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JORNAL

Prêmio Professores do Brasil-2015

Quarta-feira, 9 de Dezembro de 2015

Edição 120

EDITORIAL - Prêmio Professores do Brasil-2015

A 120ª edição do Jornal do Professor tem como tema o Prêmio Professores do Brasil-2015. A premiação, que teve início em 2005 com 1 131 inscritos alcançou, em sua nona edição, o total de 11 812 participantes.

Para este número, selecionamos seis professores entre os 30 ganhadores de todas as regiões brasileiras: Adriane Tavares Bilhalva (RS), Anna Carolina de Oliveira Brito (RR), Laís Cecília da Silva Borges (GO), Maria de Fátima Batista Nascimento (RJ), Ronaldo de Almeida Macedo (BA), Uanderson de Jesus Menezes (MG).

A professora Iandra Paim Pereira, da Escola Estadual Nossa Senhora das Graças, na Vila Capela São Francisco, segundo distrito de Bom Jesus (RS) participa da seção Espaço do Professor.

Nossa entrevistada é a professora Christianne Medeiros Cavalcante, do Centro de Ensino Superior do Seridó (Ceres) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Campus de Caicó.

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

Projeto torna mais saudáveis hábitos alimentares de alunos

Professora Fátima e alunos na horta

Professora de educação infantil na Escola Municipal Leila Aparecida de Almeida, no município fluminense de Três Rios, Maria de Fátima Batista Nascimento percebeu que seus alunos não queriam verduras nem hortaliças nas refeições. Interessavam-se apenas por alimentos industrializados, de baixo valor nutritivo. Ela decidiu então desenvolver um trabalho voltado para a mudança de hábitos alimentares dos estudantes do maternal 3 e criou o projeto Nossos Pequenos Jardineiros.

As principais atividades desenvolvidas durante o projeto foram o cuidado com a horta (os alunos plantavam, cuidavam e colhiam o próprio alimento), as receitas sugeridas pelos alunos e pela professora, dramatizações, vídeos e registros de tudo o que foi aprendido.

“O início foi um pouco difícil, pela necessidade de apoio dos pais, já que os alunos não mais trariam lanche de casa e passariam a se alimentar com a merenda escolar”, diz a professora. Segundo ela, foi necessário dialogar muito até os pais se aliarem com a proposta. Fátima também encontrou resistências iniciais por parte dos alunos, mas conseguiu o objetivo. “Ao término do projeto, todos estavam comendo hortaliças, legumes e frutas”, diz.

“Ao entender que o problema com a má alimentação não estava apenas na minha turma, mas em toda a escola, apresentei o projeto à diretora”, explica Fátima. A diretora, Cátia Corrêa de Almeida, apresentou a ideia à equipe pedagógica, que a aceitou e a incluiu no projeto político-pedagógico da escola, com abrangência em todas as turmas.

Realizado inicialmente de março a novembro de 2014, o projeto teve continuidade em 2015. Os principais resultados foram a parceria da escola com as famílias e a mudança nos costumes alimentares dos alunos. Ao passarem a cuidar de seus próprios alimentos, com os plantios na horta, os estudantes adquiriram novos hábitos.

Para 2016, Fátima tem planos: “Pretendo fazer o projeto ir além dos muros da escola, com a criação de uma horta orgânica na casa de um aluno”, afirma. Além disso, ela pretende incentivar as famílias de todos os alunos a ter uma horta em casa.

Formada em pedagogia, com pós-graduação em supervisão, orientação e administração escolar, Fátima leciona na mesma escola há seis anos, mas a relação com a instituição vem desde a infância, pois é ex-aluna. “É com muito orgulho que hoje sou professora na escola onde fui alfabetizada”, revela.

Prêmio — O projeto Nossos Pequenos Jardineiros colocou Fátima entre os ganhadores da nona edição do Prêmio Professores do Brasil, na categoria creche. “Sempre acompanhei o prêmio, desde a primeira edição, e hoje posso dizer que meu sonho se realizou: estou entre os 30 professores do Brasil”, diz. “A cada momento que penso na premiação, choro de felicidade e orgulho de ser professora.”

