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JORNAL

A Família na Escola

Quarta-feira, 8 de Julho de 2015

Edição 115

EDITORIAL - A Família na Escola

A Família na Escola é o tema da 115ª edição do Jornal do Professor. O assunto foi escolhido por 62,25% dos leitores que votaram na enquete colocada em nossa página.

Selecionamos experiências desenvolvidas na Escola Classe 305 Sul, em Brasília (DF); Escola Estadual Professor Joaquim Pimenta de Araújo, em Água Boa (MG); Escola Municipal de Ensino Fundamental Alfredo Spier, em Feliz (RS). Apresentamos, ainda, o trabalho desenvolvido pela Associação de Pais e Alunos das Instituições de Ensino do Distrito Federal (Aspa-DF) e Confederação Nacional das Associações de Pais e Alunos (Confenapa), em Salvador (BA); a experiência da Escola Estadual Archimedes Aristeu Mendes de Carvalho, de São Carlos (SP), com o programa Escola da Família, da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo e que inclui em suas atividades o curso Escola para Pais.

A professora e pesquisadora Heloísa Szymanski é a nossa entrevistada. E a professora Neusa do Rosário Silva Costa, da Escola Municipal Dr. Mário Batista do Nascimento, de Ibertioga (MG) participa da seção Espaço do Professor.

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

Em Brasília, pais aprendem a participar da rotina dos filhos

Maria Joana e Ismael, com sua filha Giovana

Na prática e na teoria, a educadora Mariléa de Souza Martins tem a certeza de que a educação na escola deve ser construída em parceria com a família. Responsável pelos projetos pedagógicos da Escola-Classe 305 Sul, em Brasília, todos com a inclusão da família, a orientadora educacional defendeu, em 2014, na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Portugal, pesquisa de mestrado sobre o diferencial da presença dos pais na escola. “Vivemos numa sociedade capitalista, com as mães e os pais no mercado de trabalho, com cada vez menos tempo de acompanhar os estudos dos filhos, as tarefas de casa e passar um tempo prazeroso com eles”, diz. “E essa participação da família faz toda a diferença na educação.”

A partir da constatação de que a falta de tempo nos dias de hoje afasta os pais do ambiente escolar e compromete o rendimento dos alunos, Mariléa elaborou projetos interativos para aumentar a participação da família na agenda da escola, que atende 320 crianças de 6 a 11 anos de idade. Essa parceria tem resultado em maior motivação com as tarefas escolares e melhores notas. “Mandei uma malinha para a casa dos pais e os coloquei para ler”, conta a orientadora, referindo-se ao projeto Mala Voadora, do Serviço de Orientação Educacional da escola.

Todas as semanas, uma família leva a malinha, que contém três livros, CD com músicas clássicas de Mozart e um jogo de cubos, com personagens desenhados. O material exige criatividade por parte da família para inventar uma história. Há ainda uma pasta com receita de bolo, que deve ser feito por pais e filhos, e dicas de alimentação saudável. A família tem o fim de semana para usar o material e realizar as atividades propostas, que devem ser fotografadas e descritas num caderninho de controle.

O projeto agradou a Maria Joana Ribeiro Ferreira e a Ismael Ferreira Domingos, pais da Giovanna Sofia, 8 anos, do terceiro ano. “Vivemos com pressa, e o tempo é sempre curto; se não tiver um direcionamento da escola, acabamos deixando as tarefas para o filho fazer sozinho”, diz Maria Joana. “A gente não costumava sentar para ler histórias e brincar com a Giovanna ou a Rafaella, nossa caçula de 3 anos, e a malinha nos despertou para acompanhar mais de perto as tarefas da escola.”

Esmeralda Moreira Fernandes, mãe de Davi, 7 anos, aluno do segundo ano, espera a vez para levar a malinha para casa. Apesar de ser o primeiro ano do filho na escola, ela se considera uma parceira dos professores no processo educativo. “Temos liberdade para conversar, e graças a essa aproximação, percebi que o Davi tem talento artístico para a música e os desenhos”, conta a mãe, que o matriculou em aulas de bateria. “Ele produz textos a partir dos desenhos que faz e já compõe músicas.”

