Logo Portal do Professor

JORNAL

Especial Dia do Professor-2015

Quarta-feira, 14 de Outubro de 2015

Edição 118

EDITORIAL - Especial Dia do Professor-2015

A edição nº 118 do Jornal do Professor é uma homenagem ao Dia do Professor, que transcorre no dia 15 de outubro.

Participam desta edição os professores José Luiz dos Santos, do Colégio Brigadeiro Newton Braga, no Rio de Janeiro (RJ); Jailde Lima da Silva, da Escola Municipal Araguacy Gonçalves, no Quilombo Jiboia, em Antonio Gonçalves (BA); Ruti Kniest, da Escola Municipal Etelvino de Araújo Cruz, na área rural de Montenegro (RS); Branca Azaléia Lima, Maria de Fátima Barbosa Ferreira e Sueli Figueiredo Cotta, da Escola Municipal Pedro Moacyr, no Rio de Janeiro (RJ); Pedro Antonio Galli, da Escola Estadual Eurico Salles, em Itaguaçu (ES).

A professora Carmensita Matos Braga Passos, do Departamento de Teoria e Prática de Ensino da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Fortaleza (CE), é a entrevistada desta edição. A professora Renata Nalim Basilio Tissi, do Colégio Estadual Deodato Linhares, em Miracema (RJ), está na seção Espaço do Professor.

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

José Luiz dos Santos: “O professor é o agente mais importante entre o conhecimento e o aluno”

Professor José Luiz dos Santos e alunos

Graduado em física, mestre em ensino de física, José Luiz dos Santos está no magistério há 35 anos, com passagem em várias escolas públicas e particulares como professor de física e de matemática. Há 33 anos, trabalha no Colégio Brigadeiro Newton Braga (CBNB), instituição pública federal subordinada ao 3º Comando Aéreo Regional (Comar), do Comando da Aeronáutica, Ministério da Defesa, na Ilha do Governador, Zona Norte do Rio de Janeiro. Ele desempenha a função de coordenador de física, além de lecionar a disciplina a duas turmas do preparatório pré-militar — uma para concurso de nível fundamental e outra para o nível médio.

“O professor é o agente mais importante entre o conhecimento e o aluno”, diz Santos, que descobriu o prazer de ajudar os outros a aprender quando ainda era aluno do ensino médio. “É esse elo fundamental que, bem preparado, utilizando as ferramentas adequadas, com os alunos sensibilizados para o aprendizado, é capaz de despertar no aluno o interesse para aprender.”

Antes da aposentadoria, prevista para o fim do próximo ano, Santos procura repassar sua experiência às novas gerações. Assim, hoje, dia 14, faz palestra no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ), campus de Nilópolis: Trocando Experiências: uma Vivência de 35 Anos de Carteira Assinada como Docente na Educação Básica. O evento será realizado no auditório da instituição, às 16h30. (Fátima Schenini)

O que significa ser professor? O que o levou a escolher essa profissão?

— O professor é o agente mais importante entre o conhecimento e o aluno, é esse elo fundamental que, bem preparado, utilizando as ferramentas adequadas, com os alunos sensibilizados para o aprendizado, é capaz de despertar no aluno o interesse para aprender. Escolhi a profissão quando ainda era aluno do primeiro ano do ensino médio, antigo segundo grau, no CBNB, em 1975. Um amigo chegou ao colégio no meio do ano letivo, com muitas dificuldades em matemática. Eu o ajudei a tirar as notas necessárias para passar de ano. O fato de eu falar e ele aprender e de ver nele a felicidade de passar de ano foi gratificante.

Ao saber que eu ajudava um amigo de turma, minha mãe indicou-me ao filho de uma amiga. Ele faria uma prova de matemática e conseguiu boa nota depois de algumas aulas comigo. Foi meu primeiro “salário” como professor, minha primeira aula particular, efetivamente. Esse aluno indicou-me a um primo, que estava em recuperação em física. Depois de algumas aulas, ele obteve a aprovação. Pronto: eu me apaixonei por ajudar os outros a aprender.