Para a diretora da escola, ter uma professora entre os vencedores do prêmio é motivo de orgulho e emoção. “É fruto do brilhante trabalho e do comprometimento da professora Fátima”, avalia. (Fátima Schenini)

Projeto com apoio tecnológico faz aluno tomar gosto por filosofia

Estudantes caracterizados como gregos antigos

Como ensinar filosofia a estudantes de ensino médio de forma eficiente? Como tornar essa disciplina atrativa e motivadora, sem banalizá-la? Como acabar com o preconceito em torno da disciplina? Preocupado com essas e outras questões, o professor Uanderson de Jesus Menezes tem procurado usar a metodologia de projetos em suas aulas na Escola Estadual João XXIII, no município mineiro de Ipatinga. “Com isso, os alunos passaram a valorizar mais a disciplina, a participar mais das aulas e, consequentemente, a melhorar o desempenho escolar”, assegura.

De acordo com Uanderson, questionamentos como “Filosofia serve para quê?”, “Falam que isso é coisa de doido” e “Isso é matéria?” são frequentes na sala da aula. “Elas exigem do educador paciência e esforço na tarefa de mostrar que a filosofia não é uma disciplina a mais a ser ensinada e pode ser um grande diferencial na formação do aluno”, ressalta.

Com licenciatura em filosofia e pós-graduação em gestão estratégica de recursos humanos, Uanderson dá aulas de filosofia a turmas de segundo e terceiro anos do ensino médio há seis anos. Nesse período, desenvolveu inúmeros projetos e criou um blogue, que já tem mais de 130 mil acessos. “Para lidar com essa geração tecnológica, a aula tem de ir aonde os alunos estão”, defende.

Ao perceber a grande ligação dos estudantes com as novas tecnologias e recursos audiovisuais, o professor teve a ideia de criar o projeto TV Filosofia, que aproveita essas ferramentas para atividades de estudo e pesquisa. O projeto teve início em 2012, mas passou a ser aplicado plenamente em 2014. A principal atividade foi a criação de um vídeo, no formato de um miniprograma de televisão, com os temas ou conceitos abordados nas aulas de filosofia.

Após estudar os diferentes tipos de programas televisivos (curtas-metragens, documentários, novelas, séries, talk shows etc.), os estudantes, divididos em grupos, encarregaram-se de criar os textos e os diálogos, providenciar os figurinos, filmar e editar os vídeos. Uanderson explica que o projeto acabou por envolver a cidade toda. “Muitos pais participaram das filmagens, políticos e diversas pessoas da região foram entrevistadas”, diz. “A filosofia saiu da sala de aula e se espalhou por todos os lados.”

O professor recorda que, para introduzir o projeto TV Filosofia foi necessário mostrar empolgação, desafiar os alunos e lembrá-los de que são capazes, criativos, conhecedores de tecnologia e que têm muito a oferecer. “Foi necessário mostrar que ao fazer essa atividade eles iriam se divertir e, ao mesmo tempo, aprender muito”, destaca. Com isso, o pessimismo e o desânimo inicial deram lugar à animação. Logo, foram surgindo ideias e temas interessantes.

“O resultado foram vídeos incríveis, de ótima qualidade e conteúdo produzidos pelos alunos”, salienta Uanderson. O projeto deu origem a um canal próprio no YouTube, o TV Filosofia – João XXIII.

Premiação — O projeto foi incluído entre os 30 ganhadores da nona edição do Prêmio Professores do Brasil, como o vencedor da Região Sudeste, na categoria ensino médio. A premiação contempla, este ano, outras cinco categorias: creche, pré-escola, ciclo de alfabetização (primeiro, segundo e terceiro anos do ensino fundamental), quarto e quinto anos e sexto ao nono ano.

“O prêmio representa uma injeção de ânimo”, diz Uanderson. “Quero melhorar enquanto professor, desenvolver novos projetos, aprender mais, buscar novas formas de ensinar melhor.”

Na visão da diretora da escola, Maristela Sousa Andrade Dias Martins, a premiação é uma realização de tudo o que a comunidade escolar sempre esperou, desejou e sabia que um dia aconteceria com o projeto TV Filosofia. “É uma proposta de trabalho espetacular, baseada na interlocução entre os conceitos filosóficos, a realidade vivenciada pelos alunos e a tecnologia”, analisa.

