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JORNAL

Mestrado para Professores

Terça-feira, 14 de Abril de 2015

Edição 112

EDITORIAL - Mestrado para Professores

Por escolha de 52.45% dos leitores que votaram na enquete colocada em nossa página, o assunto da 112ª edição é Mestrado para Professores. Optamos por dar destaque aos programas de mestrado profissional que estão sendo oferecidos no formato semipresencial, em instituições de todas as regiões do Brasil e são especialmente destinados a professores em exercício em escolas de educação básica: o Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional (ProfMat), Mestrado Nacional Profissional em Ensino de Física (ProFis), Mestrado Profissional em Artes (ProfArtes), Mestrado Profissional em Ensino de História (ProfHistória) e o Mestrado Profissional em Letras (ProfLetras).

Nosso entrevistado é o presidente da Sociedade Brasileira de Matemática, Marcelo Viana, um dos idealizadores do Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional (ProfMat).

O professor Vitor Bastos de Jesus, do Instituto Federal do Rio de Janeiro, Câmpus de Nilópolis, participa da seção Espaço do Professor.

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

Curso dá novo significado a estratégias de ensino de física

Alunos em sala de aula no DF

Professora de física no Distrito Federal, Samara Brito está entusiasmada com as aulas do Mestrado Nacional Profissional em Ensino de Física (MNPEF), conhecido como ProFis, que cursa desde o segundo semestre do ano passado. “Minhas aulas foram completamente afetadas pelo caminho que tenho trilhado no mestrado”, destaca. Há 14 anos no magistério, ela leciona no Centro de Ensino Fundamental 8, na região administrativa do Guará, instituição da rede pública de ensino do DF, e no Colégio Marista de Brasília, da rede particular. Suas turmas incluem alunos dos três anos do ensino médio e da educação de jovens e adultos (EJA).

Segundo Samara, a participação no curso, criado por iniciativa da Sociedade Brasileira de Física (SBF) para qualificar professores da educação básica, provocou acentuada mudança com relação às aulas que ministrava anteriormente. “As ferramentas pedagógicas estudadas, e agora mais bem compreendidas, me levaram a ressignificar as estratégias de ensino”, analisa.

De acordo com o professor Marco Antonio Moreira, do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), coordenador do ProFis, o mestrado tem ênfase em conteúdos, tecnologias e desenvolvimento de estratégias didáticas para melhorar o ensino da física. “Com isso, espera-se que os egressos estejam mais preparados para um ensino coerente com o século 21”, ressalta. Ele diz que o ProFis é uma iniciativa importante para o ensino da física, pois a disciplina está quase desaparecendo nos currículos escolares e há baixa procura pela licenciatura. Segundo o professor, além de reduzido número de aulas, o conteúdo de física do ensino médio está desatualizado. O ensino é o tradicional, de sempre: “Centrado no docente, baseado em aulas expositivas e resolução de problemas, treina o aluno para provas e não faz uso de tecnologias de comunicação e informação”.

As atividades do ProFis tiveram início em agosto de 2013, em 21 polos. Cerca de 300 candidatos foram selecionados para essa primeira edição. Em agosto próximo, eles apresentarão dissertações e produtos educacionais desenvolvidos.

Atualmente, 46 polos estão em funcionamento em todo o país, com a participação de 750 professores mestrandos, aproximadamente. A expectativa é que nova seleção seja feita no segundo semestre deste ano, com início das atividades em março de 2016. “Provavelmente, teremos de dez a 20 novos polos e cerca de 200 novos professores mestrandos”, adianta o professor.

Valorização – Na opinião de Moreira, o ProFis representa a valorização do professor de física, uma oportunidade que os docentes não imaginavam ter. “Fazer um mestrado profissional em universidades renomadas e ter bolsa para isso é algo completamente novo para os professores de física”, argumenta. Moreira lembra que a característica principal do perfil dos mestrandos é que sejam professores de física em serviço e continuem em serviço durante o mestrado. “Enquanto política pública, o Mestrado Profissional Nacional em Ensino de Física e em outras áreas é um grande avanço para a educação brasileira.”

