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JORNAL

Ensino Médio Inovador

Terça-feira, 10 de Fevereiro de 2015

Edição 110

EDITORIAL - Ensino Médio Inovador

O tema da 110ª edição do Jornal do Professor é o Programa Ensino Médio Inovador (ProEMI), criado com a proposta de apoiar e fortalecer o desenvolvimento de propostas curriculares inovadoras nas escolas de ensino médio, ampliando o tempo dos estudantes na escola e buscando garantir a formação integral com a inserção de atividades que tornem o currículo mais dinâmico.

Selecionamos para esta edição experiências desenvolvidas em instituições das cinco regiões brasileiras: Escola Estadual Professor Rodoval Borges Silva, em Santana, no Amapá; Colégio Estadual Barão de Mauá, em Aracaju, Sergipe; Colégio Estadual Parque dos Buritis, em Goiânia, Goiás; Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Victorio Bravim, em Marechal Floriano, no Espírito Santo; Escola Estadual Poncho Verde, em Panambi, Rio Grande do Sul.

A professora Mônica Ribeiro da Silva, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), é a entrevistada desta edição. E o professor Marcelo Eterno Alves, do Instituto Federal de Educação de Goiás (IFG), câmpus Goiânia, participa da seção Espaço do Professor.

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

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Escola do AP oferece atividades que ajudam a motivar estudantes

Estudantes tocam violão

Meio Ambiente no Século 21 é o tema central do Programa Ensino Médio Inovador (ProEMI) desenvolvido na Escola Estadual Professor Rodoval Borges Silva, em Santana, município da região metropolitana de Macapá, Amapá. Iniciado em 2010, o programa tem sido bem aceito por professores e alunos.

“Essa aceitação pode ser constatada pela participação ativa e envolvimento manifestado nos diversos trabalhos”, explica a coordenadora pedagógica Francisca de Moraes Guedes, que atua como professora articuladora do programa. “O ProEMI foi muito bem recebido pelos alunos, que participam de todas as atividades de maneira exemplar”, analisa.

Oficinas de teatro, música e dança, aulas de futsal, voleibol, informática, momentos para leitura e realização de experiências científicas são algumas das atividades incluídas no programa. “Os estudantes aprendem e se divertem”, avalia a coordenadora.

De acordo com Francisca, o ProEMI dá oportunidade à escola de elaborar o próprio currículo e trabalhar com os anseios dos alunos e da comunidade. “Considero o ProEMI um crescimento na educação”, ressalta. “Ele busca garantir a formação integral com a inserção de atividades que tornam o currículo mais dinâmico, atendendo às expectativas dos alunos e às demandas da sociedade local.”

A professora salienta que o programa leva alunos e professores a se tornarem pesquisadores e cria condições para melhorar a qualidade do ensino médio.

Na visão do pedagogo Romildo Ferreira Holanda Júnior, diretor da escola, o programa tem foco especial, que é a garantia de uma educação de melhor qualidade. “Percebe-se que o índice de reprovação e abandono está diminuindo gradativamente”, diz Romildo, que está há 20 anos no magistério.

Campo — Em 2014, a educação ambiental e o desenvolvimento sustentável tiveram destaque no ProEMI, com a realização de trabalho de campo na reserva particular de patrimônio natural Revecom, no município de Santana. Realizado em três momentos, o trabalho de campo teve o sentido de aproximar teoria e prática.

Na fase inicial, chamada de pré-campo, os professores discutiram o tema e sugeriram formas interdisciplinares de trabalhar a educação ambiental e o desenvolvimento sustentável. Também foram realizadas aulas expositivas para discutir o tema a partir de diferentes abordagens disciplinares, tais como história, sociologia, geografia, química, física, biologia.

Na etapa denominada de campo ocorreu a aula prática, com participação de alunos, professores e funcionários da reserva Revecom. No pós-campo foram gerados produtos como palestras, maquetes, exposição fotográfica e atividades de sensibilização da população no entorno da escola.