Ainda no primeiro ano do segundo grau, na minha primeira aula de física, fiquei encantado com o fato de poder realizar medições e descrever objetos sem vê-los — medir a distância da Terra à Lua, a temperatura de uma estrela, o diâmetro da Via Láctea etc. Descrever o átomo sem nunca tê-lo visto e, ainda, descobrir que ele é constituído de partículas e que algumas dessas partículas são constituídas de outras. Juntei o gosto de ajudar os outros a aprender com a fascinação e o encantamento com essa bela e interessante ciência denominada física.

Você vai se aposentar no final de 2016. Qual o saldo da carreira?

— Sinto-me com o dever cumprido. Estudei em escolas públicas e retribuí à sociedade o investimento que ela, a sociedade, fez. Trabalhei tanto em escolas de comunidades quanto de pessoas com condições financeiras privilegiadas, sempre com o mesmo empenho e dedicação. Isso valeu a pena. Tenho a sensação do dever cumprido.

Por que resolveu fazer a palestra no IFRJ sobre a vivência como professor?

— O motivo foi o de realmente poder trocar experiências com futuros professores, falar das glórias, das dificuldades, dos sonhos, das realizações, das decepções. Enfim, 35 anos de estrada efetiva como professor.

Tem alguma mensagem para os estudantes de cursos de pedagogia ou de licenciatura, que serão professores das novas gerações?

— Dediquem-se à carreira que escolheram, tal como se os alunos fossem familiares queridos, sem perder de vista a condição de agentes sociais e sua importância. Outro fator é o de buscar efetivamente seus direitos políticos e trabalhistas, sem se deixar levar pelo “achismo”. Tenham sempre em mente que não é tanto o que vocês falam que ensinam, mas o comportamento e o compromisso com a profissão e com a sociedade que são capazes de ser exemplo. Lembrem-se dos professores que marcaram vocês positivamente. O que eles fizeram para marcar vocês? Façam o mesmo ou, ainda, façam melhor, pois vocês são jovens. E os jovens têm a característica de mudar e, sabendo, podem melhorar ainda mais.

Ao longo de sua vida profissional, constatou alguma mudança no comportamento dos alunos?

— Não vejo uma mudança no aluno, a não ser um imediatismo para respostas sem o devido aprofundamento e reflexões capazes de gerar o conhecimento. Vejo uma mudança em como os tratamos e, consequentemente, como eles reagem. Não acredito que os alunos de hoje tenham coisas mais interessantes em relação aos de antes. No meu tempo de infância e jovem, havia a “pelada” na rua, bolinhas de gude, pião, brincadeiras de pique, cantigas de ciranda e roda etc. Tudo isso era muito mais interessante e prazeroso do que estudar, mas assim mesmo tínhamos de estudar.

Estudar não é um ato natural nem prazeroso, mas aprender é extremamente prazeroso. Quem nunca passou por uma situação, geralmente em matemática, de ficar quebrando a cabeça para resolver um problema e, depois de certo tempo, conseguir resolvê-lo? Daí advém uma satisfação, uma superação que só quem passou pela experiência é que pode descrever. Os alunos de hoje não estão vivendo isso e não estão sendo devidamente cobrados.

Atualmente, há outro fator preponderante: a maioria dos pais trabalha ou os jovens não têm pai ou mãe, ou ambos, próximos. As famílias têm outras estruturas. Isso interfere diretamente na aprendizagem e na formação do caráter do jovem, o que se reflete no comportamento do aluno na sala de aula. Mas acho que o professor não é capaz — e nem deve — de suprir essa dificuldade. A sociedade, através de mecanismos dos estados e municípios, pode auxiliar melhor as famílias modernas, com os conselhos tutelares e agentes de assistência social, caso realmente essa desestruturação familiar ou social esteja interferindo na aprendizagem do aluno.

