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JORNAL

Semana Nacional de Ciência e Tecnologia-2014

Quarta-feira, 29 de Outubro de 2014

Edição 106

EDITORIAL - Semana Nacional de Ciência e Tecnologia-2014

O assunto abordado pela 106ª edição do Jornal do Professor é a 11ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), promovida pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Realizado de 13 a 19 de outubro, o evento deste ano teve como tema Ciência e tecnologia para o desenvolvimento social.

Selecionamos para este número algumas experiências e projetos apresentados na exposição da SNCT realizada em Brasília (DF), no Pavilhão de Eventos do Parque da Cidade Sara Kubitschek. Assim, mostramos trabalhos desenvolvidos pelos institutos federais de Brasília, Mato Grosso do Sul e Rondônia; Universidade de Brasília e escolas do Serviço Social do Comércio (Sesc).

O professor André Luis Vilanova Ribeiro, da Escola Municipal Prof. Washington Manoel de Souza e da Escola Técnica Estadual João Luiz do Nascimento, de Queimados (RJ), participa da seção Espaço do Professor. Nosso entrevistado é Douglas Falcão Silva, diretor do Departamento de Popularização e Difusão de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

Oficinas de gastronomia divulgam cursos na área da alimentação

Professora Rejane e alunas durante elaboração de pratos

Atraídos pelo delicioso aroma que exalava dos pratos feitos no estande do Instituto Federal de Brasília durante a 11ª edição da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia 2014, no Pavilhão de Eventos do Parque da Cidade Sarah Kubitschek, os visitantes se multiplicavam. Todos queriam provar e também aprender a preparar alimentos variados que incluíam itens como pão e panqueca sem glúten, fondue e petit gateau. As oficinas de gastronomia realizadas por professores e estudantes, em diferentes horários, contribuíram para divulgar os cursos técnicos na área de alimentação desenvolvidos em dois campi do Distrito Federal.

“O curso técnico em cozinha é excelente”, dizia a estudante Solange Coutinho Suaid, do campus Riacho Fundo, enquanto ajudava a preparar um risoto. “Se alguém quer aprender, ali é o lugar. Aprendemos a montar mesas, colocando pratos, copos e talheres corretamente e a harmonizar comidas e bebidas”, explicava. “Além disso, o curso proporciona muitas saídas de campo para que os alunos conheçam lugares como cozinhas de restaurantes.”

Ex-aluna de turismo, Solange se apaixonou pela área de cozinha quando cursou a disciplina de gastronomia. “Então, assim que o curso de cozinha foi aberto, resolvi aproveitar a oportunidade.” Atualmente dedicada apenas aos estudos, ela planeja montar seu próprio negócio. “Quero engrenar nessa nova profissão”, informava Solange.

O curso técnico subsequente em cozinha, para quem já cursou o ensino médio, totaliza 960 horas/aula e é desenvolvido em três módulos: ajudante de cozinha, auxiliar de cozinha brasileira e auxiliar de cozinha internacional. Há turmas pela manhã e à noite.

Segundo Rejane Oliveira Costa, professora da disciplina cozinha brasileira, no decorrer do segundo módulo os estudantes aprendem os pratos típicos mais conhecidos de todas as regiões do Brasil. Além de aprender a executar as receitas, os alunos adquirem conhecimentos sobre as heranças culturais dos brasileiros, tanto as de base – portuguesa, indígena e africana – quanto as trazidas pelos imigrantes – alemães, italianos, japoneses etc. Também têm aulas de nutrição, química, português instrumental e serviço sala e bar.

“Ensinamos as técnicas e ajudamos os alunos a desenvolver sua criatividade, por meio da elaboração de outras receitas a partir dos mesmos ingredientes”, explica Rejane.

Parcerias – Ela informa que o instituto está procurando viabilizar parcerias para intercâmbio com outros países. “Nesse sentido, já promoveu um evento com chefes de cozinha do Canadá e do Peru, quando nossos alunos serviram pratos típicos brasileiros”, esclarece.

