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JORNAL

Acordo Ortográfico

Segunda-feira, 14 de Setembro de 2009

Edição 26

EDITORIAL - Acordo Ortográfico

Nesta 26ª edição, o Jornal do Professor aborda um tema especial: o Acordo Ortográfico assinado entre Brasil, Portugal, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, e Timor-Leste.

Trazemos para vocês diferentes experiências de professores relativas ao ensino das novas regras ortográficas - em Ribeirão Preto (SP), em Caxias do Sul (RS), e em Senador La Rocque (MA).

Também apresentamos duas entrevistas sobre o tema: com Evanildo Bechara, da Academia Brasileira de Letras (ABL), e Antônio Martins de Araújo, presidente da Academia Brasileira de Filologia (Abrafil).

Aproveite para escolher o tema das próximas edições e para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

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Blog de escola contribui para disseminar nova ortografia

Alunos da Escola Estadual Dr. Meira Júnior na sala de aula.

A Escola Estadual Dr. Meira Júnior, em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, colocou em seu blog uma série de informações úteis, com exemplos, sobre as mudanças trazidas pelo novo Acordo Ortográfico. A iniciativa foi da coordenadora pedagógica do Ciclo II da instituição, Roselei Sueli Moraes Pereira. A escola, de ensino fundamental, tem 1.077 alunos matriculados nos turnos matutino e vespertino.

“Trabalhar com as novas regras do Acordo Ortográfico é para mim, mais um desafio”, diz Roselei, com 13 anos de magistério e atuando há um ano e seis meses nessa escola. Formada em matemática, ela conta que só passou a se interessar por língua portuguesa, que para ela sempre foi uma dificuldade, em 2008, depois que passou a trabalhar como coordenadora pedagógica. Suas novas atividades a levaram, inclusive, a cursar pedagogia e a fazer pós-graduação em Práticas de Letramento e Alfabetização.

“Através do blog da escola esperamos contribuir para que mais pessoas incorporem a nova ortografia em suas vidas”, afirma. Com relação ao ensino das novas regras na sala de aula, ela e a professora Marta, de língua portuguesa, resolveram desenvolver algumas ações para incentivar os alunos a trabalhar a nova ortografia. A professora distribuiu aos alunos cópias das novas regras ortográficas e do material publicado no blog da escola e passou a desenvolver atividade de reescrita utilizando textos publicados no Caderno do Aluno (material distribuído pela Secretaria Estadual de Educação). Os alunos também começaram a trabalhar a escrita de textos de sua própria autoria, utilizando as novas regras.

Segundo Roselei, os professores do Dr. Meira Júnior têm oportunidade de discutir e estudar as novas regras ortográficas durante os Horários de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPCs), quando contam com a ajuda dos quatro professores que lecionam língua portuguesa no colégio.

De acordo com Marta Helena de Paula Leão Lima, que dá aulas de língua portuguesa para turmas de 6º e 7º anos (5ª e 6ª séries), já no início do ano letivo os alunos começaram a comentar sobre as mudanças na ortografia. “Aproveitei a oportunidade para introduzir ações e iniciar o ensino das novas regras, pois entendo que o processo é longo e deverá ser trabalhado continuamente”, explica. Professora há 20 anos, formada em letras, com habilitação em português e inglês, Marta dá aulas nessa instituição há dez anos.

Para ela, o maior desafio para ensinar as novas regras está sendo enfrentado por professores de séries que compreendem finais de ciclo, “pois o aluno traz em sua bagagem um aprendizado que sofreu alterações.” No seu caso, acredita, apesar de existirem dificuldades tem como aliada a curiosidade inerente aos jovens desta idade.

(Fátima Schenini)

Escola cria projeto conjunto para ensinar novas regras

Foto da professora Josefinha com alunos na sala de aula.

No município de Senador La Rocque, no oeste do Maranhão, a 463 Km da capital, os professores de língua portuguesa do Centro de Ensino Salomão Cury-Rad elaboraram um projeto conjunto com as metodologias para o ensino das regras do novo acordo ortográfico. Criada em 1993, a instituição estadual atende 1.111 alunos de ensino médio, nos turnos vespertino e noturno.

Após realizar pesquisas em revistas especializadas e na internet, o coordenador pedagógico, Antonio José Oliveira Barros, montou um material com os conteúdos a serem apresentados aos estudantes. A metodologia para abordar os conteúdos foi então discutida com os professores de língua portuguesa e cada um deles, ao analisar o material, foi acrescentando suas próprias sugestões.