Para a diretora, o resultado do prêmio mostra a todos os educadores que é possível, sim, a valorização pública pelo trabalho realizado de forma séria e permanente. “Serve ainda como estímulo para novos projetos, em busca de novas formas para o desenvolvimento dos processos de ensino e aprendizagem”, complementa Maristela, 35 anos de magistério, 15 deles na função de diretora. (Fátima Schenini)

Saiba mais no blogue do projeto TV Filosofia

Crianças e famílias gaúchas descobrem valores culturais

 Na sala de aula, alunos fazem retirada de sementes de porongos

Pelo nome e formato diferentes, o fruto se impôs como algo curioso para as 35 crianças da turma de educação infantil. Embora seja comum no Rio Grande do Sul e usado na fabricação da cuia do chimarrão, o porongo era totalmente desconhecido do universo dos alunos, de 4 e 5 anos, da Escola Municipal de Ensino Fundamental Arlindo Bonifácio Pires.

Durante cinco meses, a professora Adriane Tavares Bilhalva apresentou o fruto às crianças da pré-escola e desenvolveu projeto pedagógico que aliou ciência e meio ambiente, cultura regional e produção artística. A dinâmica do projeto proporcionou conhecimento e exigiu o exercício da criatividade, mas acabou por envolver a comunidade, que recebeu sementes e ajudou as crianças no plantio. Por consequência, as famílias foram incentivadas a usar o fruto para criar trabalhos artísticos.

O projeto Porongo: do Cultivo à Arte na Educação Infantil figura entre as práticas pedagógicas bem-sucedidas premiadas pelo Ministério da Educação na edição de 2015 do Prêmio Professores do Brasil. Na escola desde 2005, a professora premiada conta que optou por trabalhar com projetos pedagógicos nos últimos quatro anos por entender ser uma prática mais adequada à integração de diferentes conteúdos e à aprendizagem.

O primeiro passo do projeto foi a apresentação do fruto às crianças, com explicações sobre a origem e a história. Embora o enfoque da professora tenha sido o regional, o porongo é conhecido em outras regiões do Brasil como cabaça e usado como recipiente de servir água, por apresentar um gargalo alongado, ou como cuia, ao ser dividido ao meio. No Rio Grande do Sul, cuia é o nome do recipiente usado para o preparo do tradicional chimarrão, com erva-mate moída e água quente. A bebida é sorvida com a ajuda de uma bomba (canudo metálico com um filtro na ponta).

Na sala de aula, as crianças aprenderam a retirar as sementes do fruto da planta, originária da África, e a plantá-las em potinhos de iogurte cheios de terra para observar o desenvolvimento da muda. Nos trabalhos de artes, o porongo foi usado como receptáculo da criatividade das crianças, que puderam pintá-lo e inventar bonecos ou enfeites para o próprio quarto de dormir.

Premiação — A professora ficou emocionada ao saber que o projeto havia sido premiado. “Tive a oportunidade de fazer uma viagem de avião e participar de uma troca de experiências muito importante para minha realização pessoal e valorização profissional”, comenta. “A premiação representa muito, uma grande conquista, e indica que estou no caminho certo, mas o segredo para o trabalho bem feito é o amor, o carinho que recebo diariamente das crianças.”

A escola da professora Adriane, no município de menos de cinco mil moradores de Chuvisca, a 150 quilômetros de Porto Alegre, atende 280 alunos de educação infantil e pré-escola e do ensino fundamental. Além do trabalho com as crianças em sala de aula, o cultivo do porongo nas propriedades das famílias teve o objetivo de incentivá-las a desenvolver o artesanato regional. A professora colaborava com sugestões de peças e ideias, tanto para as crianças quanto para as famílias.

“O mundo é repleto de símbolos e significados que possibilitam grandes descobertas nessa fase da infância, e a arte permite o desenvolvimento do senso crítico, da sensibilidade e da criatividade”, diz a professora. Ela explica que o cultivo do porongo permitiu o resgaste da cultura regional na comunidade escolar e despertou nas crianças de 4 e 5 anos a responsabilidade em relação ao meio ambiente. Assim, o olhar delas será mais rico para o gaúcho que saboreia o seu tradicional chimarrão. (Rovênia Amorim)

Escola goiana ganha destaque em trabalho contra o sedentarismo

Participantes do projeto fazem alongamento

Ao perceber que seus alunos classificavam as aulas teóricas de educação física como monótonas e chatas e que, durante as práticas esportivas, eles só se interessavam por futebol, a professora Laís Cecília da Silva Borges resolveu desenvolver um trabalho que os motivasse. Surgiu assim o projeto Sedentarismo x Atividade Física – Uma Luta Diária.