Ligada ao polo que funciona na Universidade de Brasília (UnB), Samara assiste às aulas às segundas e terças-feiras, nos turnos vespertino e noturno. Apesar do grande desafio que tem sido fazer o mestrado e lecionar em duas escolas, ela diz que o esforço vale a pena. “Ao me debruçar novamente sobre toda a estrutura conceitual e ao revisitar todo o desenvolvimento filosófico e científico associado à física e a seu ensino, percebo o quanto é importante que um educador permaneça sempre estudando”, enfatiza. “O educador deveria ser um eterno aluno-pesquisador.”

Tecnologias — A professora, que escolheu como tema de sua dissertação O Uso do Instagram como Ferramenta de Ensino dos Fenômenos Ópticos, entende que é necessário compreender o uso de tecnologias na sala de aula. “Uma proposta recente da tecnologia educacional consiste, em vez de tentar impedir o uso de aparelhos como tablets e smartphones, em incorporar seu uso às aulas”, revela. Isso, na visão de Samara, não só vai promover o acesso livre às informações como melhorar a relação entre alunos, via e-mail e redes sociais, e favorecer a interatividade.

“Podemos observar que há uma carência na formação dos licenciados no que se refere ao uso de tecnologias na educação. A ideia, portanto, é criar possibilidades pedagógicas para professores da educação básica no uso de tecnologias para aprendizagem”, diz. “Nesse caso, por meio de dispositivos móveis, como o celular, e uma rede social, como o instagram.”

Prioridade – Além do ProFis, estão em funcionamento, atualmente, no Brasil, outros quatro programas de mestrado profissional que têm como prioridade o atendimento de professores em exercício em escolas de educação básica (ensino fundamental e médio): o Mestrado Profissional em Letras (ProfLetras), o Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional (ProfMat); o Mestrado Profissional em Ensino de História (ProfHistória) e o Mestrado Profissional em Artes (ProfArtes). Os cinco mestrados profissionais são recomendados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e oferecidos pelo sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB), no formato semipresencial. (Fátima Schenini)

Esforço resulta em profissionais confiantes no ensino de matemática

Prof. Júlio Cezar no fundo da sala de aula, à direita

Curioso para aprender mais sobre teoria e prática e tornar-se melhor professor em sala de aula, Júlio Cezar Marinho da Fonseca tinha a distância como a grande dificuldade. O polo do Programa de Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional (ProfMat) para as aulas presenciais, no Amazonas, fica em Manaus. Parintins está a cerca de 350 quilômetros da capital. Na famosa cidade turística e da dança folclórica dos bois-bumbás, Júlio Cezar ainda mora e trabalha.

“Foram dois anos cansativos, mas que valeram cada suor e sono perdido”, diz ele, que viu no ProfMat a oportunidade que esperava para “fazer a diferença no ensino” em sua cidade. Para chegar a Manaus a tempo de assistir às aulas do sábado, o professor do ensino médio do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (Ifam) chegou, no início do curso, a viajar 20 horas de barco, dia e noite, às sextas-feiras, pelos rios Amazonas, Negro e Solimões.

Depois, com a liberação da bolsa de estudos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Júlio Cezar conseguiu amenizar a rotina semanal, ainda assim exaustiva. De lancha, a viagem de ida foi reduzida à metade do tempo. A volta, no domingo, levava uma hora de voo. De segunda a quinta, a rotina voltava a ser a de professor, com 40 horas de carga horária a cumprir. O sacrifício de aliar estudos e trabalho valeu a pena, garante o novo mestre em matemática, aluno da primeira turma do programa. “Hoje, na minha cidade, o ensino de matemática está evoluindo. Já conseguimos melhorar os resultados nas olimpíadas nacionais, por exemplo”, afirma o professor, que inspirou outros colegas a percorrer o mesmo caminho da qualificação.

Diferença — O ProfMat foi o primeiro mestrado profissional a ser criado no Brasil, com reconhecimento da Capes, para professores em sala de aula. Desde a primeira turma, em 2011, 5.824 profissionais ingressaram no programa — 1.527 concluíram o curso e receberam o título de mestre. Júlio Cezar faz parte dessa estatística. Ele defendeu, em 2013, estudo sobre os números perplexos, numa abordagem para o ensino médio. “Todo professor que exerce sua profissão na educação básica deveria passar pela experiência de um mestrado, como o ProfMat. Posso dizer que existe uma grande diferença entre a forma de ensinar que eu usava antes para a metodologia que adoto atualmente”, relata. “Consigo trabalhar os conteúdos de forma mais diversificada e embasada matematicamente, o que possibilita maior clareza na explicação e desperta a curiosidade para o conhecimento matemático e sua aplicações.”

