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JORNAL

Cultura Digital na Escola

Quinta-feira, 10 de Setembro de 2015

Edição 117

EDITORIAL - Cultura Digital na Escola

A edição número 117 do Jornal do Professor aborda o tema Cultura Digital na Escola, escolhido por 46.33% dos leitores que votaram na enquete em nossa página.

Trazemos para vocês experiências desenvolvidas por professores da Escola Municipal Governador Moreira Franco, em Bom Jardim (RJ); Colégio Estadual Professor Jamil El-Jaick, em Nova Friburgo (RJ); Escola Estadual Antônia da Silveira Capilé, em Dourados (MS); Escola Patronato Sagrada Família, em Fortaleza (CE); e Escola Estadual José Ribamar Batista, em Rio Branco (AC).

Outro assunto é o curso de especialização em Educação na Cultura Digital que está sendo oferecido pelas universidades federais de Santa Catarina, Ouro Preto e Roraima, para educadores das redes públicas de ensino.

A professora Liliane Aparecida do Santos Dutra, diretora da Escola Caminho do Sol, no município mineiro de São João del Rey, participa da seção Espaço do Professor.

Nossa entrevistada é a professora Maria da Graça Moreira da Silva, da PUCSP.

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

Professor fluminense destaca as oportunidades que a tecnologia oferece

Professor William James e alunos na sala de aula

Professor de matemática em escolas de dois municípios da região serrana do Rio Janeiro, William James Erthal diz que a sala de aula deve estar conectada com o mundo moderno em que vivemos. “Durante todo o dia, o aluno está conectado a um mundo de informações, comunicação e entretenimento”, diz. “Espera-se que ele também encontre isso na escola.”

Coordenador de tecnologia educacional no Colégio Anchieta, de Nova Friburgo, e da Secretaria de Educação de Bom Jardim, William é professor no Colégio Estadual Professor Jamil El-Jaick (Ceje), em Nova Friburgo, e na Escola Municipal Governador Moreira Franco, em Bom Jardim. Ele afirma que a tecnologia proporciona inúmeras possibilidades para a sala de aula, principalmente como elemento integrador, facilitador e disseminador do processo ensino-aprendizagem. “Com os equipamentos modernos e a internet cada vez mais veloz e acessível, tanto a comunicação quanto a busca por informação e a construção do conhecimento através da utilização da tecnologia têm que ser apropriados e aproveitados pela escola”, enfatiza. Ele avalia como importante haver uma estrutura que possibilite a interação entre professor, disciplina e estudantes por meio da tecnologia.

William procura estar sempre informado sobre os elementos relacionados à cultura digital disponíveis na escola para planejar o uso nas aulas, seja internet, laboratório de informática, projetores, lousa digital ou celulares. “Realizo aulas expositivas, interativas, ofereço material, proponho atividades, trabalho com grupos das turmas no facebook e no whatsapp e com os blogues da escola e das turmas”, salienta.

Conexão — De acordo com o professor, o blogue permite organizar e orientar o trabalho realizado na sala de aula e o que está acontecendo na escola e até mesmo no mundo. “Serve como elemento de informação e alinhamento do conteúdo e permite que o aluno encontre informações a respeito do que está estudando e sua conexão com a atualidade”, analisa. William trabalha com ambientes virtuais de aprendizagem, como o moodle. “Isso permite maior integração e arrumação do espaço virtual com recursos (arquivos, links, vídeos) e atividades (fóruns, tarefas) dentro do curso, pelo próprio professor”, ressalta. Ele também usa a sala de multimeios, com integração de recursos como lousa digital, projetor, internet, notebooks e tablets.

