenador nacional da Olimpíada Brasileira de Física (OBF) e coordenador da Olimpíada Brasileira de Física nas Escolas Públicas (Obfep) no estado de São Paulo, Euclydes Marega Júnior, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), em São Carlos (SP).

A professora de artes, Michelle Nasr, da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Professora Inah Werneck, de Cachoeiro de Itapemirim (ES), participa da seção Espaço do Professor. E a professora Inés Prieto Schmidt Sauerwein, do Departamento de Física do Centro de Ciências Naturais e Exatas da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), é a entrevistada desta edição.

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

Blogue auxilia professor a manter o interesse dos alunos

Professor Alex e as alunas Micaele Marinho, à esquerda, e Adelaide Ribeiro, à direita, em 2013

Professor de física no município cearense de Pires Ferreira, a 300 quilômetros de Fortaleza, Alex Farias reconhece que a disciplina assusta os estudantes do ensino médio. Por isso, durante as aulas na Escola Estadual Francisco Soares de Oliveira, ele procura despertar a curiosidade dos alunos. “A maioria não se identifica com a forma de os professores trabalharem com a física”, afirma. “Faz-se necessário, portanto, encontrar formas de atraí-los para que não se afastem ainda mais da ciência.”

Alex procura interligar a física com outras ciências, especialmente a astronomia. “Incentivo a participação em competições como as olimpíadas brasileiras de Astronomia (OBA), de Física (OBF) e de Física das Escolas Públicas (Obfep)”, revela. Os estudantes participam também da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep), há quatro anos.

Com outros colegas professores, Alex promove aulas para os alunos participantes dessas olimpíadas no período do contraturno. “Assim, além de conquistarmos algumas medalhas na OBA, conseguimos despertar em alguns jovens o gosto pela ciência”, analisa. De acordo com o professor, isso pode ser comprovado pelo ingresso de estudantes da escola Francisco Soares em cursos de física no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) e na Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), em Sobral, Ceará.

Como o laboratório de ciências da escola ainda está em construção, o professor realiza experimentos simples na própria sala de aula. Outra medida adotada por ele é a de levar os estudantes ao laboratório de informática para que tenham acesso a laboratórios virtuais na internet, como o Física Animada.

Em 2011, ao perceber o interesse dos alunos pelas redes sociais, como Orkut e Facebook, Alex criou o blogue Física Fascinante. Ele usa o blogue como ferramenta pedagógica capaz de atrair o interesse dos estudantes e despertar neles o gosto pela ciência. “Assim, posso colocá-los em contato com a física, mesmo longe da sala de aula”, justifica. Além disso, o blogue é considerado pelo professor mais uma fonte de pesquisa e de informação, com acesso a qualquer momento e em qualquer lugar, por meio da internet.

Licenciado em física, com especialização em ciências físicas, químicas e biológicas, Alex deu aulas até dezembro de 2013. Atualmente, exerce a função de diretor da escola. (Fátima Schenini)

Acesse o blogue da EE Francisco Soares de Oliveira

Projeto de universidade mineira integra ensino e pesquisa científica

Estudantes participam de experimentos científicos

Projeto de divulgação científica do Departamento de Ciências Exatas da Universidade Federal de Lavras (Ufla), em Minas Gerais, A Magia da Física e do Universo desenvolve diversas atividades destinadas a despertar a curiosidade e o interesse das pessoas pelo funcionamento do universo. Criado em janeiro de 2009, o projeto integra ensino e pesquisa científica e inclui atividades dirigidas às escolas da região e à população em geral.

A apresentação de experimentos que demonstram diferentes conceitos científicos, elaborados com materiais de fácil acesso e baixo custo, é uma das atividades oferecidas. Na maioria das vezes, durante as exibições, o público pode interagir com os experimentos, sob a orientação de monitores, estudantes da Ufla. Atualmente, 20 alunos participam do projeto. “Os experimentos são escolhidos de forma que contrariem o que as pessoas entendem como normal”, destaca o professor José Alberto Casto Nogales Vera, que coordena o projeto com a professora Karen Luz Burgoa Rosso.

Segundo Nogales, que tem graduação, mestrado e doutorado em física, durante as apresentações não há explicações, somente orientações para que cada um construa a própria ideia sobre o que ocorre nos experimentos. O propósito é incentivar a pessoa a buscar e construir o próprio conhecimento. “Espera-se que o indivíduo desenvolva independência para descobrir o mundo”, ressalta.