Atualmente, 2.559 docentes fazem o curso, que tem duração de dois anos. Até agora, o maior grupo de participantes do programa tem entre 28 e 32 anos de idade e de cinco a nove de exercício da profissão. Cerca de 20% são mulheres.

Credibilidade — Ana Luiza Kessler, professora na rede pública de Santa Maria (RS), que defende a dissertação neste mês de abril, também não teve trajetória fácil. Ela conta que se interessou pelo mestrado em razão da credibilidade do curso, coordenado pelo Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa) e pela Sociedade Brasileira de Matemática (SBM). “Instituições renomadas na área de matemática, além de ter livros e professores dessas instituições participando ativamente do curso.”

Apesar da motivação, a distância, a dura rotina de conciliar os estudos com a carga de 40 horas semanais como professora de escola pública e problemas pessoais a impediram de concluir o curso no prazo de dois anos. Ainda assim, não desistiu. Em 2013, fez novamente a seleção e reingressou. A rotina do mestrado permitiu a ela participar de eventos acadêmicos, conhecer professores renomados da área — entre eles, os autores dos livros que leu — e renovar o entusiasmo pela pesquisa. “Reencontrar colegas do mestrado e que tiveram outras oportunidades após a conclusão do ProfMat era o estímulo que eu precisava para não desistir e terminar o curso”, diz Ana Luiza, que está na fase da redação final da dissertação.

A partir de análise de gráficos e o uso do software GeoGebra, a pesquisa da professora inova ao versar sobre a aplicação de conhecimentos matemáticos de funções em outras disciplinas, como física, química e biologia. No dia a dia da sala de aula, ela já nota a diferença. “Hoje, sinto-me mais segura em relação aos conteúdos ensinados e tenho mais domínio sobre o que estou passando para os alunos.”

Graças ao ProfMat, Ana Luiza tornou-se representante da Região Sul na Associação Nacional de Professores de Matemática na Educação Básica (Anpmat), que tem entre os objetivos apoiar ações para formação e valorização profissional dos docentes de matemática. “Todos nós, profissionais, precisamos nos reciclar e estar sempre em busca de mais conhecimento, de mais saberes, de inovações, de ideias para aprimorar nossas aulas e nossas práticas docentes”, afirma. (Rovênia Amorim)

Saiba mais sobre o ProfMat

Curso contribui para troca de experiências e reflexão sobre atividades docentes

Professora Laíza e alunos, na sala de aula

Professora de arte no município mineiro de Araguari, Laíza Coelho leciona nas escolas estaduais Professora Katy Belém e Professor Antônio Marques. O tema de suas aulas, ministradas uma vez por semana a alunos do nono ano do ensino fundamental e dos dois primeiros do ensino médio, nas duas instituições, é o teatro.

Com licenciatura em teatro, Laíza cursa o Mestrado Profissional em Artes (ProfArtes), com área de concentração em ensino de artes. “O curso tem superado minhas expectativas”, diz. “Dividir experiências com professores de todo o país e, juntos, buscarmos novas soluções para problemas que parecem ser comuns a todos é uma experiência muita rica”, avalia.

Segundo Laíza, o ProfArtes também é um espaço de criação e produção artística e permite enxergar o ensino de artes para além da sala de aula, abrangendo a formação pessoal e mais humanizada tanto do aluno quanto do professor. “Isso faz valer a pena”, enfatiza.

O programa, coordenado pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), é oferecido em 11 instituições de educação superior, com aulas presenciais e a distância. As aulas de Laíza são oferecidas no polo da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

A Universidade de Brasília (UnB) é outra instituição credenciada para oferecer o ProfArtes. Um de seus alunos é Hugo Nicolau Vieira de Freitas, que leciona teatro para alunos do primeiro ao quinto ano do ensino fundamental na Escola-Parque 313–314 Sul, em Brasília.

Para Hugo, o ProfArtes representa a oportunidade de crescimento profissional. “É uma forma muito direta de tentarmos mudar a realidade da educação pública brasileira por meio da formação de qualidade dos docentes”, ressalta. “É também possibilidade de formação continuada e de contato com a pesquisa.”