Tecnóloga em gastronomia, Rejane conta que sempre sonhou em montar seu próprio negócio. “Minha família tem padaria há mais de 40 anos e aprendi a gostar de cozinha, desde pequena.” Enquanto a oportunidade de viabilizar seu próprio negócio não chegava, ela resolveu fazer o concurso para lecionar no instituto, onde dá aulas desde o início deste ano. “E, para minha surpresa, percebi que amo dar aulas”, revela.

Paixão – A paixão da veterinária Adriana de Oliveira Santos Alfani pela área de processamento de alimentos de origem animal, derivados de leite e carne, acabou fazendo com que ela migrasse para a área de tecnologia de alimentos. Com mestrado em ciência e tecnologia de alimentos e aluna de doutorado em ciências médicas na Universidade de Brasília, Adriana leciona a disciplina de ciência e tecnologia de alimentos no curso técnico em alimentos do Instituto Federal de Brasília, campus Gama. No magistério desde 2005 e na rede federal de educação tecnológica desde 2010, ela também é professora no curso técnico em agronegócio (subsequente) da mesma instituição. “Trabalhar nessa área foi uma descoberta. Gosto de passar conhecimento. É muito bom e é uma forma de também aprender.”

O curso técnico em alimentos teve início este ano. Devido ao grande número de interessados, as 40 vagas oferecidas inicialmente foram ampliadas para 50. Com um total de 3 427 horas, o curso oferece aulas pela manhã. (Fátima Schenini)

Saiba mais sobre os cursos oferecidos pelo Instituto Federal de Brasília

Projeto de instituto federal é voltado a deficientes visuais

Prof. Luiz Fernando com alunos Pedro e Fernanda

A conquista do prêmio de melhor protótipo na Feira de Ciências e Tecnologia de Mato Grosso do Sul (Fecintec), em setembro, garantiu a participação dos estudantes Fernanda de Barros Vidal e Pedro de Brito Espinosa, do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul, na exposição da 11ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), realizada em Brasília, de 13 a 19 de outubro.

Alunos do terceiro ano do curso técnico em informática no campus Campo Grande, os dois criaram uma placa de estimulação tátil de auxílio a deficientes visuais para aprendizagem da assinatura e do alfabeto romano.

“Ao buscarmos um tema para o trabalho de conclusão de curso (TCC), percebemos que tínhamos interesse de trabalhar com um grupo que possuísse algum tipo de limitação”, explica Fernanda. Foi então que, por sugestão de um professor, eles resolveram se dedicar ao tema da deficiência visual. “Esse professor nos falou da possibilidade de tratarmos dessa temática com José Aparecido da Costa, que tem deficiência visual congênita, com quem ele havia trabalhado, durante dez anos, no Instituto Sul Matogrossense para Cegos Florivaldo Vargas (ISMAC).

E foi por sugestão de José Aparecido que os dois acabaram por seguir esse caminho, que resultou em um projeto premiado, que utiliza a vibração para auxiliar os cegos a sentir a formação da letra. “Começamos a estudar e pesquisar para ver quais as melhores possibilidades. Fomos fazendo adaptações até chegar aonde estamos hoje”, ressalta Fernanda. “Nossa intenção, com esse projeto, é oferecer uma tecnologia assistiva a pessoas com deficiência visual,” resume Pedro.

O projeto foi orientado pelo professor de informática Luiz Fernando Delboni Lomba. Há sete anos no magistério, ele dá aulas tanto no curso de técnico em informática quanto no curso de tecnologia de sistemas para internet.

“Todos os trabalhos de conclusão de curso de meus alunos são na área de computação aplicada”, revela. Segundo ele, outra dupla de alunos desenvolveu um projeto para medir a intensidade sonora. “O dispositivo colocado na sala de aula pode indicar, por meio de luzes coloridas, como em semáforo, se o som está alto demais, baixo demais ou adequado aos ouvidos”, esclarece o professor.

