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JORNAL

Prêmio Vivaleitura-7ª Edição

Segunda-feira, 12 de Janeiro de 2015

Edição 109

EDITORIAL - Prêmio Vivaleitura-7ª edição

O tema deste número do Jornal do Professor é a 7ª edição do Prêmio Vivaleitura, promovido pelos ministérios da Educação e da Cultura e coordenado pela Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI).

A premiação é dividida em quatro categorias, mas optamos por destacar a Categoria 2 – Escolas Públicas e Privadas. Assim, apresentamos a vocês a professora vencedora nessa categoria, Érica Rodrigues, de Colombo (PR), bem como os quatro professores autores dos projetos finalistas: Diovane César Resende Ribeiro, de Uberaba (MG), Josane Batalha Sobreira da Silva, de Valinhos (SP), Rodolfo Alves Pereira, de Leopoldina (MG) e Viviane Felisberto, de Santa Bárbara (MG).

Nossa entrevistada é Ana Maria Sá de Carvalho, professora aposentada da Universidade Federal do Ceará, que mantém vínculo com a instituição como professora voluntária. A professora Sandra Santos, da Escola Estadual Visconde de Congonhas do Campo, de São Paulo (SP), participa da seção Espaço do Professor.

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

 

Projeto entusiasma adolescentes e estimula gosto pela leitura

Adolescente lê para idosa

Interessada em buscar novas estratégias capazes de atrair o interesse pela leitura entre os alunos do sexto ano do ensino fundamental, a professora Érica Rodrigues, do Colégio Estadual João Gueno, no município paranaense de Colombo, buscou apoio na Universidade Federal do Paraná (UFPR). A parceria entre as duas instituições levou à realização do projeto Ação Integrada para o Letramento, vencedor da sétima edição do Prêmio Vivaleitura, na categoria 2, destinada a escolas públicas e particulares.

“Esta premiação significa o reconhecimento de um trabalho verdadeiro, construído com a participação de várias pessoas comprometidas com uma educação de qualidade”, ressalta Érica. Além disso, segundo ela, o prêmio renova a convicção de que é sim possível fazer a diferença, “independentemente das dificuldades que existam, desde que haja uma equipe envolvida, disposta a trocar experiências e se ajudar”.

Desenvolvido em 2013 e em 2014, com a participação das professoras Lúcia Cherem e Elisa Dalla Bona, da UFPR, o projeto teve como linhas de trabalho o letramento literário e a literatura em sociedade.

O principal objetivo do letramento literário era o de despertar o interesse dos estudantes pela leitura de obras de literatura. Uma das atividades desenvolvidas foi um trabalho que teve como foco a escritora brasileira infanto-juvenil Índigo (Ana Cristina Ayer de Oliveira).

De acordo com Érica, a leitura do livro A Maldição da Moleira entusiasmou os alunos, o que deu início a um processo de aproximação com a escritora. “Após ter conhecimento da experiência da leitura com as turmas, Índigo mandou uma caixa com quatro de seus livros”, revela a professora. “Mandamos uma carta agradecendo, e ela começou a responder às perguntas em seu blogue, dando início a uma interação virtual com os estudantes.”

O interesse dos alunos foi aumentando à medida que estudavam outros textos da escritora e liam reportagens publicadas por ela. “Assim, a vontade de um encontro só aumentava”, revela a professora. “Após muitos esforços, foi marcada uma visita da escritora à escola.”

Segundo Érica, a visita, realizada em setembro de 2014, foi um sucesso: “Toda a escola se mobilizou para recebê-la, e os alunos escreveram um livro para presenteá-la”.

Índigo postou um comentário sobre o livro dos alunos em seu blogue e os provocou a escrever outro. A provocação foi aceita e, no final de 2014, um novo livro dos estudantes foi enviado de presente à escritora.

Velhice — Na linha de trabalho denominada literatura em sociedade, Érica estimulou a leitura, no início de 2014, de vários textos sobre a velhice, em diferentes gêneros textuais — filmes, reportagens e blogues —, culminando na leitura de textos literários, como poemas e contos. No fim do semestre, os alunos fizeram uma visita a uma instituição para idosos. Antes disso, divididos em grupos, eles selecionaram poemas a serem lidos usuários da instituição, confeccionaram cartões e elaboraram perguntas a serem feitas aos idosos. “O primeiro contato foi tão produtivo que gerou o desejo de novos encontros”, diz a professora. Então, mais uma visita foi agendada. Nela, os alunos leram obras cujos personagens eram pessoas idosas e fizeram um lanche com os moradores do local.

