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JORNAL

Boas Práticas de Gestão Escolar

Segunda-feira, 16 de Março de 2015

Edição 111

EDITORIAL - Boas Práticas de Gestão Escolar

O Jornal do Professor aborda em sua 111ª edição o tema Boas Práticas de Gestão Escolar. O assunto foi escolhido por 53.95% dos leitores que votaram na enquete em nossa página.

Sabemos que são inúmeras as boas práticas de gestão que ocorrem em escolas de todo o país, mas decidimos destacar algumas das instituições premiadas na edição 2013 do Prêmio Gestão Escolar. Promovido pelo Conselho Nacional dos Secretários de Educação (Consed), com apoio do Ministério da Educação e outras instituições, o prêmio ocorre em processos bianuais: em anos ímpares, acontece a premiação; em anos pares, as ações de formação.

Assim, temos a participação de Sibeli Lopes, gestora da Escola Estadual Luiza Nunes Bezerra, de Juara (MT), que foi Escola Destaque Brasil na premiação; Maria Elzineide do Espírito Santo Farias, gestora da Escola Estadual Senador João Bosco, de Itacoatiara, vencedora no estado do Amazonas; Quitéria Alves Calado de Melo, gestora da Escola Estadual Manoel de Matos, de Santana do Mundaú, ganhadora no estado de Alagoas; Danclar Jesus Rossato, da Escola Estadual Augusto Ruschi, de Santa Maria, que venceu a premiação no Rio Grande do Sul.

Os professores Marcelo da Silva Lisbôa e Francilon Dias da Silva, do Centro de Ensino Fundamental Juscelino Kubistchek (CEF JK), de Planaltina (DF) participam da seção Espaço do Professor. E nosso entrevistado é o professor Vitor Henrique Paro, da Faculdade de Educação da USP.

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

 

Comprometimento com qualidade leva escola a superar índices

Estudantes participam de trabalho conjunto de artes

O trabalho desenvolvido na Escola Estadual Luiza Bezerra, localizada no município de Juara, no noroeste de Mato Grosso, tem ganhado destaque no cenário nacional pelos bons resultados obtidos. Com mais de 800 alunos matriculados no ensino fundamental, a instituição tem obtido índice zero de evasão escolar desde 2011.

Os números do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) são outro ponto de destaque da escola. Em 2013, ela obteve 6,7 no Ideb dos anos iniciais (primeiro ao quinto), quando o esperado era 5,8. No Ideb relativo aos anos finais (sexto ao nono anos) o resultado de 5,8 também superou a meta de 5,6.

“O diferencial da nossa escola é o comprometimento com a qualidade da educação, o trabalho coletivo em prol da aprendizagem e o envolvimento com a comunidade”, diz a professora Sibeli Lopes, diretora da instituição. Ela cita ainda a metodologia de projetos, utilizada pela escola há alguns anos.

“O projeto Nossas mãos podem salvar o planeta – Lixo transformado em arte, incluso no projeto político pedagógico (PPP) da escola há mais de cinco anos, trabalha com conceitos de educação ambiental, solidariedade, arte, coordenação motora, conservação do patrimônio público e outros temas interdisciplinares”, explica Sibeli. “Outro projeto que vem dando muito certo há mais de 10 anos é Sala de Leitura, que explora a leitura, a interpretação e a escrita”, ressalta. Os projetos Estudantes Solidários, Apoio Pedagógico e Laboratório de Informática são outros citados pela diretora.

A Escola Estadual Luiza Bezerra foi Destaque Brasil na edição 2013 do Prêmio Gestão Escolar, promovido pelo Conselho Nacional dos Secretários de Educação (Consed), com apoio do Ministério da Educação, União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), entre outras instituições.

De acordo com Sibeli, a premiação não é resultado de sua gestão apenas, mas de um trabalho coletivo de mais de duas décadas, que envolveu muito compromisso e dedicação por parte dos profissionais da escola. “Nosso trabalho foi e é pautado no PPP da escola e nas legislações vigentes, o que dá maior consistência no fazer educacional”, adianta.

Para 2015, a diretora pretende implementar algumas ações nos projetos já existentes e implantar alguns comitês formados por grupos de alunos e um professor líder, que incluem, entre outros, o comitê de orientação sobre a preservação do patrimônio público. Outro plano é terminar as obras de reforma geral na escola, com a construção de salas para o desenvolvimento das atividades dos projetos.

