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JORNAL

Semana Nacional de Ciência e Tecnologia-2015

Terça-feira, 10 de Novembro de 2015

Edição 119

EDITORIAL - Semana Nacional de CIência e Tecnologia-2015

A Semana Nacional de Ciência e Tecnologia-2015 é o assunto da 119ª edição do Jornal do Professor. Realizada no período de 19 a 25 de outubro, em 706 municípios brasileiros, a SNCT teve como tema Luz, Ciência e Vida. Participaram do evento, coordenado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), 2401 instituições.

A 13ª edição da SNCT – de 17 a 23 de outubro de 2016 – irá abordar o tema Ciência alimentando o Brasil.

Para este número, selecionamos alguns projetos apresentados na exposição realizada em Brasília, no Pavilhão de Eventos do Parque da Cidade. Eles são da Universidade de Brasília; do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília (IFB), campus do Riacho Fundo; da Escola Classe 614, de Samambaia; e da Escola Classe 61 de Ceilândia.

Os entrevistados são dois professores do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP): Fuad Daher Saad e Mikyia Muramatsu.

A professora Gersony Volpe, do Centro de Ensino do Lago Norte, no Distrito Federal, está na seção Espaço do Professor.

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

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Projeto da UnB atrai mulheres para os cursos de computação

Professores Maristela, Carlos Alberto e Aletéia no estande da UnB

O século 21 inaugurou uma mudança no mundo das brincadeiras e do desenvolvimento da criatividade. Meninos e meninas descobriram possibilidades de diversão e de criação acessíveis em telefones celulares, tablets e computadores. Porém, na fase adulta, o mundo virtual e a curiosidade em explorar uma série de recursos tecnológicos parecem menos atrativos para as meninas. Por consequência, no momento de decidir a carreira profissional, elas pouco se interessam pelos cursos relacionados à área da computação.

Essa constatação levou três professores do Departamento da Ciência da Computação da Universidade de Brasília (UnB) a criar um projeto, em parceria com escolas públicas do Distrito Federal, destinado a atrair as mulheres para esse campo de conhecimento. Desde 2010, o projeto Meninas na Computação (meninas.comp) incentiva projetos de programação e desenvolvimento de softwares em escolas do ensino médio e mostra que a escolha da profissão independe de gênero. Professores e alunas do projeto apresentaram a questão ao público na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, realizada em Brasília, de 19 a 25 de outubro último.

“Nosso objetivo é ampliar o número de mulheres na graduação”, explica a professora Maristela Terto de Holanda, uma das coordenadoras do projeto da UnB. Por isso, o slogan reforça a ideia de que “computação também é coisa de meninas”. Estudo de 2014 da UnB, orientado pelo professor Jan Mendonça Correa, apontou, com base em dados do Centro de Seleção e Promoção de Eventos (Cespe), que apenas 10% do total de alunos que ingressaram nos cursos de ciência da computação, licenciatura em computação e engenharia da computação são do gênero feminino.

Desigualdade — Essa desigualdade de gêneros é verificada na prática pela professora Aletéia Patrícia Favacho de Araújo, também coordenadora do projeto. “Na minha turma do segundo semestre de 2015, dos 55 alunos, há apenas uma mulher”, diz. Ela acredita em influência cultural para a representatividade menor de mulheres no campo da computação, realidade do Brasil e de outros países. Por isso, projetos como o da UnB também são desenvolvidos por universidades brasileiras e estrangeiras e contam com o incentivo das grandes empresas de informática, interessadas em profissionais mulheres na criação de softwares voltados para o público feminino.

As professoras explicam que não há motivo para essa diferença de gênero, uma vez que as mulheres podem ser tão boas ou melhores do que os homens no campo da computação. No início da computação, no período pós-Segunda Guerra Mundial, elas ocupavam posições de destaque na indústria computacional. Entre as mulheres de sucesso na computação, são exemplos Ada Lovelace, considerada a primeira programadora da história, reconhecida por ter escrito o primeiro algoritmo a ser processado por uma máquina, e Grace Hopper, a primeira programadora da Harvard Mark I, conhecida como a Mãe de Cobol. Ou seja, de uma linguagem de programação para o processamento de banco de dados comerciais.