De acordo com Érica, muitos dos idosos há tempos não tinham contato com um livro. “Eles riam das histórias, identificavam-se com os personagens, admiravam as ilustrações, queriam tocar o livro”, explica. Uma das idosas quis inverter o papel e ler para os estudantes, o que deixou todos emocionados. “A troca de experiências foi riquíssima e sensibilizou os adolescentes”, destaca a professora, que tem graduação em letras e mestrado em educação.

O projeto começou a ser desenvolvido em 2013, em duas turmas de sexto ano do ensino fundamental, e teve continuidade em 2014, com os mesmos alunos, já então no sétimo ano. Os planos de Érica, para 2015, incluem a continuidade do trabalho, com novas atividades e adaptações necessárias a cada turma em que ele será desenvolvido. (Fátima Schenini)

Tecnologia aproxima crianças de culturas diferentes

Alunas participam de atividades com tablet

A partir da exploração de temas como moradia, alimentação, transporte e brincadeiras, uma professora de Valinhos, no interior paulista, desenvolveu projeto para comparar o modo de vida dos alunos de uma escola da rede particular de ensino com os de uma escola indígena do Pará. “Queríamos promover uma leitura intercultural”, diz Josane Batalha Sobreira da Silva, professora polivalente no Colégio Visconde de Porto Seguro.

Seu projeto, Aproximando Culturas por Meio da Tecnologia, confrontou semelhanças e diferenças entre estudantes do quarto ano do ensino fundamental do colégio paulista e da Escola Professor Antônio de Sousa Pedroso (Escola Borari), em uma comunidade indígena da vila Alter do Chão, distrito paraense, a cerca de 30 quilômetros de Santarém.

Alunos de seis turmas formularam perguntas relacionadas à escola, moradia, alimentação, meios de transporte, brincadeiras e festas típicas. “Ficamos três semanas trocando perguntas e respostas”, diz Josane. As perguntas, elaboradas em sala de aula, eram postadas no portal educacional Faceduc, durante as atividades realizadas no laboratório de informática. Além de postar e responder perguntas enviadas pelos alunos da comunidade indígena, os estudantes paulistas tinham de refletir e escrever sobre o que acharam de mais interessante nos comentários postados a cada semana.

Além disso, os professores postaram vídeos e fotos de diferentes locais para permitir a comparação de pontos geográficos, modos de vida e cultura. Foi possível, assim, analisar a situação dos alunos de uma comunidade indígena nos dias atuais e perceber aquela comunidade como “um outro diferente, mas não inferior”, enfatiza a professora.

Os estudantes pesquisaram sobre a vila Alter do Chão para conhecer um pouco mais sobre o lugar, localizaram a comunidade indígena no mapa, conheceram o cotidiano das crianças e compararam a forma de vida dos indígenas de antigamente com a de hoje. “Os alunos puderam perceber o cuidado que as crianças indígenas têm com a natureza, tirando dela apenas o que necessitam para seu sustento”, ressalta a professora. “Também puderam perceber que não têm uma alimentação saudável, pois consomem comidas industrializadas, enquanto as crianças da floresta têm alimentos naturais.”

Os estudantes paulistas também aprenderam sobre o nheengatu, língua da família linguística do tupi-guarani, falada pela comunidade de Alter do Chão.

Livro — As reflexões sobre o que cada um aprendeu a respeito dos temas trabalhados foram registradas em um livro, criado no Faceduc. “Ao ler os relatos, percebemos que essa troca pode estabelecer correlações entre o conteúdo estudado em história e geografia e a realidade”, analisa a professora.

O trabalho foi finalizado com uma videoconferência. Por meio do skype, os alunos puderam se conhecer em tempo real, conversar e finalizar o trabalho. “Foi um momento mais que especial”, diz Josane.

Prêmio — A inclusão do projeto entre os finalistas da sétima edição do Prêmio Vivaleitura, na categoria 2, voltada para escolas públicas e particulares, deixou Josane emocionada. “Sempre acreditei na tecnologia como algo que oferece ao aluno um espaço de interação e conhecimento, que possibilita uma diversidade de caminhos para a melhoria do ensino-aprendizagem”, ressalta. Ela pretende dar continuidade ao projeto este ano, com mudanças e ampliação. “Estamos trabalhando nas adaptações, desenhando as mudanças e acrescentando ideias.”

