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JORNAL

Educação Financeira

Quarta-feira, 24 de Fevereiro de 2016

Edição 122

EDITORIAL - Educação Financeira

A 122ª edição do Jornal do Professor aborda tema escolhido por 48.24% dos leitores que votaram em nossa página. É a Educação Financeira, conjunto de conhecimentos voltados para ajudar a população a tomar decisões financeiras mais autônomas e conscientes.

Neste número, apresentamos um panorama do assunto, com a professora Sueli Teixeira Mello, assessora da Diretoria de Currículos e Educação Integral da Secretaria de Educação Básica do MEC; uma entrevista com o professor José Lucas Pedreira Bueno, da Universidade de Rondônia (UNIR), integrante do Grupo de Apoio Pedagógico para a Educação Financeira; bem como as experiências desenvolvidas em escolas dos municípios de Joinville (SC), Manaus (AM), Arraias e Palmas (TO).

A professora Cláudia Forte, superintendente da Associação de Educação Financeira do Brasil (AEF-Brasil), participa da seção Entrevista e a professora Maristela Carvalho Barbosa, da Escola Municipal Maria Rufina de Almeida, de Manaus (AM), está na seção Espaço do Professor.

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

MEC apoia inserção da temática educação financeira no currículo da educação básica

Participantes de reunião do GAP

A educação financeira está entre os temas da atualidade sugeridos para compor a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Trata-se do conjunto de conhecimentos entendidos como essenciais para o fortalecimento da cidadania e voltados para ajudar a população a tomar decisões financeiras mais autônomas e conscientes.

A Base Comum definirá os conteúdos que deverão fazer parte dos currículos das escolas de educação básica nos próximos anos, por determinação do Plano Nacional de Educação (PNE). Até 15 de março, todos os brasileiros poderão contribuir com sugestões.

O tema da educação financeira ganhou destaque na arena política global com a crise econômica mundial, em 2008. Especialistas de organismos internacionais, como a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) voltaram atenção para a importância das questões associadas à educação financeira.

Nesse contexto, a educação financeira é definida como o processo mediante o qual “os indivíduos e as sociedades melhoram a sua compreensão em relação aos conceitos e produtos financeiros, de maneira que, com informação, formação e orientação, possam desenvolver os valores e as competências necessários para se tornarem mais conscientes das oportunidades e riscos neles envolvidos”. De modo geral, significa que a educação financeira pode ajudar as pessoas nas escolhas mais acertadas e responsáveis sobre o planejamento das finanças pessoais e governamentais.

No Brasil, a educação financeira vem conquistando espaço como política de Estado a partir da publicação do Decreto nº 7.397, de 22 dezembro de 2010, que instituiu a Estratégia Nacional de Educação Financeira (Enef). Desde então, ações acerca da temática são compartilhadas, de forma integrada, por órgãos e entidades públicas e da sociedade, nos âmbitos federal, estadual e municipal.

A concretização da Enef é realizada por meio do Comitê Nacional de Educação Financeira (Conef) e do Grupo de Apoio Pedagógico (GAP), colegiado criado para assessorar o comitê e apreciar, revisar e validar conteúdos e metodologias pedagógicas, relacionados à educação financeira.

GAP – O GAP é presidido permanentemente pelo Ministério da Educação (MEC) e desempenha funções de caráter deliberativo e consultivo ao avaliar e validar todo o material didático utilizado e disseminado no Programa Educação Financeira nas Escolas - Ensino Fundamental e no Programa Educação Financeira nas Escolas - Ensino Médio. Esses programas são operados pela Associação de Educação Financeira do Brasil (AEF-Brasil), com sede em São Paulo e instituída por meio de convênio firmado junto ao Conef. A AEF-Brasil é também responsável pela execução das ações aprovadas nas reuniões deste colegiado.

“O Brasil é o único país cujo ministério da educação tem papel predominante na estratégia nacional de educação financeira”, afirma Sueli Teixeira Mello, assessora da Diretoria de Currículos e Educação Integral (Dicei) da Secretaria de Educação Básica (SEB) do MEC. Ela explica que a educação financeira está incluída no documento preliminar da BNCC como tema integrador denominado consumo e educação financeira, ou seja, é trabalhado de forma transversal nas disciplinas curriculares da educação básica.

Entre 2011 e 2012, cerca de 900 escolas públicas de ensino médio das redes estaduais do Ceará, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Tocantins e do Distrito Federal participaram de projeto-piloto voltado para avaliar o impacto do uso do material didático produzido, com resultados muito satisfatórios. Em 2015, escolas públicas do ensino fundamental das redes municipais de ensino de Joinville (SC) e de Manaus (AM) deram sequência à experiência.

Antes de trabalhar a educação financeira em sala de aula, os professores das secretarias de educação que aderiram ao programa e que participaram dos projetos-piloto são capacitados pela AEF-Brasil. O material didático utilizado pelos estudantes e professores do ensino médio, durante a experiência-piloto, está disponível para download gratuito no Portal do MEC e em formato e-book.