Professor – De acordo com Luiz Fernando, seu interesse pelo magistério surgiu por acaso, apenas quando resolveu fazer também a opção de licenciatura, depois de haver concluído o bacharelado, na graduação. Apesar disso, ele se define, antes de tudo, como um professor. “Hoje eu diria que não sou um profissional da área de informática. Sou um professor e a informática é apenas a área em que atuo”. (Fátima Schenini) (Republicado com correções)

Acesse o site do IFMS

Quebra-cabeça ajuda a tornar conteúdo mais concreto

Prof. Antonio e seu aluno Welisson

Ao perceber que seus alunos tinham dificuldade para compreender os componentes da estrutura de uma célula, por mais que ele explicasse, o professor Antonio dos Santos Júnior se deu conta de que seria necessário tornar esse conteúdo mais concreto. “Usei aulas práticas, vídeos, imagens, sem resultado. Eles não conseguiam visualizar”, relata.

Segundo Antonio, que leciona biologia em todos os cursos técnicos oferecidos pelo Instituto Federal de Rondônia (Ifro), campus Porto Velho Calama, até mesmo o recurso de confeccionar maquetes, geralmente utilizado por professores, era problemático nesse caso, devido à impossibilidade de representar o citoesqueleto. “Os alunos não conseguiam entender e achavam que os componentes ficavam boiando dentro da célula”, diz. Foi então que pensou em criar um quebra-cabeça, a partir do desenho de uma célula.

O professor levou o primeiro protótipo do projeto Quebra-cabeça didático de uma célula, suas organelas e seu citoesqueleto para a exposição da 11ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, realizada de 13 a 19 de outubro, no Pavilhão de Eventos do Parque da Cidade Sara Kubitschek, em Brasília. A peça, colorida, atraiu bastante atenção no estande do Ministério da Educação.

O protótipo foi desenvolvido com a colaboração de alunos de Antonio, que para isso utilizaram o software AutoCAD, bastante usado para a elaboração de peças de desenho técnico em duas dimensões e criação de modelos tridimensionais. “Após a impressão em 3D, foi feita a montagem e o aparafusamento das peças. Assim, eles nunca mais vão esquecer os componentes de uma célula”, ressalta o professor.

De acordo com Wellisson Oliveira, estudante do terceiro ano do curso de eletrotécnica, ele e seu colega Rafael Pissinati ajudaram a fazer o protótipo. “Sempre gostei de desmontar coisas, a fim de tentar entender seu funcionamento”, explica o jovem, que acompanhou o professor durante a realização da SNCT.

O estudante destaca que sempre gostou das aulas de biologia e esse projeto foi o segundo em que trabalhou com o professor Antonio. “Na primeira vez, o assunto foi uma pesquisa sobre as árvores de Rondônia – Porto Velho precisa ser mais arborizada”, conclui.

O quebra-cabeça já foi patenteado por Antonio. Agora ele procura uma empresa interessada em produzir e vender esse produto para escolas, bem como alunos e professores que queiram testar o material.

Biólogo com doutorado em ecologia, Antonio leciona desde 2010. Sua experiência no magistério começou na Universidade Luterana do Brasil (Ulbra). Atualmente, além de dar aulas nos cursos técnicos em edificações, informática, eletrotécnica e em química, também é professor nos cursos de pós-graduação em gestão ambiental e educação profissional, científica e tecnológica oferecidos pelo Instituto Federal de Rondônia. (Fátima Schenini)

Acesse o site do IFRO

Estudantes expõem tecnologias desenvolvidas a baixo custo

Andrea André no estande da Edusesc

Tecnologias Assistivas para Pessoas com Deficiência Física foi o tema escolhido pela escola mantida pela Educação do Serviço Social do Comércio (Edusesc), em Ceilândia, no Distrito Federal, para sua participação na 11ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. Para a exposição, realizada de 13 a 19 de outubro, no Pavilhão de Eventos do Parque Sara Kubitschek, a instituição levou materiais e tecnologias feitas por seus próprios estudantes.

