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JORNAL

Merenda Escolar

Quinta-feira, 28 de Agosto de 2014

Edição 104

EDITORIAL - Merenda Escolar

O tema da 104ª edição do Jornal do Professor é Merenda Escolar. Ele foi o preferido de 38,72% dos leitores que votaram na enquete colocada em nossa página.

Para esta edição, selecionamos experiências desenvolvidas em escolas de Arroio Grande (RS), Cuiabá (MT), Manaus (AM) e Terra Boa (PR).

A coordenadora de Segurança Alimentar e Nutricional da Coordenação Geral do Programa Nacional de Alimentação Escolar do FNDE, Eliene Ferreira de Sousa, é a entrevistada desta edição. Na seção Espaço do Professor, a participante é a professora Renata Nalim Basilio Tissi, do Centro Integrado de Educação Pública Maria Aparecida Lima Souto Tostes, em Miracema (RJ).

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

Diretora adota sistema de bufê e consegue reduzir desperdício

Alunos na fila do bufê

Decidida a acabar com o desperdício da merenda escolar, a diretora do Colégio Estadual Helena Kolody, em Terra Boa (PR), resolveu adotar o sistema de bufê. Os alunos escolhem e se servem dos alimentos. Segundo Maria Regina Machado Colonello, a mudança, introduzida no início do ano, resultou em redução de 98% no desperdício de alimentos.

“A novidade foi bem recebida, pois os alunos compreenderam a importância do poder de escolha em uma simples refeição e a importância de contribuir para superar o desperdício”, diz a diretora. Para efetivar o projeto foi necessário orientar os estudantes a se servirem apenas da quantidade a ser consumida. “Os alunos foram preparados para a inovação”, salienta.

Há 28 anos no magistério, seis dos quais na direção, Maria Regina destaca que a comunidade tem participação efetiva no processo de gestão. Assim, quando foi apresentada a ideia de investir em um sistema diferente, todos aprovaram. Além disso, contribuíram com promoções destinadas a levantar recursos para a compra do material necessário ao novo sistema.

“Observamos o resgate da dignidade, pois o processo de escolha proporciona a elevação da autoestima do aluno”, diz Maria Regina. Graduada em pedagogia e em educação física e com especialização em planejamento escolar, ela atuou como vice-diretora durante sete anos.

De acordo com Daniel Ricardo Alves de Oliveira, aluno da terceira série do ensino médio, a adoção do sistema de bufê, inicialmente desacreditada por alguns estudantes, mostrou-se efetiva ao ser posta em prática. “O desperdício diminuiu”, ressalta. Aluna da mesma série, Cláudia Valéria Gomes também aplaude a iniciativa. “Temos a liberdade de colocar o alimento em nosso prato em quantidade suficiente e evitar o desperdício”, avalia. “Como passo a maior parte do dia na escola, posso dizer, com conhecimento de causa, que a iniciativa significou muito para todos.”

As merendeiras Iraí Maria Ponticelli e Gisele Raquel Freitas Maina defendem o novo sistema. Além da diminuição do desperdício, elas destacam a redução do tempo usado para servir a merenda. “Observamos também que os alunos se sentem mais valorizados, pois muitos não conheciam o sistema de bufê”, diz Iraí. Gisele ressalta que os estudantes passaram a se comportar melhor nas filas e esperam a vez de se servir. “Há mais respeito com os colegas”, analisa.

De acordo com a professora Leonilda Brandão, que leciona biologia nas três séries do ensino médio, nos turnos da manhã e da tarde, os comentários dos alunos sobre o sistema são favoráveis. “Eles se sentem respeitados pela escola, uma vez que agora podem escolher o alimento e a quantidade”. Para a professora, um projeto de sustentabilidade desenvolvido desde 2013 tem contribuído para a formação de alunos mais conscientes, principalmente com relação aos alimentos. “As sobras nos pratos são insignificantes em relação aos anos anteriores”, avalia Leonilda, há 20 anos no magistério. “Os resultados são encorajadores.” (Fátima Schenini)

Projeto de química orienta alunos sobre alimentação saudável

Estudantes com embalagens vazias de produtos

Projeto desenvolvido nas aulas de química contribuiu para mudar os hábitos alimentares dos estudantes do ensino médio do Instituto Estadual de Educação Aimone Soares Carriconde, em Arroio Grande (RS). “Os alunos tornaram-se mais críticos a respeito dos produtos vendidos na cantina e apresentaram sugestões de cardápio para a merenda escolar”, diz o professor Ivan Nunes Gonçalves, autor do projeto Alimentos, eis a Questão!