Professora há 18 anos, Josane é graduada em pedagogia e em psicopedagogia, com pós-graduação em relações interpessoais na escola e a construção da autonomia moral. Tem ainda especialização em ética, valores e saúde na escola. (Fátima Schenini)

Celular serve como ferramenta de leitura e aprendizagem de história

Estudante usa celular na sala de aula

Professor de história em escolas das redes estaduais de educação de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, Rodolfo Alves Pereira criou um blogue e um aplicativo para incentivar a leitura de textos históricos pelos alunos. Ele garante que os estudantes ganharam habilidade na leitura, capacidade de articular ideias e argumentos de forma escrita e se tornaram mais reflexivos.

As inovações fazem parte do projeto O Celular como Ferramenta de Leitura e de Aprendizagem, iniciado há quatro anos com alunos do nono ano do ensino fundamental da Escola Estadual Luiz Salgado Lima, no município mineiro de Leopoldina. Em agosto do ano passado ─ até então, era usado apenas o telefone celular ─, o professor criou o aplicativo Acrópole APP para facilitar o acesso dos alunos aos textos e conteúdos por ele postados no blogue.

O Acrópole APP permite a postagem de textos de diversos gêneros, com notícias, mapas e pinturas. “Todo tipo de documento que sirva como fonte histórica de leitura e pesquisa em nossas aulas”, ressalta o professor. As novidades tornaram as aulas mais atrativas. Os estudantes passaram a ler mais e a registrar reflexões sobre os textos. “Muitas dessas reflexões são postadas no blogue e tornam os alunos produtores do conhecimento, na medida em que se posicionam e têm seus trabalhos publicados”, explica Rodolfo. Segundo ele, o projeto atende diretamente cerca de 90 estudantes, mas todos os alunos podem baixar o aplicativo e usá-lo em sala de aula.

Resultados ─ De acordo com o professor, o blogue tem apresentado resultados expressivos, quantitativa e qualitativamente. O trabalho deve ser intensificado este ano, a partir das propostas de manter o blogue atualizado com postagens de qualidade e de aumentar a participação dos alunos nas atividades de manutenção. “Vamos dar continuidade à metodologia aplicada, mesclando aulas tradicionais com o uso das tecnologias da informação no ensino-aprendizagem”, ressalta.

O projeto foi um dos finalistas da sétima edição do Prêmio Vivaleitura, na categoria 2, destinada a escolas públicas e particulares, o que deixou o professor orgulhoso. “Ficar entre os finalistas significa um reconhecimento, a coroação de um ano de trabalho muito feliz e produtivo”, afirma. Ele revela que pretende dar prioridade ao desenvolvimento de habilidades e competências fundamentais para formar alunos leitores, reflexivos e capazes de exercer a cidadania em uma sociedade democrática e plural. “Terei de fortalecer os planos de aula para que os alunos tenham objetivos e metas claras e exequíveis”, diz.

Graduado em história, com pós-graduado em ciências humanas, Rodolfo cursa especialização em cultura e história indígena na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

O Prêmio Vivaleitura é uma iniciativa dos ministérios da Cultura e da Educação, coordenada pela Organização dos Estados Ibero-americanos para Educação, Ciência e Cultura (OEI). (Fátima Schenini)

Acesse o blogue do projeto Acrópole

Alunos da educação infantil atuam como multiplicadores em Uberaba

Alunos sentados no chão, com livros

Criado para despertar o interesse pela literatura entre os alunos da educação infantil e torna-los multiplicadores de leitura, o projeto Literatura nas Ruas acabou conquistando uma dimensão maior do que a esperada. “O projeto consolidou a cumplicidade entre a família e a escola”, destaca seu autor, Diovane de César Resende Ribeiro, professor no Centro Municipal de Educação Infantil Maria Eduarda Farnezi Caetano, no município mineiro de Uberaba.

Segundo Diovane, a ação surgiu de uma necessidade pessoal. Ele queria não só comprovar a importância das artes na educação infantil como também verificar quais instrumentos poderiam ser usados para estimular o gosto dos alunos pela área. Tão logo começou a trabalhar, em 2012, procurou sensibilizar os estudantes a conhecer e apreciar diferentes linguagens artísticas. “A literatura ganhou tamanho destaque que decidimos estruturar e desenvolver o projeto”, explica.