No interior do Piauí, a mãe de um estudante tornou-se alcoólatra ao ser abandonada pelo marido. Isso afetou o comportamento e a aprendizagem do filho. Com o apoio do conselho tutelar, ela deixou de beber e aprendeu uma profissão. O estudante voltou à escola e, consequentemente, seu rendimento melhorou. Outro caso, esse com maior visibilidade, ocorreu na Escola Estadual Augustinho Brandão, no município de Cocal dos Alves, na zona rural do Piauí. Era grande a dificuldade em convencer os pais, que queriam os filhos na lavoura, que o melhor para os jovens era estudar. Hoje, a escola é referência nacional.

Quais os planos para depois da aposentadoria?

— Estarei à disposição dos institutos que tenham cursos de licenciatura para uma troca de experiências com os futuros professores. Pretendo estudar física por conta própria e me dedicar à dissertação de mestrado que conclui em 2012, cujo tema é Cinemática das Corridas de Atletismo. Nela, com o meu orientador, o professor Carlos Eduardo Magalhães, é desenvolvida uma expressão matemática que permite a obtenção de parâmetros relevantes sobre um atleta, possível atleta ou pessoa comum. No caso de ser um atleta ou possível atleta, esses parâmetros são relevantes no seu desempenho.

É possível, nos estudos que pretendo desenvolver, ser aberta a possibilidade de fazer outros cursos, talvez um de doutorado. Sei que não vou parar de estudar e que não pretendo mais lecionar no ensino médio, pois sinto um distanciamento entre minha linguagem e a dos alunos. Ou seja, não estou conseguindo realizar o sonho do começo, lá em 1975, como eu gostaria e desejaria. Outra decisão importante é a de me dedicar à família.

Saiba mais sobre o Colégio Brigadeiro Newton Braga

Ensinar é missão para moradora de comunidade quilombola na Bahia

Professora Jailde e alunos na sala de aula

Moradora do Quilombo Jiboia, no município baiano de Antonio Gonçalves (11 mil habitantes), a professora Jailde Lima da Silva tem a oportunidade de lecionar na Escola Municipal Araguacy Gonçalves, na própria comunidade. “Sou filha deste quilombo”, diz. “Eu me sinto feliz e realizada como professora de uma comunidade que retrata minha identidade.”

Para Jailde, ser professora, além de vocação, é missão. “Ensinar aos filhos de minha terra é um compromisso com meu povo, que teve seus direitos negados ao longo de suas vidas”, diz. “Sinto na pele o que é ser filha de pais analfabetos, que não tiveram a oportunidade de frequentar uma escola, não por escolha, mas por ter esse direito negado durante muitos anos.”

Além da escola Araguacy Gonçalves, que tem 85 alunos matriculados no ensino fundamental e na educação de jovens e adultos e 32 no Projovem Campo – Saberes da Terra, o quilombo conta com a Escolinha Chapeuzinho Vermelho e uma extensão do Centro Territorial Piemonte Norte do Itapicuru (Cetep), que oferece cursos profissionalizantes. O Projovem Campo é um programa nacional de fortalecimento e ampliação do acesso e da permanência de estudantes no sistema formal de ensino. São atendidos, basicamente, jovens agricultores familiares na faixa etária de 18 a 29 anos.

De acordo com a professora, a escola quilombola inclui em sua proposta político-pedagógica a valorização da cultura local, o que a torna diferente. “Ela trabalha de fato com a identidade do povo quilombola, respeita a cultura, a religiosidade, os saberes e fazeres da comunidade, e não trata as relações étnicas e raciais como folclore, apenas nas datas comemorativas”, analisa.