De acordo com a professora Francisca, o ProEMI também desenvolveu projeto sobre a relação entre a migração e o mercado de trabalho no Amapá — o estado tem sido destino de fluxos migratórios —, na tentativa de compor um quadro analítico da realidade das famílias dos alunos, além de tentar entender parte da realidade do estado. Há 22 anos no magistério, a professora tem licenciatura em geografia, especialização em supervisão escolar e mestrado em ciências da educação. (Fátima Schenini)

Atividades diversificadas motivam estudantes de escola sergipana

Alunos participam de apresentação musical

Excursões, projetos interdisciplinares e aulas diferenciadas, com uso de recursos tecnológicos, são algumas das ações promovidas pelo Colégio Estadual Barão de Mauá, em Aracaju, como parte do Programa Ensino Médio Inovador (ProEMI). Segundo a diretora da instituição, Maria Cristina Santos, o programa tem resultado em inúmeros benefícios desde que entrou em funcionamento, em 2009.

Mais interação entre os alunos, com a realização de trabalhos em equipe, aperfeiçoamento de habilidades e melhor desempenho nas avaliações qualitativas, além de mais tempo de permanência dos estudantes na escola, o que contribui para diminuir a ociosidade fora do ambiente escolar, são algumas das melhorias proporcionadas pelo programa, de acordo com Maria Cristina. Pedagoga, com mestrado em ciências da educação, ela atua no magistério há 29 anos.

A escolha do tema a ser trabalhado e as estratégias a serem adotadas de maneira interdisciplinar são definidas pelos professores a partir do perfil da turma e das habilidades dos alunos. “Em reunião pedagógica, no início de cada ano letivo, os professores socializam as propostas de projetos e ações que pretendem desenvolver e convidam os colegas para participar de trabalho em equipe”, explica a professora Martha Heloisa Souza Gomes Resende, responsável pelo ProEMI na escola.

Martha diz que os estudantes gostam muito de trabalhar os conteúdos por meio de projetos. “Eles conseguem aprender e transmitir conhecimentos de forma lúdica e prazerosa”, afirma. “E mostram as habilidades nas atividades de culminância dos projetos com muita desenvoltura e segurança.” Há 27 anos no magistério, ela tem licenciatura plena em ciências biológicas e pós-graduação em gestão escolar.

Debates — Professora de história e sociologia em turmas dos três anos do ensino médio, Maria Luciene Bomfim desenvolve projetos com professores de outras disciplinas. Em 2014, ela aproveitou a realização da Copa do Mundo no Brasil para criar o projeto Antes de Conhecer o Mundo, Vamos Conhecer nossa Cidade, que envolveu turmas do primeiro ano. O patrimônio cultural foi o principal conteúdo. Visitas aos museus da cidade e apresentação, a outras turmas, de trabalhos sobre monumentos históricos, por meio de dança, música e comidas típicas, foram algumas das atividades.

Com as turmas de segundo ano, Maria Luciene desenvolveu trabalho no qual os alunos faziam apresentações, em grupo, sobre fatos recentes — políticos, econômicos ou sociais —, divulgados nos meios de comunicação. “As apresentações foram excelentes”, diz. “Os alunos expunham suas ideias, de maneira informal e, quando era um tema desafiador, o trabalho instigava debates calorosos com os outros colegas.”

Com as turmas de terceiro ano, em parceria com as disciplinas de português e geografia, foi reeditado projeto desenvolvido com sucesso em 2013, Totalitarismo ou Autoritarismo: Colapso da Democracia. O trabalho contou com diversas atividades relacionadas aos regimes fascistas da Europa (Itália e Alemanha) e, no Brasil, ao governo de Getúlio Vargas, no período do Estado Novo [1937–1945]. Os alunos tiveram como tarefa produzir apresentação biográfica e musical de artistas da era de ouro do rádio no país.

Outra atividade que Maria Luciene desenvolveu com alunos do segundo e do terceiro anos foi a apresentação de videoclipe da música Brasil, Mostra a tua Cara, do compositor Cazuza [1958-1990]. “Os alunos assistiram, cantaram e produziram textos e palavras-chave referentes à interpretação da música analisada”, ressalta a professora. “Nessa diversidade de atividades, percebo o interesse, a integração, a criatividade, a valorização de talentos artísticos e a aquisição de conhecimentos que extrapola o saber da sala de aula, com uma participação maior dos alunos”, destaca Maria Luciene. Há 27 anos no magistério, ela tem licenciatura plena em história e mestrado em educação.

Leitura — As atividades desenvolvidas por Maria Aparecida de Lima Nunes, professora de língua portuguesa e de atividades integradoras, são relacionadas a leitura, interpretação de textos e redação. A cada semana, ela apresenta a alunos de turmas do segundo e do terceiro anos do ensino médio um texto motivador. “Discutimos sobre os pontos positivos e negativos apresentados e detectamos possíveis soluções”, diz.