De acordo com Ivan, ao estudarem conteúdos relacionados à termoquímica, os alunos tiveram a oportunidade de aprender sobre as calorias dos alimentos. Então, após discussões e debates sobre o cardápio da merenda da escola, sugeriram alterações. Dentre elas, a inclusão de frutas variadas. O professor explica que os estudantes organizaram diferentes cardápios, sempre atendendo às necessidades de calorias diárias recomendadas.

Além da conscientização dos alunos sobre a importância de uma alimentação saudável, o projeto acrescentou conhecimento sobre os processos de armazenamento e conservação de alimentos. Ivan destaca a realização de oficinas de rotulagem para ensinar pais e alunos a verificar, nos rótulos, os aditivos contidos nos produtos e se eles são necessários ou não. “Muitos alunos mudaram radicalmente hábitos alimentares e, além disso, passaram a realizar atividades físicas”, revela.

Integrante do grupo de vencedores da sexta edição do Prêmio Professores do Brasil, em 2012, o projeto foi proposto a partir da observação de diversos casos de obesidade infantil, hipertensão e diabetes na escola. Também motivaram a iniciativa os questionamentos dos alunos nas aulas de química — quais os alimentos mais saudáveis? Deve-se evitar os industrializados? Como entender os rótulos?

As atividades incluíram palestras com nutricionistas e bioquímicos; produção de impressos informativos sobre diferentes tipos de gorduras e hipertensão; produção de vídeos e programas de rádio sobre alimentos e alimentação; cálculos estequiométricos das calorias dos alimentos e realização de webquest sobre gorduras trans e alimentos, entre outras atividades. Professor de química e de matemática, há 28 anos no magistério, Ivan leciona na Escola Estadual Ministro Francisco Brochado da Rocha.

Na visão do diretor do Instituto Aimone Carriconde, Carlos Alberto Pereira da Silva, o projeto é importante por orientar a oferta constante de alimentação saudável, compatível com as faixas etárias dos estudantes. Ele cita como exemplo o fato de a cantina da escola ter interrompido a venda de refrigerantes a partir da realização do projeto.

“Ao falarmos dos benefícios surgidos com o projeto, questões como a escolha e o modo do preparo dos alimentos, classes, tipos e necessidade deste ou daquele alimento ficam evidenciadas, bem como a associação da atividade física à alimentação”, ressalta Carlos Alberto. Professor de educação física, com 25 anos de magistério, ele atua há seis na direção da escola. (Fátima Schenini)

Acesse o blogue do IEE Aimone Soares Carriconde

Produtos regionais enriquecem cardápio de alunos amazonenses

Alunas na hora da merenda

Desde que a alimentação servida nas mais de 500 escolas do Amazonas passou a incluir produtos regionais, em 2012, os estudantes passaram a consumir peixes como pirarucu, aruaná e mapará, frutos como açaí, banana-pacová e cupuaçu, além de outros itens como abóbora, batata-doce e farinha de tapioca.

Na Escola Estadual Senador Flávio da Costa Brito, na zona oeste de Manaus, que tem 382 alunos, matriculados em turmas dos anos iniciais do ensino fundamental, a medida tem sido bem recebida. “Todos os produtos oferecidos são bem aceitos pelas crianças”, diz a diretora da instituição, Eliana Nascimento. “Elas comem com prazer e satisfação, sabendo da importância de seus benefícios.”

Para a pedagoga, que está há 29 anos no magistério e há dez na direção, uma alimentação de qualidade é de grande importância para o desempenho e a aprendizagem dos alunos. Eliana ressalta que os profissionais responsáveis pela merenda participam, semestralmente, de cursos de treinamento promovidos pela Secretaria de Educação e Qualidade do Ensino (Seduc) do Amazonas. O objetivo é oferecer alimentação escolar de qualidade, preparada dentro dos padrões de higiene. “Nossa merenda contribui para formar hábitos saudáveis, pois oferecemos diariamente uma alimentação diferenciada, nutritiva e saborosa”, destaca.

Na Escola Estadual Professora Hilda de Azevedo Tribuzy, na zona norte da capital amazonense, a merenda também é apreciada pelos estudantes. Segundo a diretora, Simone Odalea de Castro e Costa, os produtos regionais, contribuem para isso. “O que é servido é do paladar dos alunos”, garante. “Se fossem produtos de outras regiões, haveria risco de rejeição, até que os estudantes se acostumassem.”