Por meio da SEB/Dicei, o MEC licitou e imprimiu os livros didáticos de educação financeira para o ensino médio. O conjunto de materiais distribuído às escolas, no âmbito do “Programa Educação Financeira nas Escolas – Ensino Médio” compõe-se de nove livros: três livros do aluno, três cadernos de atividades do aluno e três livros do professor. Foram impressos 1,9 milhão de exemplares, beneficiando 2.969 escolas e 47 secretarias de educação, estaduais e municipais.

Semana nacional – De 16 a 20 de maio deste ano, será realizada, em São Paulo, a 3ª Semana Nacional de Educação Financeira. O evento visa alertar a comunidade educacional e formadores de opinião sobre a relevância estratégica de se trabalhar a temática da educação financeira no contexto escolar. Na oportunidade, a AEF-Brasil divulgará os resultados das avaliações do Programa Educação Financeira nas Escolas. (Rovênia Amorim)

(Republicado com correções)

Alunos de Manaus aprendem a economizar e orientam os pais

Alunos na sala de aula

Um dia, ao chegar à sala de aula, a professora Maria Erinete Strauss Nogueira perguntou aos alunos do terceiro ano do ensino fundamental quem ajudava os pais a pagar as contas de casa. Nenhum dos 26 alunos respondeu. A provocação deu início a um projeto de educação financeira, trabalhado com a turma durante o ano letivo de 2014. No encerramento das aulas, ao repetir a pergunta, os estudantes tinham um exemplo para contar. Todos estavam contribuindo para a economia dos gastos da família.

“A comunidade da Colônia Antônio Aleixo, em Manaus, onde fica a Escola Municipal São Luiz, é muito carente e, com o projeto de educação financeira, os alunos, que têm de 9 a 13 anos de idade, foram se conscientizando de que deixar a torneira aberta, por exemplo, significa uma conta de água mais cara no fim do mês”, relata Maria Erinete. Da mesma forma, com as atividades previstas no material didático que receberam, os estudantes descobriram que poderiam ajudar a própria escola a reduzir gastos com energia elétrica ao desligar o ar-condicionado no momento de deixar a sala de aula.

A escola São Luiz e outras 64 unidades de ensino fundamental de Manaus participaram, em 2015, do projeto-piloto, com apoio do Ministério da Educação, para despertar em estudantes a consciência de que podem tomar decisões acertadas sobre situações financeiras bem antes do ingresso no mercado de trabalho. Na avaliação da professora, o projeto não apenas despertou a consciência dos alunos: promoveu outra dinâmica na rotina das famílias. “Nas reuniões de escolas, os pais, muitos deles analfabetos e com dificuldades de fazer contas, disseram, entusiasmados, que os filhos estavam ajudando a não desperdiçar água e luz”, diz.

A coordenadora do Projeto de Educação Financeira da Secretaria de Educação de Manaus, Shirley Vitor, afirma que professores das turmas de terceiro, quinto, sétimo e nono anos das 65 escolas que participaram do projeto em 2015 receberam treinamento e dicas sobre o uso do material didático para desenvolver atividades com os alunos. A sugestão é que a educação financeira seja introduzida de forma transversal, perpassando o conteúdo de diferentes disciplinas. “O conteúdo é interdisciplinar e, por isso, professores de outras disciplinas, não só de matemática, podem participar”, afirma Shirley. “Em educação física, por exemplo, é possível trabalhar com jogos interativos.”

Prova — Por se tratar de projeto-piloto, os estudantes fizeram prova no fim do último ano letivo para avaliação do aprendizado do conteúdo. Professora de história e ensino religioso, Neuza Olívia Moura Cavalcante de Alencar, trabalha com 32 alunos da turma do nono da Escola Municipal Dr. Paulo Pinto Nery, na zona leste de Manaus. Ela espera, ansiosa, pela divulgação dos resultados. “Estou curiosa para saber as notas e se eles foram bem. Assim, vou poder avaliar meu trabalho também”, explica.

Neuza aplicou o conteúdo da educação financeira de forma lúdica. “Aproveitei que os alunos são adolescentes e estão naquela fase de sonhar com um futuro de sucesso”, conta. A professora usou o chão da própria sala de aula para criar a trilha de um jogo de tabuleiro em tamanho real. Ao avançar pelo trajeto, os jovens deparavam-se com uma série de estímulos para consumir e deveriam decidir entre comprar e economizar. Em cada uma das paradas obrigatórias, eles poderiam aplicar o dinheiro em imóveis ou gastá-lo em roupas, joias, carros de luxo, perfumes, celulares e notebooks. Mas teriam de chegar ao fim da trilha com dinheiro suficiente para depositar em um banco.

Entusiasmada com o projeto, a professora pretende incorporá-lo às aulas. “Foi gratificante ver os alunos percebendo o dinheiro como algo especial” diz. “Eles aprenderam a importância de procurar os descontos e de reservar economias para o futuro.”

De acordo com Neuza, é importante que o professor possa inovar sobre o conteúdo do material didático. “Eu não teria tempo para trabalhar tudo o que está no livro; então, criei uma estratégia para que os alunos pudessem assimilar o conteúdo de forma rápida e prazerosa.”

