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JORNAL

Esporte na Escola

Terça-feira, 5 de Agosto de 2014

Edição 103

EDITORIAL - Esporte na Escola

Esporte na Escola é o tema da 103ª edição do Jornal do Professor. O assunto foi o preferido de 40,73% dos leitores que votaram na enquete colocada em nossa página.

Nesta edição, selecionamos experiências desenvolvidas por professores de escolas dos municípios de Ariquemes (RO), Boa Vista (RR), Igrejinha (RS), Muzambinho (MG) e Videira (SC). Participa da seção Espaço do Professor, Eronildo Cornélio de Castro, que leciona física na Escola Estadual Ana Libória, em Boa Vista (RR).

Nosso entrevistado é o professor Vicente Molina Neto, da Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (ESEF-UFRGS).

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

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No RS, novas modalidades servem de motivação para os estudantes

Alulgam jogam hóquei em ginásio coberto

O propósito de ampliar o número de modalidades esportivas oferecidas nas aulas de educação física levou o professor Diego Telles Model, do município gaúcho de Igrejinha, a pesquisar alternativas para diversificar as atividades físicas desenvolvidas pelos alunos. O professor, que dá aulas a turmas do quarto ao nono ano do ensino fundamental na Escola Municipal Vila Nova, acredita que a presença de outras modalidades, além de proporcionar um melhor desenvolvimento motriz, torna o aprendizado mais lúdico.

Foi assim que, em 2009, após pesquisa sobre diferentes modalidades, Diego passou a desenvolver, com os alunos, projeto que incluía croquet, manbol, tchoukball, ultimate frisbee e quimbol. As atividades continuam, agora com as turmas do oitavo e do nono anos, com rotação de modalidades.

Naquela época, surgiu o interesse pelo hóquei. Após participar de curso de formação na Confederação Brasileira de Hóquei sobre Grama (CBHG) e conseguir a doação de oito tacos, Diego comprou mais dois e deu início ao trabalho. As atividades começaram nas aulas de educação física. Logo, devido ao interesse demonstrado pelos estudantes, o professor resolveu oferecer a modalidade também em escolinhas. “Em 2010, as atividades contavam com cerca de 20 alunos, com idade entre 11 e 16 anos”, afirma. “Muitos mais gostariam de participar, mas não foi possível por falta de material.”

Com o passar do tempo e maior divulgação, o projeto cresceu. Os estudantes começaram a participar de competições, com bons resultados. Em 2012, conquistaram o primeiro lugar no campeonato brasileiro sub-17, feminino. “Em 2013, passamos a atender mais alunos e de outras escolas”, diz o professor. “Os pais começaram a ficar mais próximos, participando dos treinos e ajudando nas demais necessidades.”

Ampliação — Segundo Diego, há a possibilidade de ampliar o projeto este ano, pois a Federação de Hóquei sobre Grama do Estado do Rio Grande do Sul (Fhers) desenvolveu curso de capacitação e liberou material para o esporte ser divulgado nas demais escolas municipais.

Diego explica que o hóquei é estudado e praticado nas aulas de educação física a partir do quinto ano. Quem tem interesse, pode participar do grupo, às quartas e sextas-feiras, no contraturno, ou aos sábados. Nas manhãs de sábado, o projeto atende ex-alunos, estudantes de outras escolas e a comunidade em geral.

O professor tranquiliza alguns pais, que associam a modalidade ao hóquei no gelo e, consequentemente, imaginam um esporte agressivo e violento. As regras do hóquei sobre grama e indoor visam à preservação dos jogadores e punem a violência severamente.

Divulgação — De acordo com o professor, há também um projeto-piloto de hóquei de rua. “Os alunos levam o material para jogar em local público; quem quiser aprender é convidado a jogar”, afirma. “É uma iniciativa dos alunos para divertimento e divulgação da modalidade.”

Entre os resultados da prática do hóquei sobre grama, o professor cita o aumento da frequência escolar e a consequente melhora no desempenho e a aproximação das famílias com a escola, por meio do projeto. “Sem dúvida, os maiores ganhos percebidos aconteceram em fatores psicossociais, como responsabilidade, companheirismo, respeito às diferenças, liderança, trabalho em equipe, integridade e a comunicação”, enumera.

Outros pontos importantes, para Diego, são a promoção da igualdade, o desenvolvimento do espírito esportivo, da autodescoberta e da autoafirmação. Ele cita também a noção maior de espírito de solidariedade e respeito pelo semelhante e de virtudes como autocontrole, fair-play e respeito às regras.

