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JORNAL

Software Livre na Educação

Segunda-feira, 10 de Agosto de 2009

Edição 24

EDITORIAL - Software Livre na Educação

A 24ª edição do Jornal do Professor é especial. Ela aborda o tema Software Livre na Educação.

A tecnologia está mais presente na vida do homem: na saúde, na comunicação e mais recentemente na educação. É cada vez mais comum ver professores utilizarem a tecnologia para dinamizar suas aulas e auxiliar no desenvolvimento dos alunos.

O software livre ganhou destaque por torná-las mais acessíveis aos estudantes pela liberdade de utilização.

Programas e ferramentas livres voltadas para a educação são mais comuns no espaço virtual. Desde o auxílio em contas de matemáticas, língua portuguesa até a criação de cidades e animações. Os professores interessados têm descoberto e desenvolvido uma gama de opções para trabalhar não apenas nas aulas de informática, mas com todas as matérias do currículo escolar.

Nesta edição, o Jornal do Professor apresenta alguns profissionais da educação que abandonaram seus preconceitos e decidiram utilizar as tecnologias livres para trabalhar com os alunos. Enquanto uma professora decidiu se aprofundar no assunto e promover a migração de software proprietário para o livre em uma escola do interior do Rio Grande do Sul, outras se associam a fóruns e comunidades para compartilhar experiências e desenvolvê-las melhor em sala. Descobriram novas formas de desenvolver a criatividade, o pensamento crítico e a capacidade dos estudantes fazendo uso de ferramentas tecnológicas acessíveis.

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Migração para software livre provoca descobertas na escola

Foto da professora Vanessa Nogueira com grupo de alunos do Colégio Marista de  Santa Maria (RS).

Liberdade de criação, modificação, distribuição, e estudo e execução. Esse é o conceito do software livre (SL), criado na década de 1980 pelo pesquisador Richard Stallman, com o intuito de construir uma rede colaborativa para o desenvolvimento desse tipo de programa tecnológico. Se antes era visto com preconceito, hoje o software livre está difundido em diversas áreas, especialmente na educação. Foi o que percebeu a professora Vanessa Nogueira. Em uma escola de ensino fundamental da periferia de Santa Maria, no interior do Rio Grande do Sul, ela promoveu a migração de software proprietário para software livre na instituição e descobriu um “um novo universo para se trabalhar com educação”.

No início, Vanessa, professora de informática, queria conhecer o software livre, tão comentado pelos amigos, apenas por curiosidade. “Quando resolvi testar, ver as possibilidades, vantagens e desvantagens, comecei a ler sobre o assunto e descobri que a escolha pelo uso de software livre vai além da aparência”, diz. Pouco tempo depois de iniciar o trabalho com a nova ferramenta ela descobriu que o SL estava diretamente relacionado com a educação, no sentido de trabalhar com autonomia, cidadania e criatividade tanto com alunos quanto com professores.

Ela decidiu então realizar a migração no Colégio Marista, onde trabalhava, com um grande trabalho de conscientização. “Passei a acreditar que só podemos efetivar uma gestão escolar democrática se ela for mediada por tecnologias livres. Uma mudança implica desafios, colaboração, participação e comprometimento dos envolvidos no processo”, afirma. Ela se dedicou a promover debates, vídeos tutoriais, grupos de discussão para explicar os motivos da mudança. Vanessa ainda organizou trabalhos com os professores do colégio com softwares livres dentro do sistema proprietário, para que todos se acostumassem com as novas ferramentas. “Só depois trocamos definitivamente, para ninguém estranhar ou reclamar”, conta.

Com as possibilidades descobertas no software livre, Vanessa aprendeu a promover uma série de atividades pedagógicas. “Colocamos o laboratório interagindo com a sala de aula. Os alunos agora têm um blog deles, onde discutem e colocam suas histórias, como as que criam na hora do conto. As tecnologias livres devem estar integradas ao contexto escolar, no planejamento, no trabalho da sala de aula, na biblioteca escolar”, considera. Para ela, essas estratégias só se tornaram possíveis devido a liberdade de trabalho e mudanças proporcionadas pelo uso das tecnologias livres.