Este ano, outras 64 escolas de Manaus participam do projeto. Os professores podem sugerir mudanças para o aperfeiçoamento da iniciativa.(Rovênia Amorim)

Projeto escolar ajuda alunos a ampliar consciência crítica

Alunos da escola Eladir Skibinski, na rua, com sacolas de compras

Professora da Escola Municipal Eladir Skibinski, em Joinville, no nordeste catarinense, Carlas Pawluk classifica como um presente a oportunidade que teve de participar do projeto-piloto sobre educação financeira realizado em 2015 em 47 escolas da rede de ensino do município. “Possibilitar que os alunos recebam conhecimentos sobre educação financeira é despertar neles uma consciência crítica em relação ao consumismo e à sustentabilidade, à arrecadação de impostos e à justa aplicação dos recursos públicos para a melhoria da vida em comunidade”, ressalta Carlas.

A professora participou do piloto com uma turma de quinto ano do ensino fundamental. O trabalho, intitulado Matemática X Sustentabilidade: uma Conta que Dá Certo, baseou-se nas disciplinas de matemática, língua portuguesa e história. “Foi um projeto pedagógico interdisciplinar, tangenciando o tema transversal de ética e cidadania”, diz.

Carlas usou o material posto à disposição pelo Programa de Educação Financeira nas Escolas – vídeo e livro. “As atividades iam sendo aplicadas a cada etapa da leitura e elaboradas de acordo com a realidade e cotidiano dos alunos”, explica.

Segundo a professora, o projeto despertou o interesse dos estudantes e proporcionou muitos benefícios. “Eles puderam ser observados nas rodas de conversa, na realização das atividades propostas, na participação ativa nas pesquisas, no interesse pela arrecadação de notas e cupons fiscais e na proposta de ações que vieram a enriquecer o desenvolvimento do projeto”, revela. “São benefícios que trouxeram e trarão mudanças nas ações do dia a dia para uma vida financeira saudável e equilibrada.”

Carlas tem graduação em curso normal superior e pós-graduação em séries iniciais, educação infantil e gestão escolar.

Reflexão — Para a pedagoga Elhoni Salléte Fernandes, diretora da Escola Municipal Amador Aguiar, na mesma cidade, a reavaliação de objetivos pessoais, a valorização de pequenas quantias em dinheiro, mais reflexão e planejamento em longo prazo foram alguns dos principais benefícios verificados entre os estudantes após a realização do projeto-piloto. “É muito importante contribuir para que os alunos recebam conhecimentos sobre educação financeira”, analisa a diretora. “Isso possibilita que eles aprendam a utilizar adequadamente suas finanças desde os anos iniciais e compartilhem seus conhecimentos com a família e os adultos com os quais convivem, contribuindo para uma vivência cidadã mais consciente.”

No magistério desde 1988 e na direção desde 2013, Elhoni tem especialização em educação infantil.

De acordo com a coordenadora do programa de educação financeira na Secretaria de Educação de Joinville, Andreza Faria Malewschik, em 2016 serão atendidas as 83 escolas de ensino fundamental da rede municipal de ensino.

“O projeto-piloto beneficiou e muito a compreensão de vários aspectos financeiros”, salienta Andreza. Como exemplo, ela cita os cuidados com os gastos domésticos, a responsabilidade para com o cuidado e manutenção da escola, a compreensão dos conceitos de repensar, recusar, reduzir, reutilizar e reciclar, além de um aprendizado sobre a tomada de decisões corretas quanto a desejo ou necessidade.

Com licenciatura plena em matemática, pós-graduação em metodologia do ensino de matemática e mestrado em educação, Andreza também coordena as atividades do Grupo de Educação Fiscal na rede municipal de ensino. (Fátima Schenini)

Tecnologia é útil para controle de finanças de estudantes no TO

Alunos participam de Amostra Científica na sala de aula

O professor de matemática Diego Monteiro Queiroz tinha pouco tempo para desenvolver dois projetos com duas turmas de primeiro ano do Centro de Ensino Médio Tiradentes, em Palmas, capital do Tocantins. Um deles era a feira de ciências, que em 2015 tinha por tema os benefícios da tecnologia. O outro deveria despertar a consciência dos jovens sobre a importância da educação financeira. Ele não teve dúvidas e propôs aos seus alunos o desafio de pesquisar como a tecnologia pode ser usada a favor da redução dos gastos. Nasceu, assim, o projeto intitulado O uso da tecnologia no controle das finanças.

A sugestão do professor era de que os alunos procurassem aplicativos para celular e tablets ou programas de computadores que pudessem ajudá-los, e também suas famílias, a controlar os gastos domésticos. Eles descobriram um aplicativo para o celular que monitora os débitos em conta corrente. A cada gasto, o usuário recebe o valor atualizado do saldo na conta corrente. “Eu mesmo não conhecia e baixei o aplicativo no meu celular”, afirma o professor.

Como a maioria dos alunos não tem conta corrente, a novidade foi repassada para a família e pessoas da comunidade que visitaram a escola durante a feira de ciências. Além dos recursos da tecnologia a favor das finanças, os alunos elaboraram uma cartilha com dicas de como economizar dinheiro no dia a dia. “Desconectar os aparelhos eletrônicos da tomada quando estiverem desligados. Ações como essa ajudam a reduzir a conta de energia e a sobrar dinheiro, por exemplo, para o lazer”, sugere o professor. Outra dica é evitar ter dinheiro trocado no bolso. “Parece bobagem, mas a gente costuma não anotar os pequenos gastos e, quando somados, fazem a diferença”, explica.