Outra atividade é a Festa das Estrelas, realizada aos sábados. Ela se caracteriza como oficina, com ciclos de documentários e palestras. Convidados especiais tratam de temas como constelações, galáxias, estrelas, planetas, universo e cosmologia. Já foram realizadas 64 edições. “Após o documentário ou palestra, apresentamos as oficinas sobre observação do céu a olho nu ou com lunetas e telescópios”, esclarece o professor. No fim de cada oficina são feitas observações astronômicas. Para isso, quatro telescópios estão disponíveis.

Apoio — Por meio de oficinas teóricas e práticas, o projeto também oferece apoio a participantes das olimpíadas de robótica, física, astronomia e astronáutica e da Mostra Brasileira de Foguetes. As oficinas ocorrem duas vezes por semana, durante dois meses, de forma contínua. “A programação é enviada às escolas, e os interessados — professores, estudantes e familiares — entram em contato conosco para fazer as inscrições”, explica Nogales.

Uma vez por semana, há exibição de documentários e filmes no Museu de História Natural da Ufla. Desde o início do projeto, já foram realizados sete ciclos de filmes e três de documentários, com um total de 90 filmes ou documentários científicos. “No fim da exibição de cada ciclo, os filmes são comentados sob uma perspectiva científica e social”, esclarece o professor.

O projeto é procurado também por escolas de municípios vizinhos, interessadas em exibições itinerantes. Os integrantes do projeto vão até as escolas, e os estudantes, ao museu, onde ocorre a exposição dos experimentos. As visitas devem ser marcadas pelo telefone (35) 3829-1206 ou no endereço eletrônico magiadafisica@gmail.com. (Fátima Schenini)

Acesse o blogue do projeto A Magia da Física e do Universo

“Saímos de coadjuvantes para players no cenário das olimpíadas internacionais”, diz coordenador nacional da OBF

Prof. Euclydes e representantes do Brasil na Olimpíada Internacional de Física-2013, na Dinamarca

Coordenador nacional da Olimpíada Brasileira de Física (OBF) e coordenador da Olimpíada Brasileira de Física nas Escolas Públicas (Obfep) no estado de São Paulo, Euclydes Marega Júnior é professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), em São Carlos (SP), e professor visitante da University of Arkansas dos Estados Unidos. Bacharel em física e doutor em física básica, no campo de física atômica e molecular, ele exerce a função de líder da equipe brasileira na Olimpíada Internacional de Física, desde 2003. Nesse período, ressalta, o nível de conhecimento dos participantes melhorou. “Saímos de coadjuvantes para players no cenário mundial das olimpíadas internacionais”, revela.

Na visão de Marega Júnior, os professores de física devem ser capacitados continuamente, principalmente nas áreas de ensino experimental e novas tecnologias, para que as aulas possam ser mais atraentes. Além disso, entende que a escola deva ter as condições mínimas para o desenvolvimento de outras atividades, tais como laboratórios de ciências, salas de informática e bibliotecas. “Isso não deve ser pensado apenas como um sonho, mas como objetivo a ser alcançado”, diz. “O ensino é uma atividade coletiva, todos têm responsabilidades para que este venha a ser de qualidade: governo, professores, alunos, pais e comunidade.”

Jornal do Professor A disciplina de física está entre as mais temidas pelos alunos do ensino médio. Por que isso ocorre?

Euclydes Marega Júnior – Física, química e biologia são as chamadas ciências naturais. Elas se desenvolveram, ao longo dos anos, a partir da experimentação e da intuição tornadas possíveis pelas evidências coletadas a partir da observação e do desenvolvimento do método cientifico. O que ocorre no ensino de hoje é o contrário: os alunos iniciam a aprendizagem através de conceitos já definidos. No caso da física, o ensino resume-se praticamente a decorar fórmulas. Elas são importantes, é claro, porém representam a formalização de uma evidência que foi observada e estudada. O ensino experimental de física e ciências no início da formação do estudante é o que falta em nosso sistema como um todo, tanto no ensino público quanto no particular. A iniciação científica a partir da experimentação é a forma de tornar o ensino mais interessante, além de fornecer ao aluno condições para que ele desenvolva habilidades criativas de caráter prático. Isso é muito importante para formar indivíduos que, no futuro, poderão ser profissionais inovadores em sua área de atuação.

