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JORNAL

Produção de Textos na Escola

Segunda-feira, 10 de Agosto de 2015

Edição 116

EDITORIAL - Produção de Textos na Escola

O tema da 116ª edição do Jornal do Professor é Produção de Textos na Escola. Ele foi escolhido por 44.9% dos leitores que votaram na enquete em nossa página.

Apresentamos experiências desenvolvidas por professores do Colégio Estadual Professor Dario Veloso, em Mallet (PR); Escola Estadual Dona Antonia Lindalva de Morais, em Milagres (CE); Escola Estadual Wilson de Almeida, em Nova Olímpia (MT); e Instituto Federal de Rondônia, campus Cacoal e campus Colorado do Oeste.

A professora Ana Paula Silva, da Escola Estadual Inocoop II, em Guarulhos (SP), participa da seção Espaço do Professor.

Nossa entrevistada é a professora Telma Ferraz Leal, coordenadora do Centro de Estudos em Educação e Linguagem da Universidade Federal de Pernambuco (Ceel-UFPE)).

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

Estudantes aprendem, com cartas, a escrever e defender meio ambiente

Professora Maria Rosana e alunos na sala de aula

Professora de português, Maria Rosana Guimarães Zwieczykowski acredita que escrever bem é muito importante. Por isso, procura desenvolver atividades que auxiliem os estudantes a evoluir na escrita. “Quando eles adquirem essa habilidade, podem expressar as ideias de forma clara e objetiva e, assim, ser entendidos”, justifica.

Maria Rosana defende a necessidade de as crianças aprenderem a ordenar os pensamentos e a usar as regras do idioma para expressá-los. “Depois de jovens e adultos, eles podem se manifestar sem medo e, dessa forma, ser aceitos pelos demais”, ressalta a professora, que atua no magistério público do Paraná há 25 anos e há 19 leciona no Colégio Estadual Professor Dario Veloso, do município de Mallet, no atendimento a alunos do ensino fundamental e médio e do curso de formação de docentes.

Na visão da professora, erros ortográficos comprometem a imagem profissional de uma pessoa. Por isso, a preocupação em capacitar os alunos para a escrita e, assim ajudá-los a se tornar cidadãos mais seguros e confiantes.

No primeiro semestre deste ano, Maria Rosana desenvolveu projeto que atraiu a atenção da comunidade, o Cuidando do Meio Ambiente. Ele foi criado para incentivar a escrita entre os alunos do sexto ano do ensino fundamental e colaborar na criação de uma consciência cidadã. Os estudantes foram desafiados a enviar cartas à população do município para tratar de temas como lixo e limpeza urbana. “Deu bons resultados”, garante. “Os alunos, motivados, escreveram outras cartas para falar sobre os cuidados para evitar a dengue.”

Algumas cartas foram publicadas no jornal da cidade. “Eles gostam quando as cartas aparecem no jornal e querem escrever bem para que sua produção seja a escolhida”, revela Maria Rosana. “Muita gente comentou, as cartas foram lidas em outras escolas, e isso é um incentivo para que os alunos melhorem cada vez mais a escrita.”

Preservação — Na próxima etapa, as cartas tratarão da importância da preservação das nascentes e rios do município. “No fim do ano, para concluirmos o trabalho, queremos fazer uma animação usando o programa stop motion”, afirma a professora. O stop motion é uma técnica de animação na qual objetos parados parecerem estar em movimento.

Outro projeto desenvolvido por Maria Rosana com os alunos do sexto ano é voltado para a leitura. “Ela é a base para a boa escrita”, garante. Nesse projeto, os estudantes são estimulados a pegar livros nas bibliotecas da escola e do município, por empréstimo. Os que mais leem recebem prêmios. “É gratificante perceber que todos os alunos se dedicam bastante para participar do concurso”, diz. “Com isso, estão criando o hábito da leitura, e as produções estão cada vez melhores e mais criativas.”

Com os estudantes do nono ano, a professora desenvolve, desde o ano passado, um projeto de blogue. “Eles fazem tudo: criaram o blogue, escrevem e postam. Eu apenas incentivo e ajudo.” Com alunos do terceiro ano do ensino médio, o projeto envolve a leitura de temas polêmicos, de interesse dos próprios estudantes. Cada grupo fica com um tema. A partir da leitura, os alunos selecionam informações, vídeos, charges, notícias e outros textos sobre o assunto e os apresentam ao restante da turma, com argumentos pró e contra. Depois da apresentação e de debate sobre o tema, eles produzem texto dissertativo.