Na aula seguinte, ela apresenta questões para que os alunos desenvolvam habilidades interpretativas. Depois, propõe um tema correlacionado ao assunto discutido e determina aos alunos o desenvolvimento de um texto dissertativo-argumentativo. “Eles passaram a gostar da leitura, desenvolveram senso crítico, a capacidade interpretativa e de relacionar acontecimentos históricos ao conteúdo de português e às obras literárias”, diz Maria Aparecida. Com licenciatura plena em letras, ela está no magistério há 22 anos. (Fátima Schenini)

Leitura de jornais contribui para o aprendizado em escola de Goiás

Alunos leem jornal afixado em parede da escola

O desenvolvimento de competências e habilidades em língua portuguesa, matemática e outras disciplinas a partir da leitura de um periódico foi a opção do Colégio Estadual Parque dos Buritis, em Goiânia, no Programa Ensino Médio Inovador (ProEMI). O projeto Jornal no Mural contribuiu para o aperfeiçoamento da leitura, interpretação e produção de textos. Também permitiu aos estudantes conhecer diversas formas de linguagem e aprimorar o vocabulário.

“O jornal local de maior circulação em nosso estado é fixado nas paredes das salas de aula diariamente”, diz a professora Aline Souza de Camargo, coordenadora do Programa Ensino Médio Inovador – Projeto Jovem do Futuro (PJF). “Assim, os alunos têm acesso a ele nos períodos de intervalo ou quando um professor propõe seu uso na sala de aula”, explica.

Professora de química e ciências da rede pública de Goiás há dez anos, Aline tem licenciatura em química e mestrado em ensino de ciências na área de química. Ela exerce também as funções de coordenadora pedagógica e de orientadora do Pacto para o Fortalecimento do Ensino Médio.

Professores de todas as disciplinas adotam a leitura do jornal, cada um de acordo com o contexto do conteúdo curricular. Professora de língua portuguesa, Maria de Lourdes da Silva, aproveita para ensinar os estudantes a ler, de maneira crítica, as manchetes e as notícias publicadas. Para ela, a leitura de um jornal pode contribuir para a ampliação do vocabulário dos estudantes. Com graduação em letras, Maria de Lourdes está no magistério há 22 anos.

Debate — A professora de história e de sociologia Divina Maria de Souza procura, no jornal, notícias de interesse dos jovens ou assuntos de repercussão local, nacional ou internacional. Depois, leva os temas para a sala de aula e promove debates a fim de desenvolver opiniões e argumentações. “Em seguida, procuro incentivar os alunos a produzir e expor textos nos murais da escola”, revela.

De acordo com Divina, o projeto resulta em inúmeros benefícios. “Estimulando a leitura, temos jovens conscientes e capazes de se tornarem sujeitos de sua história e de seu aprendizado, de desenvolver a capacidade de se expressar oralmente, de conhecer direitos e deveres, de exigir mais dos órgãos competentes nos grupos sociais em que estão inseridos”, ressalta. Outra contribuição valiosa, segundo a professora, tem sido o desenvolvimento da escrita. “A cada debate de um tema gerador segue-se uma produção textual”, diz. “Observamos não apenas a ortografia, mas também a capacidade criativa do aluno ao dissertar sobre diversos assuntos.”

Divina tem observado uma boa aceitação dos alunos. “Saímos da rotina e trazemos para a sala algo inovador, que é a leitura dos assuntos do cotidiano, de interesse deles mesmos”, salienta. Ela reconhece que nem sempre os estudantes entendem esses mesmos temas quando apresentados pelos telejornais. Então, ela complementa as informações com dados do contexto histórico. “É muito mais interessante do que uma aula expositiva”, justifica. Há 26 anos no magistério, Divina tem licenciatura em história e pós-graduação em história regional, local e nacional e em métodos e técnicas de educação superior.

O Colégio Parque dos Buritis deu início às atividades do ensino médio inovador em 2012. Além do projeto Jornal no Mural, o diretor da unidade, Roberto Bernardes da Silva, cita a realização de projetos de monitoria, acompanhamento de alunos com dificuldades de aprendizagem, futsal e passeios educativos a cidades históricas. “Toda atividade que leva a instituição a sair da rotina é bem vista pela comunidade escolar”, afirma. “Por meio dessas ações, despertamos a cidadania, trabalhamos a socialização e fortalecemos o processo ensino-aprendizagem.”