O que os professores podem fazer para tornar as aulas de física mais atraentes para os alunos?

– Precisam ser capacitados continuamente, principalmente em ensino experimental e nas tecnologias novas que estão surgindo. Uma aula formal (lousa e giz) deveria ser apenas umas das atividades desenvolvidas pelos professores. Claro que, além da capacitação, a escola deve ter as condições mínimas para o desenvolvimento de outras atividades (laboratórios de ciências, salas de informática, bibliotecas). Isso não deve ser pensado apenas como um sonho, mas como objetivo a ser alcançado. É possível fazer. O ensino é uma atividade coletiva. Todos têm responsabilidades para que venha a ser de qualidade: governo, professores, alunos, pais e comunidade. Se um desses não desempenhar seu papel dentro do processo, mesmo que tenhamos a melhor infraestrutura do mundo não teremos cidadãos formados, mas meros coadjuvantes.

Muitas escolas não têm laboratórios de física. Que ferramentas ou materiais didáticos podem ser usados para que os alunos compreendam melhor os conteúdos de física? E quanto à utilização de tecnologias de comunicação e informação (TIC) nas aulas de física?

– Para um período de transição, é possível desenvolver atividades experimentais com materiais de baixo custo e recursos disponíveis, como celulares e smartphones, entre outros. Porém, há que se ter em mente que a infraestrutura das escolas não pode ser deixada de lado. Deve-se perseguir sempre o modelo de uma escola-padrão, com recursos que deem todas as oportunidades aos alunos.

As tecnologias da informação são necessárias e fazem parte do mundo de hoje. Na internet, há muito material a ser consultado e usado, como programas de simulação de movimentos e experimentos virtuais, entre outros. Nesse caso, o professor deve atuar como tutor, verificando se o material é de qualidade e não apresenta conceitos errados.

É possível estimular o surgimento de novas vocações científicas a partir das escolas de educação básica? Como?

– Sim. Nossos estudantes são fantásticos, e o que temos de fazer é somente dar a eles a oportunidade e todo o suporte para o desenvolvimento intelectual. Participo de olimpíadas internacionais de física há mais de dez anos e conheço estudantes de mais de 90 países que participam dessas competições. Posso garantir que a capacidade intelectual nossa é a mesma de qualquer país do mundo. Ao longo desses anos, saímos de coadjuvantes para players no cenário mundial das olimpíadas internacionais. Como? Trabalho, dedicação e paixão. Estimulando nossos estudantes, descobrindo talentos brutos para serem lapidados etc. Se descobrirmos um garoto em qualquer parte do país com talento e vontade para estudar física, podemos fazer com que ele se destaque numa competição internacional. Temos de parar de ter complexo de inferioridade e fazer o que deve ser feito. Parar de reclamar e juntar esforços. Educação é um processo coletivo.

É importante que os professores de física do ensino médio participem de oficinas ou cursos de formação continuada? Que papel deve ter a academia nessas atividades?

– Professores do ensino médio devem estar em constante contato com os docentes das universidades brasileiras para buscar a formação continuada e o aperfeiçoamento, o que não é possível no ambiente escolar. A universidade deve ser a geradora do conhecimento, mas esse conhecimento não pode ficar dentro das quatro paredes de um laboratório e ter impacto apenas para outros cientistas, na maioria de outros países. O conhecimento deve permear as paredes da academia e atingir professores e comunidade em geral. É importante que as universidades cumpram o seu papel integralmente: ensino, pesquisa e extensão. Não adianta ter ilhas de excelência num mar de mediocridade, e isso é responsabilidade nossa.

O Instituto de Física da USP em São Carlos vem trabalhando nessa direção, assim como muitas outras instituições de todo o país, com programas de visitas, capacitação de professores e alunos etc. Mas ainda é pouco. Se cada pesquisador em física das universidades brasileiras produzisse por ano algum tipo de material didático de divulgação – livros, vídeos, blogues científicos etc. –, teríamos muito material disponível para alunos e professores. Essa é uma atividade que demanda quase nada de recursos. O próprio Ministério da Educação, no Portal do Professor, tem toda uma plataforma desenvolvida para essa atividade. Além da física, outras áreas deveriam fazer o mesmo.

A Sociedade Brasileira de Física (SBF) realiza a Olimpíada Brasileira de Física (OBF) e a Olimpíada Brasileira de Física das Escolas Públicas (Obfep). Quais as semelhanças e diferenças entre os dois eventos?