Professora há cerca de dez anos e gestora desde 2013, Sibeli tem licenciatura plena em matemática e cursa, atualmente, pós- graduação em metodologia da interdisciplinaridade. (Fátima Schenini)

Compreensão e dedicação fazem a diferença na escola

Alunos na sala de aula

Uma escola no interior do Amazonas é exemplo de excelência na área de educação. Localizada no município de Itacoatiara, a cerca de 270 quilômetros de Manaus, a Escola Estadual Senador João Bosco Ramos de Lima se destaca mesmo em meio às adversidades enfrentadas por seus estudantes, originários, em sua maior parte, de bairros carentes da periferia e também da zona rural.

Segundo a diretora da instituição, Maria Elzineide do Espírito Santo Farias, a escola é uma das poucas no município que recebem alunos com deficiência auditiva e visual e com distorção idade/série, excluídos de outras escolas devido à reprovação ou à evasão escolar. Além disso, explica, muitos alunos precisam acordar às três horas da madrugada para que possam chegar a tempo na escola. “Nesse contexto, são inúmeras as carências que eles carregam consigo”, avalia. “Procuramos compreender nossos alunos em suas carências, angústias, sonhos e expectativas ou mesmo motivando-os a estabelecer metas para o futuro”, diz.

Com mais de 800 alunos matriculados, a escola desenvolve inúmeros projetos em diversas áreas, tais como o projeto Mexa-se, de ginástica laboral e aeróbica, o projeto Alfabetização sensorial dos alunos cegos, por meio do uso das plantas medicinais, e o projeto Escola Sustentável, para conscientizar os alunos na questão ambiental.

Graças aos recursos do programa Mais Educação, do Ministério da Educação, a escola oferece reforço escolar nas disciplinas de matemática e língua portuguesa, além de aulas de dança, judô e percussão no período do contraturno.

A escola também desenvolve atividades na área dos programas Projovem Urbano e Projovem Campo – Saberes da Terra, do MEC. Eles buscam oportunizar a jovens alfabetizados, de 18 a 29 anos, a escolarização em ensino fundamental, na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA), de forma integrada à qualificação social e profissional.

A escola foi a vencedora no estado do Amazonas do Prêmio Gestão Escolar edição 2013, promovido pelo Conselho Nacional dos Secretários de Educação (Consed), quando recebeu o diploma Escola Referência Nacional em Gestão. “Atribuo esta conquista à equipe escolar – professores, funcionários, alunos, pais e comunidade em geral – pela dedicação, competência e ousadia de uma equipe que pensa no resultado do grupo, na conquista em conjunto e que é, acima de tudo, comprometida com uma educação de qualidade”, ressalta a diretora.

Em sua visão, a escola senador João Bosco é guerreira, pois conta com a dedicação de todos os funcionários e demais parceiros para fazer a diferença na vida dos alunos.

De um total de 25 anos no magistério, Maria Elzineide atua há 13 como gestora da escola senador João Bosco. “É uma escola guerreira, pois todos os funcionários e demais parceiros se dedicam para fazer a diferença na vida dos alunos”, avalia.

Ela acredita que a educação é responsabilidade de todo, por essa razão adota a gestão compartilhada e colaborativa. “Todos os segmentos da escola têm vez e voz, podem expor suas opiniões, reivindicar ações e, sobretudo, participar ativamente de todo o processo educacional”, esclarece.

Em 2015, a diretora espera que cerca de nove projetos sejam aprovados pelo Programa Ciência na Escola, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas, a fim de incentivar a iniciação científica na escola. Outra meta é dar continuidade aos programas Projovem Urbano e Projovem Campo – Saberes da Terra.

“Nossa pretensão é aprimorar os projetos já vivenciados, aprofundando as ações a serem desenvolvidas, verificando os resultados alcançados, reforçando os pontos positivos e avaliando os negativos a fim de garantir o melhor aprendizado dos alunos”, garante Maria Elzineide. Com graduação em educação física e em biologia e especialização em tecnologia educacional e em gestão escolar, ela cursa, atualmente, mestrado em ciência da educação. (Fátima Schenini)

Conheça o Projovem Urbano

Conheça o Projovem Campo – Saberes da Terra

Projetos implementados após avaliação rendem prêmio a escola

Estudantes participam de atividade na sala de aula

O desejo de oferecer um ensino de excelência que valorize a criatividade e as iniciativas de inovação dos estudantes, para que possam, assim, obter sucesso e melhorar sua qualidade de vida, levou a Escola Estadual Manoel de Matos, em Santana do Mundaú, no interior de Alagoas, a fazer uma autoavaliação. A partir dos resultados obtidos, a escola fez um planejamento e decidiu implementar projetos cujas ações focassem as problemáticas detectadas.