“Desde que comecei a trabalhar dessa maneira, percebo que as produções melhoraram muito, pois eles têm mais facilidade para escrever quando conhecem melhor o assunto”, justifica. Maria Rosana tem graduação em letras e pós-graduação em língua portuguesa e literatura e em mídias da educação. (Fátima Schenini)

 

No interior cearense, aluno é incentivado a escrever melhor

Estudantes no auditório da escola

Professora de língua portuguesa, Fabiana Pereira Fernandes define a leitura como o meio pelo qual os estudantes desenvolvem o senso crítico e construtivo. “Pela leitura, o indivíduo aprende a conhecer o mundo e a transformá-lo; também aprende a transformar a si mesmo e o modo de existir”, justifica. A escrita, por sua vez, de acordo com a professora, possibilita a materialização das ideias e torna possível que outros as vivenciem nos espaços de aprendizagem da escola e da sociedade.

Na Escola de Ensino Médio Dona Antônia Lindalva de Morais, onde leciona, no município de Milagres (28,4 mil habitantes), no sul do Ceará, Fabiana desenvolve projetos em parceria com outros professores. A instituição incentiva esse trabalho, por entendê-lo como uma forma de estimular o aluno a ter liberdade para aprender e produzir conhecimento. “No projeto político-pedagógico da escola para 2015, a equipe deu prioridade ao desenvolvimento dessa proposta como prática que permeia todas as disciplinas”, esclarece. Fabiana e os demais professores da área de linguagens articulam-se com colegas de outras disciplinas para realizar atividades que busquem o desenvolvimento da capacidade cognitiva dos alunos.

Como exemplo de parceria, Fabiana cita a inclusão, nos planos de aula de todos os professores, independentemente da disciplina, de pelo menos duas atividades com produção de textos. “Essa prática contribui de forma significativa para o trabalho dos professores de linguagens”, avalia. Com licenciatura plena em letras e pós-graduação em língua portuguesa e literaturas brasileira e africana, ela está no magistério há três anos.

Proficiência — O projeto O Aluno é o Autor, idealizado por Fabiana e pelo professor de história Carlos César Pereira de Sousa, iniciado em novembro de 2014, tem como resultado a evolução dos estudantes em relação à leitura e à escrita. O trabalho visa à melhoria da proficiência dos alunos a partir do estudo e da produção de textos narrativos. O trabalho é desenvolvido em encontros semanais, no formato de células cooperativas. Os estudantes com mais domínio de leitura e escrita monitoram e orientam aqueles que tenham baixa proficiência em língua portuguesa.

“Os alunos começaram pesquisando o sentido de narratividade para a sociedade e a história da narração”, explica Carlos César. “Depois, estudaram a linguagem narrativa e suas principais características e realizaram pesquisa sobre lendas e contos folclóricos do município entre moradores idosos.” Por fim, os estudantes passaram a produzir textos narrativos a partir dessas lendas.

De acordo com Carlos César, que também dá aulas de filosofia, formação para a cidadania e desenvolvimento social, pessoal/pesquisa, já é possível verificar a evolução dos alunos em relação à leitura e à escrita, bem como maior reconhecimento da importância das narrativas orais para a identidade da comunidade. Com licenciatura plena em história, ele está no magistério há cinco anos.

Experiências — Outros projetos voltados para a leitura e a escrita na escola são o Bate-Papo Literário e a Quinta Literária. O primeiro é realizado semestralmente, durante um turno de aula, e reúne uma turma por dia para compartilhar experiências de leitura, ouvir músicas e discutir arte.

O segundo projeto consiste em direcionar a atenção de toda a escola para o estudo de um único autor durante um dia de aula. As obras do autor escolhido são estudadas e discutidas por alunos e professores de todas as áreas. A primeira edição da Quinta Literária foi realizada em maio deste ano, em homenagem a José de Alencar [1829-1877]. Alguns alunos apresentaram-se caracterizados como personagens das principais obras do autor cearense. (Fátima Schenini)

Acesse o blogue da EEM Dona Antônia Lindalva de Morais

Consumismo inspira projeto em escola mato-grossense

Alunos observam charge em computador

O consumismo foi o ponto de partida para o desenvolvimento de trabalho na área da linguagem em escola do município mato-grossense de Nova Olímpia. O projeto Os Múltiplos Sentidos de Consumismo nas Práticas de Leitura de Alunos do 8º ano foi criado pela professora Kelsse Boffulin, da Escola Estadual Wilson de Almeida, a partir do tema, sugerido pelos próprios alunos.