O professor considera importante saber direcionar e definir os momentos de usar a tecnologia na educação com os alunos. “Agregar a tecnologia à prática não é um fim em si, mas um instrumento na construção do conhecimento”, diz. Há 25 anos no magistério, William tem graduação em matemática e em tecnologia em sistemas de computação, especialização em educação matemática e em tecnologias na educação. Ele também é aluno do curso oferecido pelo Programa de Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional (Profmat), no polo da Universidade Federal Fluminense (UFF). Em seu trabalho de dissertação, o professor aborda a exploração dos conteúdos de matemática dos ensinos fundamental e médio através da geometria fractal (ramo da matemática que estuda as propriedades e comportamento dos objetos geométricos que podem ser dividido em partes, cada uma das quais semelhante ao objeto original) (Fátima Schenini)

Saiba mais nos blogues da EM Gov.Moreira Franco, da turma do 9º ano e da turma do 8º ano do Ceje

Criação de rádio estimula gosto por leitura e pesquisas

Três alunas com equipamentos de rádio digital

A criação de uma rádio teve influência positiva nos alunos de ensino fundamental e médio da Escola Estadual Antônia da Silveira Capilé, no município de Dourados, em Mato Grosso do Sul, e repercussão favorável na comunidade. Coordenado pelo professor Kleiton Caminha, o projeto Rádio Capilé tem contribuído para despertar valores como liderança, autonomia, companheirismo e responsabilidade.

Os estudantes, organizados em equipes, revezam-se no comando da programação diária, transmitida nos intervalos das aulas. A necessidade de se manter informados para transmitir as notícias tem estimulado, entre eles, o gosto pela pesquisa, leitura e produção de textos. “Os resultados obtidos evidenciam que os estudantes percebem a escola de uma maneira diferente”, diz Kleiton. “Eles se mostram motivados nos estudos e com o cotidiano escolar.”

De acordo com o professor, os períodos de intervalo na Escola Capilé deixaram de ser os rotineiros. “Os alunos já se acostumaram com a programação diária, variada, que traz informações da escola e outros acontecimentos, principalmente vinculados à educação”, afirma.

A inclusão do projeto entre os premiados na oitava edição do Prêmio Professores do Brasil, em 2014, subcategoria Educação Digital Articulada ao Desenvolvimento do Currículo, foi a confirmação, para Kleiton, de que está no caminho certo e contribui para uma educação de qualidade. “Eu me sinto mais seguro e confiante em desenvolver novos projetos, buscando sempre um ensino de qualidade”, ressalta. Este ano, as atividades desenvolvidas foram aprimoradas, a fim de oferecer maior autonomia aos alunos, estimular a fluência na leitura, promover o protagonismo juvenil e dar prioridade a temáticas de acordo com os interesses da coletividade escolar e local.

Há 11 anos no magistério, com graduação em educação física e especialização em atividade física, Kleiton exerce a atividade de professor gerenciador de tecnologias e recursos midiáticos (Progetec). Sua função é propiciar situações didático-pedagógicas aos professores regentes para que eles possam planejar e desenvolver o uso das tecnologias de informação e comunicação (TICs) e, dessa forma, estimular o processo de aprendizagem e a fluência na adoção dessas tecnologias. “A inclusão de atividades relacionadas à cultura digital na escola é de suma importância para que professores e alunos comecem a explorar mais o que a tecnologia oferece”, diz.

Lousa — Este ano, o professor desenvolve o projeto Alunos Monitores: Desafios e Possibilidades no Uso da Lousa Interativa Digital, que tem o objetivo de melhorar a produção de conhecimento e desenvolver atividades que possam educar com as mídias. “A lousa digital possibilita diferentes práticas pedagógicas por meio de recursos interativos e inovadores”, esclarece. “Ela funciona como um computador, mas com uma tela maior e melhor, sensível ao toque.”

A primeira parte do projeto, já encerrada, capacitou 24 alunos das turmas de segundo ano do ensino médio (quatro alunos por turma), por meio de oficinas realizadas no período de contraturno. Os estudantes adquiriram conhecimentos necessários para auxiliar os professores a usar a lousa digital. Na segunda parte do projeto, eles multiplicarão os conhecimentos adquiridos com os demais alunos. “Os benefícios são visíveis. Antes mesmo do término das oficinas, os alunos passaram a montar trabalhos e a apresentar seminários com a lousa digital”, afirma o professor. “Isso torna as apresentações atrativas, interativas e ricas em informações.” (Fátima Schenini)

Saiba mais sobre o projeto Rádio Capilé

Tecnologia ajuda a reforçar conhecimentos dos alunos

Alunos participam de atividade com livros e tablet

Coordenador do laboratório educacional de informática da Escola de Ensino Fundamental e Médio Patronato Sagrada Família, em Fortaleza, Ceará, Francisco Estêvão de Mesquita Lima trabalha em conjunto com professores de todas as disciplinas e acompanha ativamente o planejamento de área e individuais. “Nesses momentos, são discutidos os conteúdos a serem trabalhados e os objetivos a serem alcançados”, diz. “Há proposição de metodologias, atividades, análise de propostas e formas de implementá-las”.