Robôs — O projeto Meninas na Computação apoia atualmente oficinas de programação, criação de softwares e robótica no Centro de Ensino Médio Paulo Freire, em Brasília. O professor de matemática Carlos Alberto Jesus de Oliveira é o responsável pelas atividades do projeto na escola, com aulas duas vezes por semana, em turno e contraturno. Sete alunas participam. “São as melhores alunas de matemática”, afirma. “Nosso objetivo é trabalhar a linguagem de programação, que engloba raciocínio lógico, e estruturação de dados.” De acordo com o professor, as alunas devem criar um software capaz de controlar os movimentos de um robô.

Um dos trabalhos desenvolvido pelas estudantes é a Casa Inteligente, que usa sensores para controle de luz e emissão de gás. Sem movimento de pessoas nos cômodos da casa, as luzes são automaticamente desligadas. Em caso de vazamento de gás, o sistema também é desligado e o dono da residência é avisado por mensagem. Todo esse sistema é alimentado por uma placa solar construída com lâmpadas de led, que consomem menos energia. Tudo feito pelas alunas. “Com esse projeto de automação residencial, é possível reduzir o gasto com energia elétrica e aumentar a segurança”, diz Carlos Alberto.

Os materiais usados pelas alunas são comprados com recursos obtidos pelo projeto da UnB. As estudantes também são convidadas a visitar os laboratórios de computação, de bioinformática e de engenharia da universidade.

Desafio — Ana Júlia Luziano Briceño, 15 anos, aluna do primeiro ano do ensino médio, pensava em cursar ciência política, mas depois de participar do projeto está decidida a disputar vaga em mecatrônica. “Comecei a mexer com os robôs e agora quero continuar”, diz. “É um campo bastante desafiador, que exige esforço e várias tentativas para dar certo.”

Annelise Schulz dos Santos, 20 anos, decidiu pela área da ciência da computação depois de conhecer o projeto e participar de oficina durante a Semana Universitária na UnB, em 2013. A paixão pela computação vem desde que ela era pequena, mas o interesse pendia mais para os recursos do que pelas brincadeiras. “Eu gostava de escrever livros usando programas como o PowerPoint”, revela. “Organizava minha agenda no Excel, fazia amigos em chats on-line, assistia a vídeos de receita, fazia atividades em websites dos meus programas de TV preferidos, várias coisas além de só entretenimento.”

No momento, a estudante é bolsista do programa Ciência sem Fronteiras na City University of New York. Ela está otimista em relação às perspectivas de trabalho. “Não só há espaço, como há necessidade; precisamos de mentes criativas e inteligentes, que não são privilégios só masculinos”, comenta. Segundo Annelise, por falta de incentivo das escolas e das famílias, muitas meninas não sabem o que um cientista da computação faz. “E desconhecem o grande leque de oportunidades que essa profissão oferece”, afirma. “Então, pela falta de conhecimento e pela intimidante quantidade de homens, acabam seguindo carreiras mais conhecidas e misturadas.” (Rovênia Amorim)

Professores de instituto federal apostam na produção de cervejas

Professores e público no estande do IFB

As cervejas artesanais produzidas no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília (IFB), campus do Riacho Fundo, com produtos típicos do cerrado, têm despertado a atenção dos brasilienses. Além de provocar a curiosidade do público em geral, elas têm atraído o interesse de donos de restaurantes, que buscam a instituição para saber mais sobre as bebidas e a possibilidade de adquiri-las.

O projeto de produção de cervejas foi criado há cerca de um ano por três professores do instituto, Adriano Pereira Tavares e Ramon Garbin, graduados em gastronomia, e Tatiana Rotolo, formada em filosofia. Estudiosa do assunto e cervejeira artesanal desde 2010, Tatiana foi procurada pelos dois colegas interessados em produzir tipos da bebida. “O que fiz foi trazer algo que desenvolvia como hobby, na minha vida pessoal, para dentro do ambiente profissional, ampliando os conhecimentos sobre o tema no campus.” Hoje, além das aulas de filosofia, ministra workshops de produção da bebida e oficinas de degustação de cervejas artesanais. “Foi um achado, a Tatiana estar em nosso campus”, destaca Ramon. “Foi uma feliz coincidência”, diz Tatiana.