Horta — Além da Mala Voadora, a escola usa a horta para promover a aproximação entre a família e a escola e educar a todos sobre a importância de uma alimentação orgânica e saudável. “É a mãozinha de todos na terra da hora, das crianças, do professor da disciplina e dos pais”, comenta Mariléa. O espaço do cultivo não é muito grande, mas os canteiros exibem ao longo do ano letivo tomatinhos, couve, alface e ervas. Marlene Estrela, mãe de Gustavo Ramos, 8 anos, terceiro ano, participa do projeto. “Já vim aos sábados adubar e trazer mais sementes para plantar”, conta a mãe, que participa das reuniões mensais do ciclo de pais da escola. “Nem sempre dá para vir, mas esse compromisso é importante para acompanhar as atividades da escola e interagir com os professores, que estão abertos a nos ouvir”, explica.

Banny Gomes, mãe de Davi Guilherme, 10 anos, aluno do quinto ano, é parceira da escola na educação dos filhos há oito anos. “As minhas duas filhas mais velhas já estudaram aqui, e sempre houve essa relação de amizade e parceria entre pais e professores, que vai muito além dos dias festivos”, comenta. “Essa aproximação traz um ambiente de segurança, de acolhimento. A criança fica à vontade para aprender porque sente que a escola é uma extensão de casa.” (Rovênia Amorim)

Participação constante ajuda a reforçar laços com instituição

Professoras e pais assistem apresentação de crianças no palco

A Escola Estadual Professor Joaquim Pimenta de Araújo, no município mineiro de Água Boa, a cerca de 380 quilômetros de Belo Horizonte, procura manter comunicação constante com as famílias dos alunos. Para isso, promove reuniões e desenvolve projetos que contribuem para o fortalecimento de suas ações e buscam torná-la mais viva e dinâmica. A escola atende aproximadamente 400 alunos do ensino fundamental.

Além de convidadas a participar de eventos pontuais, como festas juninas e dias dos estudantes e das crianças, as famílias são chamadas a colaborar em ações desenvolvidas ao longo do ano letivo. Assim, os pais vão à escola para dar depoimentos, contar histórias, participar de competições esportivas e até mesmo desenvolver, com os professores, oficinas de culinária e de artesanato.

“O principal benefício de uma maior participação das famílias é o aumento da confiança mútua”, diz Elenita Alves Xavier Barreiros, diretora da instituição. “A família sente segurança quanto ao trabalho da escola, e a escola sente-se apoiada e confiante no desempenho de suas funções”, destaca. Para ela, a relação de credibilidade reforça os laços que vão além dos muros da escola e acaba por beneficiar toda a sociedade. “É importante que os pais percebam que sua presença é sempre bem-vinda”, assegura Elenita. Há 24 anos no magistério e há dez na direção, ela tem licenciatura plena em matemática e pós-graduação na mesma disciplina.

Para Andréia Christina Alves Barroso Leite, vice-diretora, a maior participação das famílias proporciona mais credibilidade à escola. “O aluno passa a ter mais confiança e a família é respeitada em seus direitos”, analisa. De acordo com Andréia, embora ainda exista uma parcela que sempre está ocupada demais para participar ativamente dos trabalhos propostos, as famílias costumam atender bem aos convites. “Quando se trata de educação, é fundamental plantar a semente e regá-la constantemente, confiando sempre que colheremos bons frutos”, enfatiza Andréia. Há 15 anos no magistério, ela tem graduação no curso normal superior.

Diálogo — “Procuro envolver os pais nos projetos da escola e até mesmo nas atividades diárias que realizo na sala de aula”, explica Márcia Rodrigues de Paula Moraes, professora de turma de terceiro ano do ensino fundamental. “Nas reuniões com os pais, discutimos os projetos, como o recital de poesia, por exemplo”, conta. Márcia também mantém contato pelo celular e pelo whatsapp. “Se alunos faltam, ligo pessoalmente para saber o porquê, e sempre que necessário”, revela. “Nosso diálogo é permanente.”