“Procuramos mostrar tecnologias que pudéssemos construir com os alunos, utilizando materiais de baixo custo”, diz a diretora pedagógica da escola, Andrea Moura André. “Essas tecnologias não foram criadas pelos alunos. Elas foram selecionadas após extensas pesquisas feitas na internet, para decidir quais poderiam ser reproduzidas”, explica.

Assim, era possível ser visto, por exemplo, um capacete multifuncional para ser usado por quem não tem os membros superiores, que pode ser utilizado para pressionar as teclas de um computador. “Foi confeccionado a partir de um capacete de ciclista, acrescido de uma peça de persiana”, detalha Andrea.

A escola, que tem 872 alunos matriculados da educação infantil ao quinto ano do ensino fundamental, também mostrou peças como uma cadeira de rodas infantil feita com a utilização de uma poltrona de plástico e uma bengala luminosa para auxiliar idosos e pessoas com mobilidade reduzida a se locomover em locais com pouca ou nenhuma iluminação.

Pedagoga com mestrado em educação e especialização em educação infantil, Andrea atua no magistério há cerca de 25 anos, e desde 2007 trabalha no Sesc. Sua experiência profissional inclui a docência na educação infantil e no ensino superior.

Além dessa unidade localizada em Ceilândia, o Sesc possui outras quatro escolas no Distrito Federal: no Plano Piloto de Brasília e nas regiões administrativas do Gama, Taguatinga Norte e Samambaia. Elas estão voltadas ao atendimento de alunos da educação infantil ao ensino médio, embora nem todas ofereçam todos os segmentos.

Segundo a coordenadora de educação para o ensino médio, educação de jovens e adultos (EJA) e Salas de Ciências da Edusesc, Ana Maria Andreolli, os estudantes do ensino médio regular desenvolveram, este ano, dentro do tema da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, projeto pedagógico sobre o assunto Saúde – Opções para melhoria da saúde existentes atualmente. O tema escolhido pelas turmas da EJA foi mobilidade urbana. “Para apresentação na exposição foram selecionados os cinco melhores trabalhos”, ressalta Ana Maria.

Sua maior preocupação é a melhoria do projeto pedagógico. “Estamos criando as diretrizes básicas da educação do Sesc no DF, em todos os segmentos. “Vamos além do vestibular: queremos preparar o aluno para contribuir com a sociedade. Temos um viés social que é muito importante e queremos alertar os estudantes para que deixem sua marca na sociedade”, justifica a coordenadora de educação.

O Sesc também apresentou em seu estande a Sala de Ciências, espaço lúdico e interativo em funcionamento em dois locais no DF: Taguatinga Norte e Taguatinga Sul. Abertas à visitação de alunos de escolas públicas ou privadas, as salas de ciências contam com monitores, que são estagiários de cursos superiores, para mostrar e demonstrar o que está exposto nesses locais. Para a exposição da SNCT, a Sala de Ciências apresentou o Museu das Lâmpadas, mostrando a evolução que ocorreu na área da iluminação. (Fátima Schenini)

Saiba mais sobre a Edusesc

UnB participa da exposição de ciência e tecnologia

Visão parcial do estande da UnB

O Museu de Anatomia Humana da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB) apresentou parte de seu acervo no estande montado para a exposição da 11ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. Além da possibilidade de ver de perto dois esqueletos, que chamavam bastante atenção, os visitantes puderam acompanhar a evolução da formação do ser humano e visualizar peças anatômicas de órgãos sensoriais.

Quem não pôde visitar a mostra realizada no Pavilhão de Eventos do Parque da Cidade Sara Kubitschek, de 13 a 19 de outubro, não precisa ficar triste. O Museu de Anatomia Humana fica aberto à visitação pública. Localizado no campus Darcy Ribeiro, na Asa Norte, o espaço pode ser visitado de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 14h às 17h. As visitas podem ser agendadas pelo email mah@unb.br ou pelo telefone (61) 3107-1920.