Planilhas – No município de Arraias, a 472 quilômetros de Palmas, outro exemplo de projeto de educação financeira em sala de aula. O desafio foi colocado a três turmas do segundo ano do Colégio Estadual Joana Batista Cordeiro. Qual a importância do planejamento financeiro das famílias? Com base em entrevistas com os próprios pais, os alunos tiveram como tarefa organizar as despesas e receitas e elaborar o orçamento familiar. A atividade fez parte do Projeto de Educação Financeira nas Escolas de Tocantins, em parceria com a Associação de Educação Financeira do Brasil (AEF–Brasil) e apoio do Ministério da Educação.

Com o uso de calculadora, os alunos tinham que construir uma planilha, detectando as áreas de mais gastos e refletindo sobre o consumo da família. Para ajudá-los nesse processo, o professor Jaimilson Alves apresentou-lhes um esquema em quatro etapas: registro, consolidação, análise e previsão. Na fase de registro, os alunos precisam recolher faturas, contracheques, boletos, extratos bancários, toda a documentação referente às receitas e despesas da família. Na fase de consolidação, os dados eram organizados em categorias na planilha para, na fase de análise, perceber onde se gasta mais e onde será possível corte. Por fim, na previsão, o aluno é desafiado a planejar o futuro financeiro, definindo metas e prioridades.

“O dinheiro precisa ter planejamento”, diz o professor Jaimilson. Ele explica que depois da planilha preenchida, os alunos puderam perceber que não se pode gastar mais do que se ganha. "Os percentuais de gasto devem ser proporcionais à importância que cada área tem e a sobra de 29% garante que as finanças fiquem em dia”, afirma. Para finalizar as atividades do projeto foi exibido um vídeo sobre orçamento familiar, em que os alunos discutiram sobre o assunto apresentado suas experiências com o planejamento das finanças da família. Segundo o professor Jaimilson, a execução dessas atividades trouxe um grande aprendizado para os alunos e para ele próprio. “Fazer um planejamento sistemático de nossas finanças é uma medida necessária para a saúde financeira de todos. Planejando com atenção, o pouco pode virar muito”, diz.

No total, 76 escolas de ensino médio de 13 municípios de Tocantins participaram, entre 2010 e 2015, do projeto-piloto do Programa Educação Financeira nas Escolas. De acordo com Alessandra Camargo, coordenadora estadual do programa na Secretaria de Educação de Tocantins, a experiência de trabalhar a temática em sala de aula foi positivo. Segundo ela, mais de 80% das situações temáticas contidas no material didático distribuído, gratuitamente, a alunos e professores envolvidos no projeto foram trabalhados, de forma transversal, pelos professores do ensino médio de Tocantins. (Rovênia Amorim)

José Lucas Pedreira Bueno (Unir): “Educação financeira é necessária para todos”

Professor e pesquisador do Departamento de Ciências da Educação da Universidade Federal de Rondônia (Unir), José Lucas Pedreira Bueno integra o Grupo de Apoio Pedagógico (GAP), presidido pelo Ministério da Educação, na formulação da Estratégia Nacional de Educação Financeira (Enef). O GAP é integrado por um representante docente de instituição pública de educação superior das cinco regiões do Brasil, além de representantes do setor financeiro e de instituições da sociedade civil.

Para José Lucas, a educação financeira é necessária não apenas para crianças e adolescentes, mas para todos nós. “Temos de nos perguntar se é possível conceber sujeitos para exercer a cidadania nos dias de hoje sem o domínio de saberes acerca da relação existente entre as finanças e a nossa vida doméstica, onde se planeja e vivencia grande parte dos fatos da vida”, destaca.

Com graduação em gestão da tecnologia da informação e licenciatura em letras (português e inglês), José Lucas tem mestrado e doutorado em engenharia de produção. (Fátima Schenini)

 

Jornal do ProfessorQual a importância de se proporcionar aulas de educação financeira a crianças e jovens?

José Lucas Pedreira Bueno — A educação básica deve prever o ensino de saberes para que crianças e jovens alcancem condições de exercer a “cidadania com autonomia”. Para isso, diversos saberes precisam ser ensinados desde a infância, para crianças e jovens continuarem em desenvolvimento ao longo da vida, em cada uma de suas fases.

Com uma intencional redundância, destaquei com aspas “cidadania com autonomia”, no esforço de ser didático, porque não é possível conceber que qualquer sujeito seja um cidadão se este não contar com autonomia em suas escolhas, decisões e ações no exercício de direitos e deveres.

A partir disso, governo e sociedade vivem em constante discussão para eleger os saberes imprescindíveis para que as escolas consigam formar cidadãos para conviver, viver, aprender e desenvolver em sociedade. E, para elegermos esses saberes, temos de nos perguntar: qual é a sociedade em que vivemos? Quais aspectos determinam nossas relações e o que podemos fazer para influenciar para que essas determinações sejam menos perversas e injustas?