Há 15 anos no magistério, a professora acredita que a participação efetiva da família na escola torna o processo ensino-aprendizagem mais dinâmico e prazeroso para o aluno. Além disso, enfatiza, contribui para elevar a autoestima dos alunos e melhorar a disciplina. Márcia tem graduação em curso normal superior e pós-graduação em docência superior. (Fátima Schenini)

Progresso do aluno tem efetivo apoio dos pais em escola gaúcha

Alunos em estúdio de rádio

No pequeno município de Feliz, na região metropolitana de Porto Alegre, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Alfredo Spier abre oportunidades para que pais e responsáveis pelos estudantes tenham participação efetiva nas atividades. “Procuramos manter a família sempre muito próxima; chamamos para conversar, participar de reuniões, de eventos e mostras escolares”, ressalta o professor Moisés Schmitz, diretor da escola. “A ideia é que não se faça vistas grossas a comportamentos indesejáveis ou a rendimentos escolares insuficientes, mas que se possa acompanhar de perto o que os alunos estão fazendo, enaltecendo o que está bom e dizendo o que pode ser melhorado.”

Há 25 anos no magistério, a professora Marli Rauber Paqueira procura estimular a participação dos pais, por acreditar que isso contribui para melhorar o diálogo entre professores e alunos, além de levar a um melhor desempenho no ensino-aprendizagem. De acordo com a professora, a proximidade com as famílias ajuda a equipe dirigente na resolução de conflitos e na busca de parcerias para a realização de melhorias na escola.

Professora em uma turma do terceiro ano do ensino fundamental, Marli acredita que as famílias com participação mais ativa na escola compreendem a importância do ensino para os filhos. “De uma certa forma, elas passam tranquilidade ao professor, pois demonstram parceria se algo precisa ser resolvido com o aluno”, destaca. Para ela, é muito importante saber como convidar os pais a participar das atividades. “É preciso usar uma linguagem capaz de cativar, pois a sociedade em que vivemos é cheia de cobranças, e isso deixa as famílias muito desmotivadas”, avalia.

A escola Alfredo Spier oferece diversas oficinas aos 215 alunos, em turmas da educação infantil ao 9º ano do ensino fundamental. Cooperativa, rádio, jornal escolar, esporte, dança e reforço escolar são alguns dos temas incluídos. “Na oficina de horta escolar, ocorre a participação direta de pais para a preparação do solo, planejamento na escolha das culturas e transporte de adubo orgânico”, explica o diretor. “Na oficina de banda de latas, as famílias participam com coleta de material para confecção dos instrumentos, bem como nas apresentações ao público.”

“Em todas, há a participação da família”, enfatiza Schmitz. Ele acredita que a parceria família-escola é a chave do sucesso. “Dessa forma, a família tem melhores condições de identificar o progresso do filho, o que se reflete positivamente na aprendizagem do aluno”, diz o diretor. Há 15 anos no magistério, ele tem licenciatura em educação física e pós-graduação em atividade física e saúde. (Fátima Schenini)

Acesse o blogue da EM Alfredo Spier

 

PNE prevê maior participação dos pais nas instituições públicas

Aos poucos, com exemplos bem-sucedidos em todas as regiões do Brasil, fica provado que a participação da família no cotidiano escolar faz a diferença. Além de aumentar a motivação dos filhos para os estudos, o envolvimento de pais e mães com os projetos pedagógicos, a fiscalização de recursos destinados a programas e o acompanhamento da agenda escolar contribuem para a qualidade da educação.

O estreitamento das relações entre as escolas e as famílias teve início no Brasil na década de 1990, e o reconhecimento da importância desse processo está referendado no Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado em 2014. Para ampliar a gestão democrática nas escolas públicas, a meta 19 do PNE prevê prazo de dois anos para que toda a rede de educação básica constitua ou fortaleça grêmios estudantis e associações de pais. Segundo estimativa da Confederação Nacional das Associações de Pais e Alunos (Confenapa), quase 50% dos munícipios brasileiros já estruturaram as associações de pais e alunos (Aspa).

Em Rio Branco, Acre, o professor e advogado Francisco Generozzo busca ampliar a participação das famílias nas escolas municipais desde 2008. Hoje, ele atua com o Conselho de Alimentação Escolar (CAE) na fiscalização dos recursos enviados pelo governo federal para a compra da merenda das 110 escolas municipais. “É um trabalho voluntário, que me leva tempo, mas como tenho conhecimento de direito, é uma forma de contribuir com o coletivo”, explica Generozzo.

Como membro do conselho escolar do município, ele integra a comitiva de pais que visita anualmente uma cidade do estado para trocar experiências com gestores educacionais. A ideia básica desse trabalho de peregrinação é convencer os gestores educacionais a construir uma parceria com a família em torno do processo educativo. Segundo ele, as escolas precisam estar abertas de forma democrática aos pais para receber sugestões em torno do processo educativo e não apenas para que ouçam reclamações dos alunos.