De acordo com a professora Viviane Urbini Vomero, os futuros médicos participam de alguns projetos ligados à comunidade que incluem visitas dos estudantes universitários a escolas de ensino básico e participação em eventos como feiras de ciências e até mesmo empréstimo de materiais do museu. “Uma vez por semestre, os alunos participam de atividades em postos de saúde do Paranoá, Itapuã e São Sebastião, regiões atendidas pela faculdade de medicina”, explica. “Isso é bom tanto para os alunos da universidade, que têm uma inserção maior na realidade, quanto para os estudantes dessas localidades, que têm um contato maior com a universidade. Isso serve como estímulo e meta para o futuro”, acredita.

Formada em fisioterapia, com mestrado e doutorado em biologia celular e estrutural na área de anatomia, Viviane está no magistério há dez anos. “Sempre sonhei em ser professora”, revela.

Sementes - Outro ponto de destaque no estande da UnB foi o Laboratório de Sementes Florestais, que apresentou o projeto Semeando o Cerrado: educar e monitorar. No local, as alunas Letícia Mendes e Ana Beatriz de Freitas, do curso de engenharia florestal, estagiárias do laboratório, forneciam explicações sobre algumas árvores típicas do cerrado e mostravam suas sementes: baru, copaíba, jatobá, mogno, faveira e jacarandá foram algumas das espécies mostradas.

“O laboratório recebe demandas de pessoas que pedem para analisar sementes que adquiriram, para ver se são viáveis ou não”, diz Letícia. “E nós acompanhamos os testes de viabilidade de sementes feitos pelos alunos e que envolvem pontos como germinação e envelhecimento acelerado”, salienta a estudante. (Fátima Schenini)

Conheça o Museu de Anatomia Humana

 

Professor estimula a leitura nas aulas de ciências

Professor André Vilanova

Tecnólogo em gestão ambiental, licenciado em ciências biológicas e especialista em gestão ambiental, André Luis Vilanova Ribeiro está há cerca de quatro anos no magistério. Ele dá aulas de ciências no sexto ano do ensino fundamental da Escola Municipal Professor Washington Manoel de Souza, no município de Queimados e de gestão ambiental para alunos do ensino médio da Escola Técnica Estadual João Luiz do Nascimento, em Nova Iguaçu, ambos no Rio de Janeiro.

“Procuro trabalhar, sempre que possível, de maneira multi ou interdisciplinar, pois acredito que essa abordagem proporciona uma aprendizagem mais significativa para os estudantes”, diz André. Foi assim que, ao trabalhar os conteúdos ligados à crosta terrestre, ao manto e ao núcleo, no início do 2º bimestre, propôs à professora de língua portuguesa, Katiúscia Lucas Severino, da escola Professor Washington, que fizessem um trabalho em parceria, de modo que os estudantes tomassem conhecimento do conteúdo do livro Viagem ao centro da Terra, de Júlio Verne. “Não foi possível fazer a leitura do livro com os estudantes, por não haver tempo hábil, no entanto, a obra foi apresentada a eles, bem como um resumo da história.”

Antes de apresentar o livro, o professor provocou o interesse dos alunos: "Como vocês imaginam ser o interior da Terra? Seria possível uma viagem ao centro da Terra? Como seria? Será que alguém já imaginou uma viagem ao centro da Terra?". Então, a partir daí, discutiu com eles essas questões, contrapondo com os conhecimentos científicos atuais. Depois, apresentou o livro e perguntou se eles sabiam o que é ficção científica. “Expliquei que as ideias que o autor teve para a história foram em parte inspiradas nos conhecimentos científicos da época, de modo que eles pudessem entender que esse conhecimento vai sendo construído ao longo do tempo”, relata. Por fim, passou o filme mais recente, inspirado na obra.