Da mesma forma, também temos de nos perguntar se é possível conceber sujeitos para exercer a cidadania nos dias de hoje sem o domínio de saberes acerca da relação existente entre as finanças e a nossa vida doméstica, onde se planeja e vivencia grande parte dos fatos da vida. E ainda se é possível a escola acreditar que forma cidadãos sem lhes proporcionar a capacidade de produzir e criticar o modo de vida, a produção, o consumo e a subsistência em nossa sociedade, que basicamente se assentam sobre nossas finanças.

Talvez aí esteja a importância da educação financeira para crianças e jovens, que não é necessária só para eles, mas para todos nós. Acreditamos, ainda, que as crianças e os jovens se constituem em verdadeiros multiplicadores desses aprendizados no contexto familiar.

Quais os principais conteúdos abordados no tema educação financeira? De que forma eles devem ser repassados aos estudantes?

— O Programa Educação Financeira nas Escolas é uma iniciativa da Estratégia Nacional de Educação Financeira (Enef). Para que o tema educação financeira fosse levado ao contexto escolar, foi produzido o documento Orientações para Educação Financeira nas Escolas e, a partir dele, um conjunto de materiais educativos voltados para o ensino fundamental e médio, com conteúdos a serem aplicados de forma transversal, por meio de projetos e dinâmicas que propõem atividades em grupo e muita interação entre os alunos e com o meio em que vivem para aprenderem e contextualizarem os conhecimentos.

Os conteúdos são diversos e norteados por objetivos que buscam o “desenvolvimento da cultura de planejamento, prevenção, poupança, investimento e consumo consciente”. Tratam da forma de produção de alguns alimentos, explicitando a noção de cadeia produtiva; tratam da necessidade do trabalho e empreendedorismo e das concepções para se alcançar bens necessários à vida, por meio da compreensão ética dos desafiadores temas de juros, empréstimos, endividamento, poupança, aplicações, forma e momento mais adequado para aquisições, entre outros, de forma a buscar soluções para se alcançar o domínio das finanças pessoais. Os saberes tocam em temas pertinentes aos alunos, como mesada, orçamento e despesas pessoais, cotações, visitas a mercados e lojas. Além disso, ainda esclarecem sobre moedas, bancos, seguros, previdência, poupança, investimentos, aplicações etc.

O ensino da educação financeira é uma tendência mundial e já ocorre em outros países?

— O ensino da educação financeira, como podemos conferir em alguns trabalhos já publicados sobre a temática, não é uma questão muita clara para as instituições de ensino, grupos e entidades de pesquisas educacionais, tanto no exterior quanto no Brasil. Alguns países desenvolvidos movimentam discussões e experiências educativas já há algum tempo, como Estados Unidos e Inglaterra. Na América Latina, provocadas por organismos internacionais, há algumas poucas discussões incipientes, que custam a amadurecer. No Brasil, o Comitê Nacional de Educação Financeira (Conef), por meio do convênio com a Associação de Educação Financeira do Brasil (AEF-Brasil), tem implementado ações relevantes para que o tema ganhe, cada vez mais, os espaços escolares. No ensino médio, nesse momento, o projeto de educação financeira encontra-se em fase de disseminação, a partir da impressão e distribuição dos materiais educativos pelo MEC para 2.969 escolas, nas 27 unidades da Federação. No ensino fundamental, estamos na fase de finalização do projeto-piloto implementado em 2015 nos municípios de Joinville (SC) e Manaus (AM), em 212 escolas, com a participação aproximadamente de 18 mil alunos. As escolas públicas e particulares, desde o ano passado, já contam com os materiais para o ensino médio, disponíveis gratuitamente na internet. Acreditamos que, dessa forma, o tema pode alcançar cada vez mais um número significativo de escolas em nosso país, que apresenta dimensões continentais.

Os professores brasileiros são preparados para a transmissão de conteúdos de educação financeira? De que forma?

— Um importante passo foi dado em 2015, com o Grupo de Apoio Pedagógico (GAP) da Estratégia Nacional de Educação Financeira, que apresentou à Diretoria de Currículos e Educação Integral da Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação um documento para propor o reconhecimento da educação financeira na elaboração da Base Nacional Comum Curricular.

Acreditamos que, a partir da inclusão da educação financeira na Base Nacional Comum Curricular, políticas públicas, pesquisas, formação de professores e novas experiências com o ensino da educação financeira podem ser viabilizadas e apresentadas à sociedade. Especificamente, ainda podemos citar que o curso de pedagogia do campus de Porto Velho da Universidade Federal de Rondônia inclui, desde 2013, a educação financeira em seu currículo, prevendo já formar professores da educação básica com saberes críticos e propostas de práticas de ensino da educação financeira.

É ainda muito pouco, mas, em termos educacionais, devido a tantas necessidades educativas, à diversidade educacional brasileira e à necessidade de amadurecer criticamente e academicamente as propostas a serem levadas às escolas, a educação financeira já deu muitos passos e pode ampliar em muitos seus horizontes, principalmente no tempo de crise em que vivemos.

Quais as atividades que o senhor realiza como membro do Grupo de Apoio Pedagógico na formulação da Estratégia Nacional de Educação Financeira?