Oportunidades — Segundo Jailde, é possível perceber um avanço significativo na comunidade. “A educação abriu vários caminhos e oportunidades; eu sou prova real dessa mudança”, afirma a professora, que tem graduação em pedagogia e especialização em gestão escolar. “Quatro filhos da comunidade conseguiram cursar uma faculdade, passar em um concurso público e ser efetivados”, diz. “Ainda é muito pouco, mas são conquistas que minha mãe não teve.”

As oportunidades de acesso à escola, abertas atualmente a crianças e jovens, são destacadas pela professora baiana. Ela cita itens como o transporte escolar e o livro didático, oferecidos gratuitamente pelo Ministério da Educação. “Na minha infância, não havia escola; eu frequentava uma casa de família, onde eram reunidas crianças com idade acima de oito anos para serem alfabetizadas”, relembra. Como a professora era sua madrinha, ele pôde participar desses encontros a partir dos dois anos, acompanhando os irmãos. “Meus pais trabalhavam na roça, e não tinha quem cuidasse de mim”, revela. O resultado é que Jailde conseguiu se alfabetizar aos cinco anos. Há 15 anos no magistério, ela leciona as disciplinas de história, geografia, sociologia e filosofia para estudantes do Projovem Campo. (Fátima Schenini)

Educadora defende fortalecimento de escolas e comunidades do campo

Professora Ruti e alunos na sala de aula

Prestes a completar 30 anos de magistério, a professora Ruti Kniest fala do início da carreira, em uma escola rural do município gaúcho de Montenegro. “Diante da realidade de uma escola multisseriada, sem infraestrutura física e humana, eu acreditava, naquela época, que essas escolas deveriam ser fechadas e seus alunos, transportados para escolas maiores, próximas à cidade”, lembra Ruti.

Após três décadas e diferentes experiências profissionais, a professora pensa de forma diferente. “Ao contrário, considero necessário que os órgãos públicos fortaleçam as escolas e as comunidades com uma política séria de recursos físicos e humanos”, enfatiza.

Desde 2013, Ruti leciona na Escola Municipal de Ensino Fundamental Etelvino de Araújo Cruz, na área rural, a 30 quilômetros da sede do município. A opção da professora pela escola deve-se ao destaque obtido pela unidade de ensino no processo de construção, resgate e valorização da identidade cultural da comunidade na qual está inserida.

A instituição tem 280 alunos, matriculados em turmas da educação infantil até o nono ano do ensino fundamental. E conta com 25 professores e quatro funcionários. “Meus colegas e eu temos formação superior; quase todos são especialistas em alguma área educacional”, diz. “Alguns têm mestrado em educação.” De acordo com a professora, é uma realidade diferente daquela vivenciada no início da carreira.

Com graduação em pedagogia, pós–graduação em gestão educacional (supervisão e orientação) e vários cursos na área de alfabetização, Ruti trabalha com turmas do primeiro ao terceiro ano do ensino fundamental. Para ela, a tarefa da professora que atua com alunos dessas turmas é aproximar o conhecimento escolar das vivências do mundo infantil. “É estimular a criatividade, a curiosidade, a alegria de conhecer coisas novas, mas também a possibilidade de valorizar os conhecimentos e as vivências da comunidade”, diz. Ela enfatiza a necessidade de estimular as crianças a conhecer e apreciar suas raízes. Quando forem adultas, elas poderão olhar com orgulho para sua origem e sua história. “A cor e o sabor das aulas dependem da nossa curiosidade em buscar”, afirma. “Em olhar para o mundo que está a nossa volta, em nunca deixar de ter curiosidade e buscar conhecimento.”

Ruti mostra satisfação ao trabalhar com duas colegas que foram suas alunas. “São meninas do interior, que levaram os sonhos adiante, buscaram aperfeiçoamento profissional em especializações e mestrado”, diz. “Hoje, voltam para a sua localidade para continuar o ciclo de construir caminhos para aqueles que vêm. Neste sentido é que tenho esperança no futuro.”