– As duas olimpíadas são destinadas a alunos do ensino médio e técnico (até a quarta série) e para alunos do último ano do ensino fundamental (na Obfep, o nono ano; na OBF, o oitavo e o nono). Alunos abaixo do sétimo ano do ensino fundamental não têm conteúdo de física que justifique a composição de uma prova nos moldes em que a realizamos. Para esses alunos, seria interessante uma olimpíada que integrasse as ciências naturais (física, química e biologia). Essa integração é uma tendência mundial, mas deve ser realizada sem que haja perda da identidade dos diferentes tópicos.

Entre os objetivos comuns de ambas as olimpíadas estão os de despertar e estimular nos alunos do ensino fundamental e médio o interesse pela física e pela ciência em geral; proporcionar desafios intelectuais de ordem científica aos estudantes; identificar os estudantes talentosos em física, prepará-los para as olimpíadas internacionais e estimulá-los a seguir carreiras científico-tecnológicas; motivar professores e estudantes para o estudo e aprendizagem da física; desenvolver nos estudantes habilidades exigidas para pesquisa na área de física; proporcionar atividades de atualização para professores, com novas tecnologias de ensino, bem como proporcionar o desenvolvimento de metodologias de ensino, tanto na área experimental quanto na de simulações e na análise e resolução de problemas; aproximar o pesquisador da universidade dos professores e estudantes do ensino médio e fundamental.

A OBF é realizada pela SBF desde 1999. Ao longo desses anos, foi possível observar que há talentos espalhados por todo o território nacional. Grande parte dos talentos que surgem do ensino público migra para o ensino público federal e ou para o ensino privado, com a manutenção via bolsas de estudos custeadas pelas próprias instituições. Há sem dúvida muitos alunos talentosos em todo o Brasil nas escolas públicas estaduais e municipais. No entanto, devido à conjuntura, muitos não têm a oportunidade de ser descobertos. A Obfep tem como objetivo descobrir esses jovens nos mais distantes municípios e oferecer a oportunidade de avanço até o nível de competições internacionais.

Quais os benefícios que as duas olimpíadas oferecem a estudantes e professores, de maneira geral?

– As atividades propostas pelas olimpíadas têm como objetivo mostrar uma forma diferente de apresentação do conteúdo da física no ensino formal. Por mais esforços que venham sendo empregados, a física ainda é entendida pelos estudantes como uma disciplina em que o mais importante é decorar fórmulas. A representação matemática de modelos físicos é importante, mas o entendimento de como esses modelos são criados é a chave para que o estudante compreenda suas aplicações no dia a dia. Um exemplo é o caso telefonia celular. Por que 4G é melhor que 3G? Por que 3 é maior que 4? Por que, nos smartphones, quando se gira a tela, ele se ajusta tendo como referência o nível do solo? São tecnologias que estão no dia a dia, baseadas em princípios físicos muito simples, mas que não são compreendidos pela maioria dos estudantes e pela população em geral, consumidores dessas tecnologias.

Essa visão também leva o professor a ser instigado pelos alunos e cria uma forma natural de deixá-lo atento a conteúdos que não constam do currículo formal da disciplina. Os materiais produzidos ao longo desses anos compõem uma fonte para que professores venham a utilizá-los nas aulas. Em breve, teremos vídeos também.

Como tem sido a adesão das escolas às olimpíadas?

– As escolas têm participado ativamente ao longo dos anos. Na OBF, atingimos um número estável de participações, em torno de 600 mil alunos de 4 mil escolas nos últimos anos. Na Obfep, o número fica em torno de 1 milhão em cinco mil escolas.

Como líder da equipe brasileira na Olimpíada Internacional de Física desde 2003, é possível observar alguma melhora no nível de conhecimento dos participantes brasileiros nesse período?

– Melhoramos muito. Na primeira participação do Brasil no International Physics Olympiad (Ipho), em 2000, nenhuma medalha foi conquistada. Em 2012, o Brasil obteve uma medalha de ouro e três de bronze. Em 2013, uma medalha de prata e quatro de bronze.

Na Olimpíada Ibero-Americana de Física, em 2000, o Brasil obteve três menções honrosas. Em 2013, duas medalhas de ouro e duas de prata.

A SBF oferece algum tipo de apoio aos professores de física do ensino médio, principalmente de escolas públicas, na preparação dos estudantes para as olimpíadas?