Com licenciatura em artes cênicas e em pedagogia e experiência de oito anos no magistério, Hugo considera proveitosa a participação no curso de mestrado. “O ProfArtes possibilita a reflexão das nossas práticas como docentes”, diz. “Ao trazer uma abordagem voltada para aprendizagem significativa, o mestrado proporciona nova dinâmica na formação continuada do professor e também na formação que esse professor passa a oferecer aos alunos.”

No curso, Hugo tem como objeto de pesquisa o ensino de teatro partindo da leitura do espaço. “Saímos do ensino tradicional do teatro, que em geral tem início na parte corporal, e passamos a construir um ensino partindo do olhar, da observação, da leitura que fazemos dos lugares que ocupamos no mundo, refletindo nossa relação com esses espaços”, salienta.

Dissertação — O tema da dissertação de Laíza Coelho está ligado à possibilidade de vivenciar um processo de criação teatral com os alunos no contexto de uma disciplina inserida em uma grade curricular, com abordagem do jogo enquanto elemento inspirador para o fazer teatral. “Além disso, a pesquisa trabalha com a viabilidade de um olhar de apaziguamento e mediação trazido pela arte em um espaço de notória violência, como tem se revelado ser o espaço escolar”, salienta.

De acordo com o coordenador nacional do ProfArtes, professor André Carreira, da Udesc, o curso teve início em agosto de 2014, com 177 alunos matriculados. O programa funciona nos estados da Bahia, Ceará, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Rio Grande do Norte, Santa Catarina e São Paulo e no Distrito Federal.

“Essa é uma oportunidade ímpar porque tem como eixo a própria atividade do professor na escola, na sala de aula, com os alunos. É ali que será realizada a pesquisa de mestrado”, ressalta Carreira. “O professor pode ter acesso a novos conceitos e a toda uma produção intelectual renovadora no que se refere à reflexão sobre as artes da escola.”

Ao mesmo tempo, segundo Carreira, o projeto pretende produzir mais interação entre a universidade e as escolas onde trabalham os mestrandos. “Isso tem como objetivo estimular a reflexão sobre as práticas de ensino e valorizar e multiplicar as práticas artísticas nas escolas.” (Fátima Schenini)

Mestrado profissional em história terá abertura de vagas este ano

Professora Cíntia e alunos na sala de aula

No segundo semestre deste ano, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) lançará edital para selecionar candidatos à segunda turma do programa Mestrado Profissional em Ensino de História (ProfHistória). Atualmente, 130 professores da educação básica de escolas públicas fazem o curso, em 12 núcleos, em municípios dos estados do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Tocantins. Há ainda a ideia de, no próximo edital, ampliar o número de instituições com oferta do curso.

“O mestrado profissional faz a articulação das disciplinas e das atividades acadêmicas com as novas práticas na sala de aula; é um enriquecimento muito grande para a docência”, explica a coordenadora nacional do ProfHistória, professora Marieta de Moraes Ferreira, titular da UFRJ. O curso tem carga horária de 510 horas. Embora algumas atividades sejam oferecidas a distância, as aulas são ministradas na modalidade presencial.

Bolsa — Professor da rede pública no Rio de Janeiro, Eric Rodrigues desdobra-se para conciliar as atividades de sala de aula com as do mestrado. Ele reserva duas tardes e uma noite durante a semana para cumprir as disciplinas. “É difícil conciliar; como professor 40 horas, é uma forte demanda”, explica Rodrigues, que cursa três disciplinas, ofertadas em polos de três cidades do estado.

Para ir de um local a outro, Rodrigues usa o carro da família. Os custos a mais no orçamento por conta do combustível são pagos pela bolsa de estudos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) do Ministério da Educação. Todos os professores do mestrado que conciliam os estudos com o trabalho docente têm direito ao benefício.

Apesar da dupla jornada, Rodrigues não tem dúvidas quanto à importância da qualificação. “Via carência teórica para executar parte do meu trabalho”, afirma. A ideia dele é pesquisar uma metodologia para o ensino de história que incorpore o uso da tecnologia na escola. “Os estudos no curso reorientam minha visão sobre como pensar métodos avaliativos críticos para a utilização desse recurso, além de como desenvolver uma avaliação capaz de testar a produção do conhecimento do aluno”, explica.

