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JORNAL

Novas Tecnologias na Escola

Quinta-feira, 22 de Maio de 2014

Edição 100

EDITORIAL - Novas Tecnologias na Escola

O tema da 100ª edição do Jornal do Professor é Novas Tecnologias na Escola, escolhido por 52,08% dos leitores que votaram na enquete colocada em nossa página.

Neste número, apresentamos experiências desenvolvidas por professores do Centro Municipal de Educação Infantil Monteiro Lobato, em Volta Redonda (RJ); Escola Municipal de Ensino Fundamental 25 de Julho, em Campo Bom (RS); Escola Estadual Olinda Conceição Teixeira Bacha, em Campo Grande (MS); Escola Estadual Capitão Mor Galvão, em Currais Novos (RN).

Outro assunto é o curso de especialização Educação na Cultura Digital, que será desenvolvido pelas universidades federais de Ouro Preto (Ufop), Roraima (UFRR) e Santa Catarina (UFSC), com o objetivo de adequar as escolas públicas do país ao uso das novas tecnologias.

A professora Nuria Pons Vilardell Camas, do Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná é a nossa entrevistada. E a professora Elisabeth Silva de Almeida Amorim, que leciona língua portuguesa e literatura no Colégio Lauro Farani, em Iaçu (BA), participa da seção Espaço do Professor.

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

Projeto desafia estudantes a desenvolver pensamento crítico

Alunos e professoras na beira de um rio

Professora de ciências na Escola Municipal de Ensino Fundamental 25 de Julho, em Campo Bom, região metropolitana de Porto Alegre, Margarida Telles da Cruz avalia as tecnologias como ferramentas importantes para sensibilizar os alunos e capazes de “fazer mágicas” quando associadas a uma boa pedagogia. “Nossos alunos são nativos digitais e já não podem aprender apenas dentro da sala de aula ou fechados em uma biblioteca ou laboratório de informática, com programas de busca na internet”, diz Margarida.

Para a professora, que dá aulas a três turmas do sexto ano e a duas do nono, é necessário levar os estudantes a ter contato com diferentes ambientes para conhecer os diversos ecossistemas, aprender sobre a história desses locais, verificar se está ocorrendo depredação e saber como preservá-los.

De acordo com Margarida, as tecnologias da informação e comunicação (TIC) permitem aos estudantes divulgar fotos, vídeos, relatórios e ações, além de compartilhar com a comunidade questões relacionadas a qualidade e quantidade de água do rio ou à função dos banhados. “Os alunos são desafiados a ir além de respostas simples, a sair dos muros da escola, a desenvolver habilidades de pensar criticamente e a resolver problemas do dia a dia”, destaca.

“Nas saídas de campo, ao filmar, fotografar, observar e comparar, os estudantes podem ter uma nova relação com o ambiente, fazer mapeamento e minimizar de impactos como depósitos de lixo, falta de mata ciliar, assoreamento e erosão”, diz a professora. “Além disso, podem trocar informações, pesquisar, discutir, formular e testar hipóteses e tirar as próprias conclusões.” Margarida salienta que os estudantes, ao se apropriarem desse conhecimento, vão se sentir parte da natureza e descobrir razões para a preservação.

Prêmio — Há 27 anos no magistério, com licenciatura plena em biologia, licenciatura curta em ciências e pós-graduação em gestão regional de recursos hídricos, Margarida foi uma das vencedoras da sétima edição do Prêmio Professores do Brasil, com o projeto Eco Web. Premiado na subcategoria Educação Digital Articulada ao Desenvolvimento do Currículo, o projeto usa as TIC como ferramentas para sensibilizar as pessoas sobre a importância de agir de forma sustentável visando à preservação e à conservação dos diferentes ecossistemas.

Criado em 2011, o trabalho ainda é desenvolvido. “O projeto está alicerçado em questões como sensibilização, reeducação, comprometimento e mudança de comportamento, o que deve ser retomado constantemente”, justifica a professora.