Desenvolvido em 2015, com alunos do sexto ano do ensino fundamental da Escola Municipal Rural de Tempo Integral Ponte de Pedra, no município goiano de Paraúna, o trabalho foi criado para mudar os hábitos alimentares e físicos da comunidade escolar, mostrar a importância da prática de atividades físicas e acabar com o sedentarismo. A escola, de educação infantil e ensino fundamental, está localizada no assentamento Ponte de Pedra, a cerca de 60 quilômetros da sede do município.

Antes de dar início ao projeto, Laís observou que os estudantes apresentavam vícios alimentares prejudiciais à saúde originados por hábitos de família. Decidiu então torná-los orientadores dos familiares quanto à necessidade de optar por alimentos saudáveis no lugar dos industrializados, instantâneos. O primeiro passo foi buscar ajuda profissional na Secretaria Educação do município. “Desenvolvemos encontros semanais com profissionais da saúde, como nutricionista, médico, fisioterapeuta e psicólogo”, explica.

A professora criou um grupo, o Medida Certa, formado por representantes da escola e da comunidade, para participar de caminhadas e de sessões de reeducação alimentar. A partir das explicações recebidas dos profissionais, os estudantes desenvolveram uma sequência de atividades com o grupo. O projeto também incluiu uma oficina culinária, na cozinha da escola, na qual os participantes puderam aprender receitas de refeições saudáveis.

“Tivemos grandes conquistas”, destaca a professora. Uma das participantes perdeu 18 quilos. Houve quem perdeu 11 e quem perdeu nove.

Para Laís, constatar que o projeto fez diferença na vida de muitas pessoas foi prazeroso e satisfatório. Mas o que a deixou mais feliz foi ver pessoas sedentárias adotarem a prática de atividades físicas.

Segundo a professora, os alunos contribuíram bastante com o projeto, ao dar ideias. “Eles participaram efetivamente em toda a execução e enriqueceram a aprendizagem sobre o assunto tratado no projeto”, ressalta.

Prêmio — O projeto Sedentarismo x Atividade Física incluiu a professora Laís entre os ganhadores da nona edição do Prêmio Professores do Brasil, na categoria sexto ao nono ano do ensino fundamental. “O reconhecimento que tive após o prêmio foi muito bom, mas o reconhecimento pessoal foi mais importante ainda, por saber que, por mais difícil que seja, não há nada melhor que ser algo a mais na vida dos meus alunos.”

Estudante de pedagogia, Laís atua como professora há dois anos. Além de lecionar educação física em turmas do sexto ao nono ano, ela dá aulas de matemática no sexto ano.

Na visão da professora Mirian da Costa Tavares, diretora da escola há sete anos, é relevante para ela e para toda a comunidade escolar ser representada por uma professora classificada entre as 30 melhores do Brasil. “Nossa instituição, que antes sofria preconceito por ser escola do campo, já está recebendo reconhecimento pela qualidade do ensino”, salienta Mirian. Com formação em curso normal superior e pós-graduação em psicopedagogia, ela atua na área da educação há 13 anos. (Fátima Schenini)

Jornal melhora produção textual de alunos em escola de Roraima

Alunos na sala de informática

A reunião de pauta, momento em que se decidem as notícias para a edição semanal do jornal da escola, ocorre nas tardes de quarta-feira, no período oposto ao das aulas. As crianças do quarto ano do ensino fundamental chegam animadas, com sugestões de matérias. Após o processo de definição dos assuntos que sairão no próximo número, os estudantes-repórteres fazem pesquisas na internet e entrevistas, fotografam outros alunos, professores, pais, gestores e funcionários da escola. Depois, sentam-se diante do computador para escrever as notícias.

A ideia de criar um jornal escolar na Escola Municipal Aquilino da Mota Duarte, em Boa Vista, Roraima, foi da professora Anna Carolina de Oliveira Brito. Ela queria melhorar a qualidade de ensino por meio de práticas de leitura e produção textual. O projeto Jornalistas da Liberdade, iniciado em maio último, deu nova dinâmica aos 25 alunos da turma. “Até mesmo aqueles que geralmente não se envolviam com as atividades de sala de aula sentiram-se motivados a desenvolver o jornal”, conta a professora, que percebia a dificuldade das crianças com a escrita.