“Além de contribuir para a comunidade, de apoiar uma cultura de liberdade ao conhecimento, temos softwares estáveis, seguros, sem a ameaça de vírus”, defende a tecnologia livre. Ela afirma que a aceitação foi “excelente” entre professores e alunos e que os pais passaram a fazer parte do processo. “Os estudantes tiveram a oportunidade de mostrar novas descobertas aos pais, ampliando a rede de conhecimento, e hoje muitos usam em suas casas”, diz.

Com quase três décadas de sua criação, o software livre só ganhou impulso no Brasil em meados de 2005, quando seu uso começou a ser incentivado pelo Governo Federal. Apesar de livre, ele não é gratuito, mas pode ser copiado e modificado livremente. O baixo custo é apontado como uma das maiores vantagens do SL.

O Ministério da Educação (MEC) incentiva o uso de tecnologias livres na educação por meio do Programa Nacional de Informática na Educação (Proinfo), com a distribuição do Linux Educacional, instalado nos equipamentos distribuídos para a rede urbana e rural. O estado que mais vem estimulando e desenvolvendo o uso dessa tecnologia na área da educação é o Rio Grande do Sul, sendo que, em Porto Alegre existe uma rede em sistema de software livre para escolas públicas.

(Rafania Almeida)

De sucata a cidade virtual

Foto da imagem do jogo de computador Città mostra cidade virtual criada por estudantes.

A criação de maquetes sempre foi uma atividade divertida e eficaz no ensino. Mas um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul desenvolveu um sistema que pode tornar o uso do recurso na sala de aula mais tecnológico e atrativo para os estudantes. É o Città, do Projeto Civitas, um jogo elaborado para alunos do 3º e 4º ano de escolas do interior do Rio Grande do Sul, que utiliza software livre.

O Città entra como uma maquete digital, em paralelo às demais maquetes físicas que são construídas com sucata. Com ele, as pequenas cidades construídas com sucata ganham dimensões virtuais na tela do computador. De acordo com um dos desenvolvedores do projeto, o doutor em computação Daniel Nehme Muller, o objetivo foi aperfeiçoar novas metodologias de trabalho em sala de aula a partir da necessidade de professores do ensino básico.

“O jogo, basicamente, é um programa de computador que permite a construção de ruas e edificações em um plano tridimensional. Posteriormente são agregadas outras funcionalidades, como alertas ecológicos”, explica Muller. O projeto foi levado para 20 escolas de quatro municípios gaúchos: Sobradinho, Venâncio Aires, Mato Leão e Cruzeiro do Sul.

Uma das usuárias do programa, a professora Fabiana Chagas, diz que o jogo auxilia no desenvolvimento da ética, da cidadania, além da criatividade. “Unimos o lúdico à tecnologia para trabalhar melhor com os alunos. Muitos se sentiam isolados e agora interagem com o restante da turma para administrar as cidades que constroem”, afirma. Sua turma do 4º ano da Escola Municipal Dois Irmãos, em Venâncio Aires, está aprendendo mais sobre atividades comerciais. A professora conta que eles vivenciam situações e potencializam a realidade virtual. “Com a criação do comércio na cidade do jogo, eles dramatizam situações e aprendem como funciona um mercado de verdade”, relata.

Segundo Fabiana, ela não apenas ensina como também aprende muito com os trabalhos e reações dos alunos nas atividades “virtuais”. Para ela, a grande vantagem do desenvolvimento de um software livre como esse está no acesso. “Seria difícil essas crianças terem acesso a esse tipo de atividade. A grande maioria sequer tem computador em casa. Da forma como foi desenvolvido, eles trabalham em conjunto, aprendem e também ensinam, seja a mim, aos colegas, à família ou à própria comunidade”, avalia.