Conforme Generozzo, a construção dessa parceria é um processo gradativo, de articulação e convencimento, mas que deve começar por ações simples, a exemplo de uma parceria com os comerciantes próximos para a manutenção da escola. “Sempre tem uma torneira quebrada para trocar”, diz ele. “As famílias precisam assumir a escola como extensão de casa. Escola é um lugar para levar e buscar conhecimento. Todos podem contribuir de alguma forma e sugerir mudanças.”

Protagonismo — A participação da família, porém, ainda tem sido muito tímida, tanto no ambiente escolar quanto nos espaços representativos da política educacional nacional, na avaliação do advogado Luis Claudio Megiorin, presidente da Associação de Pais e Alunos das Instituições de Ensino do Distrito Federal (Aspa-DF). Segundo ele, dos três mil delegados de todo o Brasil que participaram da segunda edição da Conferência Nacional de Educação (Conae), que avaliou e discutiu as metas aprovadas no PNE, apenas 226 eram pais. “E boa parte desses pais era formada por professores”, disse. “Nós, pais, não podemos ser tutelados pelos professores. Precisamos assumir a nossa responsabilidade e ter uma postura mais protagonista frente à educação”, afirma.

Pai de um menino de 10 anos e de uma adolescente de 13, Megiorin diz que em casa atua como um juiz em relação às tarefas da escola. Ou seja, estabelece regras, que devem ser cumpridas. “A primeira lição que temos de dar aos filhos deve ser com relação a respeitar os professores. E as reuniões de pais na escola são obrigatórias”, salienta. “Se não tem tempo naquele dia, devem ir depois e se informar. Sempre há espaço para a família estar presente na escola.”

Pesquisas — Presidente da Confenapa e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Pedro Trindade Barretto comenta que a importância da participação de pais e mães de alunos na escola está constatada em pesquisas científicas. “Estudos demonstram que quanto mais a família interage com a escola, e é por ela incentivada a participar, mais efetiva é a aprendizagem e maiores são a qualidade das habilidades adquiridas e a assimilação dos valores praticados pela comunidade na qual se insere a escola”, afirma.

De forma inversa, diz Barretto, onde falta integração de pais e mães de alunos com a escola, a qualidade do ensino não evolui, os problemas seculares se reproduzem e se ampliam com a onda de violência que invade o espaço interno das escolas. Nesse sentido, Barretto esclarece que embora a aproximação de pais tenha conquistado espaço no PNE, a nova legislação não obriga as escolas a abrir as portas, nem os pais a se tornarem pró-ativos. Por isso, uma das missões das associações de pais em todo o país tem sido contribuir para a conscientização das famílias acerca da importância de acompanhar a educação dos filhos em casa e na escola. (Rovênia Amorim)

Interação é fundamental para a oferta de uma boa educação

Participantes do curso Escola de Pais com a coordenadora Tereza

Professora há 30 anos, Mariza Teresa Chiari Dantas acredita que a escola e a comunidade estão diretamente ligadas e que uma educação de qualidade depende da interação entre instituição de ensino e família. “Não há como pensar em educação sem o envolvimento da família nesse processo”, destaca Mariza, vice-diretora da Escola Estadual Archimedes Aristeu Mendes de Carvalho, no município paulista de São Carlos. “Educar é sem dúvida um papel que recai sobre a família e a escola. Por isso, quanto mais estreita for essa relação, melhor será o resultado.”

Pedagoga, com especialização em gestão educacional, Mariza coordena naquela unidade de ensino, desde 2012, o programa Escola da Família. Criado pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo em 2003, o programa tem como objetivos possibilitar o desenvolvimento de uma cultura de paz, despertar potencialidades e ampliar os horizontes culturais dos participantes por meio de atividades que contribuam para a inclusão social. Assim, espaços da escola são usados para receber toda a comunidade em atividades de lazer, cultura, saúde, esporte e qualificação profissional.

Segundo Mariza, a unidade de ensino organiza as atividades nos eixos esporte, cultura, saúde e trabalho. “Nesses eixos, incluímos ética e cidadania como base para a melhoria da qualidade de vida”, diz.