O professor revela que os estudantes tiveram a oportunidade de assistir à apresentação de uma companhia de teatro integrada por adolescentes, a Cia. Rogê, com a adaptação do livro A Caixa Preta, do escritor Tiago de Melo Andrade, durante a realização da 3ª Festa Literária de Uberaba (FLU). Ao despertar o interesse das crianças, o professor selecionou algumas poesias para serem distribuídas aos moradores da comunidade em que a escola está situada. Percebeu então que era possível ir além e ampliar a distribuição a outros lugares.

Por meio de parceria com a Biblioteca Comunitária Ler é Preciso Professor Antônio Bernardes Neto, para a coleta e doação de obras literárias, o professor conseguiu vários exemplares de obras distintas. Depois de fazer a leitura dos livros arrecadados, as crianças tiveram como tarefa confeccionar marcadores de livros para distribuição, junto com a obra, na praça central de Uberaba. “À vontade com a situação, as crianças cumpriram com suas responsabilidades como se fosse algo natural e presente na rotina”, salienta Diovane.

Poeta — O projeto foi encerrado com o sarau Contos e Poesias, uma Homenagem ao Poetinha, em comemoração ao centenário de nascimento do poeta, escritor e compositor Vinícius de Moraes [1913-1980]. A atividade levou a um grande envolvimento das famílias, dedicadas a ajudar seus filhos, em casa, nos ensaios das declamações.

Paralelamente à realização dessas atividades, o professor percebeu que os estudantes queriam ler cada vez mais. “Alguns, assim que terminavam as atividades, logo escolhiam um ou mais livros do Cantinho de Leitura para preencher o tempo em que os demais colegas estavam concluindo as tarefas”, diz.

Estudante de pedagogia, 22 anos, com formação em nível médio no curso normal, Diovane atua na área da educação desde os 15 anos — começou com trabalho voluntário na biblioteca da escola em que cursava o ensino fundamental. O projeto Literatura nas Ruas foi um dos finalistas da sétima edição do Prêmio Vivaleitura, na categoria 2, destinada a escolas públicas e particulares. “Após esta experiência, saio com a força revigorada e mais crente de que tudo é possível. Basta acreditar”, afirma. (Fátima Schenini)

Professora usa poesia para estimular leitura e escrita entre estudantes

Professora Viviane e estudantes

Uma forma de poesia sintética de apenas seis palavras-versos, a aldravia, foi a fórmula encontrada pela professora Viviane Felisberto para estimular o gosto pela leitura e a escrita entre seus alunos na Escola Municipal Marphiza Magalhães Santos, no município mineiro de Santa Bárbara. O projeto Aldravilhando, desenvolvido com estudantes do quinto ano do ensino fundamental, foi um dos finalistas da sétima edição do Prêmio Vivaleitura, na categoria 2, destinada a escolas públicas e particulares.

“Sou amante da leitura e sempre acreditei na força da educação”, diz Viviane. “Ser finalista do maior prêmio de incentivo à leitura, o Vivaleitura, com o projeto Aldravilhando, mostra que estamos no caminho certo.”

Segundo a professora, o projeto trabalha o ato de ler com o de escrever, o ato de estudar a obra e a vida do autor com o ato de conhecê-lo e o ato de criar com o ato de divulgar a produção literária na escola, na padaria e na rede virtual. “O projeto trabalha com a tríade escola, família e sociedade, referenciais para disseminar o prazer pela leitura, pelo livro, pela literatura e pela criação poética”, destaca.

De acordo com Viviane, à medida que os estudantes avançam no ensino fundamental, os textos literários mais estudados são de prosa. “A poesia, joia rara da literatura, perde, aos poucos, espaço para outros textos que trabalham com linguagem direta e de fácil assimilação”, avalia. Por isso, em parceria com a direção e a coordenação pedagógica da escola, ela resolveu desenvolver esse projeto, que tem a finalidade de criar o gosto, o prazer e a paixão pela leitura de poesia sintética na escola e na família.