Os alunos de Fabiana construíram a maquete de uma cidade com sucata. Ela então decidiu, junto com os estudantes, criar uma estratégia para unir o jogo ao trabalho já realizado. As crianças imaginaram então uma cidade chamada C3, para onde os “moradores da maquete” fugiriam após uma catástrofe natural. “Na cidade construída com latinha, papelão e plástico, ocorreu uma tragédia. Os habitantes sofreram com a seca e decidiram fugir em um foguete para C3, fora do planeta Terra. Divididos em três grupos, eles criaram a cidade virtual para receber os novos habitantes e estabeleceram condições de vidas favoráveis. Com o tempo criaram escolas, comércio, hospitais, igreja e aprenderam a administrar as situações vividas na cidade virtual e a transferir esse aprendizado para a realidade”, relata Fabiana.

Pesquisador envolvido no projeto, Márcio André Rodrigues Martins trabalha na formação de professores que atuam com o Città. Para ele, o jogo traz novas possibilidades para a educação. “Os professores podem trabalhar a estética e a filosofia com os alunos na concepção da cidade. Eles aprendem desde cedo a construir conhecimentos voltados para conteúdos científicos, aprendem mais sobre a linguagem tecnológica e trabalham princípios de sustentabilidade”, destaca. O projeto ainda funciona em fase piloto, mas pode ser explorado no endereço http://sourceforge.net/projects/civitas.

(Rafania Almeida)

Software livre colabora com inclusão digital de idosos

Foto mostra participantes do curso de inclusão digital durante aula.

Às vésperas de completar 70 anos, Helena Cambeiro da Cunha, do Acre, diz que está muito feliz. Sua alegria é motivada por sua participação no Projeto de Inclusão Digital realizado pelo Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE) Estadual Rio Branco, neste ano. “Agora descobri a pólvora. Quero fazer um novo curso e me aperfeiçoar ainda mais”, diz Helena.

Outra que está entusiasmada é Maria de Lourdes da Silva, de 63 anos. Ela conta que teve um aproveitamento extra no curso, pois já tinha conhecimentos básicos de informática. “A gente tem que botar a mente para funcionar. Tenho email, tenho orkut, participo de comunidades virtuais”, salienta. Maria Helena destaca que não vê as horas passarem quando senta no computador. “Às vezes até queima o arroz, mas é gostoso”, conta bem-humorada.

Além delas, outros 18 alunos da Universidade Aberta à Terceira Idade (Unati), com idades entre 60 e 74 anos, participaram do projeto desenvolvido em parceria entre a Secretaria Estadual de Educação e a Universidade Federal do Acre. Além de promover a inclusão digital dos idosos, o projeto foi criado para oportunizar o contato com o mundo virtual e os diversos serviços oferecidos pela internet. Realizado no período de 11 maio a 13 de julho de 2009, o curso utilizou o Linux Educacional versão 2.0, programa em software livre desenvolvido pelo Ministério da Educação.

Segundo a coordenadora do NTE, Rosa Maria Silva Braga, o curso foi criado a partir de uma experiência vivida pela multiplicadora do NTE, Maria Naderge do Nascimento, ao realizar um saque no caixa eletrônico de um supermercado. “Quando concluiu, tinha uma fila de idosos pedindo sua ajuda para acessarem o terminal de auto-atendimento. A ajuda foi tanta que ela ficou mais do que o planejado no supermercado”, relata Rosa.

Ao sentir a necessidade dos idosos, Naderge sugeriu que o NTE fizesse um curso de inclusão digital para a terceira idade. O anseio era o mesmo da coordenadora da Unati, Chirley Terezinha Trelha. Então, juntas, as duas articularam o projeto que atendeu primeiramente os alunos da Unati, mas pretende ampliar seu atendimento. “Vamos buscar parcerias com outras instituições governais e não-governamentais que trabalhem com pessoas da terceira idade, para que essa experiência tão rica, seja revivida por várias vezes”, ressalta a coordenadora.

Para Rosa, a realização do projeto valeu a pena não somente pelo fato de os conhecimentos em informática serem hoje indispensáveis a todos os brasileiros, mas também por contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos idosos, buscando proporcionar mais autonomia, elevação da autoestima, da autoconfiança, ampliação da rede social e a integração com a família e com outros amigos. De acordo com ela, a entrega dos certificados foi um momento emocionante de celebração: “foi visível o contentamento de cada um, acompanhado do orgulho da família que veio participar do encerramento do curso”, finaliza.