André conta que a professora Katiúscia trabalhou um poema de cordel que faz um resumo da obra e um desenho animado que é uma adaptação do livro de Júlio Verne. “Esse trabalho foi um projeto-piloto. Para o ano que vem queremos desenvolvê-lo melhor e já temos a ideia de trabalhar a obra Da Terra à Lua, do mesmo autor, e algumas obras do Monteiro Lobato que podem ser utilizadas para o ensino de ciências, contrapondo com o conhecimento científico atual”, ressalta.

Também na escola Professor Washington, ele desenvolveu, em abril, um projeto de implementação de leitura intitulado O universo em verso e prosa. Após o término do conteúdo, ele propôs aos estudantes que elaborassem uma história, um poema ou uma paródia de uma música sobre o universo ou sobre como imaginavam ser uma viagem espacial. “A atividade permitiu que eles pudessem aplicar os conteúdos apreendidos ao longo do bimestre, utilizar os conhecimentos adquiridos nas aulas de língua portuguesa e, principalmente, utilizar a criatividade”, ressalta.

Segundo ele, o resultado foi surpreendente e em conversa informal com a implementadora de leitura na escola, professora Cilene Revelles, tiveram a ideia de fazer um livro com os melhores trabalhos. “Também pensamos em premiar os educandos que tiveram os trabalhos selecionados, na semana do Dia das Crianças. Optamos por premiá-los com livros, de modo a incentivar o hábito da leitura”, revela o professor. No dia da premiação, os alunos puderam ver seus textos digitalizados e encadernados fazendo parte do livro O universo em verso e prosa. “Eles adoraram”, salienta André.

De acordo com ele, o projeto serviu não apenas para que os estudantes fizessem uma revisão dos conteúdos aprendidos como também para que ele pudesse rever sua prática pedagógica e a identificar, por exemplo, conteúdos que não haviam sido bem compreendidos pelos alunos. “É importante ressaltar que o trabalho contribuiu para estimular o interesse dos educandos pela leitura, pois a própria premiação com livros é uma prova disso: me deparei com alunos lendo no intervalo das aulas e, inclusive, uma aluna veio me agradecer pelo presente e disse que estava adorando o livro”, ressalta. (Fátima Schenini)

(Republicado com acréscimos em 31.10.2014)

 

Douglas Falcão Silva (DEPDI/SECIS/MCTI): “Não existe ensino de ciências de qualidade sem experimentação”

Douglas Falcão

O Diretor do Departamento de Popularização e Difusão de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (DEPDI/SECIS/MCTI), Douglas Falcão Silva, diz que não existe ensino de ciências de qualidade sem experimentação. Neste sentido, acredita, “as feiras de ciência têm um papel chave a cumprir, tanto no aspecto de inserção e valorização da experimentação, quanto na motivação dos alunos e envolvimento dos professores”.

Ele destaca o crescimento da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, desde sua primeira edição, em 2004, quando foram realizadas 1800 atividades em 250 municípios. “No momento, estamos registrando 35 mil atividades em cerca de 540 municípios brasileiros”, informa. E observa que a 12ª edição da SNCT, marcada para o período de 19 a 25 de outubro de 2015, terá como tema Luz, ciência e vida.

Doutor em educação pela University of Reading, Inglaterra, Douglas Falcão tem licenciatura em física pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e mestrado em educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. No período de 2006 a 2013, ele ocupou o cargo de coordenador de educação em ciências do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), no Rio de Janeiro (RJ).

Jornal do Professor Ciência e tecnologia são assuntos que costumam atrair a atenção de crianças e adolescentes? De que forma os professores podem aumentar o interesse de seus alunos por disciplinas ligadas a esses temas?