Aldravia vem de aldrava, argola de metal utilizada para bater as portas dos antigos casarões como os que existem até hoje em cidades mineiras como Mariana, onde surgiu esse movimento poético, no ano 2000. E alguns autores aldravistas que residem nesse município, próximo de Santa Bárbara, foram convidados a visitar a escola. Assim, os estudantes tiveram a oportunidade de conhecer pessoalmente Andreia Donadon Leal, J.B. Donadon, Gabriel Bicalho e Cecy Barbosa.

Durante a realização do projeto, os alunos também participaram de oficinas de criação poética e tiveram a oportunidade de divulgar sua produção nos murais da escola, em jornais e nas redes sociais. A fim de estimular a leitura dos poemas pelas famílias e a criação de novas poesias foi criada a bolsa Aldravilhando, usada para armazenar um kit literário de aldravias.

Na visão de Viviane, o projeto possibilitou a ampliação e o aprofundamento da aprendizagem dos alunos por meio da apropriação da leitura e escrita, bem como o desenvolvimento de análise crítica, tanto em relação a sua própria criação literária quanto a dos colegas. Outros benefícios foram a elevação da autoestima, um maior estímulo à criação poética e à produção artística, bem como o compartilhamento de impressões e opiniões sobre passagens preferidas nas obras.

Ansiosa para dar continuidade ao trabalho em 2015, a professora está à procura de parcerias que possam contribuir para a disseminação do projeto. Pedagoga com pós-graduação em psicopedagogia, ela trabalha no magistério há 22 anos. (Fátima Schenini)

Saiba mais no facebook da Escola Marphiza Magalhães Santos

Prêmio Vivaleitura destaca melhores experiências

Promovido pelos ministérios da Educação e da Cultura, o Prêmio Vivaleitura tem o objetivo de estimular, fomentar e reconhecer as melhores experiências de promoção de leitura desenvolvidas no Brasil por bibliotecas, escolas, sociedade e indivíduos. A coordenação é da Organização dos Estados Ibero-americanos para Educação, Ciência e Cultura (OEI).

Os premiados na sétima edição do Prêmio Vivaleitura foram:

Categoria 1– Bibliotecas Públicas, Comunitárias e Privadas — Tânia Maria Piacentini, Biblioteca Comunitária Barca de Livros, Florianópolis (SC).

Categoria 2 – Escolas Públicas e Privadas — Érica Rodrigues, Ação Integrada para o Letramento, Colombo (PR).

Categoria 3 – Práticas Continuadas de Leitura em Contextos e Espaços Diversos Desenvolvidos pela Sociedade — Dante Marcello Claramonte Gallian, Humanizando a Saúde Através da Leitura, Escola Paulista de Medicina (Unifesp), São Paulo (SP).

Categoria 4 – Promotor de Leitura (Pessoa Física) — Projeto Grupo Atitude, por uma Cidade Leitora, coordenado por Jocelino Tomaz de Lima, Caiçara (PB).

O projeto Rodas de Leitura no Ponto de Cultura Tambor de Crioula Arte Nossa, de São Luís (MA), de Simei Aranha Dantas, recebeu a menção honrosa José Mindlin.

A premiação foi realizada em 16 de dezembro de 2014, no Salão Nobre da Câmara dos Deputados, em Brasília. O vencedor de cada categoria recebeu R$ 25 mil em dinheiro, além de diploma e troféu.

O prêmio tem apoio da Fundação Santillana, do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime). (Fátima Schenini)

Acesse a página do Prêmio Vivaleitura na internet

Magistério é vocação, diz professora paulista

Professora Sandra faz palestra para professores e gestores municipais

Doutora em ciências da comunicação pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), com graduação em jornalismo e em história, Sandra Santos está no magistério há 20 anos. Integrante de uma família de educadores, na qual mesmo quem não atua diretamente na sala de aula exerce atividades como gestor, palestrante ou formador, ela leciona história na Escola Estadual Visconde de Congonhas do Campo, na capital paulista, e participa de inúmeras outras atividades, mas faz questão de manter vínculo com a escola pública.

Em relato enviado ao Jornal do Professor, Sandra faz profissão de fé na escola pública:

“Eu acredito na escola pública. Acredito que o magistério é uma vocação. Senão, como dizem os colegas, já teria saído correndo... e nem olharia pra trás. Ao longo de 20 anos de carreira, já vi muitos fazerem isso. Não vou dizer que é fácil. Construí minha carreira lecionando (sou efetiva desde 1999) no magistério estadual. É precário, ainda falta muito para ser considerado ensino de ponta. Pode ser perigoso (já sofri ameaças físicas), pode ser insalubre (várias vezes, tive de interromper a aula porque o pintor ou o vidraceiro só podia trabalhar exatamente ‘naquele horário’). Muitas vezes, falta material (nem sempre os livros didáticos chegam na hora certa. Às vezes, não chegam mesmo).