A aprovação do projeto no concurso Fábrica de Ideias Inovadoras (Fabin), promovido pelo IFB para estimular a criatividade entre servidores, estudantes e egressos, proporcionou os recursos necessários para a aquisição de equipamentos e insumos. O instituto tem agora um grupo de pesquisas dedicado a esse tema, o laboratório de estudos da cerveja, composto por professores, técnicos e duas alunas que recebem apoio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Livro — Uma das pesquisas em desenvolvimento está relacionada ao reaproveitamento do bagaço do malte que sobra da elaboração da cerveja para empanar alimentos. “Fica muito mais crocante”, diz Tatiana. “O próximo passo é escrever um livro, que vai enfocar a cerveja como uma parte importante da gastronomia”, explica a professora, graduada em filosofia e doutora em ciência política.

As cervejas produzidas até o momento são a pale ale com seriguela, a blond ale com umbu, a irish red ale com pimenta-bode, a dubbel com doce de buriti, a amber ale com mangaba e, ainda em processo de maturação, a wit beer com limão-cravo e favacão, espécie de manjericão com folhas graúdas.

Produção — Ramon dá aulas de panificação e confeitaria no curso técnico em panificação e faz o curso de mestrado em turismo. Com pós-graduação em docência, Adriano leciona as disciplinas de cozinha internacional e de alimentos e bebidas no curso técnico em cozinha. Nesta última, ele incluiu a aula prática de produção de cerveja.

Durante exposição da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, realizada em Brasília, em outubro último, a produção de cerveja foi um dos destaques. No espaço destinado ao campus do Riacho Fundo do IFB, no estande do Ministério da Educação, os três professores realizaram oficinas sobre o tema, com degustação das cervejas artesanais.

Vocacionado para as áreas de turismo, hospitalidade e lazer, o campus do Riacho Fundo oferece curso de graduação com licenciatura em letras (língua inglesa) e cinco cursos técnicos subsequentes, destinados a quem já concluiu o ensino médio: técnico em administração, técnico em cozinha, técnico em logística, técnico em meio ambiente e técnico em panificação. São oferecidos ainda os cursos profissionalizantes, de curta duração, de avaliador de imóveis, de espanhol e de inglês. (Fátima Schenini) (Matéria republicada com correções de informações)

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Utilização do lápis motiva professora a desenvolver projeto pedagógico

Professora Delzanira Castelo Branco

Em meio à popularização das novas tecnologias do escrever, o lápis sobrevive entre tablets, laptops e celulares. Nas salas de aulas das escolas brasileiras, é material obrigatório no estojo dos estudantes. No entanto, diante de tantas inovações no mundo da escrita, acaba por ter sua importância esquecida, bem como todos os saberes envolvidos no seu uso correto. A experiência em turmas de alfabetização levou a professora Delzanira Maria Monteiro Castelo Branco a “escrever” o projeto Na Ponta do Lápis. Ela leciona na Escola-Classe 61, de Ceilândia, região administrativa do Distrito Federal, a 30 quilômetros do Plano Piloto de Brasília.

Além da forma correta de segurar o lápis, o que evita calos e dores na mão, o projeto, amplo, aborda questões de sustentabilidade ambiental, tecnologia, ciência e artes. “A falta de cuidado com o lápis, o desperdício na hora de apontar e a banalidade, tudo provocou uma inquietação”, explica a professora. Segundo ela, muitos professores não corrigem no momento adequado a empunhadura do lápis, o que compromete a coordenação motora fina. “O lápis é uma ferramenta concreta, permite o toque, o manuseio, uma ação palpável diretamente ligada aos movimentos da mão”, afirma. “Esse processo, até então, a tecnologia não consegue reproduzir.”

Na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, em Brasília, os alunos da professora, todos na faixa dos sete anos de idade, davam aulas aos curiosos que visitavam o estande da escola. A pequena Emilly Sophia Souto Maior Silva precisou subir numa cadeira para alcançar o cartaz que mostrava o ciclo de fabricação do lápis, desde o corte do pinus em plantios de corte controlado. Para as crianças entenderem esse processo, a professora recorreu a vídeos que mostram a fabricação dos chamados ecolápis.

Segundo a professora, mesmo que os lápis sejam fabricados a partir de árvores plantadas para isso, as crianças aprendem sobre o consumo consciente e o compromisso com a sustentabilidade. Sentado atrás de uma pequena mesa, no fundo do estande, Jhonata Davi, também da turma do segundo ano, explicava sobre o uso responsável do lápis e a importância de evitar o desperdício. “Qual o maior inimigo do lápis: o homem ou o apontador?”, perguntava, no final da aula sobre consciência ambiental.