O projeto envolve alunos da escola, do maternal ao nono ano do ensino fundamental, e de outras unidades de ensino do município, além de grupos de professores, por meio de agendamento. Inclui ainda estudantes com deficiência. “Trabalhamos com alunos que apresentam diferentes níveis de aprendizagem. Uns ajudam os outros e todos se sentem valorizados”, relata a professora. “Usando diferentes tecnologias associadas à sustentabilidade, todos aprendem (dentro de suas limitações) e ensinam os colegas.”

De acordo com Margarida, alunos que muitas vezes não conseguem escrever na sala de aula ou têm dificuldades de acompanhar a turma aprendem com maior facilidade a partir da vivência em práticas de campo. “Com o auxílio de tecnologias, eles podem dar contribuição oral na hora de fazer um relatório, um vídeo, de ajudar na escolha das fotos. Todos se sentem valorizados”, garante.

Os estudantes usam ferramentas tecnológicas como tablets, smartphones, binóculos, filmadoras, equipamento de GPS e máquinas digitais. Todo o material produzido é postado nas redes sociais — facebook, blogues e twitter do Eco Web. “A partir das vivências no Eco Web, consideramos que não temos alunos com problemas de aprendizagem, mas crianças e adolescentes que aprendem de formas e em ritmos diferentes”, analisa a professora. Ela ainda coordena outros projetos: o Dourado, em parceria com o Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos (Comitesinos) e com a prefeitura, e o projeto Conhecendo os Banhados. (Fátima Schenini)

Saiba mais no blogue do projeto Eco Web e no blogue da EEF 25 de Julho

Agência de propaganda em escola faz aluno melhorar desempenho

Professor Alexandre com grupo de alunos

O projeto de criação de uma agência de publicidade e propaganda experimental na Escola Estadual Olinda Conceição Teixeira Bacha, em Campo Grande, provocou mudanças positivas entre os alunos participantes. Desenvolvido na turma B do oitavo ano do ensino fundamental, que apresentava as notas mais baixas da escola, o projeto incluía, entre os principais benefícios, a elevação da autoestima dos estudantes.

“O projeto Agência de Publicidade e Propaganda 30IdeiasPP foi um divisor de águas para nossa escola”, diz seu criador, o professor Alexandre Gonçalves de Souza. Segundo ele, os estudantes passaram “da água para o vinho” e a turma nem parecia a mesma de quando o projeto teve início, no segundo semestre de 2011. “O respeito, o carinho, a dedicação, o compromisso e a vontade de vencer foram mudanças evidentes em nossos alunos”, destaca.

Contratada, de forma fictícia, pela direção da escola, a agência funcionava de modo semelhante ao de uma agência real, com a tarefa de desenvolver as campanhas publicitárias solicitadas. Os estudantes foram divididos em cinco equipes, denominadas “departamentos”, de acordo com as habilidades de cada um. Como o projeto foi desenvolvido em parceria com professores de outras disciplinas, os departamentos estavam ligados diretamente às disciplinas envolvidas: recursos humanos (língua inglesa), contabilidade e financeiro (matemática), linguística e design (língua portuguesa), criação e finalização (tecnologias educacionais).

O trabalho foi um dos vencedores da sexta edição do Prêmio Professores do Brasil, na categoria Educação Digital. Hoje, funciona como projeto extraclasse, aberto à participação de todos os alunos. “Criamos uma agência de cinema dentro da escola para a produção de pequenos filmes sobre a cultura de Mato Grosso do Sul”, explica Alexandre. “Com isso, realizaremos intercâmbio cultural com alunos de outros países da América Latina por meio de uma rede internacional de educadores inovadores.”

Orgulho — De acordo com o professor, apesar de algumas dificuldades encontradas para a realização do projeto — problemas de conexão com a internet ou de pane nos computadores, entre outros —, o trabalho teve continuidade, com o esforço dos estudantes. “Dessa forma, quando os prêmios começaram a chegar, tudo mudou. Os alunos, orgulhosos, anunciavam na comunidade o que acontecia na escola”, destaca Alexandre. “Minha vida é dividida entre antes e depois do 30IdeiasPP e meu currículo foi enriquecido.”