Mas tem uma coisa que faz a gente acordar todos os dias, cedo, enfrentar trânsito para chegar correndo e ter ânimo de cantar, dançar, contar histórias e falar da história. E não é exatamente o salário, nem a boa educação exemplar da maioria, nem o apoio incondicional dos colegas e amigos — mesmo alguns da família já desistiram. Acredito que é uma vontade de construir algo para o futuro (não material), é a possibilidade de ver o futuro se construindo na minha frente, os jovens crescendo, descobrindo que podem mudar a realidade de suas vidas, do seu lugar, do país, através da educação, do aprendizado coerente e aplicável às suas vidas.

No cotidiano, ensino com a prática para a vida, não apenas para um mero conhecimento a ser despejado em provas, avaliações, vestibulares, concursos em geral. Conhecer a si mesmo, sua cultura, sua família e valorizar tudo isso, utilizando materiais simples e cotidianos. Não é necessária a tecnologia de ponta (mesmo porque ela não está disponível para todos), mas a simplicidade do cotidiano, observando a família: a avó costurando, a mãe trabalhando, o pai ou o tio trocando lâmpada, as diversões, os jeitos de falar e como tudo isso se insere num todo maior: a sociedade. Quais as origens do que se faz e se vive hoje. História, política, economia...

Então, tento pôr a ‘mão na massa’ (às vezes, literalmente...). Os carnavais, as festas populares, os temperos. Quem sabe fazer tricô e crochê? Você conhece a Cuca e o Saci? Qual o time de futebol de sua preferência? Quem é o ‘contador de histórias’ na sua família?

Porque todos foram formados da interação de várias culturas, formas de pensar, de atuar, de orar, de buscar a felicidade, tudo isso é história, é cultura, é passado, mas também é alicerce para o futuro.

Como tenho formação multidisciplinar, tento levar isso para a sala de aula. Utilizo textos de literatura, jornais e revistas, postagens na internet, filmes (documentários, animação, curtas e longas), e incentivo os estudantes a colocar a criatividade em ação. Procuro estabelecer um diálogo.

A primeira vocação de toda criança, quando vai à escola pela primeira vez, e gosta, é o magistério. Lembro de dizer sempre que queria ser professora. Brincava de ‘escolinha’ quando era criança. Depois, acabei esquecendo isso durante um tempo, mas confesso que voltei pela necessidade: escrever para jornais era esporádico e cada vez mais incerto. Então, fui dar aula e acabei gostando, ficando. Hoje, não me vejo não fazendo isso. Faço outras coisas, mas sempre mantenho o mínimo de vínculo com a escola pública. Atenção: escola pública.

Alguns dizem que os docentes do magistério público são malformados. Na realidade, acredito (e sou testemunha) que são, na realidade, malcompreendidos, malremunerados, mal-assessorados. Mas, na atual escola em que leciono, são vários os bem-graduados (em universidades públicas estaduais e federais), os bem-intencionados, os bem-matriculados em pós-graduações (mestrados doutorados) de instituições de ponta que todos os dias acordam para fazer o seu melhor, apesar de...”

Ana Maria Sá de Carvalho (UFC): “A leitura abre as portas para a inclusão social”

Professora Ana Maria Sá de Carvalho

Com doutorado em educação, mestrado em ciência da informação e graduação em biblioteconomia e documentação, Ana Maria Sá de Carvalho atua, principalmente, nas áreas de educação e formação do leitor, políticas de leitura e administração e dinamização de bibliotecas escolares, públicas e comunitárias. Pesquisadora, desenvolve pesquisas relacionadas à busca de espaços de leitura na internet para a formação de leitores críticos, criativos e participativos. Aposentada da Universidade Federal do Ceará (UFC), mantém vínculo com a instituição por meio da coordenação de projetos de extensão como professora voluntária.