Com graduação em filosofia e pós-graduação em educação ambiental, Roberto Silva atua no magistério há 22 anos. (Fátima Schenini)

Incentivo à leitura é foco de programa em escola gaúcha

Escritor Walmor Santos com alunos do ensino médio politécnico

Valorizar a leitura e desenvolver o gosto dos alunos por essa atividade são os enfoques principais do programa Ensino Médio Inovador desenvolvido pela Escola Estadual de Ensino Básico Poncho Verde, no município gaúcho de Panambi, desde fevereiro de 2014.

Por meio dos projetos de leitura Autor na Escola e Momento Ler, mais de 500 estudantes do ensino médio politécnico, dos turnos diurno e noturno, tiveram oportunidade de ampliar seus conhecimentos e melhorar seu vocabulário, além de preparar a mente para o estudo das disciplinas escolares. O aprofundamento de temas relacionados a preconceito e assuntos do cotidiano e o cultivo do respeito com os autores e suas obras foram outros dos benefícios trazidos.

As primeiras ações começaram em fevereiro, a partir do contato da escola com a editora para a escolha e a compra dos livros e a divulgação do projeto na comunidade escolar. Em seguida, houve a formação de um grupo interdisciplinar e foi feita a entrega das obras aos alunos do ensino médio. No decorrer do ano, a escola foi visitada pelos autores Walmor Santos, Maria Inez Flores Pedroso, Orlando Fonseca e Pablo Moreno.

“O programa Ensino Médio Inovador trouxe benefícios significativos para a escola”, diz a professora de inglês e de língua portuguesa, Carini de Fátima Ribeiro Hinnah. “Os alunos tiveram oportunidade de ganhar obras literárias, bem como de conhecer pessoalmente os autores dos livros que ganharam”, salienta.

Carini explica que a escola se manteve mobilizada para a leitura no decorrer do ano. “Toda a semana, durante 30 minutos, alunos, professores, funcionários e equipe diretiva paravam seus afazeres para a realização do Momento Ler”, salienta. Em sua visão, essa prática trouxe resultados excelentes: “Percebe-se a leitura sendo feita pelo prazer de ler, sem imposição deste ou daquele relatório”, justifica. Com graduação em letras e especialização em linguística e ensino da língua e da literatura, Carini está no magistério há 12 anos.

Segundo a professora de língua portuguesa Sandra Maria Ramos Schmidt, os alunos ficaram mais interessados em ler, estudar e perguntar e melhoraram nas apresentações de trabalhos. “Até os alunos mais tímidos passaram a se expressar melhor”, avalia.

Graduada em letras e há dez anos no magistério, Sandra destaca a apresentação de livros e paródias pelos alunos e a realização da hora da literatura, na qual eles deviam comentar sobre o que estavam lendo, entre as principais atividades desenvolvidas pelo programa.

Para a diretora da escola, Áurea Denise da Costa Menegon, o programa teve muita receptividade, com envolvimento de alunos e professores em todas as atividades propostas. De acordo com ela, o programa também contou com a participação de alunos e professores do ensino fundamental. “Eles se engajaram nas atividades do Momento Ler e na aquisição de livros para a biblioteca”, ressalta.

Há 19 anos no magistério e há oito no exercício da função de diretora, Áurea tem licenciatura plena em biologia e especialização em gestão e supervisão escolar. (Fátima Schenini)

Escola do ES adota programa do MEC e obtém bons resultados

Alunas participam de apresentação de dança

Projetos de dança, leitura e acompanhamento pedagógico, com aulas de reforço e aplicação de provas simuladas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), são algumas das ações desenvolvidas pela Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Victorio Bravim, em Marechal Floriano (ES). As iniciativas fazem parte do Programa Ensino Médio Inovador (ProEMI). “O programa traz vida à escola, promove a participação dos alunos, desperta o gosto pelos estudos e garante a valorização das atividades propostas pela instituição” diz a pedagoga Katiuscia Dallarmi. “Ele trouxe dinamismo e crescimento à nossa instituição.”