Com graduação em filosofia e em história e especialização em mídias na educação, Alexandre exerce a atividade de professor gerenciador de tecnologias educacionais e recursos midiáticos na escola Olinda Conceição Teixeira Bacha. Para ele, que trabalha com alunos de todas as turmas do ensino fundamental e do ensino médio e dos cursos da rede E-Tec Brasil — educação profissional e tecnológica na modalidade a distância — oferecidos na instituição, a evolução constante das tecnologias apresenta cenário inovador e desafiador para a educação. “Cabe à escola inserir o aluno nesse novo mundo”, afirma. (Fátima Schenini)

Saiba mais no no facebook da EE Olinda Conceição

Trabalho em telessala resulta em produção de filme sobre Lampião

Cena de filmagem em banco de praça

A professora Irene Maria de Medeiros é adepta das teleaulas. Na Escola Estadual Capitão-Mor Galvão, no município potiguar de Currais Novos, ela é orientadora do ambiente da telessala, que considera importante e capaz, em combinação com outros espaços, de ampliar as possibilidades de aprendizagem.

“A telessala, aliada ao projeto TV Escola-Multidisciplinar, pode ser, cada vez mais, um ponto de partida e de chegada”, diz Irene. “Nesse espaço, que defendo como um ambiente estimulador, pois adota as mídias de forma construtiva, atendo alunos do terceiro ano do ensino médio noturno diferenciado, com projetos interdisciplinares”, explica.

Na metodologia de telessala são combinados diversos recursos didáticos para favorecer a aprendizagem. O grupo de estudantes é conduzido por um orientador, responsável pela organização do ambiente e pelo desenvolvimento da aula. A telessala é, assim, um ambiente de aprendizagem, de investigação, pesquisa, construção e criatividade, com o apoio de equipamentos eletrônicos. “Educar com novas tecnologias é um desafio, mas podemos fazer adaptações”, destaca a professora, com conhecimento de causa. Seu projeto, O Prazer de Educar na Arte do Fazer Cinema, que usa como ferramenta um telefone celular, foi um dos vencedores da sétima edição do Prêmio Professores do Brasil em 2013, na subcategoria Educação Digital Articulada ao Desenvolvimento do Currículo.

“Apresentar ao aluno a linguagem do cinema usando um simples celular serve de alerta a nós, professores”, enfatiza. “Precisamos aprender a gerenciar vários espaços integrados de forma aberta, equilibrada e inovadora, pois só assim avançaremos de verdade e poderemos falar de qualidade na educação, onde a tecnologia seja um apoio facilitador da aprendizagem humanizadora.”

Cinema — Segundo Irene, só com muita determinação e força de vontade foi possível desenvolver o projeto. “E a interação entre a família e a escola foi crucial”, destaca. O projeto contou com algumas parcerias e com o apoio da Secretaria de Educação do Rio Grande do Norte. “A escola nos apoiou em todos os momentos, sempre aprovando as ideias e colocando, na medida do possível, materiais disponíveis para a execução das filmagens”, afirma.

Como o propósito da professora era orientar os alunos sobre a linguagem do cinema, ela aproveitou o que eles tinham em mente para, a partir daí, orientá-los na criação do roteiro. O filme, A Revolta de Lampião, tem cenas de ação, romance e um toque de humor. O personagem principal é Virgulino Ferreira da Silva, cangaceiro nordestino, conhecido como Lampião [1898-1938].

Parte do filme foi realizada em Povoado da Cruz, localidade próxima. Os estudantes foram muito bem recebidos pelos moradores. “Algumas cenas precisaram ser gravadas até 15 vezes, sob o sol. Mas o resultado final ficou maravilhoso”, avalia a professora. Este ano, ela dará sequência ao projeto, com novo assunto. Por ser ano eleitoral, ela enfocará o tema Democracia e Cidadania: meu Voto Consciente. Para tanto, pediu a participação de professores de filosofia, sociologia, língua portuguesa e história. “O projeto vai ser de grande significado para a instituição de ensino e para o aprendizado dos nossos alunos”, diz.