(Fátima Schenini)

Tecnologia aliada à criatividade

Foto mostra alunos criando bonecos com massa de modelar.

A tecnologia pode se tornar uma forte aliada não apenas da educação, mas do trabalho com a criatividade. Quem acredita nessa teoria é Madalena Carla de Assis Silva, professora da educação infantil no Centro Municipal Integrado de Educação Branca de Neve, de Volta Redonda (RJ). Para ela, que trabalha com crianças de até seis anos, é fundamental instigar o imaginário. Nesse sentido, decidiu transformar o trabalho dos pequenos estudantes em arte. Com ajuda de um software livre de edição “deu vida” aos bonecos de massa feitos pelos alunos e criou uma história animada que ajudou no desenvolvimento de suas atividades em sala de aula.

“O computador virou uma ferramenta muito importante na sala de aula. Não serve apenas para jogos, mas para apresentar às crianças esse universo tecnológico. Elas aprendem cada vez mais rápido e dão mais valor aos seus próprios trabalhos. Os bonecos de massa poderiam virar simplesmente lixo depois, mas viraram personagens de histórias e ganharam mais importância ao virarem parte de um filme”, diz a professora.

Para Madalena, o trabalho interdisciplinar entre informática, artes e outras disciplinas contribui para o desenvolvimento não apenas da criatividade, mas da coordenação motora e aperfeiçoamento dos trabalhos. “Alguns softwares livres utilizados hoje na educação permitem que os alunos possam trabalhar inclusive sobre um olhar mais crítico sobre suas atividades, pois podem avaliar, repetir as atividades e sempre buscar fazer melhor”, avalia. A animação foi feita em três etapas. A primeira foi a elaboração dos bonecos de massa. Em seguida, veio a tarefa de fotografar diferentes posições dos bonecos, como se estivessem se movimentando. Depois tudo foi passado para o computador e o software livre Muan foi a ferramenta usada para dar vida à animação.

E a professora não parou por aí. Ela pesquisou e decidiu trabalhar com outros programas livres para incrementar as atividades em sala de aula. “Tivemos uma tarefa onde os alunos reproduziram um formigueiro. Depois de aprenderem tudo sobre o assunto e fazerem uma maquete de argila de um formigueiro, nós fotografamos cada um dos trabalhos, passamos para o computador e criamos quebra-cabeças, para que eles pudessem exercitar e desenvolver a mente”, conta. Para ela, as crianças estão com mais facilidade em aprender e começaram a interagir mais depois dos trabalhos com computador.

Madalena faz parte do Projeto VR Livre que reúne trabalhos de professores do Rio de Janeiro com software livre, promove fóruns e discussões sobre o tema, além de auxiliar na hora de trabalhar com essa tecnologia. Outras atividades com essas ferramentas podem ser encontradas no site no projeto: www.iaesmevr.org. “Tudo o que fazemos com o software livre colocamos nesse portal, justamente porque sabemos as dificuldades e preconceitos que algumas pessoas enfrentam ao trabalhar com esse tipo de tecnologia”, afirma.

A professora acredita que o trabalho interativo com os alunos tornou-se possível graças a liberdade do software que usa. “Com o software livre, ficou mais fácil para nossas crianças, muitas vindas de comunidades carentes, terem acesso a essas ferramentas. O fundamental nessa tecnologia é que ela é acessível, mais barata e não precisa ter licença por tempo determinado, como ocorre no caso do software proprietário”, analisa. Madalena considera ainda que a capacidade de adaptação e manuseio de um software livre é maior e mais fácil para os jovens que começam a ingressar no “mundo da informática”.

(Rafania Almeida)

Linux Educacional oferece conteúdos de diversas áreas

O Linux Educacional (LE), software idealizado pelo Ministério da Educação (MEC) utilizado na informatização das escolas brasileiras, é uma ferramenta pública e está disponível no Portal do Software Público Brasileiro. Ele é o aplicativo mais utilizado nas escolas públicas brasileiras e atende às políticas de democratização do acesso ao ensino. O software está presente em mais de de 500 mil máquinas espalhadas em escolas de todo o país.