Em 2014, segundo a professora, foi desenvolvido, entre outros, o projeto Dançando na Escola, que teve a participação de 282 alunos dos três anos do ensino médio. “Cada turma ficou encarregada de um país”, explica. “As escolhas foram feitas a partir de países que foram sede de edições da Copa do Mundo.”

O projeto de dança, além do trabalho com conteúdos de educação física, como a criação de coreografias, abordou assuntos relacionados a outras disciplinas. Em língua portuguesa, por exemplo, os alunos criaram poemas, paródias e acrósticos e confeccionaram cadernos de receitas dos países. Eles também estudaram a influência do inglês em cada nação (língua inglesa), produziram cartazes relacionados à história e à cultura (artes), abordaram aspectos físicos e políticos (geografia), históricos, econômicos e sociais (história).

Outro projeto, Leitura Todo Dia, foi criado para desenvolver nos estudantes o gosto e o hábito da leitura. Cada aluno deveria ler um livro por mês, sobre temas diversos. Depois, apresentar a obra aos colegas em rodas de conversas, produzir poemas, desenhos e acrósticos e apresentar músicas, danças e dramatizações. A cada mês, era definida uma nova técnica de apresentação.

Aprovação — O acompanhamento pedagógico, com aulas de reforço para os que tinham dificuldades de aprendizagem, serviu para complementar, de forma lúdica e atrativa, os conteúdos oferecidos em sala de aula. “Vários alunos estavam com notas baixas nas disciplinas, mas com o estudo no contraturno conseguiram superar as dificuldades”, ressalta Katiuscia. Ela revela que os alunos do terceiro ano que participaram do projeto de aulas preparatórias para o Enem também conseguiram bons resultados. Vários estudantes obtiveram aprovação em vestibulares de universidades públicas ou conquistaram bolsas em instituições particulares.

Há 15 anos na área da educação, Katiuscia é pós-graduada em educação do campo e em educação profissionalizante. (Fátima Schenini)

Professor de instituto federal desenvolve método para ensinar música

Professor Marcelo Eterno e as obras da coletânea

Tocar Junto é o título da coletânea de livros sobre método de ensino coletivo de banda marcial lançado pelo músico e professor Marcelo Eterno Alves. O método foi adotado pela Secretaria de Educação (Seduc) de Goiás como apoio didático ao ensino da música na rede estadual de ensino.

A obra, lançada em novembro de 2014, conta com sete volumes. Um deles, destinado ao professor. Os demais, aos instrumentos que formam uma banda marcial — trompete, trompa, eufônio, trombone, tuba e percussão. As professoras Luz Marina de Alcântara, da Seduc, e Flávia Cruvinel, da Universidade Federal de Goiás (UFG), colaboraram na organização do material.

Músico das orquestras Filarmônica de Goiás e Sinfônica de Goiânia, instrutor de bandas em Goiânia e Anápolis, músico bombeiro militar, de grupos populares e de câmera, Marcelo atua no magistério há 25 anos, 18 dos quais no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG). Especialista em música brasileira, com mestrado em performance musical, ele leciona no curso técnico em instrumento musical e no curso de licenciatura em música do IFG.

Segundo Marcelo, dois fatores foram preponderantes para a criação da obra Tocar Junto. Inicialmente, durante sua trajetória musical, enquanto professor de banda, músico de orquestras e professor no IFG, o estudo de forma coletiva sempre foi pautado em suas atividades. “Com a criação da licenciatura e do curso técnico em música no IFG, a utilização e a sistematização do ensino coletivo vieram, de forma solidificada, a constar de minhas atividades regulares do ensino e pesquisa em música”, ressalta.

Em 2010, ele apresentou projeto de pesquisa contemplado com bolsa de estudos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) no Programa Institucional de Apoio à Produtividade em Pesquisa do IFG (ProAPP). A pesquisa Aplicabilidade do Ensino Coletivo Dentro do Curso Técnico de Instrumento Musical do IFG (Alves, 2011), analisou o uso do ensino coletivo de instrumentos musicais no curso de música da instituição. “Foi possível então constatar, por meio de levantamentos bibliográficos, a falta de propostas metodológicas brasileiras capazes de facilitar o aprendizado de música em agrupamentos escolares que lançam mão do ensino musical coletivo”, destaca.