Responsável pela coordenação do processo de formação dos educadores no uso das tecnologias, Estêvão considera fundamental capacitar os professores e fornecer tecnologia adequada e suficiente para incentivar o desenvolvimento de atividades que mostrem aos alunos o potencial criativo e transformador das ferramentas tecnológicas. Segundo ele, a maioria dos alunos não sabe usar as tecnologias para potencializar o conhecimento, competências e habilidades necessárias para o desenvolvimento integral. “A preparação adequada de professores para incorporar as tecnologias ao processo pedagógico tem mostrado ser capaz de intervir positivamente nesse desenvolvimento”, avalia.

Os estudantes recebem atendimento individualizado no laboratório de informática no período oposto ao das aulas regulares. “Isso possibilita um contato maior do aluno com as ferramentas tecnológicas desenvolvidas no laboratório para a realização das atividades curriculares”, salienta Estêvão.

Também no contraturno são realizada pesquisas, atividades extraclasse e produção de material para apresentações de trabalhos em sala de aula e projetos, como a Mostra de Arte e Ciências (MAC). “Nessas ocasiões, presto suporte tanto pedagógico, visto que a maior parte dessas atividades é planejada comigo, quanto técnico, no que diz respeito à utilização dos recursos tecnológicos”, esclarece.

Estêvão observa que os alunos apreciam atividades que envolvam os recursos do laboratório de informática — computadores, tablets, microfones ou outros. O que mais os atrai são as atividades ligadas às redes sociais ou de criação de podcasts (áudio ou vídeo), que tornam os trabalhos conhecidos por outras pessoas.

Pesquisa — De acordo com o professor, um tipo de atividade que desperta interesse é a aula invertida (flipclass). Nela, os estudantes têm acesso a uma webquest (metodologia de pesquisa orientada para o uso da internet na educação, na qual os recursos para a pesquisa provêm da própria internet), com orientações, materiais de estudo e atividades de pré-avaliação. O acesso pode ser feito de casa ou no laboratório.

“Em sala de aula, o professor utiliza recursos como slides e lousa digital para fomentar uma discussão sobre o tema”, diz Estêvão. “Os professores gostaram da metodologia, por permitir que os conteúdos sejam ministrados de maneira dinâmica e com envolvimento maior dos alunos, visto que eles são levados a estudar o assunto da aula previamente.”

Batalha — Jogo de desenvolvimento matemático, a batalha naval é outra das atividades desenvolvidas no laboratório de informática. Composto por dez níveis de dificuldade em cada conteúdo, ajuda a recuperar aspectos de matemática básica dos alunos. Pode ser jogado individualmente ou em grupo, com o apoio dos tablets educacionais ou da lousa digital.

O jogo permite aos professores acompanhar cada aluno de perto. “Se o aluno não consegue avançar em um nível, o professor analisa a situação e o orienta no ponto específico de sua necessidade para avançar”, esclarece o professor, responsável pelo desenvolvimento do sistema de suporte do jogo. Há sete anos no magistério, sempre na área da informática, Estêvão é graduado em administração de empresas e faz pós-graduação em informática e comunicação na educação.

Importância — A professora Silvana Rocha de Moura, diretora da instituição de ensino, considera de fundamental importância o estímulo à cultura digital na escola. “É preciso perceber a informática como ferramenta de apoio e fortalecimento do processo ensino-aprendizagem”, destaca. “É possível verificar um maior envolvimento e interesse do estudante, que vê nas mídias uma possibilidade de crescimento e preparação para o mundo do trabalho.”

Para Silvana, é necessário investir no uso responsável e seguro da tecnologia nos processos pedagógicos, a fim de obter uma melhoria no aprendizado. “São inúmeros os benefícios que podem ser alcançados tendo em vista um alunado pronto a enfrentar desafios e a fortalecer as habilidades e competências”, ressalta.