Irene entende que cada educador deve escolher a mídia educacional que melhor se encaixa em sua disciplina e em seu cotidiano a fim de tornar a sala de aula um ambiente interativo e prático, que busque a relação entre o aprender e o ensinar. Pedagoga e pós-graduada em tecnologias em educação, ela atua no magistério há 32 anos. (Fátima Schenini)

Emissora de rádio faz sucesso com alunos da educação infantil

Alunos em estúdio de rádio

Uma rádio, que vai ao ar com participação ativa de crianças de 3 a 5 anos, faz sucesso entre os alunos do Centro Municipal de Educação Infantil Monteiro Lobato, suas famílias e moradores do município fluminense de Volta Redonda. Implantada em 2013 pela professora Ana Paula Corrêa de Oliveira Coelho, a Rádio Monteiro Lobato tornou-se conhecida na cidade como Rádio Monteirinho.

“Desenvolver um projeto de rádio, com a participação ativa das crianças, foi meu maior desafio”, diz a pedagoga, pós-graduada em psicopedagogia, há 21 anos na área de educação infantil. Ana Paula, que trabalha como implementadora de informática desde 2007, explica que o projeto foi uma orientação da Coordenação de Informática Aplicada à Educação de Volta Redonda. Ele foi desenvolvido anteriormente por Patrícia Osório, implementadora de informática na Escola Municipal Rubens Machado, com alunos do ensino fundamental.

A grande referência de Ana Paula em seu trabalho é o educador Paulo Freire [1921-1977]. Para ele, ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou sua construção. Por isso, as atividades que ela promove no laboratório de informática visam a um trabalho integrado com a sala de aula, a fim de tornar a aprendizagem significativa para as crianças.

Com uma programação variada, a rádio divulga notícias, relata as atividades de destaque nas salas de aulas, transmite a troca de recados entre as crianças e presta homenagem a aniversariantes, com mensagens e oferecimento de músicas a estudantes, professores e funcionários.

A definição dos temas é feita durante as chamadas “reuniões de pauta”, quando Ana Paula reúne os representantes de cada turma. “Em conversa com os alunos, vou instigando e anotando as ideias que vão surgindo”, revela. O passo seguinte é a realização das entrevistas. Os estudantes percorrem as salas de aula para ouvir professores e demais colegas.

Difusão — Os programas, com duração total de 20 minutos, são gravados e podem ser ouvidos pelos estudantes nos horários de recreação. São apresentados também durante as reuniões com pais e responsáveis. Para que qualquer pessoa possa ouvir os programas, em qualquer lugar e a qualquer momento, arquivos de áudio (podcast), geralmente no formato MP3, são postados no blogue dos implementadores de informática de Volta Redonda.

“A experiência da Rádio Monteirinho foi maravilhosa. Os alunos ficaram empolgados, e a comunidade abraçou o projeto”, ressalta a pedagoga Tatiana da Silva Vicente, que em 2013 trabalhava com uma das turmas participantes. Com pós-graduação em psicopedagogia e experiência de 14 anos na área da educação, Tatiana salienta que o projeto foi bem-sucedido.

“As crianças desenvolveram a linguagem oral, a percepção e a atenção auditiva, ampliaram o período de atenção e a concentração”, destaca. Além disso, ela cita a melhoria na socialização e no desenvolvimento da expressão corporal. “Os alunos sentavam-se juntos para ouvir os programas e, quando tocava alguma música agitada, logo criavam coreografias.”

Atual diretora-adjunta do Centro de Educação Monteiro Lobato, Tatiana está empolgada com as novidades previstas para este ano. “A implementadora Ana Paula pretende abrir um espaço na rádio para as famílias atuarem ativamente e divulgarem seus produtos artesanais”, afirma.

Repercussão — Segundo a diretora da escola, Paula Cristina de Souza Silva, o projeto teve boa repercussão. “Recebemos cumprimentos até de pessoas de outros municípios da região”, ressalta.