Coleta — Para conscientizar os alunos sobre o desperdício, as crianças receberam a missão de, em duas semanas, recolher lápis no chão e nas lixeiras da escola. Eles conseguiram juntar mais ou menos três caixas de lápis de 12 cores. Muitos eram grandes e deveriam estar nos estojos, não no lixo. A tarefa de coleta permanece, mas agora como hábito, em prol do meio ambiente. Os lápis são reutilizados por professores e alunos.

A partir da experiência bem-sucedida do projeto, a professora pensa em ampliá-lo. Ela explica que muitos pais não sabem e não são informados sobre a importância de comprar o lápis no formato adequado à etapa de desenvolvimento de coordenação motora fina em que a criança se encontra. A tecnologia, de acordo com Delzanira, incorporou-se no lápis para acompanhar essas etapas. Por isso, eles existem em formatos variados. “O ideal para crianças até cinco anos é o uso do lápis triangular grosso porque permite o encaixe correto dos dedos e facilita a flexibilidade e manuseio”, explica. Na sequência, vem o triangular fino, o hexagonal grosso, o hexagonal fino e o circular ou redondo, que é o último formato indicado.

“Quero continuar a pesquisa para saber, com mais segurança, a relação do uso de diferentes tipos e formatos de lápis no processo de desenvolvimento da escrita”, diz Delzanira. Ela é formada em pedagogia, com especialização em gestão educacional e empresarial, com docência para o ensino superior. (Rovênia Amorim)

Poesia ilustrada é um dos temas de projetos em escola do DF

Professora Dilma Inês Lucas da Silva

Há seis anos à frente de uma sala de recursos para estudantes com deficiência intelectual, física e autismo, a professora Dilma Inês Lucas da Silva desenvolve projeto pedagógico com bons resultados. Os alunos têm como tarefa ilustrar poemas lidos nas aulas. “Leio para os alunos, e eles dizem o que entenderam”, diz. “Os que sabem ler, leem sozinhos; depois, todos fazem ilustrações relacionadas aos temas abordados nas poesias.” No projeto, Eu Escrevo, Tu Ilustras e Nós Poetizamos, Dilma Inês usa poesias escritas por ela mesma.

Participam do projeto, na Escola-Classe 614, em Samambaia, região administrativa do Distrito Federal, 12 alunos, de 6 a 15 anos de idade. Eles frequentam classes regulares em diferentes turmas do primeiro ao quinto ano do ensino fundamental e são atendidos por Dilma Inês no período do contraturno.

O projeto foi apresentado na exposição da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, realizada em Brasília, em outubro último. Os trabalhos dos estudantes foram expostos ao público. “Eles ficam felizes quando os trabalhos são vistos por outras pessoas”, diz a professora. “Saber que os trabalhos serão expostos motiva os alunos a participar.”

Além disso, Dilma Inês acredita que a exposição dos trabalhos ajuda as pessoas a entender que os alunos especiais também podem compreender a linguagem poética, se forem orientados para isso. “É importante mostrar que alunos especiais também são capazes”, defende. Com graduação em psicologia e pós-graduação em desenvolvimento humano e educação inclusiva, ela está no magistério há 30 anos.

A Escola-Classe 614 de Samambaia participa regularmente das exposições da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia e de outros eventos similares. “A participação é importante porque o aluno sente-se parte do conhecimento e percebe o significado da aprendizagem”, salienta a diretora da instituição, Julimar Urany Camargo. “Além de uma aprendizagem significativa, proporciona o despertar para novos conhecimentos.” Formada em pedagogia, com pós-graduação em administração escolar, ela está no magistério há 28 anos, 14 dos quais na direção.

Interesse — Outro projeto apresentado pela escola foi o Guindaste Hidráulico, desenvolvido pela professora Margarete Jaira dos Santos Barroso com alunos do terceiro ano do ensino fundamental. A ideia surgiu em um dia de muito calor, quando os alunos foram autorizados a ligar uma mangueira de água para se refrescar. “O movimento da mangueira ocasionado pela força da água despertou o interesse geral”, revela Margarete, que aproveitou a curiosidade dos alunos para criar o projeto.

Os estudantes tiveram oportunidade de testar o funcionamento de um protótipo de guindaste a partir do uso de água, pura ou com adição de outras substâncias e em diferentes temperaturas. As experiências seguiram até a conclusão sobre qual delas traria melhores resultados.