As crianças da área rural, hoje, segundo a professora, têm mais possibilidades de avançar e escolher o local de atuação, na cidade ou no campo, com respeito à própria história de vida. “É esse movimento que faz as gerações evoluírem.” (Fátima Schenini)

Amor pelo ensino adia aposentadorias

Professora Sueli Figueiredo Cotta

Na Escola Municipal Pedro Moacyr, em Padre Miguel, bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro, sete professoras já ultrapassaram o tempo de serviço necessário para a aposentadoria, mas continuam em atividade. Em uma idade na qual a maioria das pessoas está descansando, elas continuam à frente de turmas de alunos do ensino fundamental, curiosos e irrequietos.

A decana é Sueli Figueiredo Cotta, 68 anos. Regente de duas turmas de primeiro ano, ela diz que o trabalho de professor representa encantamento. “Quando vejo a criança despertar para o aprender, é mágico”, destaca Sueli. Para ela, que se considera graduada, pós-graduada e com doutorado em saber lidar pedagogicamente com crianças, adolescentes e adultos, ser uma boa professora é como fazer um bolo sem receita. “Vou colocando meus ingredientes a gosto, na medida desejada.”

“Este ano, ouvi muitas vezes que estou velha, que já sou uma senhora, dando ao ‘senhora’ um peso que ainda não sinto”, ressalta Sueli. “Gente ‘caçula’, que vive lembrando a idade dessa ‘velha senhora’: calma! Estou dentro da lei”, destaca a professora. Ela está certa. O limite de idade para a aposentadoria compulsória dos servidores públicos é de 70 anos.

Vocação — Maria de Fátima Barbosa Ferreira, 64 anos, no magistério há 38, gosta muito de seu trabalho. “Ser professora significa ajudar a transformar o aluno em um cidadão consciente de seus direitos e deveres”, salienta. De acordo com ela, não há segredo para ser uma boa professora, mas é preciso ter vocação, estudar sempre e estar aberto a mudanças. “É fundamental acompanhar as transformações que surgem na área do ensino-aprendizagem”, avalia. Outro ponto importante, segundo ela, é usar o diálogo e o bom senso. “É muito importante ouvir o aluno.”

Com graduação em letras (língua portuguesa) e pós-graduação em literatura e em docência do ensino superior, Fátima leciona a uma turma de primeiro ano. Ela ainda não sabe o que vai fazer quando se aposentar. “Talvez passear mais, fazer alguma atividade prazerosa”, diz.

Comportamento — O encanto despertado pela alfabetização dos alunos e o acréscimo ao salário de professor gerado pelo Programa de Abono de Permanência (PAP) são os elementos que contribuem para a permanência de Branca Azaléia Lima no magistério. Com 62 anos, 37 de carreira, ela atende este ano a uma turma de terceiro ano.

“O segredo para ser uma boa professora é gostar do que faz e estar sempre estudando”, diz Branca. Quando se aposentar, ela pretende trabalhar com adultos que não tiveram oportunidade de aprender a ler e escrever. “Estou me preparando para isso; descansar, só quando morrer.” Graduada em letras (língua portuguesa e literatura), ela tem pós-graduação em coerência e coesão dos textos escolares. (Fátima Schenini)

Magistério é atividade árdua, mas bela, diz professor capixaba

Professor Pedro Antonio Galli

Professor há 36 anos, o capixaba Pedro Antonio Galli diz que o magistério é uma das atividades mais apaixonantes e gratificantes que existem. “Árdua, sem dúvida, mas indiscutivelmente bela”, ressalta Galli, que dá aulas de artes, matemática e estatística para alunos do ensino médio na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Eurico Salles, em Itaguaçu (ES).

“Ser professor é um papel insubstituível no processo da transformação social. Além de ensinar, é saber viver, conviver, respeitar o próximo e aprender com ele”, analisa Galli. Ele explica que sua relação com o magistério começou cedo, pois suas irmãs eram professoras. “Para minha família, ser professor, mais do que uma tradição, é uma vocação”, avalia.