Na função de editora-chefe do jornal, Anna Carolina, que leciona há sete anos na escola, explica as regras ortográficas e gramaticais para a correção dos erros cometidos pelos alunos e os ajuda a criar os títulos, coerentes com os assuntos das notícias. Uma vez pronto o jornal, os alunos cuidam da distribuição de 335 exemplares nas salas de aula e na portaria da escola. Nos murais e nas portas das salas é afixada uma cópia em tamanho maior, para que todos possam ler. Uma visita a uma redação de jornal foi incluída na programação do projeto pedagógico.

Os resultados, segundo a professora, foram percebidos em várias etapas do processo: no aprendizado de trabalhar em equipe; na criação de textos; no uso do dicionário para tirar as dúvidas com a língua portuguesa; na habilidade oral, com o exercício da argumentação na defesa de pautas, e no despertar dos alunos para o exercício da cidadania e de valores humanos. Dessa forma, as notícias também serviram para a discussão de problemáticas correlatas e recorrentes ao ambiente escolar, como o bullying e a violência.

Reconhecimento — A amplitude pedagógica do projeto teve o reconhecimento do Ministério da Educação, na nona edição do Prêmio Professores do Brasil. “Essa premiação foi muito importante, percebo que vale a pena pagar o preço para oferecer uma educação diferenciada e com qualidade para nossos alunos”, comenta Anna Carolina. “Nós, educadores, temos de acreditar nos projetos desenvolvidos em sala de aula, pois, de fato, cooperam no processo de ensino e aprendizagem.”

A diretora Mônica Motta Felício, formada em pedagogia e gestora educacional, há dois anos na escola, diz que o sentimento é de alegria e de motivação pela conquista do prêmio. A escola tem, no total, 368 alunos do ensino fundamental. “Saber que um projeto desenvolvido dentro do nosso espaço escolar obteve esse reconhecimento só nos traz a certeza de que, quando promovemos ações com objetivos direcionados, a melhoria com as práticas pedagógicas fica evidente nos resultados da aprendizagem”, afirma. (Rovênia Amorim) (Republicada com correções)

Projeto resgata identidade de moradores do sertão baiano

Professor Ronaldo de Almeida Macedo

Professor de história na Escola Municipal Leôncio Horácio de Almeida, no povoado de Guaribas, área rural do município baiano de Anguera, Ronaldo de Almeida Macedo desenvolveu trabalho voltado para o fortalecimento da identidade cultural dos estudantes e demais moradores da região.

Com cerca de 800 habitantes, que se dedicam principalmente ao plantio de lavouras como milho, feijão e mandioca, Guariba não oferece muitas oportunidades aos habitantes. Por essa razão, muitos deles migram para grandes centros urbanos em busca de melhores condições de vida.

Segundo Ronaldo, também morador daquela comunidade, era comum ouvir, dos que se foram, que Guaribas não é lugar bom para se viver e que viver da agricultura é “coisa de roceiro”.

Ao pensar o que poderia ser feito para mudar essa forma de pensar, o professor resolveu criar o projeto Minhas Raízes para Nunca mais Esquecer. Com ele, desenvolveu ações para favorecer o reconhecimento da cultura local. Em conversa com colegas de outras disciplinas, também moradores da comunidade, as ideias surgiram. Após decidirem que o projeto seria interdisciplinar, com a participação de professores de matemática, língua portuguesa, artes, inglês, espanhol, história e identidade e cultura, deram início aos trabalhos, em março de 2014.

Apesar de dar aulas a turmas do sexto ao nono ano do ensino fundamental, Ronaldo desenvolveu o projeto com duas turmas do sétimo ano, vespertino. Os alunos seriam os multiplicadores em outras turmas e na comunidade. “Eles abraçaram a causa e colocaram mãos à obra”, diz o professor.

Origens — O projeto incluiu aspectos relacionados à origem da comunidade, com suas danças, crenças religiosas, comidas, festas populares, agricultura e brincadeiras, entre outros. Os estudantes fizeram muitas entrevistas com moradores do povoado. Dona Honória, de 90 anos, foi uma das pessoas ouvidas. Os estudantes, com auxílio dos telefones celulares, gravaram as respostas sobre as origens e a formação da localidade. Depois, produziram um documentário, apresentado a outras turmas da escola. “Foi fantástico, surpreendente”, lembra Ronaldo.