“O tema é pertinente, dada a realidade das últimas décadas, em que o acesso à informação e as facilidades de compra alargaram o cinturão consumista mundial”, avalia Kelsse. Professora de língua portuguesa em turmas do ensino fundamental e médio regular, ela leciona na escola há oito anos.

Kelsse ancorou seu trabalho na teoria da análise de discurso, campo da linguística e da comunicação voltado para a análise das construções ideológicas de um texto. “Isso nos permitiu construir com os alunos um conhecimento diferente sobre a leitura, compreendendo que esta é produzida no cruzamento de determinações histórico-ideológicas e na relação do sujeito leitor com o texto”, ressalta. “Desta forma, o texto não deve ser tomado como uma unidade fechada de sentidos.” enfatiza.

De acordo com a professora, as atividades propostas possibilitaram um estudo sobre o funcionamento da linguagem, sobre o que o texto diz, como ele diz, e os objetivos que o levaram a dizer o que diz. “Notamos que o trabalho com a leitura nesta perspectiva abriu novos olhares para o texto”, afirma. “Os alunos tomaram posicionamento diferente em relação à temática explorada — o consumismo —, compreendendo que o discurso é produzido a fim de provocar no interlocutor efeitos de sentido determinados.”

Para Kelsse, os estudantes puderam compreender que o texto ou discurso é regido por condições de produção e entenderam, por exemplo, que a mídia trabalha para interpelar o sujeito a algo, seja comprar, consumir, doar. E que isso contribui com a expansão de uma ideia, uma ideologia, “que muitas vezes não é declarada, mas é percebida quando feitos os questionamentos à materialidade do discurso”.

Atividades — Com atividades variadas que incluíam leitura, debates, conversa, quadro comparativo de textos diversos como artigos, poemas, tirinhas, músicas e propagandas, o projeto foi desenvolvido em 2014, em um bimestre. Uma das atividades foi a confecção de um boneco de papel-machê, de modo a textualizar, na escultura, a relação sujeito versus consumismo. Isso, na visão de Kelsse, serviu para dar corporeidade ao poema Eu, Etiqueta, de Carlos Drummond de Andrade. Segundo ela, os estudantes foram protagonistas das atividades e participaram com entusiasmo, ao manifestar opiniões, pontos de vista e posições em relação à temática.

Outra atividade que despertou o interesse dos estudantes foi a produção de um jornal impresso, o Notícias WA. Embora a impressão e a distribuição do jornal estivessem previstas para o fim do ano passado, isso não foi possível. A entrega à comunidade escolar foi reagendada para este mês de agosto.

O Notícias WA vai divulgar fotos de atividades realizadas no decorrer do projeto, registradas tanto na sala de aula quanto em ocasiões extraclasse. A edição também trará comentários de alunos sobre o processo que experimentaram durante a realização do projeto. “Esses relatos foram coletados por meio de texto escrito, em atividade proposta à turma, na qual fizeram uma avaliação do trabalho que realizamos”, diz a professora. Os estudantes comentaram sobre os textos, as tirinhas, os filmes, as propagandas, a música, a construção e a exposição na escola do boneco Eu-Etiqueta. Eles falaram ainda sobre como esse trabalho contribuiu para que considerassem a língua portuguesa sob perspectivas diferentes daquela a que estavam condicionados a fazer. (Fátima Schenini)

Instituto Federal tem experiências bem-sucedidas em Rondônia

Professor Sérgio e alunos

Levar os estudantes a uma compreensão mais profunda do processo de aprendizagem da escrita e proporcionar experiência mais prazerosa e produtiva em relação ao ato de escrever é o objetivo do 1º Simpósio sobre Práticas Discursivas na Amazônia, promovido pelo campus de Cacoal do Instituto Federal de Educação, Ciência e tecnologia de Rondônia (IFRO), esta semana. O evento, que tem como tema o Texto como Prática Social, será realizado até sábado, 14, com a participação do professor Celso Ferrarezi Júnior, do Instituto de Ciências Humanas e Letras da Universidade Federal de Alfenas (Unifal).