Vários projetos foram desenvolvidos com a participação da comunidade. Um exemplo é o projeto Intercâmbio Escola–Universidade, em que estudantes universitários ministram oficinas e palestras para os alunos da escola; outro é o projeto Pré-vestibular Solidário, também com a participação de estudantes universitários.

O projeto Nordeste Feito à Mão, envolvendo professores e alunos, obteve resultados tão bons que levou à realização do projeto Lendo a Comunidade Quilombola Jussarinha, uma das três comunidades de remanescentes existentes no município.

“Estas e outras iniciativas fizeram com que a escola incorporasse um movimento extraordinário, colocando dezenas de jovens nas universidades públicas e privadas de Alagoas, principalmente nos anos 2012 e 2013”, relata a professora Quitéria Alves Calado de Melo, diretora da escola, que tem mais de 700 alunos matriculados no ensino fundamental e médio.

Para Quitéria, foi toda essa movimentação que levou a escola Manuel de Matos a ser a vencedora de Alagoas na edição 2013 do Prêmio Gestão Escolar, promovido pelo Conselho Nacional dos Secretários de Educação (Consed), com apoio do Ministério da Educação, entre outras instituições.

“A autoavaliação fortaleceu nosso trabalho com gestão democrática, vivificou o desejo de participar do Prêmio Gestão e nos fez um grupo gestor com possibilidade de acreditar numa educação transformadora, experiência única, talvez, na minha vida e na vida da minha comunidade”, ressalta a diretora.

De acordo com ela, esse prêmio tem despertado na escola um desejo muito forte de cumprir o seu papel social, cujo objetivo é desenvolver um trabalho que garanta qualidade de vida e promova uma formação cultural e científica que possibilite o contato dos alunos e demais segmentos da comunidade escolar com as diversidades e diferenças.

Quitéria explica que seus planos para 2015 incluem o fortalecimento da formação continuada para funcionários, professores, conselho escolar e formação de lideranças estudantis e o desenvolvimento do projeto Gestor/Professor: elos que fortalecem a aprendizagem dos alunos, inspirado em experiências inglesas. Outra meta é o desenvolvimento do projeto Connecting Classrooms – Identidade e Pertencimento: Diálogos entre Culturas, com o apoio do Consulado Britânico - British Council. Essa ação será realizada entre a escola Manuel de Matos e uma escola da Inglaterra.

Com graduação em letras e em pedagogia, Quitéria tem especialização em docência, em direitos humanos e em língua portuguesa e suas literaturas. Cursa, atualmente, especialização em escola de gestores pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Professora municipal aposentada, integra a rede estadual de ensino desde 2001 e exerce a função de diretora desde 2010. (Fátima Schenini)

Diretor explica iniciativas que levaram à conquista de dois prêmios

Diretor Danclar Rossato faz palestra na abertura do ano letivo 2015

Diretor há oito anos da Escola Estadual de Educação Básica Augusto Ruschi, no município gaúcho de Santa Maria, Danclar Jesus Rossato viu a instituição de ensino obter o título de destaque estadual no Prêmio de Gestão Escolar em 2009 e em 2013. Criado em 1998, pelo Conselho Nacional dos Secretários de Educação (Consed), o prêmio é um estímulo à melhoria da gestão e da qualidade do ensino.

“É algo marcante em todo o Brasil, pois não é tão comum a mesma escola receber por duas vezes e sob a mesma direção essa premiação tão importante”, destaca Rossato. Em sua visão, a adoção de medidas como gestão democrática e participativa, descentralização, trabalho em equipe e avaliação periódica da escola contribuíram para os bons resultados. Ele acrescenta à lista a implementação de projetos regionais, como radioescola, jornal, xadrez e jogos de integração, além dos programas federais Escola Aberta para a Cidadania e Mais Educação.