Esperança — Professora de história do município fluminense de Nova Iguaçu, Cíntia Benak, apesar de média 8 na seleção do ProfHistória, não conseguiu a classificação. “Minha opção de polo foi a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), uma das médias mais altas”, diz. “Infelizmente, são poucas vagas, e o processo seletivo por polo nos impede de ter maiores chances.”

A professora Cíntia cumpre, na condição de aluna especial, disciplina eletiva do ProfHistória no polo de Duque de Caxias da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). No fim do ano, ela tentará a classificação no segundo processo seletivo do mestrado profissional em história. Se aprovada, poderá aproveitar as disciplinas já cursadas.

O ProfHistória, na opinião de Cíntia, é a solução e a única esperança para os professores que estão em sala de aula e querem se qualificar. “A bolsa de estudos e o horário do mestrado profissional facilitam a vida do professor que necessita se qualificar, mas precisa trabalhar”, salienta. “O mestrado acadêmico muito me desanima, pois não posso largar meus empregos.”

Na sociedade do conhecimento, ela acredita que a qualificação torna os docentes mais críticos, reflexivos e atuantes no processo de ensino e aprendizagem. “A geração de alunos exige uma educação inserida nas novas tecnologias; exige de nós aulas dinâmicas, interessantes, atuais e modernas”, diz. “Despertar a atenção desses jovens em plena era tecnológica é muito desafiante; logo, um professor qualificado é essencial para o processo educacional, e o mestrado profissional amplia essa visão.” (Rovênia Amorim)

Professor do IFRJ lança obra para ajudar estudantes de exatas

Prof. Vitor Luiz autografa seu livro

Professor há mais de 20 anos, Vitor Luiz Bastos de Jesus acaba de lançar o livro Experimentos e Videoanálise – Dinâmica para ajudar os estudantes de licenciatura e bacharelado em física e química, das engenharias e de nível médio e técnico. A obra os orienta a unir teoria e experiência. “Elas parecem duas físicas que nunca se encontram” diz. “Vivem separadas. Uma na sala de aula, outra no laboratório.”

Vitor Luiz tem observado, ao longo dos últimos anos, as dificuldades encontradas pelos alunos. “Os dados experimentais são obtidos quase sem reflexão sobre as inúmeras possibilidades de inconvenientes para a posterior análise dos resultados, os quais, por sua vez, são apresentados sem uma discussão detalhada do significado e sem conexão com a teoria que poderia explicá-los”, diz. “Faltam estimativas das incertezas, fundamentais para uma autocrítica do experimento realizado.”

Dos 13 capítulos da obra, oito tratam de experimentos feitos com materiais de fácil acesso e investigados por videoanálise, com o uso do software livre Tracker. De acordo com o autor, todos os vídeos citados no livro estão disponíveis na internet (link no Apêndice III da obra), o que encoraja o leitor a baixá-los e realizar a própria videoanálise.

Essa é a segunda experiência do professor como autor. Com Ivan S. Oliveira, Vitor Luiz escreveu Introdução à Física do Estado Sólido, dirigido a estudantes de graduação e em início de pós-graduação das áreas de exatas. Lançada em 2005, a obra teve segunda edição em 2011, com a inclusão de capítulos e tópicos que incluem as conexões entre nanociência, nanotecnologia e computação quântica.

Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ), campus de Nilópolis, desde 2004, Vitor Luiz leciona as disciplinas dos cursos de licenciatura em física e matemática nos laboratórios didáticos de física básica e física moderna, mas já atuou em turmas de ensino médio e técnico dos cursos de química, controle ambiental e do extinto curso técnico de metrologia. Entre os títulos, tem graduação em física pela Universidade Federal Fluminense (UFF), mestrado e doutorado em física pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, além de pós-doutorado em física atômica e molecular experimental no Laboratório Van de Graaff, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro e no Max-Planck Institut für Kernphysik, em Heidelberg, Alemanha. Ele também coordena o grupo de licenciatura em física participante do Projeto Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência (Pibid) e atua no curso de licenciatura em física no ensino de física experimental de mecânica e física moderna.