“O documento com as novas regras foi elaborado em forma de cartilha e apresentado, inicialmente, com o auxílio de projetor. Nele as regras do novo acordo foram confrontadas com as antigas”, explica o coordenador, que tem licenciatura plena em letras, habilitação em português/inglês e experiência de 12 anos no magistério. Para que as mudanças fossem fixadas com mais facilidade, o material recebeu inserções de ilustrações. Ele destaca que o projeto foi salvo nos computadores da escola para que os professores pudessem utilizar o material mesmo quando o projetor estivesse sendo utilizado em outras atividades. “Hoje, as novas regras já foram incorporadas à produção dos alunos”, ressalta .

De acordo com a professora de português, Josefinha Ferreira Lima, as novas regras ortográficas foram trabalhadas na sala de aula no primeiro semestre letivo deste ano. “Trabalhamos os conteúdos de forma gradual e contínua, dividimos os conteúdos por bimestre, tendo o cuidado de trabalhar juntas as regras que mais se identificam”, destaca. Em algumas aulas utilizavam o projetor, em outras, o computador. “Depois de apresentadas todas as regras, partimos para a produção textual.”

Josefinha, que tem licenciatura plena em letras, habilitação em português/inglês e 28 anos de magistério, diz que as mudanças foram enfrentadas com tranqüilidade pelos alunos. “É natural que de vez em quando utilizem-se das regras antigas, com as quais já estavam acostumados. Porém, atualmente, cobro a utilização das novas regras em todas as atividades propostas”, salienta.

As novas regras ortográficas serão um dos temas a serem apresentados à comunidade escolar, no final deste segundo semestre letivo, durante a realização da II Feira de Cultura, Ciência e Arte (Feculart). Alunos de três turmas, uma de cada ano do ensino médio, vão tratar do novo acordo ortográfico. Entre as atividades previstas, está a reescrita de textos de autores consagrados usando as novas normas.

(Fátima Schenini)

Estudantes criam site para ensinar nova ortografia

Foto mostra as normalistas Bruna Baggio e Jéssica Bischoff no laboratório de informática.

A reforma ortográfica foi o tema escolhido por três alunas do curso normal do Instituto Estadual de Educação Cristóvão de Mendoza, de Caxias do Sul, na Serra gaúcha, para desenvolvimento de um projeto de aprendizagem utilizando ambiente virtual. Bruna Baggio, Jéssica Karine Bischoff, e Priscila Machado Pires criaram um site, no primeiro semestre deste ano, com conteúdos relativos à nova ortografia. E agora aplicam o que aprenderam, dando aulas, no contraturno, para alunos do ensino fundamental da mesma instituição.

Para as aulas, no laboratório de informática educativa, as estudantes utilizam o site que criaram e uma apresentação em computador. As atividades são feitas todas pelo computador, com aplicativos, ferramentas e recursos online. “Há atividades referentes aos países que fazem parte do Acordo, hífen, acento agudo e circunflexo, trema e às letras adicionadas ao alfabeto”, explicam. Elas ressaltam que o trabalho de criação do site foi muito interessante porque foi diferente do que é realizado habitualmente na sala de aula. “A internet é muito utilizada hoje em dia e é também um ótimo recurso. Com ela fica mais fácil nos dirigirmos às crianças, pois possibilita a visualização do que está sendo explicado”, acreditam as normalistas.

As jovens são alunas da professora Teresinha Bernadete Motter, com 32 anos de magistério, que leciona a disciplina Metodologia Aplicada a Ciências Exatas e Humanas, da área de práticas de ensino, desde 2007. Um dos objetivos dessa disciplina é possibilitar que os alunos vivenciem a metodologia de trabalhar por projetos de aprendizagem em publicação virtual, dentro de uma prática que privilegia a construção do conhecimento.

“No início do ano, as alunas formam grupos por afinidade e escolhem um tema para aprender, e dentro dessa aprendizagem criam um espaço virtual para a publicação dessa aprendizagem”, conta Bernadete, que tem licenciatura plena em matemática e especialização em Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) na Promoção da Aprendizagem. Esse ano foram desenvolvidos 33 projetos no primeiro semestre (um deles é o da reforma ortográfica). No segundo semestre, os grupos estarão aplicando o conhecimento construído “tanto no que se refere ao assunto quando ao uso das tecnologias digitais e TICs com as crianças que estudam no turno da tarde, da mesma escola”, explica a professora. O relato dessa prática de ensino possibilitou duas premiações à Bernadete: o Prêmio Professores do Brasil, no ano passado e Educadores Inovadores da Microsoft, nesse ano.

(Fátima Schenini)

Presidente da Abrafil: implantação do Acordo Ortográfico é necessária

Foto do presidente da Academia Brasileira de Filologia, Antônio Martins de Araújo.