Pedagoga, com pós-graduação em gestão escolar, há 22 anos no magistério, 12 dos quais na direção, Paula Cristina entende ser de fundamental importância o uso de novas tecnologias na escola. “O trabalho se torna mais dinâmico e instigante, contemplando assim todas as linguagens — visual, auditiva e cinestésica”, diz. Para ela, as tecnologias estão presentes no uso de jogos on-line e off-line, produção de fotos, vídeos, músicas, filmes e outros meios que contribuem para dinamização e enriquecimento de todo processo de ensino-aprendizagem. (Fátima Schenini)

Curso capacitará escola pública em educação na cultura digital

Educação na cultura digital é o tema de curso de especialização a ser oferecido por universidades federais a partir deste ano. A proposta do curso é adequar as escolas públicas do país ao uso das novas tecnologias. Voltado para professores da educação infantil ao ensino médio, gestores e multiplicadores dos núcleos de tecnologia educacional (NTE) de estados e municípios, ele será oferecido, inicialmente, pelas universidades federais de Ouro Preto (Ufop), Roraima (UFRR) e Santa Catarina (UFSC) como experiência-piloto. A partir de 2015, quando entrar em funcionamento efetivo, serão abertas vagas em outras instituições.

As aulas serão dirigidas a grupos de informação que atuam nas escolas — professores, integrantes de equipes gestoras e formadores das redes locais de ensino que dão suporte ao uso das tecnologias (rede de formação Proinfo e núcleos de tecnologia educacional). Com duração de 18 meses e carga horária total de 360 horas de aulas, o curso terá aulas a distância e encontros presenciais. A iniciativa é da Diretoria de Formulação de Conteúdos Digitais da Secretaria de Educação Básica (SEB) do Ministério da Educação.

Em Roraima, há 150 vagas, destinadas a 25 instituições educacionais de diferentes municípios. O início das aulas está previsto para este mês. “O objetivo do curso é formar professores e gestores da rede pública de ensino para a integração criativa e crítica das tecnologias digitais de informação e comunicação aos currículos escolares”, explica a coordenadora-geral do curso no estado, Teresa Kátia Albuquerque, professora do Centro de Educação (Ceduc) da UFRR.

Em Minas Gerais, o curso terá início ainda este mês. As aulas vão beneficiar 172 educadores dos municípios de Ouro Preto, Belo Horizonte, Conselheiro Lafaiete, Sete Lagoas, Divinópolis e Ponte Nova. Os encontros presenciais serão centralizados em Ouro Preto, com a participação de todos os cursistas. As equipes das escolas devem incluir um professor de matemática, um de português e dois de áreas escolhidas pelas próprias instituições de ensino.

Resistência — “O curso trará como benefício uma adequação das escolas ao uso das novas tecnologias, com a possibilidade de proporcionar uma ruptura da resistência de vários professores ao uso de novas ferramentas e metodologias de ensino”, diz o coordenador-geral do curso na Ufop, Fernando Cortez Sica.

Uma questão interessante, segundo Sica, é que o professor não estará isolado para tentar implantar as mudanças. “O formato do curso propicia a criação de equipes (gestores, pedagogos e professores) e permite integração ainda maior das ações na escola”, analisa.

Em Santa Catarina, a oferta é de 800 vagas para todo o estado. As atividades terão início em agosto. De acordo com a professora Edla Ramos, umas das coordenadoras, o propósito do curso é reforçar a orientação ao professor sobre a aplicação das tecnologias na construção de conceitos e conhecimentos indispensáveis em cada disciplina. Dessa forma, o professor pode promover a aprendizagem de fato, não só para comunicar resultados de um processo de aprendizagem. “Queremos que os professores consigam, efetivamente, se apropriar do uso das tecnologias digitais e ultrapassem a dimensão apenas comunicativa, que usa a tecnologia para a produção de narrativas sobre o que se aprendeu,” ressalta Edla.