O segundo fator que colaborou para a criação do método foi o resultado de trabalho realizado por um grupo de educadores musicais que atuam na área de Ensino Coletivo de Instrumento Musical (Ecim), composto por professores de instituições como IFG, UFG e Seduc. De acordo com Marcelo, a ideia de lançar a obra surgiu nas reuniões do grupo de pesquisa Educação Musical e Transformação Social, a partir das discussões sobre a necessidade urgente de sistematização de metodologias de Ecim, com o objetivo de socializar as práticas pedagógicas a partir dos estudos técnico-musicais, repertório e arranjos próprios.

“Esses dois fatores deram então motivação para eu propor, com base na minha experiência docente, um método que atendesse as especificidades e uma idiomática voltada para a linguagem dos instrumentos de metais e percussão, características encontradas em uma banda marcial”, revela. “Assim, foi possível, a partir de modelos já estabelecidos, criar um método que tenha como objetivo ser uma ferramenta didático-musical capaz de contribuir com todos que se dedicam ao ensino da música por meio da banda”, ressalta Marcelo. Essa obra é a primeira de cunho didático-musical por ele elaborada. As publicações anteriores eram artigos e relatos de experiências de ensino coletivo.

O professor finaliza, no momento, um DVD didático, que será incluído na coleção Tocar Junto. O DVD foi gravado com a participação dos alunos do Grupo de Metais do IFG. “Nesse trabalho, eu apresento as formas e metodologias das quais faço sugestões de aplicabilidade e uso do método”, diz. (Fátima Schenini)

 

Mônica Ribeiro da Silva (UFPR): Em busca de um ensino médio mais próximo dos jovens

Mônica Ribeiro da Silva, professora da UFPR

Professora e pesquisadora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Mônica Ribeiro da Silva atua nos cursos de formação de professores e no Programa de Pós-Graduação em Educação. Pedagoga, com mestrado e doutorado em educação, é autora de vários livros sobre o ensino médio. Atualmente, coordena o grupo de pesquisa Observatório do Ensino Médio, vinculado ao Observatório da Educação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Obeduc-Capes) e de ações nacionais de produção de material para a formação de professores no âmbito do Pacto Nacional do Fortalecimento do Ensino Médio.

Nesta entrevista, a especialista fala das novas ideias para a reestruturação do ensino médio no Brasil e dos resultados de pesquisa realizada entre 2011 e 2014 em escolas públicas que aderiram ao Programa Ensino Médio Inovador (ProEMI) do Ministério da Educação. Ela defende a integração entre as disciplinas e a aproximação da escola com a realidade da juventude como estratégias para a redução da evasão escolar, um dos grandes problemas dessa última etapa de formação da educação básica no Brasil. Segundo Mônica, as novas atividades incorporadas ao cotidiano escolar pelos oito macrocampos de conhecimento (Acompanhamento Pedagógico; Iniciação Científica e Pesquisa; Cultura Corporal; Cultura e Artes; Comunicação e uso de Mídias; Cultura Digital; Participação Estudantil e Leitura e Letramento) despertam mais interesse e ajudam a escola a dialogar com os jovens. (Rovênia Amorim)

Jornal do Professor O que o Ministério da Educação tem feito com relação à reformulação do ensino médio?

Mônica Ribeiro da Silva – Hoje, tem-se ouvido falar muito na questão da reformulação e da reestruturação do ensino médio, mas já existem ações do Ministério da Educação que tratam disso. Não estamos começando do zero. Eu destacaria duas políticas que já estão trabalhando nesse sentido. A primeira é o Programa Ensino Médio Inovador (ProEMI), criado em 2009, que recebe adesão dos sistemas estaduais de ensino e das próprias escolas. O programa leva recursos financeiros às escolas, que para recebê-los elaboram projetos de reestruturação de seus currículos, consideradas as áreas do conhecimento constantes das diretrizes curriculares nacionais do ensino médio e os campos de integração curricular, como cultura digital, cultural corporal, cultura e artes, iniciação científica. Então, o próprio programa já é uma política de indução à reestruturação do ensino médio, com o apoio e a gestão do MEC. A outra política é o Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio, que além de capacitar quase 450 mil professores no Brasil, tem por foco a estruturação dessa etapa do ensino e o que seria o novo currículo. Então, o pacto é uma ação que discute com os professores a base nacional comum e a reestruturação curricular.

No período de 2011 a 2014, a senhora coordenou a pesquisa Avaliação da Implementação do Programa Ensino Médio Inovador no Brasil. O que foi possível observar e concluir?