Contemplado quatro vezes com o Prêmio Sedu: Boas Práticas na Educação, iniciativa da Secretaria de Educação do Estado do Espírito Santo para valorizar os profissionais da educação pública estadual, Galli diz que procura desenvolver metodologias que despertam o interesse dos estudantes. “Busco sempre adequá-las para tornar a aprendizagem significante e satisfatória, melhorando minha prática, oferecendo o que há de melhor aos meus alunos, para formar cidadãos mais conscientes na comunidade na qual estão inseridos.”

Ele costuma trabalhar com projetos que agregam várias disciplinas. “Amplio minha visão de conteúdos para além dos conceitos, inserindo procedimentos, atitudes, valores e recursos didáticos que visam desenvolver a ligação dos conceitos teóricos com a realidade vivenciada no dia a dia, constituindo fator de motivação e de facilidade de assimilação”, ressalta.

Com licenciatura em matemática e ciências e vários cursos de especialização, Galli leciona na Eurico Salles desde 1982. “Fui professor de 75% dos professores que trabalham atualmente na Eurico Salles”, revela. “Procuro interagir com os colegas de profissão, me colocando numa atitude mais atenta e receptiva, de forma que possamos trocar informações e experiências para enriquecer nossas aulas.”

Para os novos professores, Galli tem um recado: “A tarefa de ensinar é difícil, porém gratificante e exige muitas leituras.” Além disso, enfatiza, é preciso quebrar uma série de paradigmas, pois a docência vai além de somente dar aulas. “Ela oferece oportunidades aos alunos para construir e reconstruir conhecimentos.” (Fátima Schenini)

Conheça o Prêmio Sedu: Boas Práticas na Educação

Educadora fluminense lança mais um livro infantil

Professora Renata Nalim Basilio Tissi

Professora da rede estadual de educação do Rio de Janeiro, com dois livros publicados, Renata Nalim Basilio Tissi acaba de lançar mais uma obra. É o livro infantil Mel e a Borboleta Azul, publicado pela Editora Multifoco, selo Minifoco (dedicado a publicações infantis). A obra fala sobre as descobertas feitas por um grupo de amigos no jardim da casa da menina Mel.

No ano passado, Renata lançou As Partes do Ipê-Amarelo, para estudantes do ensino fundamental e, em 2013, A Floresta Encantada, de literatura infantil. “Pretendo continuar escrevendo e produzindo material que possa auxiliar o professor na sala de aula”, ressalta a professora.

Há sete anos no magistério, Renata leciona no Colégio Estadual Deodato Linhares, no município fluminense de Miracema (26,6 mil habitantes). Ela dá aulas de física a alunos do primeiro e do segundo anos do ensino médio.

Com licenciatura em matemática, a professora cursa agora licenciatura em ciências biológicas. Nos seus planos está um curso de mestrado, a ser iniciado em 2016. (Fátima Schenini)

Carmensita Matos Braga Passos (UFC): “A formação de qualidade é imprescindível para o professor”

Professora Carmensita Matos Braga Passos

A professora Carmensita Matos Braga Passos diz que o professor não nasce pronto. “A docência é uma profissão, como as demais, que demanda uma formação adequada”, enfatiza. “A formação de qualidade é imprescindível.” Com graduação em pedagogia, mestrado e doutorado em educação, professora do Departamento de Teoria e Prática de Ensino da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC), Carmensita coordena o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid), na UFC, desde 2011. Desde 2007, é tutora do Programa de Educação Tutorial (PET), de pedagogia, responsável pela orientação de bolsistas na realização de atividades de ensino, pesquisa e extensão. (Fátima Schenini)

Quais as qualidades necessárias para ser um bom professor?