O livro Experimentos e Videoanálise – Dinâmica foi lançado durante chá literário promovido pelo projeto de extensão Brisa Literária, iniciativa de cunho cultural vinculada à Coordenação de Extensão e à Biblioteca do IFRJ, campus de Nilópolis. No evento, Vitor Luiz realizou seminário sobre o tema do livro. (Fátima Schenini)

Marcelo Viana (ProfMat ): “Programas proporcionam ao professor capacitação de qualidade para o exercício da profissão”

Marcelo Viana

Pesquisador titular do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa) e presidente da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), Marcelo Miranda Viana da Silva foi um dos idealizadores do Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional (ProfMat), programa que formou mais de 1,5 mil professores da educação básica desde a primeira turma, em 2011.

Para ele, programas de mestrado profissional como o ProfMat proporcionam ao professor uma capacitação de qualidade, voltada para exercício da profissão, e abrem oportunidades de valorização profissional. Matemático com doutorado em sistemas dinâmicos pelo Impa, Marcelo Viana é vice-presidente da International Mathematical Union (IMU), membro do comitê executivo do Mathematical Council of the Americas (MCofA) e presidente do Conselho Gestor do ProfMat. (Fátima Schenini)

Jornal do ProfessorA SBM coordena o Profmat, que é oferecido por uma rede de instituições de educação superior. Além desse, outros quatro cursos de mestrado profissional são realizados no Brasil, voltados para o ensino de física, artes, letras e história. Qual a importância de um curso de mestrado para professores da educação básica?

Marcelo Viana – Esses programas de mestrado profissional, de grande escala, e outros que estão sendo formulados (química, inovação tecnológica, etc.) seguindo, em grande medida, o modelo do ProfMat, têm papel múltiplo no cenário da educação básica. Eles colocam o que o país tem de melhor nas respectivas áreas a serviço da formação do professor que atua em sala de aula e proporcionam ao professor uma capacitação de qualidade, voltada para o exercício da profissão. Ao mesmo tempo, abrem ao professor oportunidades de valorização profissional que até então não existiam. Portanto, eles contribuem para a quitação de uma dívida do nosso sistema educativo para com uma categoria profissional tão importante e por longo tempo tão negligenciada. Além disso, esses programas contribuem para o diálogo universidade-escola, que também não existia e é indispensável para que o nosso sistema educativo sane os inúmeros problemas.

O que esse tipo de formação pode acrescentar de positivo ao processo de ensino-aprendizagem, principalmente no que se refere à matemática? Professores mais capacitados podem contribuir para acabar com o mito de que a matemática é uma disciplina difícil e, dessa forma, atrair mais jovens para a área de ciências exatas?

– Esse mito tem origens diversas e não é uma especificidade brasileira. Mas, certamente, a deficiente formação da maioria dos nossos professores contribui muito para ele e perpetua o péssimo desempenho de nossos jovens em todos os testes internacionais que avaliam a proficiência em matemática. Há muitos outros fatores socioeconômico-culturais por trás da situação em que nos encontramos quanto ao ensino no país, incluindo o ensino de matemática. Mas, sem dúvida, a formação do professor é um elemento-chave dessa formação. Mestrados profissionais como o Profmat oferecem uma importante contribuição nesse sentido.

Já é possível observar resultados práticos nas salas de aulas?

– Nós nos baseamos muito no retorno dado por nossos egressos e nossos alunos, os quais relatam de modo extremamente consistente quão importante é o ProfMat para a atuação em sala de aula. O extrato de um relatório de visita ao polo Unifap, em Macapá, é representativo desses testemunhos. Os alunos consideram que o embasamento teórico dos conteúdos adquiridos no ProfMat já tem efeito significativo nas práticas de sala de aula. Eles admitem que, antes, não tinham muita noção das coisas que ensinavam; que conheciam os conteúdos, mas não as abordagens adequadas; que sabiam resolver problemas, mas não sabiam o porquê das coisas. Eles afirmam que o aprofundamento teórico adquirido permite tirar dúvidas dos alunos adequadamente. Um deles declara: “Antes, eu apenas ensinava as coisas; agora, quando os alunos perguntam, eu sei responder”. Além disso, realizamos uma pesquisa on-line entre os egressos, com a pergunta: “A formação que você recebeu do Profmat teve impacto em sua prática docente?” As respostas foram: muito: 83,95%; pouco: 15,43%; nada: 0,62%.