Os estudantes também gravaram um depoimento com a última parteira da comunidade, Deusdete de Almeida Santos, de 76 anos, conhecida por Dindinha ou Mãe Deusa. Com apoio da professora de língua portuguesa, Marinalda Freitas, as informações coletadas em áudio e vídeo foram transcritas em forma de texto.

Antigas brincadeiras como Olha a cobra, olha a jiboia, Chicotinho pam, pam e Viuvinha, bem como os alimentos consumidos pelos primeiros moradores, foram outros itens resgatados pelos estudantes.

Identidade — De acordo com Ronaldo, embora Guaribas seja uma comunidade de predominância negra, mais de 90% dos 224 alunos da escola não se identificavam como tal no início do projeto. Após esse diagnóstico inicial, os professores pediram a uma professora do vizinho município de Feira de Santana, com mestrado em história, que ministrasse seminário na escola. Ela tratou de temas relacionados à cor da pele, cabelos e tradições da cultura negra, quando enfatizou a questão da identidade negra.

Após nova pesquisa entre os estudantes verificou-se uma mudança: 23% se declararam pardos; 47%, morenos; 22%, pretos; 4%, indígenas; 2%, brancos e outros 2%, amarelos. “Mesmo sabendo que os 47% que se declararam morenos e os 23% que se declararam pardos estão dentro dos 22% que se declararam pretos, acreditamos que houve resultados significativos em relação ao início do projeto, quando a negação em relação à etnia foi alarmante”, salienta Ronaldo.

O projeto do professor baiano foi um dos ganhadores da nona edição do Prêmio Professores do Brasil, na categoria sexto ao nono ano – anos finais do ensino fundamental. Com o dinheiro do prêmio, ele pretende fazer cursos de especialização em história da África. (Fátima Schenini)

Bons projetos pedagógicos são destacados em todo o Brasil

Vencedores do Prêmio Professores do Brasil-2015

A nona edição do Prêmio Professores do Brasil selecionou, este ano, 30 experiências pedagógicas desenvolvidas por professores das cinco regiões brasileiras. Os trabalhos foram destacados entre 11.812 inscritos, nas categorias creche; pré-escola; ciclo de alfabetização: primeiro, segundo e terceiro anos – anos iniciais do ensino fundamental; quarto e quinto anos – anos iniciais do ensino fundamental; sexto ao nono ano – anos finais do ensino fundamental; ensino médio.

Desenvolvido desde 2005 pelo Ministério da Educação, o prêmio tem como meta reconhecer, divulgar e premiar o trabalho de professores de escolas públicas que contribuam para a melhoria dos processos de ensino e aprendizagem desenvolvidos em salas de aula.

Cada um dos 30 professores recebeu prêmio de R$ 7 mil. Dentre as unidades da Federação, o Rio Grande do Sul teve o maior número de premiados, com quatro ganhadores. Bahia, Distrito Federal, Minas Gerais e Roraima tiveram, cada uma, três premiados.

Cada categoria teve um professor destacado para receber prêmio extra, no valor de R$ 5 mil. Os escolhidos foram Cristiane Santos de Melo (BA), Michelle Nunes da Silva (AM), Elaine Cristina Benteo (PR), Francisca Deusineide dos Santos Nasario (RN), Ivan Nunes Gonçalves (RS) e Maria del Pilar Tobar Acosta (DF).

A partir de 2015, o Prêmio Professores do Brasil passou a integrar a iniciativa Educadores do Brasil, ao lado do Prêmio Gestão Escolar, do Conselho Nacional dos Secretários de Educação (Consed). O concurso foi criado em 1998 para estimular a melhoria da gestão das escolas públicas.

Assim, a entrega dos prêmios a professores e diretores de escolas foi realizada pela primeira vez, este ano, em conjunto. A cerimônia ocorreu no dia 3 último, em Brasília, presidida pelo secretário-executivo do MEC, Luiz Cláudio Costa. Na oportunidade foi anunciada a criação do Programa Nacional de Formação e Certificação de Diretores Escolares.

O Prêmio Gestão Escolar selecionou 22 escolas como destaques estaduais, com premiação de R$ 6 mil para cada uma. As cinco escolas indicadas como destaque regional receberam R$ 10 mil. O Colégio Estadual Professora Maria das Graças Menezes Moura, de Itabi, Sergipe, dirigido por Maria das Graças Albuquerque Melo, foi escolhido como escola referência Brasil, com premiação de R$ 30 mil.