— Para ser um bom professor é necessário ter o que chamo de relação ética e afetiva positiva com a profissão: gostar de ser professor, escolher essa profissão, ter compromisso com a aprendizagem dos alunos, encantar-se com a sala de aula, ter prazer em atuar como docente. É indispensável, para um bom professor, dominar os conhecimentos com os quais vai trabalhar, compreender seu papel na formação do estudante, na relação com as demais áreas do saber, abordando-os de forma contextualizada, dinâmica, na direção do desenvolvimento de aprendizagens significativas, não apenas na perspectiva da memorização. O professor também demanda uma formação pedagógica que proporcione a compreensão das perspectivas histórica, filosófica, psicológica e social da educação, de tal forma que essa compreensão permita uma ação–inserção docente crítica e criativa.

Compreender a dimensão política da docência no mundo contemporâneo, assim como posicionar-se diante das políticas educacionais que cercam o desempenho da profissão docente, é mais um aspecto fundamental para um professor de qualidade. Cabe destacar que um bom professor não se “faz” apenas a partir de qualidades intrínsecas do profissional. São necessárias políticas educacionais amplas, que envolvam valorização docente, por meio de formação inicial e continuada de qualidade, condições de trabalho, carreira e salário dignos, coerentes com a complexidade do trabalho que o professor desenvolve.

Um bom professor já nasce pronto? Qual o papel das instituições superiores de ensino na formação de bons professores?

— O professor não nasce pronto. A docência é uma profissão, como as demais, que demanda uma formação adequada. Vez por outra, ouço estudantes admitirem nunca ter pensado em ser professores. No entanto, por alguma circunstância, ingressaram em curso de licenciatura e com ele estão se identificando. Também me deparo com estudantes que desde cedo mostraram a disposição de ser professores. Tanto num caso quanto no outro, a formação de qualidade é imprescindível.

No processo de formação docente, o papel das instituições formadoras é propor experiências curriculares que proporcionem:

• A integração entre universidade e escola básica para favorecer a interação entre teoria e prática.

• O desenvolvimento da capacidade de refletir e investigar a ação docente como requisito de um constante aperfeiçoamento.

• O acesso às artes e aos bens culturais.

• O desenvolvimento da autonomia.

• A inclusão e o atendimento à diversidade.

• A compreensão crítica da escola e seu contexto sócio-histórico-cultural.

• A formação pedagógica para criar, planejar, executar, gerir e avaliar situações didáticas.

• A flexibilidade curricular e a abordagem interdisciplinar.

• A utilização crítica e criativa das tecnologias digitais.

• A compreensão da dimensão ética, social, política, cultural e econômica da profissão, assim como seus fundamentos psicológicos, pedagógicos, históricos e filosóficos.

• O posicionamento crítico em relação à legislação que orienta e organiza os sistemas de ensino.

Não é tarefa simples. É um desafio de grande amplitude. Também não se pode pensar essa formação restrita à sala de aula, senão articulada a experiências diversas, ligadas à pesquisa e à extensão.

O Pibid tem contribuído para a formação de bons professores?

— Sou coordenadora institucional do Pibid na UFC desde 2011. Tem sido uma experiência gratificante. Digo isso com base no retorno que tenho dos bolsistas de iniciação à docência, dos supervisores, dos coordenadores de subprojetos e dos diretores das escolas em que o Pibid está inserido. Dentre as principais contribuições do programa, destaco:

• O estreitamento da relação teoria e prática, por meio da inserção do futuro professor no contexto escolar.

• A compreensão da profissão docente e dos saberes necessários ao seu exercício.

• O questionamento e a reflexão a partir de experiências na realidade escolar.

• A relação colaborativa com a escola básica, em que os diferentes sujeitos e instâncias são valorizados e se beneficiam da parceria.

• O aumento da autoestima e do interesse dos estudantes de licenciatura em relação ao exercício da docência.

• O planejamento e a realização das atividades (artísticas, lúdicas, visitações, oficinas, utilização de metodologias e material didático diversificado, sessões de estudo) que proporcionem melhoria e superação na formação de todos os sujeitos implicados no projeto (licenciandos, professores das licenciaturas, professores e estudantes da escola básica).