Professora de educação física, com pós-graduação em administração escolar e informática educativa, Silvana atua no magistério há 22 anos.

A escola Patronato Sagrada Família tem 782 alunos matriculados no 8º e no 9º anos do ensino fundamental e nos três anos do ensino médio. (Fátima Schenini)

Saiba mais no blogue da EEFM Patronato Sagrada Família

Estudantes aderem ao uso de modernas tecnologias de ensino

A Escola Estadual de Ensino Médio José Ribamar Batista, em Rio Branco, Acre, está conectada com as tecnologias modernas, especialmente as digitais. Por isso, os 910 alunos são estimulados a usá-las nos trabalhos pedagógicos, bem como a participar do blogue e da rádio da escola.

“A importância de estimular a cultura digital na escola está em proporcionar aos alunos novas formas de aprendizagem, que podem desenvolver neles um maior interesse por aquilo que está sendo ensinado”, diz a diretora da escola, Sirlene Pereira Luz. “De certa forma, ao estimular a cultura digital, a escola está valorizando o conhecimento que os alunos têm, já que esse universo faz parte de suas realidades.”

A rádio, implantada recentemente, funciona nos horários de intervalo das aulas, com músicas, informações da escola e da comunidade. Todos os assuntos tratados são debatidos anteriormente por membros do grupo responsável pelo funcionamento da emissora, formado por alunos, professores, funcionários, pais e equipe gestora. Para Sirlene, isso pode contribuir para que a escola estabeleça um vínculo mais profundo com os estudantes. Com graduação em letras (português e espanhol), ela exerce a direção há três anos e está há dez no magistério.

Pedagoga, com mestrado em tecnologia educacional, Fátima Suzuki, coordenadora de ensino na mesma escola, acredita que o uso das tecnologias torne mais atrativa a relação entre professores e alunos e desperte nos estudantes o interesse pela busca de conhecimento. “É importante que os professores fiquem mais próximos da realidade dos jovens e, ao mesmo tempo, facilitem o trabalho pedagógico de ambos os lados”, ressalta.

Blogue — Para a apresentação de trabalhos, os alunos pesquisam e montam slides, fazem entrevistas, produzem vídeos, gravam as apresentações e passam ao professor para avaliação. “Isso já é uma ação natural em nossa escola”, salienta Fátima. Ela coordena o desenvolvimento do blogue da escola, ainda em construção, destinado a divulgar e valorizar o trabalho feito, além de resgatar as atividades realizadas a partir de 2012. Professores e alunos colaboram com informações, fotos e registros das atividades desenvolvidas na escola e na comunidade. “Os alunos são participativos, e grande parte do material dos anos de 2012 a 2014 foi resgatada graças a eles, inclusive ex-alunos, além dos professores”, diz.

A escola tem parceria com o Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE) de Rio Branco, que promove oficinas para professores e alunos no laboratório de informática. Em maio deste ano, os estudantes participaram de uma oficina de blogues. A escola vai concorrer no 1º Concurso de Blog Educacional, promovido pelo NTE, com premiação prevista para outubro, na 12ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia.

Com experiência de 37 anos na área da educação, Fátima participa de atividades pedagógicas com os alunos. Ela participa, como mediadora, das aulas interdisciplinares e de reuniões pedagógicas mensais com professores. (Fátima Schenini)

Curso capacita professores para o uso de recursos tecnológicos

Aluno na sala de informática

Um dos principais benefícios da cultura digital na escola é a possibilidade de o estudante estar em rede, participar de comunidades de aprendizagem e não ficar isolado, restrito à sala de aula. A opinião é da professora Rose Cerny, coordenadora de projetos institucionais de educação a distância do Núcleo Multiprojetos de Tecnologia Educacional da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Para Rose, a cultura digital precisa ser reconhecida pela escola, e as tecnologias, incorporadas ao currículo como recursos pedagógicos que favoreçam o processo de ensino-aprendizagem. O uso pedagógico dessas tecnologias, associado ao conteúdo especifico de cada disciplina do currículo, segundo a professora, é um dos maiores desafios. Outro é a formação inicial e continuada dos educadores.