Com 2.350 alunos, a escola atende alunos do ensino fundamental regular durante o dia e da educação de jovens e adultos, à noite. De acordo com a diretora, a merenda é a principal refeição do dia para muitos. “A merenda escolar contribui para que os alunos tenham mais concentração nos estudos”, justifica. Com licenciatura em geografia e pós-graduação em gestão escolar, Simone Odalea está há 11 anos no magistério, três dos quais na direção. (Fátima Schenini)

Cultivo de horta pelos alunos ajuda a enriquecer o cardápio

Alunos colhem cenouras

Alface, beterraba, cebolinha, cenoura, coentro e rúcula são alguns dos vegetais que passaram a enriquecer o cardápio da merenda na Escola Municipal de Educação Básica Professora Joana Dark da Silva, em Cuiabá (MT). O cultivo dos produtos, pelos próprios estudantes, contribui para uma alimentação saudável, ajuda a desenvolver valores relacionados a questões ambientais e produz outros benefícios.

“O trabalho com a horta escolar tem colaborado para a melhoria da aprendizagem dos alunos, além de ser uma saída para manter as crianças por mais tempo afastadas das ruas, da internet, da televisão, dos jogos eletrônicos”, diz o diretor da escola, Watson Pereira Rezende.

Há 13 anos no magistério e há oito meses no exercício da função de diretor, Watson, professor de educação física, criou o projeto Horta Sustentável e Gastronomia no ano passado, quando era o articulador do programa Mais Educação. No projeto, premiado na sétima edição do Prêmio Professores do Brasil, categoria Educação Integral e Integrada, os estudantes trabalham na horta no turno oposto ao das aulas. “Há um fortalecimento nas ações pedagógicas, com melhoria na qualidade de ensino”, diz Watson.

“É possível ter a horta escolar como elemento capaz de nortear o desenvolvimento de todo o projeto educativo, ao desenhar uma rede de saberes interdisciplinares que podem ser trabalhados a partir dela e gerar mudanças no hábito alimentar”, diz o professor. Watson sustenta que a horta contribui para conscientizar a todos sobre a importância de uma alimentação saudável. “Os produtos da horta eram bem aceitos, tanto pelos alunos quanto pelas merendeiras”, diz. “Tivemos uma diminuição significativa de salgados e doces no lanche que os estudantes traziam.”

Preservação — Os canteiros da horta foram construídos com garrafas plásticas, a fim de promover, paralelamente, uma ação de preservação do meio ambiente. A escola também mantém um pomar, onde são cultivadas frutas como acerola, banana, coco, goiaba, jabuticaba, limão e manga. As folhas secas são transformadas em composto orgânico, usado na horta.

Este ano, como o plantio teve início com atraso, a perspectiva é de colheita a partir de setembro. Ela é aguardada com ansiedade, pois significa a diversificação do cardápio da merenda oferecida aos mais de 400 estudantes matriculados na escola. (Fátima Schenini)

Ipê amarelo inspira livro lançado por professora fluminense

Professora Renata

As Partes do Ipê-Amarelo é o título do livro lançado este mês pela professora Renata Nalim Basilio Tissi, do município fluminense de Miracema. A obra, com 20 páginas, é voltada a estudantes do ensino fundamental. Nela, além de abordar as partes da planta, a professora chama a atenção para a necessidade de preservação dessa árvore, do gênero tabebuia, nativa da Mata Atlântica. “Com o livro, quero lançar a semente da conscientização ambiental”, diz.

No ano passado, Renata lançou a obra A Floresta Encantada, de literatura infantil. Professora de matemática e de física no ensino médio e de resoluções de problemas matemáticos no ensino fundamental, ela leciona no Centro Integrado de Educação Pública Maria Aparecida Lima Souto Tostes (Ciep 267).

Há seis no magistério, Renata tem licenciatura em matemática pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e cursa, atualmente, ciências biológicas na Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf). (Fátima Schenini)

Eliene Ferreira de Sousa (Pnae/FNDE): “É preciso respeitar referências nutricionais, hábitos e cultura alimentar locais”

Eliene Ferreira de Sousa

Nutricionista e mestre em ciências da saúde, com atuação na área de alimentação escolar desde 2006, Eliene Ferreira de Sousa afirma que o cardápio da merenda deve ser elaborado por um nutricionista, responsável técnico, com gêneros alimentícios básicos, de forma a respeitar referências nutricionais, hábitos e cultura alimentares de cada localidade.

Coordenadora de segurança alimentar e nutricional da Coordenação-Geral do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Eliene fala também ao Jornal do Professor sobre o repasse de recursos à merenda escolar, cursos de capacitação para merendeiras e necessidades alimentares diferenciadas, entre outros assuntos.