A partir dali, a professora trabalhou o tema em disciplinas como a língua portuguesa, matemática e educação artística. Na primeira, os alunos fizeram pesquisas bibliográficas sobre o assunto; em matemática, fizeram trabalhos sobre sistema de medidas; na última, produziram material de divulgação para uma feira cultural.

Com graduação em pedagogia, há 20 anos no magistério, Margarete sempre participa de exposições e feiras, mas pela primeira vez esteve na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. “O aprendizado é contínuo e não acontece apenas no ambiente escolar, mas em todos os ambientes que a criança frequenta”, destaca.

Margarete salienta que depois de um projeto bem estruturado, com todas as etapas concluídas, o aluno leva consigo uma nova maneira de pensar. “Isso ampliará seus horizontes, contribuirá para seu amadurecimento e despertará o sentimento de compromisso em colaborar com a sociedade em que vive”, avalia. (Fátima Schenini)

Mikiya Muramatsu (IF-USP): “Pesquisadores devem comunicar e disseminar o conhecimento à população”

Professor Mikiya Muramatsu, do Instituto de Física da USP

Professor associado do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), Mikiya Muramatsu tem se destacado pela realização de eventos de divulgação científica em escolas públicas e espaços não formais. Ele foi o criador do projeto Arte e Ciência no Parque e do evento Virada Científica, incluído este ano entre as atividades da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, em São Paulo.

De acordo com o professor, os extraordinários avanços na área de ciência e tecnologia tornam necessárias novas ferramentas e metodologias. Ele defende, portanto, a formação continuada não só para os professores, mas para profissionais de todas as carreiras. “Os pesquisadores da academia devem se preocupar em comunicar e disseminar o conhecimento à população em geral, com uma linguagem simples, em palestras, debates e visitas a escolas”, diz. Muramatsu tem licenciatura e bacharelado em física e mestrado e doutorado também em física. (Fátima Schenini)

Jornal do Professor O senhor acredita que crianças e adolescentes se interessem por temas científicos e tecnológicos? O que escolas e professores podem fazer para aumentar esse interesse?

Mikiya Muramatsu — Os vídeos na internet, quando bem feitos, chamam a atenção do público jovem. Os professores devem explorar as informações disponíveis nas redes para transformá-las em conhecimento para as crianças. É preciso repensar a formação inicial dos professores nas universidades, envolver cada vez mais os alunos no processo de aprendizagem. A crise na educação e na escola é um fenômeno mundial, mas muitos países já estão pesquisando novas formas de ensinar e aprender. Precisamos também estar ligados nesses temas.

Os professores da educação básica estão bem preparados para ensinar conteúdos científicos e tecnológicos? Como está a formação de professores na USP para a área de ensino de física, especificamente?

— Nos últimos 50 anos houve uma explosão de conhecimento jamais vista na história da humanidade, mas a formação dos professores, especialmente nos anos iniciais, continua extremamente precária, com currículos desatualizados, pouca ênfase na experimentação e descolada da realidade sociocultural. Mesmo os cursos de licenciatura da USP, considerada uma universidade exemplar na América Latina na área do ensino de física, estão desatualizados e pouco atrativos para os alunos, sem levar em conta a questão salarial e as condições de trabalho.

É importante que os professores da educação básica participem de oficinas ou cursos de formação continuada para o aprendizado de novas técnicas de ensino nas áreas de ciência e tecnologia? Qual o papel da academia na disseminação de conhecimentos científicos entre professores da educação básica e a população em geral?

— Sem dúvida nenhuma, a formação continuada é importante na atualidade em todas as carreiras, não só para o professor. Os avanços hoje em C&T são extraordinários e com velocidade surpreendente. São necessárias novas ferramentas e metodologias para acompanhar esse desenvolvimento. Os pesquisadores da academia devem se preocupar em comunicar e disseminar o conhecimento à população em geral, com uma linguagem simples, em palestras, debates e visitas às escolas.

O senhor coordena o projeto Arte e Ciência no Parque, do Instituto de Física da USP. O que pode dizer sobre ele?