Segundo Ana Maria, por trás da aparente simplicidade da leitura existe uma extrema complexidade, pois ela demanda sensibilidade, espírito atento, crítico e observador, além de escuta atenta e presente. “A leitura abre as portas para a inclusão social na contemporaneidade, apelidada de sociedade da informação, cujos suportes informacionais exigem o conhecimento dos códigos linguísticos e tecnológicos”.

Jornal do ProfessorQual é a importância da leitura na vida das pessoas?

Ana Maria Sá de Carvalho — A leitura nos parece um ato simples, devido à aproximação com o mundo dos signos no dia a dia, com o mundo palpável, visível, que não se apresenta de imediato diante dos nossos olhos. Demanda sensibilidade, espírito atento, crítico e observador. Escuta atenta e presente. Ou seja, por trás da sua aparente simplicidade existe uma extrema complexidade. Leitura é, portanto, o compartilhamento de emoções, que demanda busca por respostas para nossas inquietações. Entretanto, decodificação advinda de um olhar ingênuo, acrítico, isento de sentido e significado não é leitura, pois não alcança a inteireza do mundo. Leitura é reconhecer-se no outro e, com ele, poder multiplicar ideias, saberes, construir uma realidade plena de cuidados diante dos encontros e desencontros da vida. Não podemos esquecer, portanto, que a leitura abre as portas para a inclusão social na contemporaneidade, apelidada de sociedade da informação, cujos suportes informacionais exigem o conhecimento dos códigos linguísticos e tecnológicos.

Crianças e adolescentes, de maneira geral, não se interessam pela leitura. De que maneira as escolas podem incentivar o hábito da leitura entre os estudantes? Nesse aspecto, qual o papel das bibliotecas escolares? Elas podem ser transformadas em espaços de incentivo à leitura? De que forma?

— Discordamos do termo “hábito”. O ato de ler excede, em muito, o que comporta, em termos de sentidos e significados, a palavra hábito. No ato de ler estão imbricados nossos sentidos, intelecto e emoção. Então, não podemos reduzir a leitura somente a hábito. Voltando à questão específica, nossa experiência em bibliotecas escolar e comunitária visualiza uma imensa atração das crianças por livros infantojuvenis. Ao chegarem à biblioteca, eles deslumbram-se folheando os livros e os trocam por outro com muita frequência. Mas, na maioria das vezes, detêm-se numa leitura mais extensa e intensa que mexa mais com suas potencialidades em termos de curiosidade, criatividade, emoção e afetividade.

Com relação aos adolescentes, a leitura dos títulos nas estantes atrai esse público com muita frequência. Se estiverem acompanhados de colegas, chamam logo a atenção dos amigos quando se apresenta alguma familiaridade com os títulos. É nesse momento que o bibliotecário deve ficar antenado nas ações desses visitantes, iniciar o diálogo na tentativa de despertar o sentimento de empatia com os usuários, compreendendo assim seus interesses. O retorno vem rápido, pois geralmente eles selecionam os livros que desejam levar de empréstimo para casa.

A hora da devolução é mais um momento para interagir com o leitor, ao conversar sobre as leituras realizadas e apoiá-los na próxima seleção. Narrações de histórias não podem faltar para as crianças, assim como para os adolescentes. Logicamente, para estes a temática muda. Poesias e histórias de amor são sempre bem-vindas. É fundamental abrir um espaço para debates, deixar falar sobre o que têm vontade de verbalizar.

Temos, portanto, uma massa com um fermento pronto para aumentar o interesse pela leitura. Faltam, portanto, acervo e espaço condizentes com as demandas. Ou seja, bibliotecas, bibliotecários e professores, verdadeiramente, mediadores da leitura.

Estudos em nível internacional têm comprovado que as melhores escolas são aquelas que têm biblioteca, com bibliotecário em tempo integral. Entendemos que a biblioteca apoia não somente o aluno, mas o corpo docente e contribui para a constante aprendizagem.

Os educadores precisam exigir das secretarias de educação que a Lei nº 12.244, de 24 de maio de 2010, que dispõe sobre a universalização das bibliotecas escolares, seja respeitada. Entramos em 2015 com sérios problemas de leitura nas escolas. Sobretudo, com a escassez ou deficiência de bibliotecas escolares. Acreditamos que esse é um problema nacional. Em Fortaleza, visitamos algumas escolas com bibliotecas fechadas (final de 2014) porque, por orientação da Secretaria Municipal de Educação, os professores responsáveis por elas teriam que retornar às salas de aula.