Rose coordenou o desenvolvimento da proposta do curso de especialização educação na cultura digital, promovido pelo Ministério da Educação, em parceria com a UFSC, e a produção de 31 módulos. Com duração de um ano e meio, o curso teve início no segundo semestre de 2014, como projeto-piloto, nas universidades federais de Roraima (UFRR) e de Ouro Preto (Ufop), além da UFSC. Voltado para educadores das escolas das redes públicas, dá prioridade a quem esteja em exercício como professor, gestor e formador dos núcleos de tecnologia estaduais e municipais. “O objetivo é formar educadores para integrar, crítica e criativamente, as tecnologias digitais de comunicação e informação aos currículos escolares”, explica Rose.

Integração — Um dos coordenadores do curso em Santa Catarina, o professor Henrique César da Silva, do Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica da UFSC, afirma que o propósito é permitir, num trabalho coletivo de ação e reflexão, que os integrantes da comunidade escolar “integrem crítica e criativamente as tecnologias digitais aos currículos, deem visibilidade e compartilhem esse trabalho”.

Mais de 600 educadores de cerca de cem escolas localizadas em todo o estado participam das aulas. O curso, virtual, tem apoio da Secretaria de Educação do estado, da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e das direções escolares. “Ele trata da relação entre currículo e tecnologias digitais, entre escola e cultura digital e tem núcleos específicos para gestores, formadores e professores de cada uma das disciplinas da educação básica”, destaca Henrique, que também é professor do Departamento de Metodologia de Ensino do Centro de Ciências da Educação da UFSC.

Dinamismo — Professores, gestores e outros funcionários da Escola Estadual Adelaide Konder, no município catarinense de Navegantes, estão entre os participantes do curso de especialização. Um deles é a pedagoga Tatiana Cardozo Anacleto Gonçalves, assistente da direção da escola. Para ela, o uso das tecnologias de informação e comunicação (TICs) na educação traz dinamismo e entusiasmo às aulas. “O aluno aprende usando todos os ntidos e, com isso, aprende mais”, salienta Tatiana, 18 anos de magistério.

Para o professor de física e matemática Waldyr Carneiro de Campos, há oito anos no magistério, o curso ensina a usar a cultura digital e a forma de inseri-la nas aulas. “Procuro usar as tecnologias mais nas aulas de física, com vídeos, imagens e simuladores que ajudam na compreensão de conceitos complexos”, esclarece.

De acordo com a professora de filosofia Ângela da Fonseca, a participação no curso tem sido estimuladora. “Todos ganham com a inserção das tecnologias na sala de aula”, diz. A partir dos conhecimentos adquiridos no curso, Ângela passou a adotar ferramentas como o google drive, o blogue e o facebook para a visualização dos trabalhos. “Aprendemos a fazer fórum na internet e a editar vídeos, mas estamos sempre aprendendo, com um olhar atento para o novo”, destaca. “De certa forma, as tecnologias digitais tornaram a tarefa de ensinar mais dinâmica, muito diferente da geração anterior”.

Além disso, entre os benefícios de estimular a cultura digital na escola. ela cita a possibilidade de disseminação de conhecimentos e informações. “Se surgir um questionamento acerca de um conceito durante uma aula, o professor pode fazer a pesquisa na hora ou ter acesso a um vídeo que pode auxiliar”, diz. Ângela, que está no magistério há 11 anos, não descarta, no entanto, a importância fundamental de um bom embasamento teórico do professor. (Fátima Schenini)

Saiba mais na página do curso de especialização na internet

Pedagoga mineira lança livros destinados ao público infantil

Liliane Dutra segura seu livro A Bolsa da Mamãe

Dedicada à área da educação há 28 anos, a professora de educação artística, pedagoga, psicopedagoga e especialista em educação empreendedora Liliane Aparecida dos Santos Dutra sempre teve grande interesse pela leitura. “Desde criança, tenho o hábito de comprar livros”, diz Liliane, moradora no município mineiro de São João del-Rei.

Palestrante na área de educação e integrante da Academia de Letras do município, ela escreve desde os 19 anos de idade. “Nunca me preocupei em publicar minhas histórias e, às vezes, nem em guardá-las”, diz. “Acabei perdendo muitas delas.” Liliane também é autora de poesias, poemas, histórias e textos para jornais e revistas de São João del-Rei, além de artigos e projetos pedagógicos.