O Linux Educacional oferece conteúdo educacional das mais diversas áreas. Além disso, os computadores que são entregues nas escolas pelo Ministério da Educação contam com conteúdo da TV Escola, Portal do Professor, jogos e outras opções de programas.

Há apenas dois anos no ar, o Portal do Software Público Brasileiro conta com 44 mil usuários. Entre as soluções disponíveis na página está o e-Proinfo, ambiente virtual de aprendizagem desenvolvido pela Secretaria de Educação a Distância (SEED) do MEC. Nele estão cadastrados mais de quatro mil usuários.

A dinâmica do software livre em sala de aula

O trabalho com software livre desenvolvido por professores coordenadores de laboratórios de informática na rede municipal de educação de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, resultou na produção de um livro. Tecendo caminhos em informática na educação: formando professores autores, publicado pela Universidade de Passo Fundo, mostra os projetos desenvolvidos em sala de aula com o uso da ferramenta. O livro surgiu após a participação dos professores no Curso de Capacitação em Informática Educativa, oferecido pela referida instituição.

Com a publicação de um artigo no livro - "Proposta pedagógica para as séries iniciais utilizando software Kutuberling" (SIVERIS, Marinez, et al, 2008, p. 38-69), a professora Marinez Siveris acredita que o software livre (SL) contribui para o aperfeiçoamento do conhecimento humano. Ela leciona em dois cursos de formação para professores que têm como objetivo dar suporte-técnico pedagógico no uso das tecnologias na educação. “É importante apresentar as ferramentas computacionais de forma interessante e motivadora auxiliando o aluno a formar conceitos, por meio de questionamentos, relações, experimentação, observações, análises, comparações, resolução de problemas e conclusões”, pondera a professora.

Para Marinez, as ferramentas tecnológicas são eficazes na medida em que auxiliam o aluno a realizar uma reflexão teórica sobre suas próprias situações de aprendizagem, vivenciadas na escola e em outros ambientes sociais e culturais. “O software livre contribui para o aperfeiçoamento do conhecimento humano por meio da educação, por ser um movimento que promove o espírito colaborativo voluntário”, diz.

Ela avalia que todas as áreas do conhecimento podem ser trabalhadas com o auxílio do software, como ciências sociais, exatas e lógica. Além disso, acredita que sua capacidade de interação e modificação contribui para o desenvolvimento dos estudantes e sua criatividade.“Com o uso do software livre, os alunos podem ser responsáveis pela aprendizagem. O dinamismo dos softwares favorece o registro das representações, que possibilita a apropriação de conceitos”, afirma.

Segundo a professora, a inserção do SL em sala de aula deve seguir uma linha de inclusão onde os professores organizam suas idéias em conjunto com os alunos de forma a ampliar o conhecimento e não restringi-lo a uma máquina. “As atividades propostas precisam focalizar a ação desses indivíduos, capacitando-os para que possam utilizar as tecnologias como meio de aprendizagem e não como fim, visando o crescimento profissional, pessoal e coletivo”, destaca.

Em sua opinião, é importante a interação entre professor e aluno na socialização do conhecimento. “O professor deve provocar transformações e também criar situações-problema com diferentes atividades como desenhos, pesquisas, leituras, cálculos mentais, utilização dos jogos, elaboração de projetos, entre outras, que possibilitem o desencadeamento de ações internas e dessa forma provocar avanços no desenvolvimento da criança”, ressalta. Entretanto, segundo Marinez, as atividades desenvolvidas precisam ser elaboradas de acordo com o nível de desenvolvimento real da criança para que a aprendizagem seja efetiva. “Nesse ambiente, ela será capaz de desempenhar diferentes funções, algumas dependentes das interações coletivas e outras de forma independente, sem ajuda do professor ou dos colegas”, conclui a professora.

(Rafania Almeida)

Professora e escritora lança livro

Capa do livro Cidade de Dentro e foto da autora, professora Júlia Jacira Angelotti.