De acordo com a professora, o programa Escola da Família tem assegurado benefícios ao relacionamento entre a escola e a comunidade. “A participação em reuniões com professores aumentou, assim como no dia a dia na escola”, revela. Além disso, os pais sabem que podem contar com a escola como um espaço seguro de lazer e cultura, nos fins de semana, para os filhos. “A comunidade torna-se participativa, e a escola passa a ser um local agradável de conviver”, avalia.

Curso — Uma das atividades desenvolvidas na Escola da Família é o curso Escola de Pais, que tem como proposta de trabalho a vivência das famílias, com a reflexão sobre seu papel visando ao atendimento à criança e ao adolescente. “Os temas desenvolvidos abrangem assuntos do dia a dia, que muitas vezes, enquanto pais, não sabemos como tratá-los com nossos filhos”, ressalta Mariza. Assuntos como cuidados essenciais com a criança, como educar os filhos, sentimentos e comportamentos infantis — medo, ciúme, mentira —, adolescência, sexualidade humana e manifestação do amor são tratados em rodas de conversas, apresentações de vídeos, músicas e outras dinâmicas de grupo.

“O curso é destinado, em primeiro lugar, àqueles pais que se interessam, mas procuramos incentivar os que apresentam algum tipo de dificuldade de relacionamento em relação aos filhos”, diz Mariza. Os dias e horários do cursos são estabelecidos em comum acordo com os participantes.

De acordo com a coordenadora regional do programa, Mara Silvio Olívio, o curso Escola de Pais nasceu na França, para que pais e mães refletissem sobre seu papel na educação dos filhos. “O ambiente familiar deve ser um lugar saudável, com afetividade, respeito, segurança, estabelecendo um ninho de amor, impondo limites e sabendo dizer não quando necessário”, enfatiza.

No Brasil, o curso chegou em 1963. No município paulista, sua chegada ocorreu em 1983, por intermédio da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). A parceria com a Diretoria de Ensino de São Carlos teve início em 2005, com o programa Escola da Família. (Fátima Schenini)

Alfabetizadora mineira estimula os alunos a ler e escrever

Professora Neusa do Rosário Silva Costa na sala de aula

Professora alfabetizadora no município mineiro de Ibertioga há mais de 20 anos, Neusa do Rosário Silva Costa desenvolve atividades de incentivo à leitura e à escrita com seus alunos na Escola Municipal Dr. Mário Batista do Nascimento. “As crianças precisam ler muito para escrever bem; fico feliz e realizada quando vejo os alunos escrevendo textos diversos, sem imposição ou títulos desmotivadores”, diz Neusa, que tem formação em curso normal superior e pós-graduação em alfabetização e letramento.

A professora afirma que incentiva os estudantes a escrever aquilo que pretendem passar para o papel. “Suas emoções, a imaginação, seu dia a dia”, explica. No fundo da sala de aula tem o Cantinho da Leitura, com livros diversos. “Então, sempre que podem, os alunos estão lendo.”

Segundo Neusa, os estudantes recebem muito bem todas as atividades propostas. Professora de uma turma de terceiro ano do ensino fundamental, Neusa pede aos alunos que recontem as histórias oralmente, por escrito ou com desenhos. “Faço de maneira que percebam o que quero realmente, ou seja, que produzam ótimos e lindos textos”, explica. “Mesmo aqueles que ainda têm dificuldades escrevem para que eu leia; eles gostam de ler suas produções para os colegas ou que eu as leia para todos.”

Neusa criou um caderno para guardar a produção dos alunos e já tem quatro deles, com textos das turmas de alfabetização em que trabalhou. “Todos querem fazer uma produção e passá-la para o caderno de histórias da professora”, salienta.

Outra atividade desenvolvida por Neusa é a leitura deleite. “Tem esse nome porque é feita com prazer”, destaca. Esse tipo de leitura, geralmente de histórias, é feito por ela mesma, em sala de aula, de forma divertida.

Em 2014, a professora preparou uma pequena coletânea com textos diversos produzidos pelos alunos. Um deles baseado no livro Uma história de muitas histórias (editora Harbra), de Teresa Cristina Cume Grassi (Teca). Na época, Neusa enviou correspondência à editora. “Eles responderam, incentivando mais ainda meus alunos, que ficaram muito felizes”, assinala. (Fátima Schenini)

Heloísa Szymanski: “Aproximação entre a escola e família deve fazer parte do projeto político-pedagógico”

Heloísa Szymanski

Professora titular aposentada da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, com experiência na área de família e educação, Heloísa Szymanski considera a aproximação entre a família e a escola muito importante. Ela enfatiza a necessidade de a direção da escola dar os primeiros passos e criar mecanismos para que essa aproximação aconteça. “O ponto de partida é a escola colocar em seu projeto político-pedagógico essa intenção e desenvolver ações efetivas e uma política interna para que isso aconteça”, diz. “Esse é o ponto fundamental para acontecer.”