O simpósio faz parte do projeto Língua, Linguagem e Literatura, desenvolvido desde 2013 pelo professor Sérgio Nunes de Jesus, do IFRO. Criado para atender estudantes do próprio campus, o projeto foi ampliado em 2014 e passou a abranger outras escolas da comunidade interessadas em ajudar alunos com dificuldades no processo textual.

Atualmente, o Instituto Abaitará, da rede estadual de ensino, e a Escola Daniel Berg, da rede particular, participam do projeto, coordenado pelo Grupo de Pesquisa Práticas Discursivas na Amazônia (PDA), também do IFRO, campus de Cacoal. Com duração de um ano letivo, o projeto tem como objetivo desenvolver o processo interdisciplinar do texto em diferentes olhares na educação básica, com interação dos conhecimentos e das práticas dos alunos.

“As principais atividades consistem na leitura de obras literárias como suporte ideológico, social e, ao mesmo tempo, cultural, na prática da produção escrita do texto científico produzido após análises com apresentações em formato de banners, com rodízio nas três escolas envolvidas no projeto”, explica o professor Sérgio.

Também ocorrem práticas de leitura e análise do livro-texto Produzir Texto na Educação Básica (Ferrarezi Jr. & Carvalho, 2015), quando são usadas técnicas do ato de redigir e escrever como prática metodológica.

Segundo o professor, inúmeros alunos foram beneficiados nesses três anos de realização do projeto, não só com aprovação em vestibulares, mas com o reconhecimento social.

Há 21 anos no magistério, Sérgio dá aulas de língua portuguesa, literatura e produção de textos em turmas dos cursos técnicos em agropecuária e em agroecologia e de metodologia do trabalho científico, no curso de licenciatura em matemática. Com licenciatura em letras (inglês–português), ele tem mestrado em linguística e doutorado em educação.

Concurso — No campus do instituto em Colorado do Oeste, é desenvolvido este ano o projeto Poder da Palavra, com professores das redes municipal, estadual e particular de ensino do município. Criado pelo professor Moisés José Souza, ele visa a discutir e fomentar ações que respaldem o trabalho com as práticas discursivas em sala de aula. “Em sala de aula, faz-se necessário, sobretudo no trabalho com a língua portuguesa, contemplar as práticas discursivas”, salienta Moisés. “Por meio delas, ao conhecer as nuances e usos, os alunos podem desempenhar significativamente a linguagem no cotidiano, expressando-se com eficácia.”

O projeto é dividido em três grandes ações. A primeira propicia momentos de estudo para os professores de língua portuguesa, com discussões para troca de relatos de experiências e estratégias; a segunda fomenta a produção de textos em sala de aula; a terceira é um concurso de produção de textos voltado para alunos de escolas públicas e particulares de educação básica, ensino técnico, tecnológico e superior de todo o município. “São atendidos cerca de 4.550 estudantes”, ressalta Moisés.

Voltado para a produção textual, o projeto contempla seis gêneros textuais. Assim, os alunos dos três primeiros anos do ensino fundamental podem participar no gênero desenho–ilustração; do 4º e 5º anos, fábula; do 6º e 7º anos, poema; do 8º e 9º anos do ensino fundamental e 1º ano do ensino médio, memórias; do 2º e 3º anos, artigo de opinião. Os do ensino superior, artigo científico.

No dia 21, será realizado o evento de encerramento, com a premiação dos dez melhores textos em cada categoria e apresentações culturais das escolas envolvidas.

Há 20 anos no magistério, Moisés tem graduação em letras, especialização em língua portuguesa e mestrado em educação. Ele leciona em turmas do ensino médio, técnico, tecnológico e superior. (Fátima Schenini)

Acesse as páginas do IFRO, campus de Cacoal e campus de Colorado do Oeste na internet

Missão é fazer a diferença na vida dos alunos

Professora de matemática, ciências, biologia, química, saúde e qualidade de vida, há cerca de 20 anos no magistério público do estado de São Paulo, Ana Paula da Silva diz que ser professora significa fazer a diferença na vida dos alunos. “Somos exemplo, somos espelho”, destaca.

