Logo Portal do Professor

JORNAL

Novas Tecnologias na Educação

Sexta-feira, 18 de Julho de 2008

Edição 2

EDITORIAL - Novas Tecnologias na Educação

Atendendo as solicitações dos leitores, a segunda edição do Jornal do Professor aborda o tema Novas Tecnologias na Educação. Além de ser o principal foco deste Portal, o assunto foi o mais votado na enquete colocada em nossa página.

 

Nesta edição, você vai ficar sabendo sobre as novas tecnologias que podem contribuir para a melhoria do trabalho do professor, as ferramentas da escola do futuro, dicas de softwares on-line para tornar as aulas mais dinâmicas, além do exemplo de um professor que usa a criatividade para incentivar seus alunos.

 

Escolha o tema das próximas edições. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

 

Seja bem-vindo!

Lousa digital, carteiras eletrônicas e animações em 3D: ferramentas da escola do futuro

Escola de Pelotas (RS) utiliza a lousa digital em sala de aula desde 2007.

No quadro negro, as imagens se movimentam com o toque das mãos. Nas tradicionais carteiras, além de cadernos e lápis, as crianças podem acessar a internet. A cena que parece ser de um filme de ficção científica está mais real do que se imagina. Essas e várias outras tecnologias já estão sendo utilizadas em escolas brasileiras.

Em Pelotas (RS), a Escola de Ensino Fundamental e Médio Mário Quintana já aderiu às lousas digitais desde junho do ano passado. Segundo a professora de língua portuguesa da escola, Thaís de Almeida Rochefort, a ferramenta permitiu que os alunos dessem “vida aos conhecimentos”. “Assuntos antes tratados de maneira menos interativa, agora fazem com que os alunos se sintam parte deles, co-autores”, explica.

Ela e outros professores têm recebido treinamentos constantes para se adaptar à nova tecnologia. “A cada aula descobrimos novas possibilidades de tornar a escola mais próxima e significativa”, conta, ao ressaltar que a reação dos alunos não poderia ser mais positiva.

Um exemplo de programa que pode ser utilizado na lousa digital é o software em três dimensões. Com ele, os professores podem elaborar aulas interativas, revelando o interior de uma célula, o relevo de um mapa, ou até mesmo os músculos do corpo humano. Basta, por exemplo, tocar o dedo na tela para o sistema solar aparecer e se movimentar.

Desenvolvido pela empresa P3D, em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) e o Centro Incubador de Empresas Tecnológicas (Cietec), o software já está sendo utilizado em 200 escolas privadas e 30 públicas no Brasil. O programa não tem texto, nem guia de voz, somente imagens de grande qualidade gráfica. Segundo a professora Jane Vieira, executiva da P3D, esta característica é uma vantagem porque as imagens podem ser usadas com qualquer material didático, independentemente de filosofia, pedagogia e didática. Jane Vieira garante que em breve o instrumento será oferecido em software livre, o que permitirá que todas as escolas utilizem gratuitamente.

Já no município de Serrana (SP), cidade próxima a Ribeirão Preto, as carteiras eletrônicas são a novidade. Conhecidas como Lap Tup-niquim, elas dispõem de uma tela sensível a toques, sobre a qual se pode escrever, fazer desenhos ou equações. O tampo pode ser levantado, e abaixo dele fica um teclado, caso seja necessário digitar. A CPU do computador fica acoplada embaixo da carteira.

Desenvolvidas em parceria pelo Centro de Pesquisas Renato Archer (Cenpra), de Campinas, instituição do Ministério da Ciência e Tecnologia, e pela Associação Brasileira de Informática (Abinfo), empresa abrigada na Companhia de Desenvolvimento do Pólo de Alta Tecnologia de Campinas (Ciatec), cerca de 300 carteiras eletrônicas já estão sendo utilizadas na Escola Municipal Maria Celina. De acordo com Victor Mammana, idealizador do projeto, o diferencial da carteira é justamente a superfície de interação. “Como diz Bill Gates, a próxima revolução não será de conteúdo nem da forma de apresentá-lo, mas, sim, da maneira como o corpo humano irá interagir com a tecnologia”, afirma. O projeto tem apoio da Secretaria de Educação a Distância do Ministério da Educação.