Com graduação em psicologia, mestrado e doutorado em educação e pós-doutorado na Universidade de Oxford, na Inglaterra, na área de psicologia, Heloísa desenvolve atividades na Associação Educacional Labor, instituição voltada para a melhoria da educação no Brasil. (Fátima Schenini)

Jornal do ProfessorQual é a importância de aproximar a família da escola? Quais os benefícios que essa aproximação pode trazer a todos os envolvidos?

Heloísa Szymanski — A importância é grande, tanto para as escolas particulares quanto públicas. Nas escolas públicas, que são o meu foco de interesse e onde desenvolvi todas as minhas pesquisas, vejo a escola e a família como duas instituições educativas. Uma formal; outra, informal. E ambas podem contribuir para o desenvolvimento da criança, do adolescente e também usufruir dessa influência mútua, tanto nos modos de aprender e de ensinar quanto nos conteúdos mesmo, principalmente em escolas públicas que atendem crianças que vêm de famílias muito diferentes entre si.

Em São Paulo, há um número muito grande de migrantes e agora também de imigrantes, da América Latina, do Haiti, que estão chegando. Então, as escolas públicas aqui em São Paulo têm esse desafio de trabalhar com uma diversidade muito grande, o que é uma riqueza, por um lado, e um enorme desafio, por outro. Então, a escola pode e deve passar os modos da nossa sociedade, da nossa cultura, dos nossos valores atuais quanto à utilização de tempo, quanto a modos de compreensão das informações, conteúdos e também quanto a modos de ensinar. Por que eu falo em modos de ensinar? Notei em várias pesquisas que o modo de ensinar pela imitação e pelo fazer é muito frequente entre as famílias de crianças que frequentam as escolas públicas, diferente do modo exclusivamente verbal adotado pela escola. Então, por exemplo, uma troca nesse sentido é extremamente rica porque ambas as formas são boas. A criança precisa se formar e se desenvolver no modo verbal, mas também o aprender pelo fazer é muito importante. Esse é só um exemplo de como, no modo de aprender, a escola e a família podem trabalhar juntas com a criança. Então, vejo que essa importância aparece tanto de um lado quanto de outro. Ambos ganham. Ambos contribuem, tendo em vista a criança e o adolescente — o educando — como centro das preocupações educacionais.

De que maneira professores e diretores podem estimular maior participação dos pais na escola? Que atividades ou recursos podem ser usados nesse sentido?

— O ponto de partida, e sem ele nada é possível, é a importância de querer essa aproximação. Pode parecer uma coisa simples e de bom-senso, mas é extremamente difícil esse querer. Muitas vezes, há até o desejo de uma participação, eu diria até idealizada. Uma participação, como Paulo Freire chamaria, de bancária. A escola diz como as famílias devem agir e elas obedecem. Mas, às vezes, isso não acontece, e as escolas ficam frustradas e sentem que as famílias não colaboram. Mas deixam de ver muitas coisas, como o medo que as famílias, principalmente as de baixa renda, têm da escola porque elas mesmas, essas famílias, são egressas da escola pública. Muitos pais e muitas mães já tiveram enormes dificuldades, já não conseguiram completar a escolaridade. Então, esse contato com a escola nem sempre é fácil por parte das famílias. A escola, na verdade, se põe, principalmente nas grandes metrópoles e nos bairros periféricos, como a única presença do Estado. E é muito poderosa. E esse poder exercido para o crescimento educacional é maravilhoso. Mas muitas vezes ele entra de modo meio opressivo em relação às famílias cujos filhos não conseguem acompanhar a escolaridade e há ainda o medo que as famílias muitas vezes têm das escolas. Há um desejo de participação por parte da escola, dos professores e da gestão, mas não há uma compatibilidade, a criação de um discurso comum.