Jornal do Professor Quais os principais objetivos do Programa Nacional de Alimentação Escolar e qual a sua abrangência?

Eliene Sousa — O Pnae, criado na década de 1950, tem por objetivo contribuir para o crescimento e o desenvolvimento biopsicossocial, a aprendizagem, o rendimento escolar e a formação de práticas alimentares saudáveis dos alunos. Essa contribuição ocorre com ações de educação alimentar e nutricional e com a oferta de refeições que cubram as necessidades nutricionais durante o período letivo.

Qual é a importância do programa para a aprendizagem?

— Estudos sugerem que a nutrição adequada pode afetar, de maneira imediata ou a médio e longo prazos, a resposta do aluno em termos de concentração, memória, raciocínio lógico, atenção e aptidão física, entre outros indicadores de aprendizagem. A alimentação escolar pode também estimular e subsidiar a inserção da educação alimentar e nutricional (EAN) no currículo escolar, prevista no art. 15 da Lei nº 11.947, de 16 de junho de 2009, e no art. 13 da Resolução do FNDE nº 26/2013. É uma forma de promover a alimentação saudável e de constituir recurso didático capaz de dinamizar o currículo. A EAN, que envolve os educadores e perpassa o currículo escolar, de maneira transdisciplinar — por exemplo, em projetos de hortas escolares pedagógicas —, tem o potencial de tornar as aulas mais lúdicas, integrar os alunos e envolver a comunidade. Promove, assim, a aprendizagem e o prazer de estudar.

Como é feito o repasse dos recursos às escolas?

— O financiamento da alimentação escolar é compartilhado entre o Ministério da Educação, por meio do FNDE, e a entidade executora local (EEx) nos estados, municípios e escolas federais.

Quem decide quais alimentos serão oferecidos aos estudantes? Como é feita a escolha do cardápio? São obedecidas as peculiaridades regionais e de faixa etária?

— O cardápio da alimentação escolar deve ser elaborado por nutricionista, responsável técnico, com gêneros alimentícios básicos, de modo a respeitar as referências nutricionais, os hábitos alimentares e a cultura alimentar da localidade. Deve ainda pautar-se na sustentabilidade, sazonalidade e diversificação agrícola da região e na alimentação saudável e adequada. A presença e atuação do nutricionista nas entidades executoras é, então, fundamental para a consecução e a qualidade da alimentação escolar. Segundo o cadastro do FNDE, o total de nutricionistas nas EEx aumentou de 1.006 para mais de 8,5 mil nos últimos dez anos. Isso significa ganho de cobertura profissional de 18% para mais de 90% dos municípios brasileiros.

O Pnae oferece algum tipo de capacitação às merendeiras?

— A formação de merendeiros, cozinheiros e outros manipuladores da alimentação escolar é feita por diversos meios. Os principais agentes responsáveis pela formação são os próprios nutricionistas das EEx. Na qualidade de responsáveis pelo programa na sua jurisdição, eles devem orientar e acompanhar a atuação daqueles profissionais. O FNDE também desenvolve cursos de formação de atores sociais relacionados ao programa. Uma das ações tem a parceria de universidades federais, por meio da criação e financiamento de centros colaboradores em alimentação e nutrição do escolar (Cecane), que desenvolvem cursos de formação e assessoram as EEx. Outra ação são os convênios que o FNDE mantém com o Ministério da Pesca e Aquicultura e com o Serviço Social da Indústria (Sesi), ambos para a formação de merendeiros, cozinheiros e outros manipuladores de alimentos de diversas regiões do país. No caso do Ministério da Pesca, com enfoque no fomento à inclusão de pescados na alimentação escolar.

O que são os conselhos de alimentação escolar e quais as suas funções?

— Em consonância com o fomento ao controle social de políticas públicas disposto na Constituição Federal de 1988, as EEx do Pnae devem instituir, em cada jurisdição administrativa, o Conselho de Alimentação Escolar (CAE), órgão colegiado, de caráter fiscalizador, permanente, deliberativo e de assessoramento, composto de um representante do Poder Executivo, dois de trabalhadores da educação, dois da sociedade civil organizada e dois de pais de alunos, com mandato de quatro anos. O CAE tem o papel fundamental de representar os alunos e a sociedade como um todo, além de professores e outros trabalhadores da educação que ali têm assento. O CAE é o responsável, por exemplo, pela análise da prestação de contas da respectiva EEx, com poderes para aprovar com ressalvas ou até para reprovar as contas, o que determina a suspensão dos repasses dos recursos. Outras atribuições do CAE incluem acompanhar e fiscalizar a execução do programa, zelar pela qualidade dos alimentos e dos cardápios e denunciar irregularidades.