• O incentivo à produção de conhecimentos por meio da participação de bolsistas de iniciação à docência e professores supervisores em eventos acadêmico-científicos.

• O desenvolvimento da capacidade de expressão oral e escrita.

• A busca de efetivação de um trabalho interdisciplinar.

• O esforço para o desenvolvimento de novos hábitos de trabalho, em que o isolamento seja substituído pelo diálogo, colaboração e aprendizagem mútua.

• A formação continuada dos professores da escola básica (supervisores) e dos professores da universidade (coordenadores de área).

A senhora atua há cerca de 20 anos na área de formação de professores. Nesse período, a procura pela carreira do magistério continuou igual, diminuiu ou aumentou?

— Apesar da falta de dados estatísticos, acredito que cresceu, mas não na mesma proporção da necessidade da escola básica. Tempos atrás, era impensável uma bolsa para estudantes de licenciatura, mas havia o Pibic [Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica], que contemplava os bacharelados e a pesquisa. Hoje, temos o Pibid e outras políticas de incentivo à formação docente, que precisam ser mantidas, fortalecidas e ampliadas. Os cursos de licenciatura têm uma identidade mais fortalecida. Ainda temos muito o que caminhar em direção a um incremento quantitativo e qualitativo de professores.

O que é preciso fazer para estimular o interesse dos jovens pela carreira do magistério?

— Temos, sim, necessidade de mais professores, bem formados. Estimular os jovens para o magistério passa por aspectos já apontados aqui. A carreira docente não é valorizada socialmente. É só vermos como são remuneradas outras carreiras para as quais se exige o mesmo nível de formação. A valorização dos professores continua povoando os discursos. Somos ainda herdeiros de uma compreensão de docência como sacerdócio, doação, voluntariado. Como profissionais, os professores merecem salários, carreira e condições de trabalho coerentes com as exigências feitas ao seu trabalho. Então, é um conjunto de fatores. Não adianta uma excelente formação, se o exercício da profissão desencanta e desvaloriza o professor. Assim como não serão suficientes excelentes condições de trabalho onde se insere um professor com uma formação precária. O incentivo à carreira docente envolve qualidade na formação, condições de trabalho adequadas e um projeto de carreira que incentive a ascensão.

Para a senhora, o que significa ser professora?

— Ser professora é uma parte significativa da minha vida, é a profissão que escolhi e que exerço com alegria, prazer e compromisso. Ser professora é emocionar-se com a superação do aluno, seu progresso, seu avanço, seu sucesso. É ter consciência da intervenção que fazemos na vida dos nossos estudantes, e por isso é fundamental cuidar de cada aula, de cada assunto trabalhado, de cada metodologia escolhida e cada instrumento avaliativo aplicado. É ter compromisso com a aprendizagem, com a formação do estudante. O professor não pode ser um “dador” de aula que expõe um conteúdo e acha que cumpriu seu papel. Para além disso, ser professor pressupõe contribuir para que esse conteúdo se transforme em aprendizagem. É claro que nesse percurso esbarramos com dificuldades, problemas, decepções, desânimo. Mas onde estaremos isentos disso? Como nos tornaremos melhores senão por meio do enfrentamento desses desafios?

Decidi ser professora ainda durante o que hoje denominamos de ensino médio, antigo segundo grau. Comecei a dar aulas com 17 anos. Concluído o segundo grau, ingressei no curso de pedagogia.

Aos jovens professores deixo uma mensagem de esperança. Invistam na formação, permanentemente. Comprometam-se com a formação dos alunos. Lutem pela valorização da profissão e por melhores condições para o exercício da docência. E trabalhem com prazer e alegria, com consciência dos desafios!

Saiba mais sobre a Faculdade de Educação da UFC

Saiba mais sobre o Pibid

Saiba mais sobre o PET