Criadora e dirigente, há 23 anos, da Escola Caminho do Sol, para alunos da educação infantil ao quinto ano do ensino fundamental, Liliane lançou este ano seus dois primeiros livros: A Bolsa da Mamãe e Papai Travesseiro. Para este mês de setembro está previsto o lançamento de Dindim de João de Barro. “Eu sempre me desafiei buscando escrever sobre os mais diversos assuntos, mas o que me leva a escrever livros infantis é o grande contato que tenho com esse público”, explica. Outro fator decisivo nessa escolha, segundo ela, foram as grandes referências de narração de histórias feitas por sua mãe e pela avó. “Como pedagoga, não vejo metodologia mais eficaz para trabalhar com crianças que não sejam as histórias”, destaca.

Liliane pretende continuar a escrever e a lançar livros, apesar dos custos e do tempo escasso. “Minha meta é prosseguir na área infantil, incluir livros didáticos e obras que ajudem as famílias na educação dos filhos”, ressalta. Ela procura transmitir aos estudantes seu amor pela leitura. Assim, além de uma biblioteca na escola, cada sala de aula tem o cantinho de leitura.

“Oriento toda a minha equipe de professores através de reuniões, formações continuadas e cirandas literárias, entre outras atividades. Promovemos um trabalho literário bem autêntico e com bastante participação dos pais”, esclarece.

Um dos projetos desenvolvidos é o Gripe Literária na Biblioteca. Criado há nove anos, tem como principais representantes os bonecos Lenita e Lenito. “Esta ‘gripe’ foi tão forte, que o projeto caminha até hoje”, afirma. “O próximo passo é a integração dos bonecos na literatura de mídia.” (Fátima Schenini)

Graça Moreira (PUC-SP): "Na cultura digital, a escola e o currículo não podem estar desassociados"

Professora Graça Moreira, da PUCSP

Docente da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, Maria da Graça Moreira da Silva leciona no curso de graduação em tecnologias e mídias digitais do Departamento de Computação. Também é professora no Programa de Pós-Graduação em Educação: Currículo, Linha de Pesquisa Novas Tecnologias na Educação.

Doutora em educação, ela integra o Programa Postdoctoral de Investigación en Ciencias Sociales Niñez y Juventud, oferecido pelo Centro de Estudios Avanzados en Niñez y Juventud da Fundación Centro Internacional de Educación y Desarrollo Humano (Cinde), numa parceria entre México, Colômbia e Brasil.

Com experiência na gestão de projetos em larga escala, na formação de recursos humanos, e-learning, educação a distância e tecnologias para a educação, Graça diz que para aprender e ensinar na cultura digital não basta equipar as escolas com computadores e acesso à internet. Segundo ela, são necessários diversos fatores combinados, tais como a apropriação crítica das tecnologias; a formação de docentes, de alunos e gestores; a inserção à linguagem que flui nas redes conectadas; a produção e distribuição de conhecimentos; a construção de sociabilidades, identidades, valores, relações humanas e a participação social.

“A inserção na cultura digital implica a escola se enxergar como partícipe desta cultura e, dessa forma, atuar como leitora crítica e autora deste mundo”, diz. “Nessa cultura, a escola e o currículo não podem estar desassociados.” (Fátima Schenini)

Jornal do ProfessorO que é cultura digital?

Graça Moreira – As mudanças nas organizações sociais foram aceleradas nas últimas décadas do século 20 e se intensificaram neste início de século 21, principalmente em decorrência dos avanços científicos e tecnológicos que, com as progressivas mudanças sociais e econômicas, impactaram as formas como nos comunicamos, nos relacionamos e também de como aprendemos. Assim, o avanço das tecnologias é um dos principais motores responsáveis por impulsionar novas funções e componentes à comunicação e novos conceitos às práticas sociais. Essas mudanças se iniciaram mais destacadamente a partir dos anos 70 do século passado, pela inauguração do uso pessoal de computadores. Expandiram-se nos anos 90, com o uso da internet, e tomaram corpo, chegando aos dias atuais com a popularização do uso de dispositivos móveis sem fio, como os tablets, telefones celulares, tocadores de áudio. Dessa forma, o advento da microinformática, da internet e das tecnologias móveis favoreceu o desenvolvimento de uma cultura de uso das mídias e, por conseguinte, de uma configuração social pautada num modelo digital de pensar, criar, produzir, comunicar e aprender e inaugurou novas formas de registrar e representar o pensamento, reconfigurando nossa presença na cultura, no mundo e com o mundo: a cultura digital.