O professor ressalta, ainda, os ganhos do ponto de vista do desenvolvimento global das crianças. “O hóquei exige movimentação intensa e constante de todos os jogadores e trabalha com todos os músculos do corpo”, assegura. Graduado em educação física, com pós-graduação em metodologias de ensino e gestão da educação, Diego está no magistério há dez anos. (Fátima Schenini)

Acesse o blogue da Escola Municipal Vila Nova

Alunos evoluem nos conceitos de coletividade e trabalho em equipe

Alugam jogam em ginásio

Localizada no município catarinense de Videira, com história de sucesso em modalidades como futsal e judô, a Escola de Educação Básica Municipal Joaquim Amarante estimula as práticas esportivas entre os alunos. Os mais de 500 estudantes matriculados têm oportunidade de praticar basquete, voleibol, futsal, capoeira e tênis de mesa.

“O esporte ajuda na interação e na sociabilidade entre os alunos e permite que conheçam e respeitem as diferenças e aprendam a importância do trabalho em equipe”, salienta a pedagoga Maria Lúcia Deluque Altenhofen, que dirige a escola há seis anos. “Os benefícios são físicos e psicológicos. Além de fortalecer ossos e músculos, a prática de esportes ajuda na concentração e na coordenação motora.”

Maria Lúcia acredita que o esporte amplia o conceito de coletivo e, consequentemente, auxilia na realização de trabalhos em equipe, estimula a competitividade e ensina o respeito às regras. Na visão da diretora, que está há 24 anos no magistério, a participação em competições e em outros eventos é essencial para que os alunos, além de representar a instituição, interajam com outros grupos e, assim, ampliem a ideia de socialização e fortaleçam a de cooperação. “Com a participação dos alunos em competições, a escola visa sempre ao trabalho em equipe e ao desenvolvimento físico e psicológico dos estudantes”, explica.

De acordo com Maria Lúcia, até 2013, eram oferecidas atividades esportivas somente durante as aulas de educação física, com a realização, por voluntários, de projetos de basquete e de futsal, no contraturno. Com a adesão ao programa Mais Educação, a partir deste ano, a escola passou a oferecer oficinas que incluem atividades esportivas, pedagógicas e de lazer. Aderiu também ao programa Atleta na Escola, com opção pelo voleibol.

“O oferecimento de atividades esportivas pela escola possibilita aos alunos experimentar diferentes modalidades”, diz Sabrina do Amaral, professora de educação física. Segundo ela, a ênfase do esporte na escola não está no rendimento profissional, mas na parte lúdica e recreativa. Isso possibilita a crianças e adolescentes interagir, compartilhar momentos de socialização e cooperação e construir atitudes de respeito, companheirismo e solidariedade.

Para a professora Dulcilene Araújo Marinho, que também leciona educação física, os alunos, com a prática de esportes, aprendem não apenas a competir: “Aprendem ainda que para ser o primeiro, continuar nas competições e ter um bom rendimento é preciso ter metas, responsabilidade, força de vontade e interesse”, destaca.

Este ano, a escola conquistou o primeiro lugar na competição de voleibol dos Jogos Intercolegiais, em abril. Em junho, obteve o quarto lugar entre as escolas participantes dos Jogos Estaduais.

Os resultados observados com a prática de esportes pelos estudantes têm sido positivos. “É visível a mudança de comportamento e de atitudes, pois eles aprendem a respeitar regras e a trabalhar em equipe”, justifica Dulcilene. (Fátima Schenini)

Práticas ensinam estudante a seguir regras e ser responsável

Alunos participam de aulas de canoagem em lagoa

Ardoroso defensor do esporte na escola, o professor Thales Teixeira Bianchi, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais, campus de Muzambinho, acredita que as atividades esportivas contribuem para o desenvolvimento físico, social e mental de crianças e adolescentes. “Os estudantes aprendem a seguir regras e a assumir responsabilidades dentro de uma equipe, a conviver em grupo, com formas diferentes de pensar, e a lidar com derrotas e vitórias, que são comuns no dia a dia”, destaca.