(Renata Chamarelli)

Softwares on-line tornam as aulas mais dinâmicas

Novos softwares on-line podem auxiliar a dinamizar as escolas.

Troca de informações, interatividade e colaboração. Estas são as características da segunda geração da rede mundial de computadores, a chamada Web 2.0. Com a utilização de ambientes virtuais, os sites estão deixando de ser estáticos para se tornarem uma ferramenta mais dinâmica. Blogs, wikis e demais ferramentas on-line que permitem a interação do público estão cada vez mais disseminadas na internet. Ambientes on-line possibilitam a interação não só de internautas como também entre programas.

A utilização destas tecnologias nas escolas segue o mesmo caminho. Apesar de ainda serem minoria, o número de professores que utilizam blogs cresce a cada dia. Há comunidades com mais de 500 professores cadastrados. Da mesma forma, o número de ambientes on-line também está aumentando.

Ao citar mais de 20 ferramentas virtuais, o especialista em informática na educação, Eziquiel Menta, da Secretaria de Educação do Estado do Paraná, destaca a importância de se compreender os benefícios de cada recurso digital. “Estes programas são muito interessantes, mas é necessário saber utilizá-los de forma planejada”, alerta.

Conheça as ferramentas de vídeo, áudio, mapas e redes sociais disponíveis na internet:

 

Vídeo

 

Áudio

 

Mapa

 

Produção Colaborativa

 

Conheça mais opções acessando a seção Softwares de Edição http://portaldoprofessor.mec.gov.br/link.html?categoria=10

 

 

(Renata Chamarelli)

Professor usa criatividade para incentivar alunos

Novas tecnologias deixam alunos mais interessados.

A busca por novos materiais que pudessem despertar o interesse dos estudantes para o aprendizado de álgebra levou ao computador o professor de matemática e ciências naturais das séries finais do ensino fundamental, Jaime Pereira Antunes Campos, do Centro de Ensino Fundamental da Vila Planalto, no Distrito Federal. Em 2007, navegando na internet, ele encontrou uma apresentação de power point sobre “produtos notáveis”. Adaptou este conteúdo, destinado à sétima série, para a linguagem html, dando início a uma nova etapa em suas aulas.

“Os alunos ficaram mais interessados e mais concentrados. Ficaram também mais solidários, prontos a ajudar os colegas e os professores em caso de dúvidas relativas à informática” , diz Jaime Campos. Ele destaca que a apresentação dos trabalhos foi uma oportunidade para os alunos revelarem seus talentos. “Até então, não tínhamos idéia da desenvoltura que alguns estudantes tinham.” Os alunos trabalharam com planilhas excel e construção de gráficos e os resultados obtidos foram publicados no blog do professor (http://prof-jaime-matematica.blogspot.com/).

Jaime Campos explica que, neste ano, vai aproveitar a realização das Olimpíadas, na China, para trabalhar conteúdos de matemática. O tema também será aproveitado pelas demais disciplinas. “Os estudantes vão conhecer os países participantes das Olimpíadas, na ótica de cada disciplina. Nas aulas de matemática vão produzir gráficos mostrando dados de renda e população dos países participantes do evento”, diz. Os trabalhos serão feitos em equipe e, no final, serão apresentados em forma de seminário, para todos os professores, valendo como uma das notas do bimestre. No final, serão publicados na internet.

O professor acredita que o uso do computador e da internet na escola reforça a auto-estima dos alunos, possibilita acesso a informações atualizadas, desperta novas habilidades, e abre portas para o descobrimento de vocações, apontando caminhos para o futuro dos jovens estudantes. “Aproveitamos também para abordar outras questões, como direitos autorais. Explicamos aos alunos que as pesquisas na internet não devem ser só na base de copiar e colar, e que é preciso resguardar os direitos dos autores”. (Fátima Schenini)

Blogs: descubra aqui como criar o da sua turma

Inúmeros professores já incorporaram o uso do blog a suas atividades didáticas. É mais uma ferramenta que vem sendo utilizada para contribuir no processo de ensino-aprendizagem, estimulando os alunos a escreverem mais. O blog é uma forma rápida e simples de você e seus alunos colocarem na internet as informações que desejam, democratizando o acesso a temas escolhidos por vocês.