Os resultados dos prêmios estão na página da iniciativa Educadores do Brasil na internet. (Fátima Schenini)

Professora trabalha na escola em que morou quando criança

Há 20 anos no magistério, Iandra Paim Pereira trabalha na Escola Estadual de Ensino Fundamental Nossa Senhora das Graças, na vila Capela São Francisco, a 30 quilômetros da sede do município gaúcho de Bom Jesus. “É uma escola pequena, com 31 alunos atendidos do primeiro ao sexto ano”, explica.

Quando criança, Iandra morou naquela unidade de ensino, pois sua mãe, agora aposentada, foi professora e diretora da escola — na época, toda a família morava lá. Depois, quando a família se mudou para a cidade, Iandra teve a oportunidade de dar continuidade aos estudos e cursou licenciatura plena em pedagogia.

“Ser professora é uma grande responsabilidade, pois estamos trabalhando com crianças e jovens com realidades diferentes”, diz. “Eles têm um futuro pela frente, e devemos contribuir com sua formação.”

A professora gosta de trabalhar com crianças, de criar, inventar coisas com elas. “Não é fácil, mas é bom perceber que podemos ensinar coisas para a vida delas e também aprender com elas e tratar a todos com amor e igualdade”, ressalta.

Há 15 anos, Iandra exerce a função de diretora. “Na maioria desses anos, também lecionava a turmas do quarto e do quinto anos do ensino fundamental, como regente de classe”, revela.

Ela trabalha o dia todo, em várias atividades: limpa a escola e faz os serviços da secretaria, além da merenda. Casada, com duas filhas, ela mora perto da escola. “Nas horas vagas, fico com a família, assisto televisão, leio, caminho... Aqui é bem bonito”, diz. (Fátima Schenini)

Christianne Medeiros Cavalcante (UFRN): “Projetos constituem um processo de construção de conhecimento dentro do processo de ensino e aprendizagem”

Christianne Medeiros Cavalcante, professora da UFRN

Professora no curso de pedagogia e chefe adjunta do Departamento de Educação do Centro de Ensino Superior do Seridó (Ceres), campus de Caicó, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Christianne Medeiros Cavalcante tem experiência de 22 anos como professora da educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental. Sua prática na educação básica foi marcada pela preocupação com a aprendizagem significativa dos alunos, com opção pelo trabalho com projetos. Considera-se como aprendizagem significativa o processo por meio do qual uma nova informação relaciona-se, de maneira substantiva, não-literal, e não-arbitrária, a um aspecto relevante da estrutura de conhecimento do indivíduo.

Com licenciatura em pedagogia, Christianne tem mestrado e doutorado em educação. Em sua dissertação de mestrado na UFRN, Ensinando – Pensando – Aprendendo: Prática de Projetos e Autoformação, ela aborda a experiência docente com projetos e demonstra sua viabilidade enquanto metodologia de ensino que possibilita o desenvolvimento do processo autoformativo do professor. Na tese de doutorado, Professoras e Projetos: Concepções e Práticas no Ensino Fundamental, Christianne analisa as práticas de professoras da rede pública que trabalham com projetos.

“Na atualidade, os projetos se tornaram uma possibilidade de trabalho educativo que promove alterações evidentes na rotina escolar, quanto à organização do tempo e do espaço, nos conteúdos disciplinares, na maneira de instrumentalizar o processo de avaliação e, nesse percurso, nas concepções dos professores”, afirma. Ela destaca a flexibilidade identificada no enfoque dado aos conteúdos e à maneira de trabalhá-los, que subsidia uma relação interativa entre o professor e aluno. “A relação interpessoal surgida com essa opção de trabalho é fator relevante”, enfatiza. “A confiança é ponto de partida para que o sujeito-aluno busque no sujeito-professor e nos demais colegas o auxílio necessário para atingir, de forma autônoma, o que ainda não conseguiu independentemente.” (Fátima Schenini)

Jornal do Professor O que são projetos pedagógicos e qual a contribuição que trazem para o processo de ensino-aprendizagem?