Com graduação em educação física e pós-graduação em treinamento esportivo, Thales está há 12 anos no magistério. Ele desenvolve as modalidades de atletismo, basquete, escalada indoor, futebol, futsal, handebol, natação e vôlei. Segundo ele, além das aulas oferecidas aos próprios alunos, o campus de Muzambinho participa de atividades de iniciação esportiva de crianças expostas a risco social, como os programas Segundo Tempo e Minas Olímpica Geração Esporte, subsidiados pelos governos federal e estadual. São atendidos alunos das escolas municipais e estaduais, três vezes por semanas, no turno escolar.

Técnico nível 2 de canoagem pela confederação brasileira da modalidade, a CBCa, Thales coordena o projeto Canoagem. Os atletas têm participado de diversas competições, como o 1º Festival Brasileiro de Canoagem da Juventude 2012 (conquistaram o segundo e o terceiro lugares na categoria caiaque velocidade); o Australian Youth Olympic Festival 2013 (33º lugar, também em caiaque velocidade); a seletiva nacional para os Jogos Sul-Americanos da Juventude 2013 (quarto e quinto lugares em caiaque velocidade).

Segundo Thales, o campus de Muzambinho mantém parceria com a CBCa e com o Ministério do Esporte, por meio da Secretaria Nacional de Esporte de Alto Rendimento (Snear), que mantém no local um núcleo de alto rendimento de canoagem de velocidade. “O objetivo é descobrir talentos para a prática da modalidade em nossa região”, revela. “É importante que os alunos participem de competições e outros eventos esportivos para que possam vivenciar uma nova realidade e conhecer uma nova cultura”, diz o professor. A seleção é feita de acordo com os níveis que o aluno alcança durante os treinamentos.

Entre os benefícios observados com os estudantes que participam dos eventos esportivos, Thales cita a conhecimento de uma nova cultura, a integração com pessoas e o respeito à hierarquia dentro de uma equipe de competição. “É possível verificar que o comportamento dos alunos que integram equipes e participam de treinamentos e competições é bem diferente frente a outros alunos”, analisa. De acordo com o professor, atitudes de respeito, responsabilidade e preocupação com a conservação de materiais ficam evidenciadas no dia a dia. (Fátima Schenini)

Saiba mais na página do IF Sul de Minas na internet

Em Rondônia, atividades resultam em melhoria na aprendizagem

Atletas de judô, no tatame, fazem cumprimento

As aulas de judô estão entre os principais atrativos do projeto esportivo desenvolvido na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Anísio Teixeira, em Ariquemes (RO). A escola também oferece aulas de futsal, handebol, voleibol, xadrez e caratê aos 1.470 alunos matriculados em turmas da educação básica regular e da educação de jovens e adultos.

“Vários estudos comprovam que crianças e adolescentes praticantes de esportes e fisicamente ativos têm a capacidade de aprender sensivelmente melhorada. Isso por si só já justifica o esporte na escola”, afirma Lucas Henrique da Silva, professor de judô desde o ano 2000. Ele é voluntário do projeto Judô Anísio desde 2011. Lucas revela, no entanto, a existência de outros fatores influenciados pelo esporte no ambiente escolar, que incluem a melhoria nas relações sociais entre os alunos, o controle da agressividade e a percepção da autoimagem, além de aspectos relacionados à saúde.

De acordo com Lucas, embora o judô seja uma modalidade individual, é possível verificar o espírito de grupo que se cria entre os alunos quando passam a integrar equipes em viagens para participar de competições. “Alunos, antes meros desconhecidos, mesmo treinando ou estudando juntos diariamente, passam a relacionar-se de forma mais próxima e fraterna e criam vínculos de amizade mais sólidos”, relata. De acordo com o professor, isso deixa os estudantes predispostos a cumprir tarefas que se apresentem como condições para manter a equipe integrada.

Atleta com participação em inúmeras competições locais, estaduais e nacionais, várias vezes premiado, com licenciatura em educação física, Lucas entende que a prática do esporte está intimamente ligada às competições. Para alguns alunos, segundo ele, as competições são fatores de motivação. Para outros, são vistas como meios de superação de limites, de desafio pessoal. “A competitividade, quando estimulada na medida certa, sem excessos e na idade correta, é importante ferramenta de educação emocional, que visa a desenvolver no indivíduo a capacidade de controle emocional e dos níveis de ansiedade, coragem, cautela, ponderação e reflexão”, avalia.

Desenvolvimento — Na visão de Selma Cristina Dionísia, que dirige a escola há dez anos, a prática esportiva como instrumento educacional visa ao desenvolvimento integral dos alunos. “Implantamos o esporte na escola para atrair o estudante na busca da aprendizagem e para que realmente possamos desenvolver o aluno plenamente”, diz. Bem recebido pela comunidade, o projeto esportivo desenvolvido na escola Anísio Teixeira tem participação de estudantes de outras instituições de ensino.