O grupo gestor, a direção da escola, precisa dar os primeiros passos para essa aproximação com as famílias e criar mecanismos para que isso aconteça. Os professores não conseguem, isoladamente, estabelecer aproximação mais efetiva, embora possam, sim, ter um contato informal com os pais. Isso acontece com muitos professores, que são maravilhosos nesse contato e nessa colaboração com as escolas, mas sem uma política da escola é muito difícil que se instaure essa colaboração.

Então, o ponto de partida é a escola colocar em seu projeto político-pedagógico essa intenção e desenvolver ações efetivas e uma política interna para que isso aconteça. Esse é o ponto fundamental. Na elaboração desse projeto político-pedagógico deve haver a participação da escola e da liderança comunitária, de ex-alunos. Isso é muito efetivo. E não é sonho.

A senhora mencionou a importância de haver um aproveitamento do modo de ensinar, pela imitação e pelo fazer, que costuma ocorrer nas famílias de crianças que frequentam as escolas públicas. Como isso poderia ser aplicado na escola?

— Tenho um exemplo simples: um pai, pedreiro de profissão, foi a uma aula de matemática do filho e, com o prumo, explicou o que era um ângulo reto. Isso, numa realidade para os alunos, foi um pulo depois para a teorização. Imagine o filho vendo o pai no lugar do professor, por alguns momentos, ensinando a todos. Lembro também de uma atividade desenvolvida em uma escola de educação infantil, em encontro com os pais. As mães contavam como ensinavam as filhas a cozinhar; os pais, como ensinavam os filhos a lavar o carro, entre outros exemplos. Os professores puderam assim constatar a importância, para as crianças, de ver a coisa acontecer e de aprender fazendo. O passo seguinte, para o verbal, para o conceitual, fica bem facilitado. Isso não vale só para as crianças de baixa renda: vale para todo mundo. É um modo de aprender muito rico.

A importância de aproximar a família da escola é um assunto que está sendo abordado nos cursos de licenciatura, com os futuros professores?

— Sim. Nas pesquisas que estão sendo realizadas, muitas escolas efetivamente já colocam isso em prática. Aliás, na pesquisa de uma das minhas mestrandas, ela encontrou um material riquíssimo no MEC sobre a participação das famílias nos conselhos escolares.

Qual sua opinião a respeito do aproveitamento do espaço físico das escolas e da participação dos professores para a disseminação de conhecimentos aos pais ou responsáveis? Seria o caso de se fazer palestras em áreas como saúde, psicologia ou direito, por exemplo?

— Cada escola, com a sua comunidade, pode pensar essas propostas. Numa das escolas em que desenvolvi minhas pesquisas, foram realizadas atividades muito enriquecedoras junto à comunidade e à família, mas que envolveram a abertura da escola à comunidade. A partir de atividades de interesse dos pais, essas informações foram passadas. Nem sempre palestra é um modo de transmissão do conhecimento mais adequado, embora haja um pouco esse mito. A palestra funciona quando alguém quer muito conhecer um determinado tópico e nem sempre há esse desejo intenso em todo mundo e nem sempre uma capacidade de comunicação tão boa por parte do palestrante. Sem contar que muitas pessoas não têm tempo para ficar 40 minutos ou uma hora sentados ouvindo alguém falar. O importante nessas atividades de troca de saberes é que sejam planejadas de forma a realmente comunicar os conteúdos, os valores, as crenças.

As políticas educacionais brasileiras avançaram nas questões relacionadas à aproximação da família e da escola?

— As políticas existem e são muito boas. Mas exigem um tempo para se estabelecerem. Para que essas políticas se estabeleçam, para que os conselhos de representantes sejam, de fato, de representantes, as escolas precisam de formação. Principalmente sua equipe gestora. A formação de gestores é fundamental para a implementação das políticas escolares, dos projetos políticos-pedagógicos. Criar um conselho efetivamente representante é uma maravilha, mas não é fácil.

E essa formação seria feita de que maneira?

— Seria uma formação em serviço, realizada nos níveis federal, estadual e municipal. Acompanhar as escolas nesse processo de aproximação com a família, assessorar as escolas nisso, ouvi-las nas suas dificuldades, acolhê-las, mesmo. Muitas escolas têm esse desejo e não conseguem instrumentalizá-lo porque não têm uma receita. Cada escola está numa comunidade, com as famílias de seus alunos, e precisa construir isso com criatividade. Então, precisam de assessoria.