Outros pontos importantes, segundo o diretor, são a realização de parcerias com instituições locais, regionais e estaduais, o emprego eficiente do dinheiro público, a capacitação e a formação de professores e funcionários e o incentivo ao esporte, à cultura e ao uso de tecnologia. “A escola tem dois laboratórios de informática e sistema de internet wi-fi em todas as dependências”, ressalta.

De acordo com Rossato, todos os programas e projetos em execução na escola serão mantidos em 2015. “Também continuaremos trabalhando nossa proposta pedagógica dentro do mesmo complexo temático construído em 2014 — qual é o meu valor?, qual é o seu valor?, quais são os nossos valores?”, explica.

Lideranças — Este ano, Rossato pretende identificar e preparar lideranças para o futuro da escola. “A caminhada educacional não pode parar após nossa gestão”, salienta. “Precisamos dar continuidade e, para isso, é necessário capacitar novas lideranças.” O diretor quer ainda compartilhar com outras escolas as práticas bem-sucedidas de sua gestão.

Com graduação em letras (língua portuguesa), administração de empresas e filosofia, Rossato tem especialização em gestão escolar. A escola Augusto Ruschi atende a cerca de 1,4 mil alunos, matriculados nos ensinos fundamental e médio. Funciona nos três turnos e fica aberta também nos fins de semana para a realização do programa Escola Aberta. (Fátima Schenini)

Saiba mais sobre o Prêmio Gestão Escolar

Jornal de escola do DF trouxe mais motivação aos estudantes

Alunos leem jornal escolar na sala de aula

Decidido a dinamizar suas aulas de produção de texto no Centro de Ensino Fundamental Juscelino Kubistchek (CEF JK), em Planaltina, região administrativa do Distrito Federal, o professor Marcelo da Silva Lisbôa resolveu criar um jornal escolar. O projeto foi criado em 2013, especificamente para a turma C do quinto ano do ensino fundamental, com participações esporádicas de alunos de outras turmas.

Os estudantes ficaram muito empolgados com o informativo Tá ligado? “Era a motivação que faltava para fazê-los ler e produzir textos”, diz Marcelo, que leciona desde 2002. Graduado em pedagogia, tem pós-graduação em ensino especial e também em orientação educacional.

A partir da terceira edição do jornal, que é bimestral, o projeto passou a contar com a participação do professor Francilon Dias da Silva, do quarto ano do ensino fundamental. Com licenciatura em pedagogia e curso técnico de designer gráfico, Francilon ficou encarregado pela diagramação e pelo auxílio aos demais professores. Marcelo ficou na redação geral do informativo.

Em 2014, devido aos bons resultados, o projeto passou a integrar à proposta pedagógica da instituição como um projeto de leitura para todas as turmas de quarto e quinto anos. O jornal passou a se chamar A Voz do JK e todos os professores e alunos das turmas envolvidas passaram a participar da produção, redação e utilização do informativo em sala de aula como ferramenta pedagógica interdisciplinar.

“Os alunos sempre participam ativamente de todas as edições e se envolvem em todas as etapas, seja criando textos, propondo pautas ou dobrando e distribuindo os jornais”, explica Marcelo.

Após terem participado de um curso sobre uso de tecnologias de informação e comunicação (TIC) na escola, oferecido pelo Programa Nacional de Formação Continuada em Tecnologia Educacional (Proinfo Integrado), do Ministério da Educação, em parceria com a Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação (Eape), os dois professores resolveram fazer uma edição especial do jornal sobre o tema Educando com Tecnologias.

“Convidamos professores que atuam com uso da didática multimídia a nos trazer seus testemunhos e nos apresentar suas ações”, revela Francilon. “Os alunos adoraram, pois intensificamos mais ainda o trabalho com esses recursos em sala de aula, sem falar que essa didática se mostrou superatrativa e compensadora nos resultados finais após avaliações”, salienta o professor, que atua no magistério há cinco anos. (Fátima Schenini)

(Republicado com acréscimos, em 18.3.2015)

Vitor Henrique Paro (USP): “O diretor precisa ser um grande educador, que saiba se relacionar com os outros educadores”

Vitor Henrique Paro

Em entrevista ao Jornal do Professor, o professor e pesquisador Vitor Henrique Paro, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), diz que o diretor tem de ser um educador, que saiba se relacionar com os outros educadores.

“Na gestão empresarial, você contrata alguém para fazer o controle dos outros. Na escola, o trabalho tem de ser muito mais livre, tem de ser autônomo, tem de ser um trabalho com professores, com eles dialogando e desenvolvendo o trabalho da melhor forma possível”, defende Paro.