Para Selma, o esporte capacita os alunos a lidar com as necessidades, desejos e expectativas. Dessa forma, eles podem desenvolver as competências técnica, social e comunicativa, essenciais ao processo de desenvolvimento individual e social. Ela considera o esporte extremamente necessário ao meio educacional, pois não só contribui para que o aluno alcance diferentes maneiras de aprender um movimento, mas para se integrar ao meio social. “É um aprendizado que serve para diversos momentos na vida”, diz Selma. Há 22 anos na área da educação, ela tem licenciatura em pedagogia e pós-graduação em gestão escolar. (Fátima Schenini)

Acesse o blogue da EEEFM Anísio Teixeira

Estudantes de Roraima ganham torneio de vôlei na Venezuela

Praticante apaixonado de voleibol desde a realização das Olimpíadas de Barcelona, em 1992, quando tinha apenas 11 anos, o professor de educação física Izerbledison Franco de Souza é um entusiasta defensor da prática de esportes pelos estudantes. “Estimular o esporte é importante porque ele proporciona algo prazeroso e saudável dentro do âmbito escolar”, justifica. Ele desenvolve em suas aulas as modalidades de voleibol de quadra e de praia.

Professor na Escola Estadual Ana Libória, em Boa Vista, Roraima, Souza revela que as aulas de educação física, torneios e jogos internos são atividades cotidianas na instituição. “Nossa escola proporciona e estimula a participação dos alunos em diferentes modalidades”, diz. Segundo ele, além de proporcionar benefícios à saúde e melhoria na qualidade de vida, a prática desportiva contribui para despertar o prazer dos alunos em representar suas turmas ou escolas em competições.

“O esporte ajuda no desenvolvimento físico e intelectual do estudante”, destaca a diretora da escola, Lucenir Lucena. “As práticas desportivas ajudam no controle de peso, melhoram o sistema circulatório e a resistência física, além de trabalhar a coordenação motora do estudante”, enfatiza.

De acordo com a diretora, a participação em competições e em outros eventos esportivos é um canal importante na educação por desenvolver valores como ganhar e perder, estimular a interação, ampliar a visão de mundo e contribuir para a retirada dos jovens de situações de risco, como o consumo de drogas e álcool.

Encontro — Em julho de 2013, os alunos participaram da primeira edição do Encontro Internacional de Voleibol, na cidade de Upata, Venezuela, e conquistaram o primeiro lugar. A oportunidade surgiu graças ao professor Lázaro Vieira, amigo de Souza. Juntos, eles viabilizaram a realização da competição. “Foi uma ideia ousada e inovadora”, analisa Souza. “Imagine participar de uma competição em outro país, pela primeira vez, com a cara e a coragem e ainda com alunos menores de idade!”

Arrecadar o dinheiro necessário para os gastos com transporte, hospedagem e alimentação durante a viagem exigiu várias ações, como vendas de rifas e a promoção de uma feijoada. Este ano, a segunda edição do certame foi ampliada e disputada em duas sedes — além de Upata, onde a equipe da escola Ana Libória foi novamente campeã, a Isla de Margarita. Lá, os estudantes brasileiros foram vice-campeões.

“A repercussão, para a escola, foi extremamente positiva”, ressalta a diretora, que está no magistério há 25 anos. Ela reconhece que tais eventos proporcionam ganho cultural para os alunos e colaboram para a formação de novos círculos de amizade, que serão concretizados ao longo da vida dos estudantes. Lucenir tem graduação em pedagogia e em biologia e pós-graduação em gestão e administração escolar.

Souza faz questão que os alunos aprendam e sigam, a vida inteira, os exemplos e as lições do esporte para que possam ser bons pais, maridos e trabalhadores. “Nossa equipe é sempre muito elogiada pelo comportamento dentro e fora das quadras, o que me deixa gratificado”, revela o professor. Há 14 anos no magistério, ele leciona também nas escolas municipais Pequeno Príncipe e Vovó Clara. (Fátima Schenini)

Roraima terá representante em programa de física na Suíça

Professor Eronildo Cornélio de Castro na sala de aula

Professor de física na Escola Estadual Ana Libória, em Boa Vista (RR), Eronildo Cornélio de Castro participará de atividades no programa Escola de Física, do Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Cern), em Genebra, Suíça, de 24 a 29 próximos. Nos dias 21 e 22, o professor participará de visita ao Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas (LIP), em Lisboa, Portugal, evento preparatório para a Escola de Física.