— O projeto tem esse nome de fantasia, pois foi criado para difundir e popularizar a C&T entre o público em geral, atendendo a um edital de 2006 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A partir de 2007, o projeto passou a levar experimentos simples de física, matemática e biologia e algumas atividades de artes, como dança e música, aos parques públicos da cidade de São Paulo. Com o passar do tempo, escolas municipais e estaduais pediram exposições. Constam do acervo cerca de 60 experimentos na área de ciências e matemática e dez temas para oficinas, como foto na lata, reco-reco, cinepalito, caleidoscópio, luneta e holografia. Participam do projeto alunos dos cursos de licenciatura e de bacharelado em física e, eventualmente, de outras áreas, como matemática, biologia e saúde pública. É uma boa oportunidade de o estudante praticar o conceito aprendido, muitas vezes apenas na teoria, diante do público em geral e de alunos da educação básica e, assim, melhorar sua comunicação e manter contato direto com a realidade da escola. O projeto já interagiu com mais de 30 escolas públicas da educação básica. Nos oito anos de atuação, tivemos mais de 90 mil visitantes. Cerca de 40 alunos atuaram como mediadores no projeto. A equipe participa de congressos científicos organizados pela Sociedade Brasileira de Física e de vários programas da USP, como a Feira das Profissões, A Universidade e as Profissões, Vivendo a USP e SNCT.

Foi realizada em todo o Brasil, de 19 a 25 de outubro, a 12ª edição da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. Qual a contribuição de eventos como esse para a popularização da ciência no Brasil?

— Em muitas cidades do país, a SNCT é um evento extremamente importante para estimular as vocações científicas, especialmente nos jovens e nas crianças, e mostrar à população em geral a importância da C&T no mundo contemporâneo.

Qual a importância de realizar eventos como feiras de ciências nas escolas?

— As feiras de ciências podem estimular o protagonismo do aluno, despertar vocações e constituir a oportunidade de praticar a interdisciplinaridade.

O Instituto de Física da USP participa há dois anos da Virada Científica. Qual o objetivo e principais atividades desse evento?

— O objetivo principal da Virada Cientifica é mostrar à população em geral a ciência, a tecnologia e a cultura desenvolvidas na universidade. Nas duas edições, foram realizadas cerca de 100 atividades, nas diversas unidades participantes, a maioria concentrada no campus de São Paulo, tais como palestras, shows de ciências, mostras, demonstrações, oficinas, filmes, debates e visitas a laboratórios. Este ano, em particular, ela foi realizada em conjunto com a SNCT.

Por meio da arte, educadora ensina alunos para a vida

Alunos pintam durante aula de artes

Professora de artes da rede pública do Distrito Federal há 27 anos, Gersony Volpe ama seu trabalho e os alunos. “Como professora de artes, posso contribuir para que cada estudante seja um produtor, um criador”, diz. “E é muito bom ver, quando eles descobrem que podem fazer um trabalho artístico, que também são capazes de criar, de produzir.”

Segundo Gersony, a arte tem a vantagem de invadir todas as demais áreas. “As de ciências, geografia, história, qualquer uma. E, por meio dela, posso ensinar meus alunos para a vida”, diz. “É a minha paixão. História, fiz para entender a arte e, por último, o direito, fiz para entender o homem.”

Este ano, em suas atividades no Centro de Ensino do Lago Norte (Celan), no Lago Norte, região administrativa do Distrito Federal, Gersony desenvolveu o projeto Por uma Escola Feliz, para ajardinar o espaço da instituição. Com materiais como pneus usados e calotas de automóveis, os estudantes do sexto ano do ensino fundamental construíram e pintaram floreiras, com cores vivas e alegres, e plantaram flores e folhagens.

Idealista e determinada, a professora conseguiu 80% do material para o jardim com coleta nas ruas, pedidos e seus próprios materiais. As tintas foram fornecidas pela escola.

Outro projeto desenvolvido este ano por Gersony foi o de fabricação de móveis com páletes de madeira (estrados usados para empilhar e transportar material). Os alunos de turmas do sétimo ano lixaram e pintaram os páletes, costuraram almofadas e produziram flores de papel e outros adereços decorativos. No final, o resultado obtido foi a confecção de móveis de sala, sala de jantar e quarto, depois sorteados entre as famílias dos estudantes.

A professora diz ser muito ligada ao meio ambiente e preocupada com o desperdício. “Estou sempre reciclando, reaproveitando, reutilizando tudo o que vem da natureza”, destaca. Ela ministra à comunidade cursos sobre aproveitamento de pigmentos naturais para fazer tintas que, segundo diz, “permitem que a parede respire”. Gersony reúne mais de 40 cores diferentes de pigmentos naturais, além de terras de cores variadas, que ela coleta nos lugares que visita. Conta ainda com produtos vegetais, como urucum e beterraba.