Em sua visão, a melhor solução é a direção colegiada, com o trabalho da escola dividido entre coordenadores e a coordenação do trabalho humano coletivo a cargo da direção. “Três ou quatro cabeças pensam mais que uma, e seria mais democrático”, acredita.

Com mestrado em educação pela USP, doutorado em educação pela PUC-SP e livre-docência em educação pela USP, Paro é autor de uma extensa bibliografia. Ele coordena o Grupo de Estudos e Pesquisas em Administração Escolar (Gepae) da USP.

Jornal do ProfessorPara o senhor, o que são boas práticas de gestão escolar?

Vítor Henrique Paro – Para mim, gestão e administração são sinônimas. A boa gestão ou a boa administração é aquela que usa os recursos da forma mais adequada possível para atingir determinados fins. A utilização desses recursos envolve todos aqueles que trabalham, seja no nível mais baixo ou no mais alto, se houver uma hierarquização. Boa gestão é aquela em que a escola atinge os seus objetivos. É aquela que utiliza, da forma mais adequada possível, os seus recursos de várias ordens, como o material escolar, o próprio conhecimento, a cultura que se pretende proporcionar à população que aprende. A boa gestão escolar é aquela que utiliza os meios da forma mais adequada aos fins. Então aí surge um determinante: os fins é que têm de condicionar os meios. Isso em toda boa administração. Eu costumo dar o exemplo de que não vou para uma pescaria levando uma metralhadora e nem vou para a guerra usando uma vara de pescar. Meios adequados aos fins. Os fins condicionam os meios. Na empresa capitalista, por exemplo, cujo fim é a apropriação do excedente, ela pode ser inclusive autoritária. O autoritarismo não nega o fim. Pelo contrário, se não tiver certo autoritarismo e desrespeito à subjetividade do trabalhador não há produção de excedente.

A escola não existe para produzir lucro e nem para se apropriar do trabalho de ninguém, mas ela existe como direito a seres humano-históricos. Seres que fazem a sua história, que são sujeitos. Os objetivos são de emancipação humana, de formação de sujeitos, sujeitos entendidos como autores, seres que têm vontades, que têm sonhos, desejos e que criam e buscam valores, realizando objetivos. Se esse é o fim da educação, então, em qualquer gestão, o primeiro item que tem de se levar em conta é que o meio de realizar isso deve ser adequado ao fim. Então, a boa educação escolar é aquela cujos objetivos são perseguidos utilizando meios adequados a esses objetivos.

O senhor concorda que administrar uma escola de forma eficiente é bem diferente de administrar uma empresa?

– A escola não é diferente da empresa; a escola é antagônica à empresa. O objetivo da empresa é o da ganância. Isso não é moralismo, não. É ciência. O empresário não é mau por fazer isso. Ele só procura fazer o melhor negócio possível e se apropria daquilo que foi construído pelo produtor. O trabalhador é o produtor. Ele produz o valor que é apropriado pelo capitalista. Ele não paga o trabalho do trabalhador, ele paga o salário. A maior parte do trabalho, o valor produzido na empresa, é apropriada pelo capital e pelo Estado porque o capital também paga impostos. Por isso que, em grande medida, o Estado vive a serviço do capital. A empresa para atender os seus objetivos utiliza meios adequados aos seus objetivos. Esses meios são meios de dominação. Na escola, ela tem de utilizar meios adequados aos seus objetivos, que não são de dominação, mas democráticos, de criar o cidadão autônomo, que tem direitos. Para fazer isso tem de utilizar um método que não é antagônico aos seus interesses. Essa questão da metodologia se estuda e se trabalha na formação de professores, estudando a sociologia, a filosofia, a história da educação, a psicologia, a antropologia, a economia política, a didática e se chega a uma conclusão muito simples: se a educação é formação de sujeitos, o educando só aprende se quiser. Não se pode forçá-lo. Ele aprende sendo sujeito. Se o objetivo da educação é formar sujeito, o seu modo de educar não pode educar sendo contrário à criança. É a criança que se tem de ouvir, é o adolescente que se tem de ouvir. Você precisa da concordância do educando. Não se pode educar sendo contrário ao educando. Isso é um componente técnico como está demonstrado em toda a ciência da pedagogia e da educação desenvolvida no século XX, desde Piaget. Então para você fazer isso, tem de utilizar maneiras de tratá-lo que sejam de acordo com a vontade dele.