A SBF acaba de criar um curso de mestrado profissionalizante para professores de física. Há também outro evento para aperfeiçoamento de professores que participam das olimpíadas. Ambos são programas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) do MEC.

Como estão os planos de criação da Olimpíada Brasileira de Ciências das Escolas Públicas?

– A primeira edição da Olimpíada Brasileira de Ciências das Escolas Públicas (Obcep) está prevista para 2015. Ainda em planejamento, ela pretende integrar, num primeiro momento, as disciplinas de física e de química, porém com identidades próprias. A iniciativa, coordenada pelo MEC, constitui-se em um programa permanente da SBF e da Associação Brasileira de Química (ABQ).

Alguns dos objetivos da olimpíada são despertar e estimular o interesse pelo estudo das ciências naturais; aproximar as instituições de educação superior, os institutos de pesquisa e sociedades científicas das escolas públicas; identificar estudantes talentosos e incentivar seu ingresso nas áreas científicas e tecnológicas; promover a inclusão social por meio da difusão do conhecimento.

 

Professor procura tornar ensino de física mais fácil para os alunos

Professor na Escola Estadual de Ensino Médio Isabel Amazonas, em Ulianópolis, no sudeste paraense, e no Centro Educacional Terezinha de Jesus Coelho Rocha, no município maranhense de Itinga do Maranhão, Francisco Lealci Sabino de Paiva tem consciência de que os alunos ainda encontram dificuldades com as aulas de física, principalmente aqueles que chegam ao ensino médio com deficiência em interpretação e em cálculo.

“Para desmistificar a física, sempre procuro selecionar conteúdos considerados chave, para que o aluno procure estudar pelo menos o básico”, diz o professor. Ele busca trabalhar com situações do dia-a-dia dos estudantes que envolvam o assunto abordado. Procura também desenvolver experiências, na própria sala de aula, com materiais fáceis de encontrar.

Com licenciatura plena em matemática e pós-graduação em metodologia do ensino de matemática, Lealci está há 14 anos no magistério. “Apesar de não ter formação específica na área, procuro me virar com o pouco que tenho, fazendo malabarismos para tentar aproximar cada vez mais a física dos meus alunos”, explica. Ele se empenha em apresentar a disciplina de uma forma diferente da física formal.

Como a carga horária da física é de apenas três horas aula por semana, o professor revela que não costuma promover nenhuma saída pedagógica. “Devido ao tempo escasso, só trabalhamos na escola, visto que não temos local adequado para visitação e tempo hábil para fazê-la”, esclarece.

Professor também de matemática e de química, ele procura incentivar os alunos a realizar estudos mais sólidos dessas disciplinas, combinadas com outras áreas do conhecimento. Para isso, sempre comenta questões de vestibulares de todo o país e do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Em 2009, após participar de curso de capacitação no Núcleo Tecnológico Educacional de Bragança (NTE Bragança), no Pará, com os demais professores da escola Isabel Amazonas, Lealci resolveu criar um blogue. “Cada professor criou seu blogue para dinamizar as aulas. É uma ferramenta de inclusão digital divertida tanto para nós quanto para os alunos”, afirma. O blogue de Lealci conquistou o segundo lugar no Concurso Educablog 2009, promovido pelo NTE Bragança. (Fátima Schenini)

Confira o blogue do professor Francisco Lealci

 

Linguagem simples ajuda a promover o aprendizado

Para incentivar seus alunos do ensino médio a aprender física, o professor Geraldo Marcello Horta busca conquistar a amizade e a confiança da turma e ensinar a matéria de forma clara e objetiva. “Quando é ensinada por meio de uma linguagem simples e com a utilização de exemplos do dia-a-dia, a física é mais bem aceita pelos estudantes”, destaca.

Há 15 anos no magistério, Geraldo Marcello leciona na Escola Estadual Presidente Tancredo Neves, no município mineiro de Dom Silvério, a 180 quilômetros de Belo Horizonte. Como a escola não tem laboratório de física e química, o professor costuma desenvolver experiências na própria sala de aula, além de usar vídeos bem elaborados.

Geraldo Marcello acredita que um bom professor de física precisa ter boa relação com os alunos, repassar os conhecimentos de maneira criativa e, principalmente, fazer tudo isso com amor e dedicação. Ele também defende a necessidade de atualização frequente dos professores. Nesse sentido, costuma participar dos cursos promovidos pela Secretaria de Educação de Minas Gerais.