Há 14 anos no magistério, Eronildo tem licenciatura plena em física, especialização em ensino de ciências da natureza e matemática e mestrado em física pela Universidade Federal de Roraima (UFRR). Ele fará parte de um grupo de 30 professores brasileiros de ensino médio selecionados para participar do programa do Cern. Estão previstas visitas a instalações e laboratórios e participação em cursos sobre tópicos de física, ministrados nos idiomas dos participantes.

No Brasil, o programa é organizado pela Sociedade Brasileira de Física (SBF), com apoio da Diretoria de Formação de Professores da Educação Básica da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) do Ministério da Educação.

O estado de Roraima participou pela primeira vez do evento em 2013, quando foi representado pelo professor Walter Parente, da Escola Estadual Ayrton Senna da Silva. (Fátima Schenini)

Saiba mais sobre a Escola de Física do Cern e o Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas

Vicente Molina Neto (UFRGS): Esporte deve estar integrado ao projeto pedagógico da escola

Professor Vicente Molina Neto

Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Vicente Molina Neto acredita que o desenvolvimento do esporte na escola como conteúdo da educação física escolar só faz sentido quando está integrado ao projeto pedagógico da instituição de ensino. “Os benefícios do esporte estão localizados na formação humana dos estudantes, em seus desdobramentos físicos, intelectuais e ético-morais e no desenvolvimento humano das sociedades historicamente localizadas”, afirma.

Na UFRGS, Molina coordena o grupo de pesquisa F3P-Efice – Grupo de Estudos Qualitativos Formação de Professores e Prática Pedagógica em Educação Física e Ciências do Esporte. Também participa do grupo Formación Inovación y Nuevas Tecnologias e do Centro de Estudios sobre los Cambios en la Cultura y en la Educación, ambos da Universidade de Barcelona (Espanha), onde cursou doutorado em filosofia e ciências da educação, participou de pós-doutorado e fez estágio sênior como professor convidado. Ele tem licenciatura em educação física, mestrado em educação e experiência nas áreas de formação de professores de educação física e de esporte escolar.

Jornal do ProfessorQual é a importância de desenvolver atividades esportivas na escola?

Vicente Molina Neto – Esse conjunto de perguntas é o mesmo que a área de conhecimento educação física se faz há mais de 40 anos. E nesse tempo todo foram respondidas desde diferentes perspectivas teóricas. No meu ponto de vista, o desenvolvimento do esporte na escola como conteúdo da educação física escolar só faz sentido quando está integrado ao projeto pedagógico da escola e quando isso é entendido por toda a comunidade escolar, não só por um coletivo docente específico. Para entender a questão do esporte na escola é necessário pensar em um erro histórico de preposição – é de preposição mesmo. Historicamente, governos têm tentado “desenvolver o esporte na escola como meio de desenvolvimento humano e social”. Fracassam porque o esporte que vem acontecendo na escola é de certo modo diferente do esporte no sentido que a sociedade em geral dá ao conceito. O sentido que os estudantes dão, quando pedem ao professor de educação física para jogar bola, é diferente do que pensam os gestores quando propõem políticas públicas de incentivo ao esporte na escola. Nesses casos, os adultos antecipam o desenvolvimento de hábitos higiênicos, respeito às regras do jogo e uma série de valores do mundo adulto, como o aumento do quadro nacional de medalhas olímpicas. Já as crianças e adolescentes, quando jogam bola na escola, apostam em celebração e na transgressão das normas em que não acreditam. Portanto, como alguns colegas já disseram, é importante pensar o esporte da escola. É nessa perspectiva que penso estar a importância do esporte da escola como conteúdo da educação física. Na medida em que amplia a cultura corporal de movimento dos estudantes.

Quais os benefícios que o esporte pode trazer para crianças e adolescentes (físicos, comportamentais, emocionais...)?

– Na perspectiva que antes explicitei, os benefícios do esporte estão localizados na formação humana dos estudantes, em seus desdobramentos físicos, intelectuais e ético-morais e no desenvolvimento humano das sociedades historicamente localizadas. O esporte da escola brasileira traz grandes benefícios ao desenvolvimento da sociedade brasileira. Ajuda, integrado com outros processos de socialização, na construção do cidadão brasileiro.