— Os membros do GAP participam de frequentes reuniões para se informar, discutir, propor, elaborar, corrigir, criticar e planejar documentos, materiais didáticos, ações e iniciativas, entre outras atividades e demandas ligadas à Estratégia Nacional de Educação Financeira. Além de participações em reuniões, ainda analisamos e elaboramos pareceres sobre documentos e materiais didáticos. O GAP é presidido pelo MEC, conta com um representante docente de instituição pública de educação superior das cinco regiões do Brasil e representantes do setor financeiro e de instituições da sociedade civil.

Vovó Rufina conta histórias e leva emoção aos estudantes

Personagem da vovó Rufina conta histórias a alunos

Há 31 anos no magistério, a professora Maristela Carvalho Barbosa, da Escola Municipal Maria Rufina de Almeida, em Manaus, gosta de trabalhar com projetos pedagógicos. Segundo ela, todo projeto tem um tema, uma programação a ser seguida e precisa ser sistematizado. “Assim fica mais fácil desenvolver as atividades, porque fica claro quais as etapas a serem seguidas e que resultados poderemos alcançar”, justifica.

Em 2015, Maristela fez parte do grupo dos 30 ganhadores da nona edição do Prêmio Professores do Brasil, com o projeto Histórias da Vovó Rufina, desenvolvido com alunos de todas as turmas do primeiro ao quinto ano do ensino fundamental.

“A premiação representou um estímulo para continuarmos realizando nossas atividades com o mesmo compromisso social que sempre tivemos com o ensino. Sabemos que estamos atuando com vidas em formação, que nunca podem ser negligenciadas”, revela Maristela, que tem graduação em normal superior e comunicação social.

O projeto se propõe a resgatar a arte de contar histórias, desenvolvendo a imaginação, a observação e as linguagens oral e escrita dos alunos. Além disso, pretende estimular o interesse dos alunos pela leitura, desenvolver o prazer pela arte e a habilidade de dar lógica aos acontecimentos.

O projeto foi criado coletivamente pela equipe pedagógica da escola, em 2011, tendo como personagem a vovó Rufina: uma senhora que conta histórias aos estudantes, de forma lúdica e atrativa. A ideia central era enriquecer a rotina escolar, estimulando a leitura e a produção de textos. O projeto deu tão certo que continua até hoje, com acréscimo de novas leituras e novos sentidos e significados a cada ano. Contos de fadas, apólogos e fábulas da Amazônia são alguns dos temas já desenvolvidos.

No início, a personagem da vovó era interpretada por diferentes professoras, em sistema de rodízio. Todas tinham oportunidade de dar vida à vovó. Com o passar do tempo, no entanto, foi decidido que o papel caberia a Maristela, por ser a que mais se encaixava no perfil da personagem.

Ela explica que costuma receber convites para participar de ações solidárias. “Vamos sem nos fazer de rogados. Nesses momentos rebemos muitos afetos, sorrisos entristecidos pelas doenças, mas estimulantes”, justifica. “Esse trabalho tem me dado muitas alegrias”, ressalta.

De acordo com Maristela, a vovó passou a ser um ídolo para os estudantes. “Onde eles a veem, a cumprimentam, tomam a benção”. Ela diz que até ex-alunos, que já saíram da escola, gritam chamando pela vovó, tão logo a enxergam.

O projeto, bastante amplo, inclui diversas atividades. Assim, depois que ouvem as histórias contadas pela vovó, os alunos trabalham os textos na sala de aula, seja em forma de leitura, reescrita, desenhos ou jornal mural. A cada nova história, uma turma fica responsável pela sua dramatização. Isso tem contribuído para uma maior aproximação entre os alunos, um maior desenvolvimento na escrita, na capacidade verbal, na arte de dramatizar além de uma melhoria nos episódios de violência.

Idosos – O projeto aproveita o fato de que as histórias são contadas por uma vovó para trabalhar a valorização dos idosos. Uma de suas atividades é uma visita ao asilo São Vicente de Paulo. Nesse dia, a vovó conta histórias e as crianças fazem apresentações de balé, dança folclórica, música e poesia. Na ocasião, é servido um lanche doado pelos professores. Os pais dos alunos colaboram com a doação de gêneros alimentícios em falta no asilo.

Durante a realização do projeto, desenvolvido ao longo de todo o ano letivo, cada turma da escola apadrinha um idoso e fica responsável pela doação de uma cesta personalizada de produtos de higiene pessoal no dia da visita ao asilo. (Fátima Schenini)

Conheça o blogue da escola

Cláudia Forte: “Educação financeira é uma leitura de realidade, de planejamento de vida”

Cláudia Forte

Para a superintendente da Associação de Educação Financeira do Brasil (AEF-Brasil), Cláudia Forte, a educação financeira deve começar no início da vida escolar. “Afinal, é nesse espaço que damos os primeiros passos para a construção de nosso projeto de vida”, analisa.

Professora do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas da Universidade Presbiteriana Mackenzie, com graduação em administração de empresas, mestrado em administração e doutorado em relações internacionais, Cláudia Forte diz que a educação financeira “é uma leitura de realidade, de planejamento de vida, de prevenção e de realização individual e coletiva”.