– No nosso grupo de pesquisa, que é o Observatório do Ensino Médio da UFPR, analisamos os projetos de reestruturação curricular das escolas naquele período. Foram coletados dados junto a 1.280 professores e 867 gestores dentre as duas mil escolas participantes do programa em 2014. Concluiu-se que os estudantes são os grandes beneficiários do ProEMI, por várias razões. Primeiro, pela ampliação do tempo da escola – jornada de cinco ou de sete horas. Além disso, a própria diversificação da forma pela qual o tempo é trabalhado com esses campos. Tudo isso qualificou o tempo de permanência dos nossos alunos na escola. De alguma forma, o programa levou os professores a trabalhar mais coletivamente e a repensar as disciplinas mais tradicionais.

Esses resultados apontados pela pesquisa eram os objetivos do programa?

– O ProEMI começou, na prática, em 2010, em 339 escolas. Passou depois para duas mil escolas, com uma projeção de chegar a 10 mil. Ele foi criado com a intenção de rediscutir e reformular o que é praticado em termos de currículo no ensino médio, o que é praticado em sala de aula e, assim, qualificar o tempo de permanência dos estudantes para que eles se interessem pela escola, reduzindo a evasão escolar. Outra conclusão importante é a de que as escolas que aderiram ao ProEMI desde 2009 tiveram tendência de reduzir o abandono. A não conclusão do ensino médio é um grande problema.

A reformulação do ensino médio passa pela redução de conteúdos?

– É muito problemático falar que o ensino médio é conteudista. A depender de como, metodologicamente, o conhecimento é trabalhado, pode-se ter uma lista de dois conteúdos e ser conteudista. O que muda a ideia de não ser conteudista é o enfoque que se dá ao conhecimento na escola. Desde que esse conhecimento faça sentido para os jovens e tenha um poder de explicação sobre a realidade, não é o número de conteúdos que vai qualificar o currículo. Não é tirar e diminuir uma lista de conteúdos que vai qualificá-lo. Talvez, fazer isso seja empobrecer a formação de nossos estudantes. Penso que qualificar o tempo de permanência do aluno, e fazer sentido para ele, é que a escola o auxilie a compreender o mundo em que vive. Conteudista é uma lista de conteúdos com base no mero caráter informativo de repasse de informação. O que vem ao caso é saber quais conhecimentos qualificam o tempo de permanência do aluno na escola. Isso significa, ainda, pensar um formato de formação de professores que não seja mera repetição de conceitos, mas pensar quais conhecimentos são relevantes e em que momento são relevantes para aqueles estudantes, em sua situação de vida. Isso não quer dizer abandonar conteúdos, mas priorizar conhecimentos, assegurando o domínio de produção e elaboração desses conhecimentos.

Existem experiências de sucesso nessa nova concepção de ensino médio? Há uma fórmula?

– As experiências de sucesso em escolas públicas apresentam invariavelmente algumas características para além do currículo. Por exemplo, tempo de estudo para os professores, estrutura física da escola adequada, tanto no sentido do ambiente mais acolhedor quanto dos equipamentos, como acesso à internet e a laboratórios. Não é suficiente tentarmos dar um novo significado ao conhecimento sem ter as condições para que ele de fato assuma outro formato. As experiências que coletamos com a pesquisa e com escolas públicas do país, em seminários realizados pelo próprio MEC, mostram que, potencialmente, as escolas com mais condições, inclusive com professores fixos e com maior tempo de integração, são favorecidas para uma qualidade de ensino superior. Em uma experiência bem-sucedida de escola pública de Mato Grosso, os professores compatibilizavam o conhecimento entre as disciplinas ao mesmo tempo. Isso vai dando a noção para o estudante de mais totalidade, de conhecimento menos fragmentado.

A proposta de um novo ensino médio apresentada pelo MEC prevê o trabalho em oito macrocampos – Acompanhamento Pedagógico; Iniciação Científica e Pesquisa; Cultura Corporal; Cultura e Artes; Comunicação e uso de Mídias; Cultura Digital; Participação Estudantil e Leitura e Letramento. Por que essas áreas foram escolhidas?