Christianne Medeiros Cavalcante – O termo projeto, em sua etimologia, quer dizer “lançar-se à frente”. Isto é, o desejo, a intenção de fazer alguma coisa, de agir. Mas é uma vontade que representa a necessidade de uma organização, principalmente quando nos referimos ao trabalho educativo, que é basicamente intencional. Implica um plano de trabalho que personifique as intenções. Os projetos constituem um conjunto de ideias e conhecimentos, procedimentos e habilidades, hábitos e atitudes; um processo de construção de conhecimento dentro do processo de ensino e aprendizagem; um processo de autoformação dentro de um processo de formação.

Particularmente, considero como uma prática didática, que assume três dimensões: pessoal, política e pedagógica. A dimensão pessoal envolve as ideias, objetivos de vida, de realização, que conferem ao ser humano a diferença entre ele e seus pares e entre ele e os demais seres vivos. Transposto para a dimensão pedagógica, designa a ação do professor e de seus alunos, que dão, juntos, significado às aprendizagens que se formam a partir dos objetivos traçados sobre os tema e problemas de estudo. A dimensão política envolve as justificativas da ação humana, a tomada de decisão por um dado caminho. Isto é, os motivos que conduzem um docente a optar por um dado caminho didático.

Na atualidade, os projetos tornaram-se uma possibilidade de trabalho educativo que promove alterações evidentes na rotina escolar quanto à organização do tempo e do espaço, nos conteúdos disciplinares, na maneira de instrumentalizar o processo de avaliação e, nesse percurso, nas concepções dos professores. Têm funcionado como impulsionadores do processo de formação docente voluntária, compreendendo a ideia de autoformação como um processo autônomo, mas não isolado, de formação do professor que necessita de diferentes aportes para se desenvolver. Compreende-se que a ação de sistematizar as situações de ensino, a partir de etapas que constituem o modelo projetivo, oferece a possibilidade de desenvolver aprendizagem não apenas no sujeito-aluno, mas, sobretudo, no sujeito-professor.

O trabalho com projetos ajuda a superar a perspectiva estreita do conhecimento compartimentado, que expressa as divisões e separações existentes na organização da sociedade contemporânea, especialmente as que marcam as relações de trabalho, quanto aos que idealizam e os que executam. Através do projeto, o aluno vivencia um processo de investigação, cujo tratamento e divulgação das informações produzidas colocam-se como aspectos relevantes no trabalho, além de objetivos para os professores. Pela flexibilidade que deles emana, quanto à forma de conceber e organizar o conhecimento, configura-se o trabalho com o projeto a partir de uma abordagem educativa, que percebe a organização dos conteúdos, pautado na ideia de unidade, desfragmentação, interdisciplinaridade. Com essa abordagem, os conteúdos tornam-se meios para alcançar os objetivos, não os próprios objetivos.

Há uma flexibilidade identificada no enfoque dado aos conteúdos e à maneira de trabalhá-los que subsidia uma relação interativa entre os dois extremos pessoais: professor e aluno. A relação interpessoal surgida com essa opção de trabalho é fator relevante, pois a confiança é ponto de partida para que o sujeito-aluno busque no sujeito-professor e nos demais colegas o auxílio necessário para atingir, de forma autônoma, o que ainda não conseguiu independentemente.

Como elaborar um projeto pedagógico? Há pontos que não podem ser esquecidos?

– A composição estratégica do projeto dá-se no encontro de sua perspectiva formativa de construção de conhecimentos por meio da investigação científica e a definição dos materiais curriculares que os apoiará. O projeto não constitui um recurso didático, mas uma perspectiva de ensino que tem uma concepção pedagógica própria. Consideradas as muitas publicações existentes, são de fácil acesso diferentes orientações para a sistematização de um projeto (tema, justificativa, objetivos, conteúdos, estratégias complementares à própria opção pelo projeto, sistemática de avaliação, produção final). Todavia, o que diferencia o trabalho com projeto é o fator problematização... Os sujeitos precisam vivenciar o problema para se lançarem em busca do conhecimento.

Os estudantes dos cursos de licenciatura saem preparados para o uso de projetos pedagógicos?

– Como formadora já há algum tempo, posso dizer que estão muitos frágeis os conhecimentos sobre o trabalho com projetos. Muitos fatores podem ser elencados, mas não vejo necessidade de apontar. O importante é reconhecer que é preciso um aprofundamento sobre esse tipo de trabalho, bem como de outras opões metodológicas, para que nossos alunos possam escolher seu percurso didático baseados em argumentos teóricos que subsidiem suas escolhas e suas práticas.