Há alguns anos, ele criou um blogue para divulgar o ensino da física de forma simples e descomplicada. Com a ferramenta, o professor procurou promover uma aproximação virtual entre alunos, ex-alunos e pessoas que se interessam pelo assunto em qualquer lugar do mundo.

Geraldo Marcello tem licenciatura plena em matemática e física, graduação em ciências contábeis e pós-graduação em administração financeira de empresas. Além de lecionar física, dá aulas de empreendedorismo e gestão no programa Reinventando o Ensino Médio, da Secretaria de Educação mineira. O programa foi criado para reformular o ensino médio por meio da ordenação curricular e do uso de estratégias didático-pedagógicas inovadoras. (Fátima Schenini)

Saiba mais no blogue do professor Geraldo Marcello

 

Conteúdo on-line ajuda professor no trabalho com os estudantes

Professor durante 40 anos, co-autor de livros sobre física, Nicolau Gilberto Ferraro criou um blogue, em 2010, para ajudar os alunos a estudar a disciplina. “Procuro passar minha experiência de muitos anos em sala de aula”, ressalta o professor. Para o trabalho no blogue Os Fundamentos da Física, que recebe cerca de 2,5 mil visitas diárias, Ferraro conta com a colaboração de Sidney Borges, professor de física e arquiteto.

As postagens seguem uma programação preestabelecida. Às segundas, terças e quartas-feiras, é abordado o conteúdo dos três anos do ensino médio. Às quintas-feiras, o tema é o vestibular. Às sextas, são colocadas pequenas animações para a revisão dos principais conteúdos, de forma lúdica. “Aos sábados, apresentamos os principais efeitos estudados em física, os ganhadores do Prêmio Nobel e exercícios especiais, com o título Preparando-se para o Enem”, diz o professor. Atualmente, é desenvolvido o tema Um Pouco da História da Física.

“Procuramos descrever o empenho e a dedicação de pensadores e cientistas na formulação de teorias e leis e destacar fatos que apresentem dados interessantes da vida dessas pessoas notáveis”, afirma. Aos domingos, o tema é A Arte do Blogue, com a apresentação de obras e biografias de pintores, fotógrafos e arquitetos. Os inúmeros depoimentos de alunos têm animado os dois professores a prosseguir com o trabalho e a desenvolver novas seções.

Ao longo da carreira, Ferraro tem percebido que muitos alunos ingressam no ensino médio com a ideia preconcebida de que física é disciplina de difícil assimilação. “Como despertar o interesse do aluno? É importante mostrar que a física está presente no dia a dia e nas aplicações tecnológicas familiares aos alunos”, destaca. Ele sugere ainda a realização, na própria sala de aula, de pequenos experimentos com materiais do cotidiano, de forma a sedimentar a teoria apresentada.

O professor também julga importante tecer considerações sobre a história da física, ao mostrar aos estudantes que ela não é obra de uma só pessoa, mas uma construção humana. Por último, recomenda introduzir o tratamento matemático referente aos fenômenos estudados. “É da maior importância ressaltar que a matemática, como linguagem da física, sintetiza a compreensão dos fenômenos”, diz.

Licenciado em física e engenheiro metalurgista, Ferraro iniciou as atividades de magistério na Escola Estadual Professor Alberto Conte, em São Paulo. Lecionou na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, no Departamento de Engenharia Mecânica e em escolas e cursos particulares preparatórios para vestibulares. Atualmente, exerce a função de diretor pedagógico do Colégio Objetivo NHN. (Fátima Schenini)

Acesse o blogue Os Fundamentos da Física

Projeto sobre carnaval alegra alunos no interior capixaba

Alunos confeccionam estandarte

Professora de artes na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Professora Inah Werneck, no município capixaba de Cachoeiro de Itapemirim, Michelle Nasr desenvolveu projeto, no início deste ano letivo, com o tema carnaval. Durante a realização do trabalho, no período de 24 a 28 de fevereiro último, estudantes do ensino fundamental fizeram pesquisas e estudos relativos ao tema para valorizar e destacar a cultura afrobrasileira inserida nessa festividade popular. Os alunos também tiveram a oportunidade de confeccionar estandartes sobre a cantora e atriz Carmem Miranda (1909-1955).