Quais as principais modalidades esportivas que podem ser desenvolvidas na escola? Há algumas mais adequadas ao ambiente escolar do que outras? Por quê?

– Não há uma modalidade esportiva melhor do que outra a ser ensinada na escola. Tampouco há alguma que seja proibida. O que as escolas precisam para o desenvolvimento da educação física em toda sua plenitude, incluído o esporte da escola, é espaço – aberto, coberto, verde. Enfim, espaço onde possam ser desenvolvidos, pelo professorado de educação física, os esportes, os jogos, as lutas, as atividades de comunicação e expressão corporal, a dança o folclore etc.

Os professores de educação física estão capacitados para desenvolver atividades esportivas nas escolas? É importante participar de cursos de especialização? Qual o papel das instituições universitárias nesse aspecto?

– Tudo o que há de bom e ruim no esporte da escola tem uma luxuosa contribuição do professorado de educação física. Em face da constituição histórica da disciplina educação física, o professorado sabe bastante de esporte, mas muito pouco de criança e de adolescente. Sabe muito sobre as regras do jogo, mas pouco como lidar com estudante com dificuldades de aprendizagem. Sabe muito sobre os aspectos biodinâmicos do movimento, mas pouco sobre ler contextos de ensino e aprendizagem. Poucos sabem fazer análise de conjuntura com o fim de integrar seu ensino a um projeto educacional consistente.

Também há muitos cursos bons, principalmente nas universidades federais. Na UFRGS, promovemos uma reforma curricular importante. Acredito que seja o melhor currículo de educação física do Brasil. Centramos as ações nos interesses dos estudantes a partir da pergunta: que saberes são necessários para que o professor de educação física atue de modo competente nos diferentes lugares nos quais a educação ganha concretude e tem visibilidade? Com ele, corrigimos grande parte da fragmentação dos saberes da área de conhecimento e os integramos através de atividades interdisciplinares, contribuímos com a organização do tempo dos alunos (ensino e trabalho; ensino e pesquisa; ensino e extensão; ensino e tempo para estudar) e com ele contribuímos com algo que a departamentalização da universidade tinha retirado dos alunos – a possibilidade das turmas, o grupo, a integração, a possibilidade da formação política face a face.

Contudo, não foi uma tarefa tranquila e unânime, na medida em que discutir currículo e formação do professorado enseja uma série de debates sobre concepções de mundo e de educação. Hoje, na Escola de Educação Física da UFRGS, os estudantes saem preparados para trabalhar em todos os ambientes de ensino e aprendizagem. Ainda mais, são capazes de trabalhar com equipes multidisciplinares e liderá-las. Contudo, devem continuar estudando porque o fato de um estudante ter uma boa formação inicial não dispensa a formação continuada, a especialização e a continuidade dos estudos.

De que forma o Brasil pode estimular a formação de novos atletas?

– O desenvolvimento do esporte, da dança, dos jogos, das lutas passa pela educação física regular. Se quisermos estimular a formação de estudantes qualificados, com sólida formação humana na cultura corporal do movimento humano, coloquemos esses programas sociais sob a tutela do projeto pedagógico da escola e da educação física regular. Ofereçamos as condições e avaliemos os resultados na comunidade escolar.

Algum país poderia servir de exemplo ao Brasil com relação ao desenvolvimento de atividades esportivas na escola? Por quê?

– O Brasil é o modelo dele mesmo. Há que ter paciência histórica. A formação e o desenvolvimento humano não se fazem por decreto. Temos coisas a aprender com os outros, mas eles também têm muito que aprender conosco. Vejam o caso do futebol. A grande maioria dos treinadores europeus de sucesso não se cansa de dizer que adaptou a suas realidades o modelo brasileiro de jogar futebol. Acredito na educação integral e na escola com horário expandido, não para fazer os deveres das disciplinas de caráter intelectual, mas para fazer atividades que integrem o esporte, a dança o teatro, o artesanato, a música e o exercício filosófico – a escola de Atenas. Enfim, atividades alternativas ao currículo escolar de base intelectual. Aqueles estudantes que pretendam se dedicar ao aprimoramento esportivo, com vistas à profissionalização, que tenham oportunidades e meios, dentro e fora da escola. A escola não é uma ilha. A comunidade também educa.

Acesse a página da Escola de Educação Física da UFRGS e do Grupo de Pesquisa F3P-EFICE