O que o diretor da escola pública deve fazer para atingir o objetivo de formar cidadãos?

– Ele tem de utilizar os conhecimentos técnicos de educação. Ele tem de ser um educador junto com seus professores. Na gestão empresarial, você contrata alguém para fazer o controle dos outros. Na escola, o trabalho tem de ser muito mais livre, tem de ser autônomo, tem de ser um trabalho com professores, com eles dialogando e desenvolvendo o trabalho da melhor forma possível.

O diretor precisa entender de educação. É preciso ser um grande educador, que saiba se relacionar com os outros educadores. Por isso, a minha sugestão é que não haja diretor, mas um conselho diretivo de três ou quatro coordenadores. Que não haja um culpado último pela escola, que administre a escola da melhor maneira possível para que atinja o objetivo, que é formar cidadãos.

Como o senhor define gestão escolar democrática?

– Se você tem presente que o conceito de educação não é transmissão de conhecimento, mas apropriação da cultura inteira – o ser humano se forma apropriando conhecimentos, valores, filosofias, artes, crenças – se a educação é isso e não pode ser transmitida, para se educar, é preciso que o outro queira aprender. Isso é uma relação política, no sentido de que política é a convivência com o sujeito. Isso pode ser feito de duas formas: dominando esse sujeito, que é forma autoritária, ou de forma democrática.

Na educação, a forma autoritária não funciona. Para você querer que o outro aprenda, você corre o risco dele não aprender. É uma relação dialógica. Isso é uma relação democrática. Quando eu consigo levar o outro a se apropriar de um elemento cultural, seja de um conhecimento, de um valor, de uma habilidade, de um componente artístico, ele se apropria desse elemento por sua própria vontade. E aí temos todas as metodologias de ensino disponíveis. Quando você propicia condições para que ele queira aprender e ele se apropria de um conhecimento, de um valor, aquele elemento cultural passa a ser dele. Isso é educação. Educação é feita pelo sujeito que aprende. E isso não acontece autoritariamente. O professor é sujeito e o educando também é sujeito. Os dois são trabalhadores. Na fábrica, o trabalhador é o sujeito técnico que transforma o pedaço de ferro. Esse objeto de trabalho não é sujeito, e não é preciso pedir autorização para transformá-lo. Por isso, o trabalhador da indústria, do serviço, do sistema capitalista pode trabalhar inclusive contrariado, triste, odiando o patrão, e produzir bem. No caso da escola, não, porque é uma relação não apenas técnica, mas política. Em educação o técnico é radicalmente político. Você tem que contar com a cumplicidade do outro. A educação se faz com o educador e o educando. O trabalho do professor é completamente diferente. Para você coordenar um trabalho numa fábrica, basta controlar o trabalho do trabalhador. Você vigia o que ele faz e o obriga a fazer. Até porque ele é constrangido pela necessidade do salário. Quando você na empresa capitalista utiliza os elementos gerenciais e aliena o trabalhador, prejudica o trabalhador, você faz isso em benefício do produto. O trabalhador é alienado, mas o produto é feito. Tanto que você pode estabelecer prêmios de mérito. Se você fizer mais, posso te pagar mais. No caso da produção escolar, pedagógica, isso não pode acontecer. Se acontecer, acontece com prejuízo do produto. Na empresa, isso acontece e o produto sai porque não depende de uma relação de política. Na escola, é preciso levar em conta a importância do educando. A gerência mercantil na escola faz com que o professor busque fórmulas de parecer que trabalhou mais, produz mais alunos que passam de ano, mas não produz mais alunos sujeitos e que têm mais educação porque isso não depende de sua opressão.

É possível então estabelecer uma relação entre gestão escolar democrática, diretor como educador e conselho diretivo?