Douglas Falcão – Sabemos que quanto mais cedo acontece o contato das crianças com a ciência e tecnologia, melhor para a relação que o futuro adolescente e adulto tem com essas temáticas. As crianças em particular são naturalmente muito curiosas, o que facilita a interação com a ciência e tecnologia. A questão é como explorar essa curiosidade natural. Neste sentido, a experimentação pode realmente fazer a diferença. O professor que desenvolve uma pedagogia que convida seus jovens estudantes a explorar o mundo natural por meio da investigação científica colabora para que os alunos tenham uma interação sustentável com a ciência e a tecnologia. No caso dos adolescentes que não tiveram uma relação mais estruturada com a ciência e a tecnologia ancorada pela escola, a situação é bem mais indeterminada... Sabemos que nesta fase da vida, uma das principais preocupações dos jovens é a inserção e a afirmação entre seus pares e às vezes, é muito difícil competir com isso! Tenho visto algumas experiências interessantes que fazem uso justamente das interações sociais para promover a interação dos adolescentes com questões de ciência e tecnologia. Atividades como teatro científico, blogues, projetos na área de tecnologia social e assistiva têm dado bons resultados.

- Como preparar melhor os professores de ensino fundamental e médio para que possam despertar em seus alunos o interesse pela ciência? Qual o papel das instituições universitárias nesse sentido?

- Essa é, na verdade, a grande questão! As nossas licenciaturas estão formando um número insuficiente de professores na área de ciências naturais, e os que estão chegando ao mercado ainda carecem de uma formação que incorpore a experimentação como o instrumento número 1 no processo de ensino aprendizagem em ciências. Não quero dizer que não haja projetos de qualidade na área de formação de professores nas nossas universidades. Mas mais uma vez o problema é de escala. Precisamos dar escala e escopo a esses projetos... A mesma coisa se aplica aos cursos de formação continuada de professores... Neste sentido, acho que temos de usar de todos os recursos que estão ao alcance. O Brasil está próximo de alcançar cerca de 300 museus e centros de ciência. A distribuição desses equipamentos ainda é muito assimétrica no território nacional, mas muitos cursos de licenciatura acontecem próximos a estas instituições e constatamos que ainda são raras as parcerias museu-universidade na área de formação de professores. Sabemos o quão útil seria se os licenciandos saíssem dos cursos dominando a exploração dos museus e centros de ciência para o ensino de ciência de seus alunos. O mesmo raciocínio inclui também o uso de revistas de divulgação de ciência na sala de aula e de todo o arsenal de divulgação de ciência que existe disponível na internet.

- Em sua opinião, é importante que os estudantes participem de eventos como olimpíadas e feiras de ciências? Por quê?

- Acho que esta questão é muito importante. Primeiramente, vou falar das feiras. Não existe ensino de ciências de qualidade sem experimentação. E neste sentido, as feiras de ciência têm um papel chave a cumprir, tanto no aspecto de inserção e valorização da experimentação, quanto na motivação dos alunos e envolvimento dos professores. As feiras deixam um legado para o sistema escolar que vai para muito além do ganho de medalhas. Na apresentação dos trabalhos, as equipes aprimoram o exercício da comunicação científica escrita e oral e com relação aos professores, estes aprimoram suas práticas de ensino que são levadas para o exercício cotidiano de suas aulas.

Com relação às olimpíadas, acho que a questão da motivação e da identificação de talentos são relevantes, mas elas também se justificam pelos impactos que estão além de eventos de competição que destacam os ganhadores. Hoje, temos que as olimpíadas de conhecimento comtemplam os mais variados temas: matemática, língua portuguesa, história, meio ambiente, física, matemática, biologia, agronomia, robótica, dentre outros. É muito interessante ver a mobilização dos grupos (estudantes e professores) diretamente envolvidos nas escolas nas atividades de preparação para as diversas olimpíadas, assim como é interessante ver as diversas metodologias que são utilizadas nas diferentes olimpíadas. É muito comum ver alunos e professores formando grupos de estudo. Destacamos ainda as milhares de bolsas de PIBIC Ensino Médio que são distribuídas no país no âmbito das olimpíadas.

Estamos retomando a importância das feiras de ciências e das olimpíadas de conhecimento. Acho que ambos os mecanismos, mediante o estímulo de ações cooperativas e da competição não exacerbada, são ferramentas potentes para motivar tanto jovens quanto crianças a interagir de forma protagonista com a ciência e a tecnologia.