Lembramos, porém, que a Resolução CFB nº 119, de 15 de julho de 2011, que dispõe sobre os parâmetros para bibliotecas escolares, com base no Grupo de Estudos em Biblioteca Escolar da Universidade Federal de Minas Gerais (Gebe/UFMG), deve ser conhecida por toda a equipe escolar.

Como os professores podem estimular a leitura entre seus alunos?

— Em uma pesquisa que realizamos em 2010, em Fortaleza, referente às práticas leitoras dos professores nas escolas, os docentes declararam ressentimento pela falta de investimento em mediação de leitura na formação universitária. Isso resulta numa prática intuitiva, que não traz um retorno coerente com os esforços e dedicação desses docentes. A primeira ação nesse sentido seria um investimento da escola em teorias e práticas de leitura. Uma biblioteca bem estruturada, com acervo condizente com o número de alunos, com bibliotecário e mediadores da leitura, é condicio sine qua non para o desenvolvimento da leitura nas escolas.

Muitos acreditam que as novas tecnologias aceleraram o desinteresse pela leitura. Outros entendem que elas podem contribuir para incentivá-la. Qual é a sua opinião?

— Considerando que as novas tecnologias já estão inseridas socialmente, torna-se de fundamental importância que os professores, sabendo usá-las, a tratem como aliada no desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem, que tem como ferramenta primordial a leitura.

Costuma-se dizer, também, que o alto custo dos livros contribui para afastar as pessoas da leitura. O que pensa a respeito disso?

— O problema maior é a falta de bibliotecas escolares e públicas com acervo condizente com seu público, bibliotecários e professores competentes e uma equipe preparada para mediar a leitura e formar leitores. Lembramos que dar acesso à informação para a população está na Constituição do Brasil, e isso inclui biblioteca e internet.

Qual sua opinião sobre programas e prêmios que visam a estimular a leitura, tais como o Prêmio Vivaleitura? Eles podem contribuir para aumentar o interesse?

— Sem ser contra a premiação de ações que visam a estimular a leitura, pensamos que há uma necessidade imensa de maiores investimentos numa política de Estado, não política de governo. Assim como em mediadores de leitura, em acervos e espaços físicos e valorização do bibliotecário. Que as leis sejam cumpridas e respeitadas, como a Lei 12.244/2010, que torna obrigatória a existência de biblioteca em cada escola, e a Lei nº 4.084, de 30 de junho de 1962, que dispõe sobre a profissão do bibliotecário e regula seu exercício.

De que forma as instituições de educação superior, especialmente as que se dedicam a cursos voltados para a formação de professores, podem contribuir para aumentar o interesse pela leitura?

— Preocupando-se mais com uma formação teórico-prática da leitura, mais condizente com a atualidade. Por exemplo, o estudo da visão sociointeracionista, apresentado por Vygostsky e Backtin; da Teoria da Complexidade, de Edgar Morin; da Teoria da Recepção, dentre outras, igualmente relevantes.

Considerando a notoriedade das novas tecnologias na atualidade os futuros docentes não podem desconhecer o pensamento de Pierre Levy, afeto à cultura virtual contemporânea. Nessa área, destacamos, no Brasil, André Lemos, da Universidade Federal da Bahia, com a teoria Ator-Rede e Cibercultura.

Esse seria, realçando também a formação do professor-leitor — aquele que se torna leitor, na sua trajetória acadêmica —, outro relevante papel das instituições de nível superior na sociedade hodierna. O ser humano, segundo Paulo Freire, está sempre formando-se e transformando-se. Esse movimento, portanto, será natural quando, no exercício das suas lides de educador, o professor formar e transformar o educando em leitor consciente, firme no seu propósito de alcançar a cidadania plena, bem como contribuir de modo efetivo para transformar, realmente, o Brasil, em uma nação–país leitora. Cultura, educação e desenvolvimento sustentável constituem, certamente, a tríade a comandar e fazer do Brasil um lugar cujo respeito humano esteja presente não só na letra das leis que o regem, mas vivido e sentido no cotidiano de cada brasileiro. Não estamos, aqui a sacralizar o ato de ler, mas nele reconhecer um dos canais mais viáveis para promover um outro olhar para o Brasil, diante dos seus, bem como diante das nações que hoje compõem e conformam o mundo.