Quando se aposentar, a professora pretende abrir sua casa ao público. “Quero fazer uma galeria de artes”, revela a goiana, natural de Formosa, município a 297 quilômetros de Goiânia e a 75 de Brasília. (Fátima Schenini)

Fuad Daher Saad (USP): “Crianças podem e devem pôr as mãos na massa”

Professor Fuad Daher Saad

Professor associado da Universidade de São Paulo (USP), pesquisador na área de ensino de física, Fuad Daher Saad diz que temas científicos e tecnológicos, se apresentados de forma adequada, despertam grande interesse em crianças e jovens. “As escolas devem promover condições e estimular professores das áreas científicas a realizar atividades experimentais nas aulas”, afirma. Segundo ele, as crianças podem e devem “pôr as mãos na massa”, além de observar e realizar atividades experimentais interessantes.

Saad é criador e coordenador do Show de Física do Instituto de Física da USP, que exibe, diariamente, experimentos de diversas áreas da física a estudantes da educação básica. (Fátima Schenini)

Jornal do Professor O senhor acredita que crianças e adolescentes se interessem por temas científicos e tecnológicos? O que escolas e professores podem fazer para aumentar esse interesse? Qual a importância do lúdico nesse tipo de aprendizado?

Fuad Saad — Crianças e adolescentes manifestam grande interesse por temas científicos e tecnológicos quando os mesmos são adequadamente apresentados. É importante observar visitas de jovens a centros e museus de ciências, onde há interatividade dos visitantes com os temas exibidos, para sentir o entusiasmo, o interesse e a interatividade deles com as apresentações. Já visitei cerca de 40 centros de ciências ao redor do mundo e sempre observei o entusiasmo das crianças no contato com temas científicos e tecnológicos. As escolas devem promover condições e estimular professores das áreas científicas a realizar atividades experimentais nas aulas. Eles devem convidar a pôr as mãos na massa e observar e realizar atividades experimentais interessantes.

Meus estudantes da licenciatura em física são convidados a verificar quantas experiência podem ser realizadas, em sala de aula, com garrafas plásticas. Eles chegaram a contar 20 experimentos simples. Um cientista ou um tecnólogo não é formado apenas nas universidades, mas ao longo de sua vida (desde criança até a academia). Trata-se de um processo no qual, desde cedo, crianças e adolescentes podem e devem pôr as mãos na massa.

Os professores da educação básica estão bem preparados para ensinar conteúdos científicos e tecnológicos? Como está a formação de professores na USP, especificamente na área de ensino de física?

— Posso falar de minha experiência profissional. Ministrei e continuo a ministrar cursos de extensão para professores da educação básica. Dezenas de cursos. O despreparo deles para abordar conteúdos científicos e tecnológicos é dramático. Continuamos a observar, na maioria dos casos, cursos de giz e quadro negro. Pouca ou nenhuma atividade experimental é desenvolvida. Observamos alguns poucos exemplos. Dentre eles, plantar feijão...

Não posso falar sobre a formação de professores na USP, dada a amplitude e diversidade do problema. Com relação à licenciatura de física, é possível observar a preocupação com uma formação mais atualizada de nossos futuros professores. Entretanto, esses futuros professores pouco se interessam pelo magistério em razão dos baixos salários oferecidos. Além disso, os docentes encontram inúmeros obstáculos em sala de aula: falta de infraestrutura (laboratórios e equipamentos experimentais), pequeno número de aulas (duas semanais, em média), indisciplina, número excessivo de alunos por classe etc.

É importante que os professores da educação básica participem de oficinas ou cursos de formação continuada para conhecer novas técnicas de ensino nas áreas de ciência e tecnologia? Qual o papel da academia na disseminação de conhecimentos científicos entre professores da educação básica e a população em geral?