Vale destacar que ambos os editais estão abertos no CNPq.

- A Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) completa, este ano, 11 anos. Qual seu crescimento, nesse período? Quais as principais contribuições que ela trouxe para a difusão e popularização da ciência no Brasil?

A SNCT chega ao seu décimo primeiro ano com um legado muito interessante. Ela começa em 2004 em 250 municípios e 1800 atividades realizadas. Em 2013, chegamos a 740 municípios e cerca de 34 mil atividades. As ultimas três edições da Pesquisa de Percepção Pública da Ciência realizadas em 2006, 2010 e agora em 2014, nos permite estimar que cerca de 90 milhões brasileiros passaram em algum momento pelas atividades da SNCT ao longo dos 10 primeiros anos. Este ano, esperamos alcançar cerca de 800 municípios. Mas em virtude das eleições presidenciais, muitas cidades começarão as atividades da SNCT após o segundo turno. No momento, estamos registrando 35 mil atividades em cerca de 540 municípios brasileiros. Mas talvez o maior legado seja o fortalecimento de uma rede entre as instituições, como institutos de pesquisa, universidades, instâncias municipais, estaduais e federais, organizações não governamentais e empresas privadas em prol da divulgação científica no Brasil. Observamos também, nos últimos anos, a tendência de prefeituras e governos estaduais estabelecerem suas semanas de ciência e tecnologia. São cidades do Brasil inteiro, sejam grandes, médias ou pequenas, que estão realmente formalizando por meio de portaria ou decreto, a criação de semanas municipais e estaduais de ciência e tecnologia. Este tipo de resultado é de muita importância, pois evidencia que a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia está sendo apropriada pelas cidades e estados, o que aponta para a sua sustentabilidade no país.

- Além da Semana Nacional, que outras ações têm sido desenvolvidas pelo Departamento de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia para popularizar a ciência e a tecnologia entre os estudantes? Quais seus planos para os próximos meses, nesse sentido?

O público escolar é muito valioso para nós. Nossa politica pública para a área de Popularização e Divulgação da Ciência perpassa por uma forte interação com o sistema escolar a fim de atuar para a melhoria do ensino de ciências nas escolas de nível fundamental e médio. Neste sentido, temos quatro ações fundamentais. A primeira se refere ao edital de Feiras de Ciências e ao edital de Olimpíadas de Conhecimento. Ambos os editais são organizados desde 2011 por meio de uma parceria entre a Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social/MCTI, o CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico] e a Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior]. A segunda ação é o apoio aos museus e centros de ciência, seja para a criação de novos e para as atividades de divulgação de ciência nas instituições já existentes. Digo isso porque nestas instituições, os estudantes costumam ser a maioria do público visitante. A terceira ação diz respeito aos editais de divulgação de ciência em geral, uma vez que os projetos apresentados quase sempre têm os estudantes como público prioritário. Para finalizar, temos a SNCT, que privilegia fortemente o público escolar em suas atividades e também abre espaço para que as escolas sejam protagonistas. Já temos muitas dissertações de mestrado e teses de doutorados sobre a SNCT, alguns destes trabalhos mostram como a participação dos alunos do ensino fundamental e médio como expositores de trabalhos na SNCT valorizam e empoderam os alunos.

Ainda para 2014, estaremos lançando um edital em parceria com o Instituto Tim para financiar atividades de divulgação de ciência sobre a temática da Luz. O ano de 2015 foi estabelecido pela Organização das Nações Unidas como o ano Internacional da Luz. A fim de promover uma maior inserção do Brasil nesta importante comemoração, o tema da próxima edição da SNCT, marcada para o período de 19 a 25 de outubro de 2015, será Luz, ciência e vida. Uma proposta extremamente ampla, que pode ser abordada por disciplinas como biologia, química, física, história, filosofia, astronomia, etc, e que na verdade não respeita fronteiras disciplinares, culturais, geográficas ou temporais. O que vai facilitar o exercício da criatividade dos estudantes.

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