Formada em letras, na área de língua portuguesa e literatura, a professora Júlia Jacira Angelotti, de São Paulo (SP), sempre lecionou em escola pública. Atualmente ela dá aulas na Escola Estadual Antonio Sylio da Cunha Bueno, na Zona Leste da capital, para alunos do ensino fundamental I e II.

Autora de contos, versos, e crônicas, lançou, recentemente, o livro Cidade de Dentro, onde fala de temas como fraternidade, responsabilidade, e educação. Segundo Júlia, é uma leitura de fácil entendimento e sem limite de idade, editada pela Casa do Novo Autor.

Ela conta que resolveu escrever o livro porque não sabia mais qual história contar durante a comemoração do Dia dos Avós, na escola de seus netos. “Foi uma coisa muito rápida, a ideia fluiu e saiu essa história pequenina, mas muito linda”, explica.

Júlia tem ainda dois poemas publicados no livro Palavras do Coração e outro livro pronto, ainda não publicado.

Frederico Guimarães: computação e educação sempre estiveram ligados

Frederico Guimarães, coordenador do projeto Software Livre Educacional.

Coordenador do projeto Software Livre Educacional, que reúne profissionais da tecnologia e da educação para desenvolver e difundir ferramentas livres para a área, Frederico Guimarães é um defensor fervoroso pela liberdade no uso de softwares para a educação. Formado em biologia, ele está envolvido com o tema software livre há dez anos.

Atuou no projeto de formação de professores em tecnologia da informação, na rede municipal de educação de Belo Horizonte (MG) e hoje trabalha na manutenção da distribuição Libertas GNU/Linux, utilizada nessa mesma rede, em todas as escolas. Além disso, dedica-se à tradução de programas livres voltados para a educação e espera que essas tecnologias possam chegar o quanto antes em todas as escolas brasileiras.

Em entrevista ao Jornal do Professor, Guimarães avalia que o software livre seja uma ferramenta perfeita para ambientes educacionais. Além disso, destaca que a computação e educação sempre estiveram ligadas.

Jornal do Professor - Como o senhor se interessou pelo software livre na educação?

Frederico Guimarães - Eu uso computadores há muito tempo, desde meados da década de 80. Com o tempo, meu envolvimento com os computadores foi aumentando. Eu enxergava essa tecnologia como uma boa ferramenta educacional. Ao longo da minha história, computação e educação sempre tiveram uma associação muito forte. Quando conheci o software livre, em 1998, percebi que aquela era a tecnologia perfeita para ambientes educacionais, devido à sua flexibilidade e possibilidade de interferência no produto. Desde então, tenho me dedicado a entender cada vez mais como melhorar essa relação.

JP - Como essa tecnologia pode auxiliar professores na sala de aula?

FG - De várias formas. Você pode ser simplesmente um usuário do software livre e se beneficiar de sua estabilidade, segurança contra vírus e suporte distribuído por toda a rede. Se você quer se envolver um pouco mais, pode fazer alterações no software para que ele atenda a necessidades específicas ou traduzi-lo para seu idioma. Ou então pode usar o modelo em si como ferramenta educacional, trabalhando com os alunos alterações no código (para ensinar programação, por exemplo) ou a sua tradução (em um curso de idiomas, por exemplo). Também pode se beneficiar dos inúmeros programas livres desenvolvidos no ensino. Existem hoje programas para ensinar matemática, línguas, astronomia, língua portuguesa, entre outros.

JP - Há uma variedade de programas hoje para trabalhar com todas as disciplinas ou ainda é difícil encontrá-los?

FG - Existem softwares disponíveis para várias disciplinas. E eu não saberia citar todos os existentes, até mesmo pela própria natureza dinâmica do software livre. Mas determinadas áreas do conhecimento possuem uma variedade maior de aplicações. Por exemplo, encontram-se muito mais softwares para matemática do que para geografia. Mas nada impede que o uso do software seja extrapolado para outras áreas não previstas em seu foco original. Por exemplo: existe um jogo livre chamado FreeCiv que pode muito bem ser utilizado para trabalhar questões de história, mesmo não sendo ele, à princípio, criado para ser um "software educativo".