O trabalho incluiu a realização do grito de carnaval, nos turnos matutino e vespertino. Os estudantes dançaram ao som de músicas carnavalescas, participaram de concurso de fantasias e puderam apreciar exposição dos estandartes que confeccionaram. A atividade teve a participação ativa das professoras Rosangela e Telma, da sala de inclusão, além da própria Michelle.

“Foi um trabalho feito com muito amor, que me deixou muito feliz com o resultado”, diz Michelle. “Temos um excelente grupo de alunos que gosta e vive a arte”, avalia. Com licenciatura em artes visuais e em música, ela tem pós-graduação em artes e em psicopedagogia, mestrado em música e doutorado em educação. (Fátima Schenini

Inés Prieto Schmidt Sauerwein (UFSM): “Não é possível fazer aulas atraentes se os professores não têm tempo de prepará-las”

Professora do Departamento de Física da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Inés Prieto Schmidt Sauerwein trabalha, desde 1997, com diversas disciplinas do curso de licenciatura plena em física. Sua experiência no magistério inclui a educação básica, no início da carreira, e os programas de pós-graduação em educação em ciências, nos quais orienta projetos de mestrado e doutorado voltados para os três níveis de ensino.

Na visão de Inés, para que a disciplina de física se torne mais atraente para os alunos, os professores precisam dispor de tempo para investir em formação permanente na escola. “Não é possível fazer aulas atraentes se os professores não têm tempo de prepará-las”, destaca. Ela aponta ainda a necessidade de o professor ser profissional de uma escola apenas para poder dividir a carga horária semanal entre o tempo em que estará frente aos alunos e a preparação do que vai apresentar nas aulas.

Com licenciatura plena em física pela Universidade de São Paulo (USP), Inés tem mestrado em ensino de ciências (modalidade física e química) também pela USP e doutorado em educação científica e tecnológica pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Jornal do Professor A disciplina de física é uma das mais temidas pelos alunos do ensino médio. Por que isso ocorre?

Inés Sauerwein – Dada a minha experiência com professores na formação inicial e na continuada, atribuo esse temor, entre outras coisas, à falta de sentido atribuída à física. O que eu quero dizer com isso? As pessoas associam a física à matemática, o que é correto. A física usa a matemática para comunicar, divulgar e representar os fenômenos naturais como linguagem, assim como nós usamos o português para nos comunicarmos. Caso não dominemos a norma culta, a comunicação humana fica comprometida. Assim ocorre com a física — no ensino, seja em qualquer nível de escolaridade, dá-se ênfase à matemática, sem mostrar ou indicar de que maneira os fenômenos físicos são descritos por essa linguagem. Essa não é uma tarefa simples, mas também não fazê-la aumenta o temor dos alunos pela disciplina. Os professores em exercício precisam ter formação sólida, dominar a física e saber trabalhá-la, adequando-a ao público atendido, sejam alunos das séries iniciais e finais do ensino fundamental, alunos do ensino médio ou alunos da educação superior.

O que os professores podem fazer para tornar as aulas de física mais atraentes para os alunos?

– Essa pergunta às vezes me incomoda. Parece que os professores não fazem a sua parte para que os alunos compreendam a física. Para que a física seja mais atraente para os alunos, os professores precisam ter tempo na carreira do magistério para formação permanente na escola. Não é possível fazer aulas atraentes se os professores não têm tempo de prepará-las. Aqui, aponto a necessidade de o professor ser profissional de uma escola apenas e dividir a carga horária semanal entre estar frente aos alunos e a preparação do que será trabalhado nessas aulas. Além de estudar o conteúdo da física, é necessário que o professor estude também formas de ensinar esse conteúdo, além das formas de avaliar a aprendizagem dos alunos e de seu próprio trabalho. Destaco que esse processo formativo a que me refiro quando o professor não está à frente de alunos deve ter momentos individuais e coletivos, com seus pares da instituição.

Supondo que essas condições estejam satisfeitas, a resposta à questão é a mesma da anterior: fazer com que os alunos percebam que a matemática é uma linguagem que descreve os fenômenos físicos, que ela foi uma conquista da humanidade para comunicar vários aspectos de forma bastante sintética. Por isso, é preciso entender o significado das equações, pois há muita informação que é comunicada por uma expressão matemática. Professores e alunos precisam dominá-la. Caso contrário, estarão perdendo o significado da física.

Sabe-se que muitas escolas não têm laboratórios. Que ferramentas ou materiais didáticos podem ser usados para que os alunos compreendam melhor os conteúdos de física?