– O objetivo é a educação formadora de seres humano-históricos. Para atender a esse objetivo, e mais de acordo com o objetivo, os meios utilizados precisam ser de forma diferente. Nada contra ter diretor. O diretor e a hierarquia não são sinônimos de autoritarismo. Pode ter hierarquia sem autoritarismo, em termos de educação, já que estamos no domínio da política, da democracia, porque educação é radicalmente democracia no sentido de relação de sujeitos que se afirmam como tais. Se é assim, por que colocar toda a culpa e toda a responsabilidade num diretor e por que um diretor técnico? Hoje em dia com o desenvolvimento da informática, o diretor não precisa saber nada de administração técnica. Uma secretária faz tudo isso. Isso não é trabalho de educador. O diretor tem de entender de educação. E por isso sugiro que deveria até se chamar de coordenador. E por que não três ou quatro coordenadores, dividindo o trabalho da escola, sendo um coordenador comunitário, outro mais relacionado com o currículo, seria o pedagógico, outro que tivesse mais relação com a cultura em geral. Bom, três ou quatro cabeças pensam mais que uma, e seria mais democrático. Isso seria uma gestão democrática, pois estaria determinada pelo conteúdo da administração. Se o gênero humano conseguiu produzir essa civilização e o avanço tecnológico que nós temos, foi sempre por adequar meios a fins. Chegamos a Lua, porque queríamos chegar lá e adequamos os meios até alcançá-lo, sempre obedecendo a esse princípio administrativo fundamental: os meios têm de ser adequados aos fins.

O diretor não é simplesmente um técnico, um office boy de luxo como nas empresas, nem um controlador do trabalho alheio. Pelo contrário é um coordenador de trabalho de todos, inclusive o dele. Tem de ser professor e que tenha muita experiência de docência porque uma hora ou outra vai ser professor também, mesmo sendo diretor. Os papeis se misturam e o diretor faz de uma forma mais adequada possível o desenvolvimento da gestão escolar. Isso é gestão escolar. Vai ter conselho de escola, sim, que é uma conquista brasileira, mas o conselho da escola deve ser com mais elementos, com gestão com mais representantes de pais, de professores, de alunos, de funcionários como um poder legislativo dentro da escola para trabalhar mais processos, mais sobre os rumos, o planejamento da escola. Mas a coordenação de trabalho humano coletivo seria da direção, que tem um papel mais nitidamente político e de responsabilização pela escola. E isso não é coisa do outro mundo.

De que forma deve ser feita a escolha dos diretores?

– A pior forma é o concurso. O bom diretor é aquele que é um bom professor, então sou complemente contra o concurso. A pessoa que faz concurso fica titular, efetivo, e não responde mais ao interesse da escola, mas ao do Estado.

As pessoas criticam a nomeação, acho a nomeação absurda, mas a nomeação ainda é melhor que concurso. Hoje, a maior parte do Brasil tem eleição de diretores e isso ocorre precisamente naqueles lugares onde havia nomeação, porque ficava claro que aquilo era uma coisa absurda.

Para atender os interesses de uma gestão democrática, nada mais coerente de que seja um tipo de provimento democrático. E não se inventou nada mais democrático do que eleição para escolher os ocupantes dos cargos e funções no país e no mundo.

E essa eleição seria feita pela própria comunidade escolar?

– Seria uma eleição feita pela própria comunidade escolar. E há várias formas para se coibir o político-partidário. É saber que o político escolar é mais amplo que o político-partidário. Uma coisa que às vezes acontece é a intromissão de partido, o que não pode haver. Mas isso tudo você pode prever. Então, devem-se examinar várias experiências de eleição de diretores no Brasil todo. Por exemplo, a campanha eleitoral tem de ser feita numa assembleia em que cada um dos candidatos ou as chapas dialoguem, conversando com pais, alunos, professores e funcionários a respeito daquilo que pretendem fazer.

Deve ser apresentado um plano político-pedagógico do diretor ou da chapa diretiva para a escola para aqueles três ou quatro anos. Tomar medidas para que não haja influência externa. Claro que tudo isso é um aprendizado, mas é necessário que se faça. Muita gente critica que com eleição vai haver muitos conflitos, mas esses conflitos já existiam e aparecem com a eleição. Vamos aprender a resolver democraticamente, vamos fazer democracia. O professor que faz parte politicamente do conselho da escola não tem interesses antagônicos aos dos pais. Eles têm interesses iguais, estão num embate político democrático para mostrar o seu ponto de vista e contribuir por uma melhor educação. É diferente de um partido político participando de uma assembleia legislativa em que são contrários um ao outro, mas tudo isso tem de ser aprendido democraticamente. Repetir a política partidária na escola não funciona, mas ainda que ocorra é uma forma de superá-la, vai se repetindo e se aprendendo. A democracia é um caminho que se faz caminhando.