A cultura digital, por sua vez, não é determinada unicamente pelas tecnologias, mas se constrói em decorrência do uso e apropriação social dessas tecnologias no dia a dia. A tecnologia provê a infraestrutura e os dispositivos, o suporte à cultura digital, mas é seu uso social e compartilhado que faz a diferença. O contexto da cultura digital engloba o uso de dispositivos e é marcado pela conexão com a internet. Envolve o uso de telefones celulares, tocadores de áudio (i-pod), videogames, tablets etc. Usamos esses dispositivos em nosso cotidiano, bem como os recursos possíveis à comunicação e à informação, e são esses e outros dispositivos conectados com a internet que nos possibilitam assistir a filmes, o acesso a notícias, a comunicação com pessoas em diferentes localidades, o compartilhamento de vídeos, fotos e a informação. Possibilitam também o acesso e a navegação em múltiplas fontes de dados, aos serviços públicos, à produção, à difusão e ao compartilhamento de informações. Nesse cenário, integrar a cultura digital se conforma como um dos princípios constitucionais da democracia e da economia nas sociedades. Portanto, não estar integrado e conectado às redes pode ser interpretado como uma forma de exclusão digital e social à contemporaneidade. Assim, estar conectado é uma questão de direito, uma condição para o exercício da cidadania plena.

De que maneira a cultura digital pode ser usada na escola?

– A escola está em meio ao debate sobre o uso das tecnologias, suas contradições, seus impactos na aprendizagem, no ensino e nas relações pedagógicas. Os dados sobre a presença e uso de computadores na educação são reveladores: por um lado a Pesquisa TIC Educação 2013, realizada pelo Comitê Gestor de Internet no Brasil (CGI – 2013a; 2013b), revela que 100% das escolas públicas do país têm computadores, na área administrativa ou em outros espaços, como a sala dos professores e o laboratório de informática. A mesma pesquisa revela que 71% das escolas públicas brasileiras têm conexão com a internet, embora com velocidade ainda lenta. Por outro lado, a residência do aluno é apontada como local em que o acesso à internet se dá em 65% dos casos, e apenas 8% na escola.

Observamos que o acesso e permanência das crianças e jovens em suas residências frente à TV, aos computadores, aos jogos eletrônicos e à internet tem se tornado cada dia mais comum nas grandes e pequenas cidades, em especial em seus territórios mais vulneráveis. Algumas vezes seduzidos pelo carrossel imagético dos programas televisivos; outras, pela velocidade dos jogos ou das possibilidades comunicacionais das redes sociais na internet ou ainda pela impossibilidade do brincar fora de casa. Identificamos crianças pequenas manipulando telas de tablets ou teclando computadores para desvendar o acesso a vídeos ou brincadeiras. Ouvimos relatos de jovens que “mexem” em quaisquer dispositivos.

Porém, ensinar e aprender na cultura digital são atividades de outra natureza, que a manipulação de computadores pelas crianças e a comunicação entre os jovens não permitem. Aprender e ensinar na cultura digital não se limitam a equipar as escolas com computadores e acesso à internet, mas decorrem de diversos fatores combinados, dentre os quais a apropriação crítica das tecnologias; a formação de docentes, de alunos e gestores; a inserção à linguagem que flui nas redes conectadas; a produção e distribuição de conhecimentos; a construção de sociabilidades, identidades, valores, relações humanas e a participação social. Trata-se de democratizar e legitimar não apenas o acesso, mas a expressão da voz dos professores e alunos por meio das tecnologias e, a um só tempo, integrá-la ao currículo e oportunizar seu uso inovador.