O professor Moisés André Nisenbaum, do Cefet-Rio elaborou uma vídeo-aula ensinando a criar um blog. Acesse abaixo.

Para ter mais informações sobre como criar um blog conheça também a seção de Recursos Digitais (blog) neste Portal

http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000013567.pdf .

Singular pluralidade

O professor José Luiz Ferreira nasceu em São Pedro dos Ferros, pequena cidade do interior de Minas Gerais, há 52 anos. Trabalha nas redes pública e privada de ensino de Brasília (DF), onde atua nas áreas de ensino fundamental e médio.

 

Na rede pública, exerce o magistério com Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Centro Educacional Gisno, à noite e, à tarde, ministra aulas de inglês para o ensino fundamental, na Escola Classe 102 Norte.

 

Na rede privada, atua no Colégio Dom Bosco, desde 1987, onde é conhecido como professor Zezinho, apelido carinhoso criado pelos alunos. Nesse educandário, dá aulas de língua portuguesa e redação no ensino médio.

 

No encerramento de um módulo de curso de pós-graduação, que tratava especificamente de necessidades especiais no contexto escolar, o professor José Luiz escreveu o poema Singular pluralidade.

 

Ser pessoa, ser gente, seres diversos...

Não me difiras, porquanto pelo diferente.

Difiro por mim.

Se tu me consideras apenas pelo diferente

Me feres... di-feres.

 

És a água que jorra,

Sou o seixo que a desvia,

Por mim passas, desviando-te,

Desvias-te, cambiante em teu rumo certo.

Desviante não sou,

És tu que, lasso, tomas outra via,

Alternativa lúcida de quem conhece destinos.

Por ti espero sempre desperto.

Mas se, ao te desviares, me tocas,

Contigo vou,

"Empoderando-me" da eterna beleza,

Na auto-afirmação de minha essência,

Sendo, junto contigo,

Entidade única, a mesma natureza.

Tecnologias trazem o mundo para a escola

Especialista ressalta necessidade de capacitar professores para utilizar as novas tecnologias.

Tecnologias trazem o mundo para a escola

Professora associada da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Maria Elizabeth Biaconcini Almeida, mais conhecida como Beth Almeida, se dedica a estudar a aplicação de novas tecnologias na educação, desde 1990. Na época, ajudou a estruturar o núcleo de informática da Universidade Federal de Alagoas. Com mestrado e doutorado na área, atua como docente no Programa de Pós-Graduação em Educação pesquisando Novas Tecnologias em Educação.

 

Em entrevista ao Jornal do Professor, a especialista ressaltou a importância da capacitação dos educadores para a modernização da sala de aula. Segundo ela, as ferramentas de produção colaborativa já são as mais utilizadas e o futuro das escolas será pautado por uma palavra: conectividade.

 

1. O que são exatamente as novas tecnologias que estão sendo aplicadas na educação?

 

Quando falamos de novas tecnologias fazemos referência, principalmente, àquelas digitais. Hoje, sabemos que a tendência é de que haja uma convergência de tecnologias e mídias para um único dispositivo. O essencial é que este dispositivo possua ferramentas de produção colaborativa de conhecimento, de busca de informações atualizadas. Isso possibilita uma comunicação multidirecional, na qual todos são autores do processo ou, pelo menos, têm potencial para ser.

 

2. Quando surgiu a discussão sobre esse assunto?

 

O primeiro projeto público surgiu no Brasil em meados da década de 1980. Era o EDUCOM, um projeto de pesquisa desenvolvido em conjunto por cinco universidades públicas que se dedicaram à produção de softwares, formação de educadores e desenvolvimento de projetos pilotos nas escolas.

 

3. Há uma certa polêmica em torno do uso das tecnologias em sala de aula. Afinal, os efeitos são positivos ou negativos para o desempenho dos alunos?