– Eu prefiro falar em campos de integração curricular. Essas propostas, como iniciação científica, cultura corporal e cultura digital, não estão atreladas a um mesmo componente. Para serem desenvolvidas, forçam uma integração curricular. Foram escolhidas por serem campos de interesse dos jovens, mas muitas vezes ganham menos prioridade na escola. Um exemplo é o campo cultura corporal. O conhecimento sobre o corpo e o lugar que ocupa na sociedade não é assunto só da educação física. É uma questão sociológica, filosófica, química, etc. Assim, ter um campo de estudo chamado cultura corporal leva a tratar o corpo a partir de uma abordagem interdisciplinar, integrada, tanto para a compreensão dos jovens em relação ao mundo digital, à comunicação, à literatura, à arte, quanto pela capacidade de integrar várias disciplinas. Esses campos sofreram várias metamorfoses, desde o primeiro documento orientador do ProEMI até hoje, por conta das experiências que as escolas iam vivendo.

A proposta de reestruturação do ensino médio segue algum modelo adotado em outros países?

– Não. O ProEMI tem a ver com o debate que se vinha fazendo no Brasil sobre as diretrizes curriculares nacionais e deriva de um reconhecimento da necessidade de romper com um currículo tradicional no ensino médio, fragmentado e com hierarquia entre as disciplinas. Nasceu daí a proposta de um programa que começasse a induzir uma mudança no ensino médio. É inovador no sentido de romper com os limites de um currículo tradicional, mas não vai na direção de um currículo por ênfases. Por ação do MEC e do Movimento Nacional do Ensino Médio, do qual fazem parte a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), conseguimos retirar, no ano passado, alguns problemas contidos no projeto de lei, em tramitação na Câmara, que incorpora o currículo por ênfases. Entendemos que esse currículo por ênfases formativas é um retrocesso da lei à época da ditadura militar, quando se optava por estudar humanas ou biológicas. O que defendemos é uma base curricular, comum a todos os estudantes, que possibilite, em outro tempo, aprofundar o que eles gostem e tenha mais propensão de estudar na educação superior. Mas que seja uma formação única e comum para todos os brasileiros.

Outra questão é a ideia de educação integral no ensino médio. Não a vejo como algo que politicamente possa se fazer como uma obrigatoriedade. Temos mais de dois milhões de jovens de 15 a 17 anos que trabalham. Proibi-los de estudar à noite ou proibi-los de estudar em um único turno significa, talvez, eles deixarem a escola. Devemos ir no sentido do direito à educação, de assegurar amplamente o acesso à educação como uma política pública universal para um país que até hoje tem 5 milhões de jovens de até 17 anos que não estão no ensino médio. Há uma preocupação do MEC com o tempo integral. Mas, especialmente para o ensino médio, temos de pensar que tempo integral, para quem e em que lugar neste país, não deva ser uma compulsoriedade.

Já é possível, então, resumir as principais ideias que estão sendo pensadas para um novo ensino médio no Brasil?

– A ideia de um currículo mais integrado, menos fragmentado, que busque superar a fragmentação das disciplinas que não dialogam entre si, aquele isolamento disciplinar – química é química, física é física –, está posta desde a origem das diretrizes curriculares. Outra ideia é o diálogo com os jovens por meio de uma organização do currículo, do conhecimento na escola que leve em consideração as várias juventudes que temos: a negra, a indígena, a do campo, a da cidade, homem, mulher, homossexual, dessa religião, daquela outra. Essas várias cores e esses vários movimentos de jovens não podem ser estranhos ao currículo que a escola oferece. Ou esses jovens se veem representados no que a escola oferece ou a escola não faz sentido para eles. Esse é um elemento que já nas diretrizes curriculares, na resolução do Conselho Nacional da Educação, no ProEMI, na discussão do pacto do ensino médio. É uma escola que busca acolher esses jovens e pensar em um conhecimento que, de fato, seja dirigido a eles, não ao contrário. Uma perspectiva de escola que não seja meramente preparatória para o vestibular. Essa é outra ideia. O ensino médio precisa fazer sentido nele mesmo. É a última etapa da educação básica, não pode ser antessala da universidade. É educação, não cursinho preparatório para o mercado e para a educação superior. Essa foi a tradição do ensino médio.

Nós, brasileiros e, especialmente, nós, professores, temos de fazer uma pergunta: que lugar estratégico da sociedade, da economia e da cultura o ensino médio ocupa no Brasil? Temos de saber que rumos vamos dar a ele.