Segundo Ana Paula, os professores deixam marcas importantes nos estudantes e podem ajudá-los a decidir sobre o futuro. “Não ensinamos apenas o conteúdo do currículo, mas também atos de cidadania”, salienta. “Se ele se tornar médico ou pedreiro, acima de tudo, deve ser profissional, ter caráter, respeito ao próximo”, enfatiza. “Não vai deixar de praticar a cidadania.”

Lotada na Escola Estadual Inocoop II, em Guarulhos, Ana Paula está temporariamente afastada da sala de aula para tratar um problema na coluna vertebral. Readaptada, ela atua agora como responsável pela sala do Acessa Escola, programa da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, coordenado pela Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE). “É uma sala de ambiente virtual, que serve para pesquisas, trabalhos, consultas, aulas e projetos diferenciados com o uso da informática”, explica. O ambiente é usado para promover a inclusão digital e social dos alunos, professores e funcionários das escolas da rede pública estadual.

Apaixonada pela educação, Ana Paula criou um blogue, em 2008, a fim de compartilhar atividades elaboradas para estudantes de diferentes níveis. “Algumas podem ser adaptadas e repensadas, de acordo com o que se pretende e com as habilidades que queremos desenvolver com os alunos”, esclarece.

Ao compartilhar atividades, a professora pretende mostrar ao público em geral o quanto a educação pode gerar bons frutos. “Apesar das dificuldades que encontramos em sala de aula, como alunos desmotivados, desinteressados, com dificuldades de aprendizagem, e salas cheias, entre outras situações, podemos conseguir bons resultados”, pondera.

Ana Paula tem graduação em ciências físicas e biológicas e pós-graduação em metodologia e didática do ensino superior. (Fátima Schenini)

Telma Ferraz Leal (UFPE): “É preciso desenvolver atividades de escrita; podemos ter bons leitores que tenham dificuldades para escrever"

Professora Telma Ferraz Leal, da UFPE

Professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Telma Ferraz Leal atua no Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino do Centro de Educação, na graduação e na pós-graduação. Além de lecionar, ela desenvolve pesquisas sobre prática pedagógica, produção de textos, leitura, alfabetização e oralidade.

Com graduação em psicologia, doutorado e mestrado em psicologia cognitiva, Telma coordena o Centro de Estudos em Educação e Linguagem (Ceel), que desenvolve atividades de formação de professores, produção e análise de materiais didáticos (livros e jogos) e de propostas curriculares.

Em entrevista ao Jornal do Professor, a professora diz que a leitura é essencial para a produção de bons textos, mas não é suficiente. “É preciso desenvolver atividades de escrita”, diz. “Podemos ter bons leitores que tenham dificuldades de escrita.” (Fátima Schenini)

Jornal do Professor De que forma os professores do ensino fundamental e médio podem ajudar os alunos a produzir bons textos? Quais os principais passos para isso?

Telma Ferraz Leal – O ensino de produção de textos precisa ser concebido como um momento em que os estudantes possam interagir por meio da escrita, agindo no e sobre o mundo. Desse modo, um primeiro passo a ser pensado tem relação com o tipo de situação de escrita. É muito importante que sejam pensadas atividades nas quais finalidades claras e relevantes sejam indicadas e combinadas com a turma. Os estudantes precisam saber com qual objetivo estão escrevendo, quem vai ler o texto, em que suporte o texto será inserido, em que espaços ele circulará. Além disso, é importante assegurar trabalhos prévios para que o estudante possa refletir sobre qual gênero será referência para a escrita e os motivos para tal escolha e sobre como se organizam, via de regra, os exemplares desse gênero. É necessário também que sejam realizadas atividades para aprofundamento das temáticas sobre as quais os alunos vão escrever. Por exemplo, se a proposta for de produção de um artigo de opinião para um jornal local, é preciso que os estudantes tenham argumentos para falar sobre o tema, e isso exige informações e reflexões. Se forem escrever uma carta de leitor comentando uma reportagem, precisam ter lido a reportagem e outros materiais que tratem do mesmo assunto para que possam defender seus pontos de vista. Enfim, dependendo da proposta de escrita, é importante ter atividades prévias para aprofundamento sobre o gênero e sobre o tema. É preciso também garantir orientações sobre como planejar os textos e como revisá-los.

Promover concursos de textos pode contribuir para despertar o interesse dos alunos?