Dessa forma, a inserção na cultura digital implica a escola se enxergar como partícipe desta cultura e, dessa forma, atuar como leitora crítica e autora deste mundo. Nessa cultura, a escola e o currículo não podem estar desassociados. É função da escola, em seu planejamento, fazer a análise das potencialidades das tecnologias para estimular a desenvoltura da criança e do jovem nas habilidades do pensamento e do convívio, já com início na educação infantil. Propiciar o uso criativo e autoral pelos alunos, por meio de projetos concebidos, elaborados e divulgados por eles, tem se mostrado um bom caminho.

Práticas pedagógicas importantes e relevantes são desenvolvidas pelas escolas considerando o repertório dos alunos, seu contexto, suas demandas e a realidade social de sua comunidade. Dentre os ricos exemplos presentes nas escolas brasileiras, podemos citar o uso de redes sociais para o desenvolvimento de projetos colaborativos entre diferentes escolas; a montagem e a operação e divulgação de programas de rádios na escola; a construção de protótipos empregando diferentes ferramentas e materiais, como a robótica e a programação de computadores pelos alunos; o uso de ferramentas tecnológicas para a aprendizagem, dentre outros.

Quais os principais benefícios do uso da cultura digital na escola e na educação?

– Os maiores benefícios da integração da cultura digital à educação estão voltados para a melhoria da qualidade social da educação, a inclusão digital e social e a cidadania. Da educação infantil ao ensino médio, os projetos mais significativos são aqueles que despertam a curiosidade epistemológica, permitem a autoria e a expressão da voz dos alunos e professores e incentivam o protagonismo social, por meio da construção de projetos para resolver problemas de sua comunidade.

E quais os maiores desafios?

– O grande desafio para a educação é construir o currículo integrado à cultura, agora digital, pois as tecnologias por si não conseguem promover mudanças na educação ou inovações no ensino. Segundo Almeida e Silva (2014), o currículo, enquanto direito assegurado, público, gratuito e universal, é que define o uso das tecnologias, e não é definido por ela. Nele se encontram os espaços epistemológicos e metodológicos e didáticos para o equacionamento das questões postas nessa pós-modernidade imersa no modus vivendi da cultura digital. Outros desafios se assentam na formação de educadores, no planejamento conjunto do projeto pedagógico da escola e no entendimento das características das diferentes fases da vida dos alunos – alunos esses já nascidos na cultura digital. O provimento de infraestrutura, como computadores, acesso rápido à internet e o bom funcionamento dos equipamentos são condições básicas para a escola ultrapassar o embate com as tecnologias e passar a integrá-las à prática pedagógica.

As instituições de educação superior preparam seus alunos de licenciatura, futuros professores, para o uso de tecnologias digitais nas aulas? Qual a melhor solução para que os professores sejam capacitados a usar as tecnologias?

– As instituições de educação superior, em sua maioria, ainda não estão voltadas para a formação dos licenciandos quanto ao uso das tecnologias em sala de aula. Algumas já incluem no currículo disciplinas que tratam da tecnologia na educação. Usualmente, são disciplinas isoladas, não integradas ou tratadas de forma transversal ao projeto pedagógico dos cursos. Nesse cenário, os professores mais inovadores ou entusiastas buscam, muitas vezes por suas expensas, cursos, eventos ou parcerias com instituições diversas para se apropriarem do uso das tecnologias na educação. Grande parte dos professores se beneficia dos programas públicos oferecidos pelo Ministério da Educação ou promovidos pelas secretarias de educação. A melhor solução para a preparação dos professores seria a integração das tecnologias aos projetos pedagógicos dos cursos de licenciatura associada à formação continuada.

O uso da cultura digital na escola é uma tendência mundial? Como está o Brasil nessa perspectiva?

– A integração da cultura digital é uma tendência mundial. Os países desenvolvem projetos distintos, de acordo com sua realidade, sua política educacional e de nação. O Brasil desenvolve políticas públicas educacionais que envolvem o uso de computadores na educação desde a década de 1980. O MEC, por meio de projetos institucionais voltados para as escolas públicas, estabeleceu como prioridade, desde 1980, equipar escolas, o desenvolvimento de pesquisas, a constituição de núcleos de formadores multiplicadores nos estados, a formação de professores no contexto das escolas e a introdução de inovações. O Brasil tem uma densa trajetória e, ainda, grandes desafios.