— A atual formação de nossos professores da educação básica é deficiente, e tal cenário produz um ensino sabidamente medíocre. É importante a participação dos professores em cursos de extensão ou de formação continuada que abordem não somente o aprendizado de novas técnicas de ensino nas áreas de ciência e tecnologia, mas também de novos conteúdos. É sempre importante recordar que o aumento da quantidade de informações, que são geradas de forma explosiva, constitui verdadeiras ondas de choque, deixando professores e alunos perplexos, despreparados que estão para entender o atual mundo científico e tecnológico. Nossas universidades não têm se preocupado adequadamente com o processo de formação de professores da educação básica e pouco têm feito para a difusão de conhecimentos científicos entre professores da educação básica e a população. Eu e muitos colegas do Instituto de Física da USP temos ministrados cursos de extensão para a educação básica. Mas isso é muito pouco tendo em vista as dimensões do problema.

O senhor coordena o Show de Física do Instituto de Física da USP desde 1986. Conforme a apresentação desse projeto na internet, ele não tem o objetivo de ensinar física, mas de “preparar o emocional de cada estudante para aprender”. O que significa isso? Que é importante estimular o interesse dos alunos para que a aprendizagem possa ocorrer?

— Cerca de 700 mil estudantes já assistiram ao Show de Física. Ele foi criado para oferecer a nossos estudantes uma outra face da ciência que não aquela comumente oferecida em nossas escolas, em aulas apenas expositivas, com ausência de atividades experimentais. Essas aulas induzem a um grande desinteresse da maioria dos estudantes. Tenho plena consciência de que o aprendizado formal de física dá-se em sala de aula. O show procura preparar o emocional do estudante para o ensino da disciplina. Daí seu formato, que visa a motivar os estudantes para essa importante ciência e suas aplicações. Nunca é demais recordar que motivação significa motor da ação.

Quais as principais atrações do Show de Física? A quem se dirige? Quais os principais resultados obtidos até o momento?

— Com duração de aproximadamente duas horas e duas apresentações diárias (manhã e tarde), o show exibe experimentos de diversas áreas da física (eletromagnetismo, mecânica, calor, ótica etc.). São experimentos interativos, impactantes e desafiadores, sempre com a participação do público presente (até 160 estudantes, além de professores da educação básica, universitários e público diversificado). Ao longo desses quase 30 anos, desde a implantação, o show atrai um público crescente. Como exemplo de alguns resultados obtidos, é possível destacar estudantes que apresentam o show e passam a se interessar pela carreira do magistério; outros que foram nossos monitores e hoje apresentam o show em tevês e em diversos eventos culturais no país; diversas universidades, hoje, apresentam shows inspirados em nosso exemplo. Além disso, diversos estudantes de nosso curso de licenciatura em física optaram pela carreira e o fizeram inspirados no show que assistiram quando alunos no ensino médio. O show é apresentado por monitores (estudantes de licenciatura), após um adequado treinamento. Atualmente, dispomos de 16 estudantes que apresentam o show regularmente.

Foi realizada em todo o Brasil, no período de 19 a 25 de outubro, a 12ª edição da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. Qual a contribuição de eventos como esse para a popularização da ciência no Brasil?

— São eventos extremamente importantes. Não são poucos os cientistas de nossas universidades que procuram levar para a comunidade, de forma acessível, parte dos conhecimentos técnicos e científicos que nelas estejam envolvidos. Tanto em nossos centros de pesquisas como em outros países, as instituições procuram abrir as portas de seus laboratórios às comunidades. Com isso, visam também a estimular o interesse dos jovens para as carreiras de áreas científicas e tecnológicas. Nosso país é cobrado para atuar mais intensamente nessa área de difusão científica tecnológica. Muitos setores da USP vêm se destacando nessas atividades.

Qual a importância de realizar eventos como feiras de ciências nas escolas?

— São eventos altamente meritórios, por vários motivos: despertam o interesse dos estudantes para temas científicos e tecnológicos; convidam estudantes a propor projetos ligados a essas áreas; estimulam jovens a pesquisar em várias fontes. Os estudantes põem a mão na massa. E o professor se transforma no animador nesse processo. Frequentemente, as famílias colaboram. Finalmente, os esforços de verdadeiras comunidades de pesquisas são recompensadas ao apresentar projetos em eventos como as feiras de ciências.

Muitos pesquisadores ou profissionais altamente qualificados e motivados emergiram de cenários tão estimulantes de nossas feiras de ciências. Muitos professores de física do ensino médio incorporaram, em suas práticas pedagógicas diárias, projetos desenvolvidos e apresentados por estudantes em feiras ciências. É estimulante visitar uma feira de ciências e ouvir as explicações de jovens estudantes com relação ao projeto desenvolvido.