– Há muitos materiais à disposição dos professores para a preparação das aulas, como textos de divulgação científica, textos originais de cientistas (Newton, Huygens etc.), música, literatura, filmes, artes plásticas, objetos de aprendizagem, simulações computacionais, ferramentas computacionais. Entretanto, o professor precisa ter tempo para estudar e preparar esses materiais para os objetivos que ele se dispõe a atingir com os alunos.

É importante a participação dos estudantes em feiras de ciências ou outros eventos?

– Extremamente relevante e importante, desde que esses eventos sejam muito bem organizados e que os participantes não sintam que estão perdendo tempo. Os eventos devem ter objetivos claros para os envolvidos na organização e na preparação das atividades a serem mostradas para o público em geral. Assim como ao preparar uma visita a um museu, o professor deve montar um roteiro de visitação de acordo com seu objetivo dentro da programação mais ampla do seu trabalho anual. Não basta levar os alunos ao museu. É preciso pensar mecanismos de usar as informações veiculadas nesse ambiente e transformá-las em conhecimentos das ciências (caso seja museu de ciências), articuladas com a programação anual do professor. Como avaliar se a visita contribuiu para a formação dos alunos? Não basta uma pesquisa de opinião: “Você gostou da visita ao museu?” É preciso articular a visita com os conteúdos desenvolvidos em sala de aula.

É importante o uso de tecnologias de comunicação e informação (TIC) nas aulas de física? Como elas podem ser aproveitadas?

– Considero importante, desde que elas sejam usadas para trabalhar os conteúdos da programação dos professores. Como elas devem ser usadas depende do grau de autonomia do professor. É ele quem deve estruturar atividades de ensino de acordo com o que pretende ensinar.

De alguma forma, sua experiência como professora da educação básica é usada em suas aulas com futuros professores de física?

– Sim. Meu início na docência foi na educação básica (ensino fundamental e médio). É claro que não comparo, já que são épocas diferentes, mas a experiência de lidar com pré-adolescentes e adolescentes é muito rica, pois os alunos estão em uma fase de afirmação da personalidade. Dessa forma, torna-se um desafio para os professores ensinar para essa faixa etária, assim como é um desafio para os pais lidar com seus filhos adolescentes. Daí a importância de ter disciplinas como psicologia da educação nos cursos de licenciatura. Não nos dá receitas de como lidar com os alunos, mas nos dá elementos para conhecer essa fase da vida que todos passamos por ela.

Professores de física do ensino médio devem participar de oficinas ou cursos de formação continuada? Qual o papel que a academia deve ter nessas atividades?

– É importante e necessário. A profissão docente exige uma formação permanente. Deveria haver mais interação entre escolas de educação básica e universidades. O papel da academia deveria ser de parceira das escolas, pois somos todos profissionais da educação, somos colegas. As parcerias deveriam instituir-se por longos períodos de tempo. Cursos de curta duração pouco impacto têm sobre mudanças em práticas docentes. Nesse sentido, as instituições parceiras deveriam indicar as necessidades formativas das pessoas envolvidas para então estruturar atividades permanentes de formação. Essas atividades poderiam ocorrer nas escolas e nas universidades, de acordo com os acertos do grupo. Em nossa atuação como orientadores de estágio supervisionado, procuramos estabelecer grupos de trabalho nas escolas. Os professores regentes, que recebem os alunos em formação inicial, mantêm reuniões semanais de acompanhamento e análise das atividades desenvolvidas em sala de aula.

É possível estimular o surgimento de vocações científicas a partir das escolas de educação básica? De que maneira?

– Sim. Sempre. A porta de entrada são os professores. Se eles se mostram entusiasmados com a disciplina com a qual estão trabalhando, os alunos percebem essa atitude e isso se propaga como uma onda. É claro que há alunos que não necessariamente vão trabalhar com ciências no futuro, mas pelo menos não ficariam com aquela sensação de que a física só tem fórmulas muito chatas e totalmente incompreensíveis. A organização de feiras de ciências, participação em olimpíadas, em projetos de parceria com as universidades e visitas a museus são apenas exemplos de algumas iniciativas. Mas, novamente, o professor precisa ter tempo para preparar essas atividades. E ser remunerado por isso. É uma forma de valorização dos profissionais que estão comprometidos com a aprendizagem de seus alunos.