– Ter finalidades de escrita, em que os alunos queiram agir socialmente, é o principal elemento para ajuda-los a desenvolver estratégias discursivas variadas, capazes de provocar diferentes efeitos de sentido. Os concursos promovem a escrita com finalidades claras, mas terminam configurando-se como momentos em que a competitividade é assumida como valor central. Temos de pensar na escola como um espaço em que outros valores sejam tomados como mais importantes, como a solidariedade, os cuidados com a natureza, o combate aos preconceitos, dentre outros. Os propósitos de escrita em que os estudantes possam se engajar em projetos coletivos com tais finalidades poderiam ser mais enfatizados do que os que promovem a busca por ser o melhor, o que chega primeiro.

Qual a importância da leitura para uma boa escrita? Como estimular a leitura entre os estudantes?

– A leitura é essencial. A formação de leitores precisa ser um eixo transversal do trabalho que agregue os diferentes componentes curriculares. Por meio da leitura e dos debates sobre o que se lê, os estudantes podem agregar conhecimentos não só sobre as estratégias usadas na sociedade para interagir em diferentes espaços, por meio de diferentes gêneros, como também sobre os temas dos textos. No entanto, é importante que se tenha clareza de que isso não é suficiente. É preciso desenvolver atividades de escrita. Podemos ter bons leitores que tenham dificuldades de escrita.

De maneira geral, os professores da educação básica estão preparados para ajudar os alunos a escrever bem?

– Não podemos falar de modo homogêneo sobre os professores, nem sobre os estudantes. Temos professores que desenvolvem práticas muito boas de escrita e outros que têm dificuldades. Temos alunos que escrevem com relativa facilidade e outros que têm muitas dificuldades. O importante é discutir sobre o currículo escolar e sobre o papel que a escrita assume nesse currículo. Tradicionalmente, no Brasil, temos sobrecarregado os currículos com muitos conteúdos e conceitos, de modo que o tempo pedagógico fica fragmentado. Temos também problemas sérios com o regime de trabalho dos professores, que muitas vezes não garante um tempo para o planejamento das situações didáticas. O ensino de produção de textos, que toma como referência a interação entre os estudantes e outros atores sociais, exige planejamento e pesquisa pelos professores. E nem sempre eles têm tais condições de trabalho. Por fim, o tempo escolar brasileiro é muito curto. Os estudantes ficam pouco tempo na escola. A jornada escolar é baixa, e o ensino de produção de textos exige que o professor desenvolva boas atividades, mas exige também frequência de escrita. É preciso garantir que os estudantes escrevam mais e com finalidades variadas para interlocutores variados. Um currículo fragmentado, com jornada escolar pequena, dificulta o trabalho. Por fim, é necessário que se garanta formação docente continuada. Os professores precisam se engajar em ações de formação continuada. Ter espaço para discutir, socializar e aprofundar estudos é uma das formas de melhorar a qualidade da educação.

O que é possível fazer para tornar os professores mais bem capacitados nessa área? Qual o papel das instituições de educação superior nesse sentido?

– É preciso melhorar o currículo da formação inicial para garantir tempo maior para o estudo sobre os fundamentos do ensino da língua portuguesa e também garantir ações de formação continuada que sejam de fato continuadas. Ou seja, ações que não sejam interrompidas a cada troca de equipes gestoras nas instâncias governamentais.

A senhora coordena o Centro de Estudos em Educação e Linguagem da UFPE. Qual o trabalho ali realizado? Quais os principais resultados já obtidos?

– No Ceel, desenvolvemos ações de pesquisa sobre educação e linguagem, ações de produção de material para formação de professores e para atividades com os estudantes. Contribuímos com o Ministério da Educação e redes de ensino na concepção e implantação de programas de formação de professores e avaliação de materiais didáticos e de avaliações. Desse modo, participamos da equipe que concebeu o programa Pró-Letramento e o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. Temos trabalhado em diferentes edições do Programa Nacional do Livro Didático, das obras complementares. Criamos os jogos de alfabetização, distribuídos pelo MEC no âmbito do Pnaic, e acabamos de criar um conjunto de jogos para alfabetização incluindo as crianças com deficiência. Contribuímos em discussões sobre a Provinha Brasil e a Avaliação Nacional da Alfabetização, dentre outras ações. Com muitas outras universidades, temos visto que há melhorias significativas nos resultados da educação, mas ainda há muito o que melhorar, e estamos comprometidos com ações que tenham princípios voltados para a educação pública de qualidade para uma sociedade mais justa, mais democrática, mais solidária.