Reflexão — Na visão de Henrique César da Silva, também coordenador, as tecnologias digitais fazem parte da cultura do país e estão presentes em quase todos os planos e dimensões da vida — político, econômico, social, educacional, afetivo. Para Henrique, professor do Departamento de Metodologia de Ensino do Centro de Ciências da Educação da UFSC, isso implica mudanças, já em andamento, perceptíveis nos modos de produção e circulação de conhecimentos em nossa sociedade. “O curso permitirá a professores e a outros atores da comunidade escolar uma reflexão mais profunda sobre o papel da educação nesse contexto”, diz. (Fátima Schenini)

Saiba mais na página do curso na internet

 

“Desmonte” da literatura incentiva hábito da leitura em escola baiana

Alunos pintam muro da escola

Professora de língua portuguesa e literatura brasileira no Colégio Lauro Farani Pedreira de Freitas, no município baiano de Iaçu, Elisabeth Amorim incentiva o hábito da leitura e sempre busca novas ideias para estimular os alunos a apreciar a atividade. Assim, para combater a resistência dos estudantes em relação à leitura, ela resolveu promover oficinas, na sala de aula, para “desmontar” a literatura. “Isso significa dizer desconstruir o texto, mudando de uma série discursiva para outra”, explica Elisabeth.

Segundo ela, os alunos passaram a transformar contos ou romances em charges, bilhetes, cartas, cartazes, cartuns, histórias em quadrinhos ou grafites em tamanho gigante. Os registros tiveram início em 2007. “Vejo tanta riqueza na produção desses estudantes que não consigo desistir de investir em uma educação de qualidade”, afirma.

Depois da criação do projeto Arte no Muro, pela coordenadora pedagógica Simone Lima Aragão, em parceria com os professores de arte, para valorizar os talentos da escola e permitir a estudantes de todas as séries e turnos expressar os dons artísticos, Elisabeth resolveu contribuir com o subprojeto Literatura é Arte! Com a colega Tânia Menezes, que também leciona literatura, ela passou a levar os alunos ao muro da escola para a desmontagem da literatura. Obras como Gabriela, Cravo e Canela, de Jorge Amado, e Vidas Secas, de Graciliano Ramos, além de livros de Monteiro Lobato, foram para o muro da escola, transformados em grafite.

O trabalho era precedido pela leitura de romances e contos, discussões e desmontes literários na sala de aula. Os estudantes também passaram a produzir anúncios gigantes, relacionados às obras literárias, e a espalhá-los nas paredes da escola. Para Elisabeth, era uma forma de aumentar a procura pelos livros anunciados e conquistar leitores. “Sou tão apaixonada pela literatura produzida pelos estudantes que criei uma revista para socializar as produções, a Perfil, revista literária do Lauro Farani”, revela a professora.

A revista, publicada de 2007 a 2011, voltada para a literatura desmontada, atende a todas as áreas e mudou o nome para Perfil: o Lauro em Foco. “Todos os resultados são significantes, pois a literatura desmontada dos estudantes do Colégio Lauro Farani ganhou a Universidade do Estado da Bahia (Uneb) com a minha pesquisa de mestrado em crítica cultural”, diz a professora.

Única escola de segundo grau na cidade, a instituição atende a aproximadamente 1,3 mil alunos nas modalidades ensino médio regular, técnico em agropecuária e Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (Proeja). A diretora é Ivanilza Queiroz. (Fátima Schenini)

Nuria Pons Vilardell Camas (UFPR): “O melhor resultado não virá pela tecnologia, mas pela compreensão do que se espera da educação”

Professora Nuria Pons, da UFPR

Professora do Setor de Educação, do Departamento de Teoria e Prática do Ensino da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Nuria Pons Vilardell Camas dedica-se desde 2000 a estudar a integração de novas tecnologias ao currículo educacional. Ela constata que o mundo no qual vivemos é praticamente digital e que, portanto, a tecnologia faz parte do dia a dia. Entretanto, independentemente da tecnologia, afirma que o importante é entender, criar e dar vazão a uma nova escola, que vislumbre o currículo como o caminho a ser construído para e pelos aprendizes. “O melhor resultado não virá pela tecnologia, mas pela compreensão do que se espera da educação”, avalia. “A tecnologia é parte, não é o todo.”