“Nos primeiros anos de nossa formação, desenvolvemos capacidades de formar hábitos saudáveis para a vida adulta”, ressalta Cláudia. “O que se vivencia, o que se pratica, torna-se um hábito, que se for desde cedo incorporado a nossa vida permitirá adotar comportamentos e condutas financeiramente saudáveis.” (Fátima Schenini)

 

Jornal do Professor O que é a Associação de Educação Financeira do Brasil? Por que foi criada?

Cláudia Forte – A AEF-Brasil é uma associação sem fins lucrativos, criada por quatro entidades do mercado financeiro: a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima), a Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros (Bm & Fbovespa), a Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (Cnseg) e a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), com o objetivo de auxiliar o governo na implantação da Estratégia Nacional de Educação Financeira (Enef).

Essas quatro entidades financiam todas as despesas administrativas da AEF-Brasil, que tem convênio com o Comitê Nacional de Educação Financeira (Conef) para desenvolver os projetos e ações previamente aprovados pelo comitê.

Uma das atividades iniciais da AEF-Brasil foi a realização do primeiro mapa da Educação Financeira no Brasil, lançado em abril de 2014. O mapeamento mostrou um panorama das iniciativas de educação financeira disponíveis no Brasil, como projetos, ferramentas, blogues e aplicativos de entidades que atuam nessa área e até de pessoas físicas. Foram identificadas mais de 800 iniciativas. A ideia do mapa é apresentar uma fotografia do cenário atual para aprimorar as ações que já existem, aumentar as sinergias e melhorar o entendimento sobre os resultados positivos.

O primeiro projeto de educação financeira nas escolas foi desenvolvido para jovens de 14 a 21 anos do ensino médio, entre 2010 e 2011. Eles receberam aulas de educação financeira conforme projeto-piloto da Enef, conduzido em 448 escolas do Ceará, Tocantins, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Distrito Federal. O projeto-piloto envolveu aproximadamente 14 mil alunos e 1,5 mil professores. Foram produzidos três livros para os alunos e para os professores com situações do cotidiano, abordando o tema e levando o aprendizado de educação financeira para dentro da sala de aula. Depois da ação, o Banco Mundial realizou uma análise, que comparou essas 448 escolas com outras 500 onde nada foi feito em educação financeira. O objetivo era identificar diferenças no comportamento dos jovens. A análise constatou que os alunos das escolas onde houve intervenção mostraram um nível de letramento financeiro 7% superior ao dos estudantes das escolas onde nada foi feito. As famílias desses alunos mostraram nível de poupança 1% maior quando comparado às famílias de alunos sem disciplina de educação financeira. Esse fato comprova que o jovem funciona como um indutor de mudança de comportamento dentro da família.

Qual a importância de se proporcionar aulas de educação financeira a crianças e jovens?

– A educação financeira passa, sobretudo, pela criação de hábitos e costumes que embasam atitudes das crianças de hoje e estarão refletidos no comportamento dos adultos do futuro. É um ciclo virtuoso. O que muda na vida dos jovens que recebem esta orientação é o fato de que boa parte de suas decisões futuras estará baseada em princípios contidos na educação financeira, como a economicidade e o pensar coletivo. Quando ensinamos uma criança de 6 anos a fechar a torneira enquanto lava a maçã para o lanche na escola, estão contidos nesse ensinamento alguns princípios norteadores, como o da economia de recursos naturais e poupança de outros recursos que vão auxiliá-lo em situações muito mais complexas em sua vida adulta. A educação financeira para os jovens os prepara para o entendimento de diferentes momentos de crise e, sobretudo, os ajuda a enxergar soluções para sair delas.

É muito importante desenvolver a educação financeira desde cedo, pois ela prepara as futuras gerações para desenvolver as competências e habilidades necessárias para lidar com as decisões financeiras que tomarão ao longo de suas vidas. A educação financeira não é um conjunto de ferramentas de cálculo, é uma leitura de realidade, de planejamento de vida, de prevenção e de realização individual e coletiva. Assim, faz todo sentido ser trabalhada desde os anos iniciais da vida escolar. Afinal, é nesse espaço que damos os primeiros passos para a construção de nosso projeto de vida.

A escola é um ambiente onde estudantes aprendem não somente os conhecimentos cognitivos, mas também aqueles que lhes proporcionam capacidade de administrar a vida em sociedade, onde podem aprender a fazer escolhas e a sonhar, a se colocar como protagonistas de sua história de vida, com condições de planejar e fazer acontecer o futuro que desejam para si, em conexão com o grupo familiar e social a que pertencem.

Nos primeiros anos de nossa formação, desenvolvemos a capacidade de formar hábitos saudáveis para a vida adulta. O que vivenciamos, o que praticamos torna-se um hábito que, se for desde cedo incorporado a nossa vida, nos permitirá adotar comportamentos e condutas financeiramente saudáveis. Outro aprendizado fundamental que deve acontecer desde cedo é a compreensão de que as escolhas que fazemos no presente terão impacto no futuro.

Qual a participação do MEC no Programa de Educação Financeira nas Escolas?