 

Vivemos numa sociedade informatizada. Não podemos negar o contato com a tecnologia justamente para a população menos favorecida que, em geral, só teria condições de acessá-la no ambiente escolar. Pesquisas mostram resultados promissores quando as tecnologias de informação e comunicação (TICs) são utilizadas de forma adequada, que oriente o uso para a aprendizagem, o exercício da autoria e o desenvolvimento de produções em grupo.

 

4. Como elas devem ser usadas do ponto de vista pedagógico?

 

As novas tecnologias podem ser usadas de diferentes maneiras, mas podem trazer soluções mais eficazes em projetos que envolvem a participação ativa dos alunos, como em atividades de resolução de problemas, na produção conjunta de textos e no desenvolvimento de projetos. O fundamental nessas tarefas é fazer com que os alunos utilizem a tecnologia para: chegar até as informações que são úteis nos seus projetos de estudo, desenvolver a criatividade, a co-autoria e senso crítico.

 

5. Na era da tecnologia, como serão as salas de aula do futuro?

 

A primeira mudança é a expansão do espaço e do tempo. Rompe-se com o isolamento da escola entre quatro paredes e em horários fixos das aulas. Teremos a escola no mundo e o mundo na escola. Isso, porque o conhecimento não se produz só na escola, mas também na vida - numa empresa, num museu, num parque de diversões, no meio familiar. Tais espaços poderão se integrar com as práticas escolares e provocarão uma revisão no conceito de escola e de currículo. Os equipamentos serão bem diferentes, estarão disponíveis em qualquer lugar, talvez nem tenhamos que carregá-los. A conectividade é que vai nos acompanhar em todos os lugares.

 

6. Quais serão as principais ferramentas dos professores? Que tipo de recurso já está sendo utilizado?

 

Já temos uma série de instrumentos sendo utilizados pelos professores. Os blogs, por exemplo, são bastante disseminados entre os docentes. O WiKi, que é um programa virtual de produção colaborativa de textos, também. Entretanto há outros recursos, como simuladores que permitem visualizar fenômenos da natureza ou do corpo humano que não teríamos condições de acompanhar se não fosse virtualmente; os simuladores propiciam também compreender o significado de funções matemáticas abstratas por meio de testes de hipóteses e da representação gráfica instantânea.

 

7. A senhora pesquisou a política de outros paises em relação à aplicação das TICs na educação. Como o Brasil se posiciona em relação a países como Estados Unidos e Portugal?

 

Atualmente, há uma convergência das experiências em diversos países. Os computadores portáteis, por exemplo, estão sendo testados em todo o mundo, simultaneamente: tanto em países da América Latina, quanto da África, da Europa. O problema, no entanto, não é a disponibilidade das tecnologias e sim a formação de professores para utilizar as TICs. Outro problema que também se evidencia em todos os países é a concepção de currículo. Precisamos superar a idéia do currículo prescrito como lista de tópicos de conteúdo. O currículo deve ser construído integrando o que emerge da própria relação cotidiana entre professores e alunos. Muitas vezes, os currículos não abordam habilidades e competências que precisam ser desenvolvidas. Quando se trabalha com o registro de uma atividade num blog, por exemplo, os alunos desenvolvem um projeto pelo computador, que tem o seu desenvolvimento registrado e, assim, é possível identificar diferentes dimensões do currículo que foram trabalhadas no projeto, o que vai muito além do currículo prescrito.

 

8. O que está sendo feito hoje em termos de formação de professores?

 

Em primeiro lugar, no Brasil, todos os programas voltados para TICs na educação têm essa preocupação de capacitar os professores. Mais do que permitir o acesso à tecnologia, os programas trabalham a preparação dos educadores. E isso é uma questão de longo prazo, porque a formação se dá ao longo da vida, tem que ser continuada e voltada para a própria prática. Além disso, temos hoje várias pesquisas sendo desenvolvidas nesta área e o Brasil se destaca por ter um projeto de tecnologias na educação que integra a formação de educadores, a prática de uso de tecnologias e a pesquisa científica.

 

(Renata Chamarelli)