Com mestrado e doutorado na área de educação, Nuria atua como docente na graduação e na extensão. No Programa de Pós-Graduação em Educação: Teoria e Prática do Ensino, promove pesquisas sobre cultura digital e formação de professores, letramento da informação e integração curricular das tecnologias da informação e comunicação (TIC).

Jornal do ProfessorO que pode ser considerado como novas tecnologias e quais podem ser usadas nas escolas com melhores resultados?

Nuria Pons Vilardell Camas – Por novas tecnologias entende-se a convergência de tecnologias e mídias para um único dispositivo, que pode ser o notebook, o celular, o tablet, a lousa digital, o robô e quaisquer outras que surjam. Para o uso educacional, interessa particularmente a produção colaborativa de conhecimento, o registro, a busca de informações atualizadas, a autoria e a coautoria de nossos alunos, um professor e um gestor aberto às mudanças e também reflexivo. O importante, independentemente da tecnologia, é entender, criar e dar vazão a uma nova escola, que vislumbre o currículo como o caminho a ser construído para e pelos aprendizes, incluindo alunos, professores, gestores e familiares.

Na verdade, o melhor resultado não virá pela tecnologia, mas pela compreensão do que se espera da educação, pelo revisitar do projeto político-pedagógico da escola em que o professor atua, discuti-lo amplamente, reformular e formular para não continuar errando na ação pedagógica. A tecnologia é parte, não o todo. Criar um projeto para a realidade em que atua e planejar as aulas levará o professor a escolher a melhor tecnologia para dado conteúdo e contexto. Não se deve esperar um manual de melhores ferramentas e tecnologias para a aula, mas a compreensão da condição em que se está para a realização das ações.

Qual a importância das novas tecnologias na educação? Quais os principais benefícios que elas podem trazer à aprendizagem?

– Este é o mundo atual e ele é praticamente digital. Portanto, usar tecnologias em sala de aula, na escola, em casa e nas ruas faz parte do dia a dia. Lógico que não se pode esquecer que ainda se luta para tirar crianças e jovens da condição de isolados e também é necessário voltar os olhares e esforços para o ensino e a aprendizagem, de forma a incluí-los digitalmente. A aprendizagem é um dos fins. O que deveria importar na condição escolar é a educação, vista na amplitude dos possíveis caminhos que os estudantes percorrem e percorrerão enquanto cidadãos que se educam. É neste sentido que as tecnologias fazem parte, independentemente de serem novas ou velhas, como o livro, o quadro negro, o giz, ou o celular. É necessário oferecer condições para promoção da educação de nosso tempo, que deve estar integrada ao local em que estivermos.

As instituições de educação superior estão preparando os futuros professores para o uso de novas tecnologias na sala de aula? Na UFPR, especificamente, o que vem sendo feito com relação a esse tema?

– Talvez este seja um dos nossos maiores enfrentamentos na formação de futuros professores. Basta olhar os projetos político-pedagógicos das licenciaturas e das pedagogias, salvo exceções, para saber que, quando muito, os discentes têm em suas cargas horárias no máximo 100 horas sobre o uso de tecnologias em sala de aula. Para alguns, esse uso é voltado à parte técnica — ligar, desligar, usar um software ou aplicativo — ou apenas à teórica, como estudar a condição pós-moderna das mídias. Isso é importante, sim. Entretanto, não será somente isso que o professor enfrentará na escola. E é no enfrentar, entendido como prática, que se deve pensar. E em preparar o professor.