– A proposta de incluir no contexto das unidades escolares o Programa Educação Financeira nas Escolas foi uma iniciativa dos quatro órgãos reguladores (BC, CVM, Previc e Susep) quando da formulação da Estratégia Nacional de Educação Financeira. Em dezembro de 2007, os representantes dos referidos órgãos, em reunião com o Ministério da Educação, propuseram o programa, que foi imediatamente acolhido, por sua interface com os diversos programas existentes no âmbito educacional, dentre eles o Mais Educação. A participação do MEC, desde então, deu-se com a proposta de constituição de um grupo, com a participação de profissionais representativos dos diversos setores educacionais (ou sistemas de ensino) de abrangência do MEC: Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), instituições da rede federal de ensino, universidades. O grupo, denominado Grupo de Apoio Pedagógico (GAP), trabalhou na construção do documento Orientações para Educação Financeira nas Escolas, lançado em 2009, disponível na página da Enef na internet. A partir daí, na elaboração dos materiais educativos voltados para o ensino médio e para o ensino fundamental.

O conteúdo é passado de forma lúdica e estimulante, tanto para os professores quanto para os alunos. Diversas metodologias foram usadas para se alcançar um material interativo, atual e estimulante. A concepção do material foi trabalhada para que todos os professores, independentemente das disciplinas que lecionam, possam se sentir à vontade para inserir em seu conteúdo de aula os insights e conteúdos necessários para a formação de um cidadão incluído em sua sociedade e também do ponto de vista financeiro e econômico.

O ensino de educação financeira é uma tendência mundial e já ocorre em outros países? Qual a situação do Brasil em relação aos demais países?

– Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), um número crescente de governos nacionais está engajado em desenvolver estratégias de educação financeira. As implicações sociais e econômicas em longo prazo do baixo índice de educação financeira de grande parte da população mundial tem levado os governos a criar políticas específicas, especialmente a partir de 2008.

A existência de uma estratégia nacional de educação financeira favorece a promoção do tema no país e cria diretrizes para balizar iniciativas concretas, sejam do Estado, da iniciativa privada ou da sociedade civil. A estratégia torna-se a principal referência para leis, políticas públicas e programas multissetoriais e contribui para gerar ampla mobilização. Em 2013, 45 países de diferentes níveis de renda criaram uma estratégia nacional de educação financeira ou avançaram em projetos relacionados ao tema. Fóruns globais e regionais, como o G20 e a Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), já reconheceram a importância dos esforços nacionais de educação financeira para sustentar a estabilidade econômico-financeira e o desenvolvimento social inclusivo. No âmbito dos países do G20, de modo especial, as estratégias nacionais de educação financeira têm-se proliferado. Metade deles já desenvolveu uma estratégia: Austrália, Brasil, Japão, Holanda, África do Sul, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos.

O Brasil ocupa posição de destaque no cenário mundial na implementação de política pública do tema da educação financeira. Temos um sistema financeiro extremamente estruturado, que serve de modelo para vários outros países. Recentemente, em um evento do Banco Central, representantes de várias nações relataram momentos muito diferentes em seus países, desde a estruturação de um Banco Central até as estratégias desenvolvidas para a capilaridade dos programas de inserção financeira.

Qual o papel dos professores no processo da educação financeira?

– Um dos maiores aprendizados da AEF ao executarmos a estratégia de educação financeira no Brasil foi nos certificarmos da importância determinante do papel do professor no processo da educação financeira. Como são educadores, antes de serem professores, eles são o elo mais importante quando queremos ligar nosso jovem a um mundo com mais oportunidades para todos. Os professores que já foram envolvidos em suas respectivas escolas mostram-se verdadeiros embaixadores do tema. Além de repassar os conteúdos, tornam-se agente ativos desse processo, inspirando os alunos a mover-se de sua atual situação para uma outra, na qual possam ser também agentes ativos das mudanças, não apenas alguém que sofre as consequências do processo.

Estamos num momento único no Brasil: temos a chance de consultar, indicar e sugerir temas dos mais diversos para a composição do currículo. Está disponível a consulta à Base Nacional Curricular Comum, até março deste ano. Ali, está sendo tratada, de maneira muito consciente e detalhada, a inserção da temática da educação financeira nas escolas como tema integrador.

É uma grande oportunidade para os atuais professores, que não tiveram esse conteúdo trabalhado em sua formação. De posse desse documento de consulta pública, os cursos de formação de professores devem ser reformulados com vistas a atender às novas expectativas e anseios da sociedade brasileira. E passa por esse caminho o melhor domínio e entendimento de cenários financeiros e problemas econômicos, conteúdos abordados no âmbito da educação financeira.

A AEF oferece cursos de formação para professores? Como eles são?

A formação oferecida pela AEF-Brasil, como proposta de preparação para que os professores possam se aproximar dos conteúdos de educação financeira que integram o Programa Educação Financeira nas Escolas, fundamenta-se na metodologia pedagógica desenvolvida para que a temática dialogue com os componentes curriculares. Tal metodologia considera que o cotidiano acontece sempre em espaço e tempo determinados. Nesse sentido, foi construído um programa de aprendizagem, de 40 horas, na modalidade de educação à distância, baseado numa situação de vida familiar, que permite aos professores tomar decisões financeiras responsáveis, conhecer os conceitos financeiros que fazem parte dos materiais educativos desenvolvidos para o ensino médio e, até mesmo, aplicar em suas próprias vidas os aprendizados construídos.

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