JP - Quais a dificuldades para se trabalhar com software livre na educação brasileira?

FG - Mais do que o software livre existe uma dificuldade em se trabalhar tecnologia, de uma forma geral, na nossa educação. Seja pela falta de recursos disponíveis ou pela falta de formação dos professores. Quando se insere o software livre no contexto, em particular o GNU/Linux, acrescenta-se uma nova variável que é um sistema operacional diferente do que as pessoas normalmente usam em casa. Não acredito que aprender a usar o GNU/Linux seja mais complicado do que aprender a usar qualquer outro sistema operacional. A dificuldade encontra-se em mudar a lógica de se trabalhar determinadas ferramentas.

JP - Como inserir essa tecnologia na vida dos professores e dos alunos?

FG – Através de várias iniciativas. A primeira delas é fazer todo um trabalho com os profissionais que lidarão com o software livre antes da sua implementação. Afinal, toda mudança é complicada, mas uma mudança na qual as pessoas envolvidas não têm clareza dos objetivos é ainda mais complicada. Esse trabalho de sensibilização pode ser feito através de reuniões ou de palestras. Outra iniciativa que pode ter um impacto positivo é disponibilizar alguma distribuição GNU/Linux que funcione diretamente em CDs ou DVDs. Isso ajuda as pessoas a se familiarizarem com o sistema sem a necessidade de o instalarem em suas máquinas. Também é importante um suporte de apoio aos usuários nas primeiras semanas de migração, para que eles não se sintam desamparados. É muito promissor, por exemplo, oferecer formações periódicas sobre o novo ambiente, que podem ocorrer tanto presencialmente quanto à distância, bem como disponibilizar um fórum permanente de discussões online. Por fim, é interessante apoiar encontros periódicos entre os usuários, tanto para discutir problemas quanto para apresentar o que eles têm realizado em seu trabalho cotidiano. Estimular a participação desses usuários em encontros de software livre também é muito bom.

JP - Qual a diferença do aprendizado de um aluno que faz uso dessas tecnologias para um que não faz?

FG - Essa é uma pergunta que daria um bom projeto de pesquisa. O que eu posso afirmar é que usando tecnologias livres o aluno pode "experimentar" mais o software e adequá-lo ao seu uso. Isso, por si, já é um aprendizado e tanto.

JP - Qual o futuro do uso do software livre na educação?

FG - Eu defendo que é única saída ética para o uso de computadores em escola. Isso porque o software proprietário lhe aprisiona a determinado produto que não pode ser manipulado, aperfeiçoado ou mesmo estudado internamente. É uma atitude absolutamente oposta ao que eu acredito que deva ocorrer em um ambiente educacional. Esse tipo de ambiente é o local da experimentação, da descoberta, da manipulação, da discussão. Isso não é possível com o software proprietário, uma vez que o único tipo de interação que ele permite é o seu uso. Uma educação que restrinja seus atores é uma educação pela metade. Tenho esperança em um futuro onde o software livre será padrão em ambientes educacionais. E seus usuários terão um grau de interação de modo que as escolas serão as grandes colaboradoras na criação e manutenção desses softwares.

JP - Como surgiu a comunidade Software Livre Educacional?

FG - A ideia de montar um grupo para discutir o uso educacional dos softwares livres surgiu em 2007, no Fórum Internacional do Software Livre (FISL). Chegamos a montar um grupo naquele ano, mas ele não foi para a frente. Novamente em 2008 lancei a ideia de montarmos um grupo, para os presentes na palestra que apresentei sobre softwares livres educacionais. Dessa vez a ideia vingou e avançamos um pouco mais nas discussões. Participamos com um estande no Latinoware em 2008 e no FISL em 2009. O Software Livre Educacional possui dois objetivos básicos: traduzir e documentar softwares livres utilizados na área educacional. Com isso, pretendemos fazer uma "ponte" entre o pessoal técnico e o pedagógico. Inclusive, a maioria dos participantes do projeto tem formação pedagógica ou de licenciatura.