O Pnae desenvolve algum projeto ou atividade para eliminar o desperdício de alimentos?

A sustentabilidade é uma das diretrizes do Pnae e deve pautar a atuação dos diversos atores sociais do programa. Os nutricionistas das EEx, merendeiros e cozinheiros trabalham sempre no sentido de dimensionar adequadamente a produção da alimentação escolar para evitar sobras e também no desenvolvimento de receitas para maximizar o aproveitamento integral dos alimentos. O convênio do FNDE com o Sesi prevê as receitas de aproveitamento integral dos alimentos na formação dos merendeiros e cozinheiros.

A Lei nº 11.947, de 16 de junho de 2009, determina que 30% do valor repassado pelo FNDE para compra da merenda escolar seja usado na aquisição de gêneros alimentícios oriundos da agricultura familiar, do empreendedor familiar rural ou de suas organizações. Qual o objetivo dessa medida e quais os benefícios trazidos por ela?

— A obrigatoriedade e a dispensa de licitação na compra de produtos da agricultura familiar para a alimentação escolar é mais uma das mudanças de paradigmas do programa. Por meio dessa ação, o Pnae assume compromisso não só com a alimentação adequada e saudável, mas com o desenvolvimento social. Comprar, de maneira justa, da agricultura familiar, significa beneficiar a manutenção do homem no campo, reconhecer essa modalidade de agricultura — a principal produtora de alimentos no Brasil — e admitir que as aquisições institucionais públicas podem ser conscientes e responsáveis. Além, é claro, de fomentar a compra de alimentos produzidos localmente e de frutas e hortaliças frescos.

O Pnae está preparado para atender estudantes que apresentam necessidades alimentares diferenciadas, como diabéticos, por exemplo? De que forma isso é feito?

— O nutricionista, profissional que tem competência para o atendimento a pessoas com necessidades alimentares ou nutricionais específicas. Não por acaso, é o responsável técnico pela alimentação escolar. Os pais ou responsáveis pelos alunos devem levar encaminhamento médico e de nutricionista, preferencialmente, ao diretor da escola e pedir atendimento diferenciado na alimentação escolar. Cada município e estado segue trâmite próprio para acolher essa demanda. Em geral, o diretor da escola encaminha o caso ao nutricionista, que orienta o merendeiro ou o cozinheiro em cada caso.

O Pnae faz algum tipo de controle em relação à aplicação dos recursos? Como ele ocorre?

— A prestação de contas da alimentação escolar é analisada, primariamente, pelo CAE. Um dos grandes agentes de fiscalização da aplicação dos recursos financeiros é a própria sociedade civil. Pais de alunos e trabalhadores da educação devem se articular com seus representantes para a boa execução do programa. O FNDE e outros órgãos federais, como a Controladoria-Geral da União (CGU), o Tribunal de Contas da União (TCU) e o Ministério Público da União (MPU) também desenvolvem ações de monitoramento, fiscalização ou apuração de denúncias. O cidadão pode denunciar eventuais casos diretamente nesses órgãos. O FNDE recebe informações e denúncias pelo telefone 0800-616161.

Qual é a situação do Brasil em relação à merenda escolar de outros países?

— O programa de alimentação escolar do Brasil destaca-se em âmbito mundial. Atualmente, mais de R$ 3 bilhões do governo federal somam-se aos orçamentos dos estados e municípios para alimentar diariamente mais de 42 milhões de estudantes. O Pnae é uma referência mundial, pela dimensão, descentralização, universalização a todos os estudantes da educação básica, financiamento próprio, diretriz de alimentação adequada e saudável, quantitativo de nutricionistas, compra da agricultura familiar e controle social. O FNDE mantém cooperação internacional com diversos países da América Latina, Caribe e África, por meio da Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores, de maneira bilateral e também com a participação do Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e do Programa Mundial de Alimentos (PMA).

Alguma experiência relacionada à merenda escolar merece registro?

— Há muitas experiências interessantes pelo Brasil. Entre elas, a sensibilidade em relação à educação alimentar e nutricional mostrada por professores do Centro de Ensino Especial de Brazlândia (Cenebraz), no Distrito Federal. Cientes da importância do tema para os alunos com necessidades especiais, eles desenvolveram hortas escolares suspensas, acessíveis e com materiais recicláveis. A horta é um instrumento pedagógico de promoção da alimentação saudável para os alunos daquela escola. A experiência mostra que o programa de alimentação escolar não é só fornecedor de alimentos. É, sobretudo, promotor de saúde.