Quais as principais vantagens de oferecer aulas de mestrado a distância? Elas não poderiam ser realizadas pelas instituições de ensino, de forma isolada?

– O ProfMat traz duas inovações para o âmbito da pós-graduação, entre outras: a estrutura em rede e o regime semipresencial. Ambas vão no sentido de aumentar a capacidade de atuação, mantendo a elevada qualidade. Dessa forma, democratizam o acesso à formação de alto nível em todas as regiões do país. De fato, a estrutura em rede nacional significa que instituições em todo o país podem oferecer formação unificada, elaborada pelos melhores professores e pesquisadores, e apoiada em material didático (livros e material multimídia) elaborado pelos melhores especialistas que o Brasil tem a oferecer. É fato que boa parte das instituições que integram a rede do ProfMat, por si sós – particularmente aquelas que ainda não têm programas de pós-graduação acadêmica na área –, dificilmente teriam condições de oferecer esse nível de qualidade aos alunos. Do mesmo modo, o regime semipresencial, que combina aulas presenciais com trabalho realizado on-line por meio do ambiente virtual de aprendizagem (AVA), faculta aos alunos a possibilidade de interagir com os melhores professores e pesquisadores do país e, ao mesmo tempo, ter acesso aos materiais didáticos 24 horas por dia, em qualquer ponto do território nacional.

Cabe ressaltar que a rede do ProfMat conta com cerca de 70 instituições (universidades, institutos federais e institutos de pesquisa) que oferecem a seus alunos mais de 90 polos de atendimento presencial, em todas as unidades da Federação.

As aulas do ProfMat são desenvolvidas de forma semipresencial. O que significa isso? Qual é a periodicidade?

– O regime semipresencial significa que os alunos têm ao seu dispor uma combinação de atendimento presencial com trabalho no AVA. O atendimento presencial é semanal, normalmente nas sextas-feiras ou sábados, de 6 horas por semana (3 horas para cada disciplina). Além disso, o ProfMat inclui um período intensivo de verão, com atendimento presencial de 3 horas por dia, em todos os dias úteis, durante quatro semanas, em janeiro ou fevereiro. O AVA contém um repositório de materiais didáticos (vídeos, webaulas, ferramentas moodle etc.) e está disponível a professores e alunos 24 horas por dia, todos os dias. O plano acadêmico prevê que os alunos estudem em casa ou na escola, por meio do AVA, e usem o atendimento presencial para sanar dúvidas.

Especificamente com relação ao Profmat, como tem sido a procura por vagas desde que o curso teve início? Alguma região do país tem se destacado nessa procura?

– O ProfMat já realizou cinco processos seletivos (exames nacionais de acesso 2011 a 2015). O número de vagas estabilizou-se em torno de 1,5 mil. A cada ano, o número de candidatos a essas vagas é de 23 mil. Essa demanda está distribuída em todo o país, com destaque para as regiões Nordeste e Sudeste. A coordenação nacional do ProfMat vem fazendo um esforço bem-sucedido para estender a presença de polos e instituições, sobretudo no interior dos estados.

Quais os pré-requisitos para participar do ProfMat? Os estudantes recebem alguma bolsa?

– Os candidatos devem cumprir todos os pré-requisitos para ingresso na instituição de sua escolha e, além disso, devem ser classificados no processo seletivo (exame nacional de acesso) dentro das vagas disponíveis na instituição. Em cada polo, 80% das vagas são reservadas a professores de matemática em exercício da docência em escolas públicas. Tais professores podem pedir bolsa de mestrado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). O valor mensal é de R$ 1,5 mil.

Como é o trabalho final dos participantes dos cursos de mestrado profissional? É uma dissertação ou pode ser um produto? Ele deve ter ligação com a experiência na sala de aula? Por quê?

– De acordo com as normas acadêmicas do ProfMat, as dissertações devem versar sobre temas específicos, pertinentes ao currículo de matemática da educação básica e que tenham impacto na prática didática em sala de aula. Cada dissertação é apresentada na forma de uma aula expositiva sobre o tema do projeto e de um trabalho escrito, com a opção de apresentação de produção técnica relativa ao tema. A exigência de impacto na prática docente é coerente com o espírito e os objetivos do programa.