Na UFPR, num movimento de avanço, estamos instituindo um núcleo de pesquisa de integração das tecnologias à educação, entre os setores de ciências exatas e de educação. A proposta é exatamente esse enfrentamento: unir os conhecimentos técnico-pedagógicos de forma interdisciplinar para a formação dos futuros professores no âmbito do uso das tecnologias e na parte pedagógica, que deve se dar também na prática. Ou seja, potencializar projetos de ensino, pesquisa e extensão que possibilitem aos alunos licenciandos desenvolver e experimentar, desde recursos educacionais abertos (REA) a plataformas formadoras e games, entre outros, para uso em sala de aula, na educação básica, tanto pelos alunos da UFPR quanto por professores na ativa.

A união histórica desses dois setores da universidade deve possibilitar a formação inicial dos futuros professores e permitir o atendimento, no ensino, na pesquisa e na extensão, e o diálogo com as escolas e seus professores. Além de revisitar, reformular e, quem sabe, propor a criação de licenciaturas, no setor de exatas, que atendam as necessidades atuais de uma escola de seu tempo, com professores de seu tempo, para preparar o hoje e o amanhã. Pensar na escola sem as fragmentações às quais todos estão acostumados. Nesse sentido, não podemos esquecer o apoio do reitor, Zaki Akel Sobrinho. Talvez estejamos começando a promover, na prática, o que já temos em teoria, que é a colaboração entre as áreas, num esforço para melhorar a educação e a formação dos professores.

O fato de a internet oferecer uma variedade de conteúdos a qualquer pessoa pode, em algum momento, resultar na dispensa da figura do professor ou do ensino formal? Por quê?

– É comum essa preocupação. Entretanto, sempre será necessário um professor para dar conhecimento científico aos alunos, propiciar aos alunos a mediação do conhecimento. Propiciar significa aqui a possibilidade freireana da autonomia do aluno. Essa autonomia passa pelo questionamento, pesquisa, registro, organização, autoria e coautoria, que são também propiciados por sistemas eletrônico-digitais com acesso à internet: a web com todo o potencial. Ao docente cabe o papel de auxiliar os alunos a adquirir a capacidade plena de desenvolvimento para as necessidades do mundo digital. A união das possibilidades com o uso da web 2.0 — escrita, leitura, partilha, imagem e som em uma única página navegável, colaboração — pode ser feita por todos que tenham acesso à rede de computadores. Entretanto, acesso não significa uso, e leitura de páginas da web não significa leitor que aprende, muito menos que compartilhe a aprendizagem e que tenha autoria. Há a necessidade de uma mediação pedagógica, preparada desde a formação inicial até a formação continuada para a inclusão da cultura digital na narrativa curricular, e essa mediação pedagógica é representada pelo papel do professor.

O Ministério da Educação tem promovido cursos de formação para professores sobre o uso didático e pedagógico das tecnologias da informação e comunicação (TIC) no cotidiano escolar. Qual a importância de ações como essas?

– O MEC tem investido na formação do professor. É de extrema importância formar o professor na ativa, não apenas para o uso das TIC. Os cursos têm usado as tecnologias como processo de ensino e aprendizagem com os professores. O Setor de Educação da UFPR, com apoio do MEC e da prefeitura de Curitiba, promoveu o projeto-piloto Edupesquisa para os professores da rede municipal. O curso foi realizado por meio de ambiente virtual de aprendizagem. A intenção não era o ensino do uso das ferramentas digitais. Mas dar um passo além. As tecnologias não eram o fim, mas o meio para a realização do curso de extensão. Um dos resultados da pesquisa, ao fim do curso, em dezembro de 2013, foi a reflexão, pelos professores, sobre o que mudara nas práticas em sala de aula com o uso das tecnologias. Essa reflexão os levou a inovar nessas práticas.

Esse investimento, não só em cursos, mas em infraestrutura, é um alerta sobre o nascer de uma nova escola e de um novo professor. Aponta mudanças no olhar e no aproveitar melhor o que se tem na escola. Os cursos têm mostrado que modernizar nem sempre significa mudar. Obviamente, as TIC podem propiciar relações e transformações. É fundamental ter em mente que o desenvolvimento profissional do docente somente é representativo se houver melhora na educação. Nesse sentido reside a importância das ações do MEC na promoção e no apoio a muitos cursos.