O presidente da Academia Brasileira de Filologia (Abrafil), Antônio Martins de Araújo, é doutor em letras vernáculas e graduado em letras neolatinas e em ciências jurídicas. Com atuação no magistério há cerca de 60 anos, atualmente dá aulas de teoria literária na Universidade Federal do Acre, em Rio Branco, para um grupo de cinquenta professores, dando início a um projeto de pesquisa sobre literatura amazônica.

Na década de 1960, foi um dos pioneiros das aulas de português para o extinto exame do então chamado Artigo 99, na TV Continental e na TV Tupi, ambas do Rio de Janeiro (RJ). As aulas eram retransmitidas em cerca de 45 cidades brasileiras. É professor aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Em entrevista ao Jornal do Professor, Antônio Martins de Araújo diz que a implantação do novo Acordo Ortográfico é necessária.

Jornal do Professor – O senhor considera positiva a implantação do novo Acordo Ortográfico?

Antônio Martins de Araújo – Mais do que possível, necessária. Na era da troca de informações em tempo real via computador, é contraproducente o acúmulo de sinais diacríticos a serem digitados pelos que utilizam esse potente veículo de comunicação instantânea.

JP – Quais as principais vantagens e desvantagens trazidas por ele?

AMA – Em todas as tentativas de simplificação ortográfica do século passado, a grita sempre foi "ampla, geral e irrestrita." É perfeitamente comprensível que todas as pessoas que, como eu, maiores de sessenta anos, tiveram de reajustar sua ortografia, tiveram de despender algum esforço para se atualizarem, reclamam de mais uma "maçada" (esse é o termo por elas empregado).

JP – Ainda há possibilidade de serem introduzidas adaptações ou reformulações nesse Acordo?

AMA – Sem dúvida alguma. Muito acertadamente, os celebrantes do Acordo concederam dois anos para o recebimento dessas sugestões de correções de rota, e elas, segundo sei de fonte fidedigna, têm sido

razoavelmente numerosas. O espantalho do uso do hífen, por exemplo, continua a ser "uma pedra no meio do caminho" das autoridades encarregadas de disciplinar o assunto, tanto do lado de cá, como do lado de lá do Atlântico.

JP – O senhor tem alguma recomendação ou sugestão para os professores que ainda tenham quaisquer dúvidas sobre o assunto?

AMA – Além de haver uma equipe de atendentes desses casos na própria Academia Brasileira de Letras, já existe uma razoável bibliografia que explica didaticamente o assunto, entre as quais saliento os manuais de Cláudio Cezar Henriques, José Pereira da Silva, Manuel Pinto Ribeiro. De fora dela, há ainda dois bem cuidados manuais, um da autoria de José Carlos Azeredo e um coletivo, editado pela Contexto (SP), com nomes importante na área filológica, como os do alemão Rolf Kemmler, hoje nas universidades portuguesas Trás-os-Montes e Alto-Douro; de brasileiros como o de Ricardo Stavola Cavaliere e Leonor Lopes Fávero; e de portugueses como Maria Filomena Gonçalves.

JP – A Abrafil prevê a realização de atividades como palestras ou cursos no sentido de esclarecer dúvidas sobre o assunto?

AMA – A Abrafil, além de contar com os especialistas supracitados, tem entre seus membros a figura carismática do principal autor do mais importante dicionário de toda a lusofonia, o lexicógrafo Mauro de Salles Villar. Com tantos e tão competentes ortógrafos em nossa Academia (além de importantes gramáticos, como Evanildo Bechara), é justa, oportuna e necessária a realização de cursos, de divulgação da nova ortografia a todas as pessoas interessadas no assunto.

JP – Baseado em sua experiência de cerca de 60 anos de magistério, o senhor teria alguma sugestão para os professores de língua portuguesa que queiram estimular a aprendizagem e o interesse de seus alunos?

AMA – Sim. O que posso dizer-lhes, a título de conselho, é que procurem adquirir os manuais sobre ortografia acima citados por mim, tirar deles tudo o que acharem interessante para suas aulas, e - eles mesmos - recomendarem sempre a seus alunos lerem, lerem, e lerem sempre, bons e adequados livros para suas faixas etárias. Assim apetrechados, ser-lhes-á mais fácil crescerem intelectualmente e vencerem os obstáculos que tiverem de enfrentar pela vida afora.

Projeto de professora dá origem à obra escrita a oito mãos

Professora Sandra Martins com alunos da Escola Estadual Professor Sérgio da Costa, de São Paulo (SP).

O Segredo dos Amuletos é o título de uma série de livros que está sendo escrita em conjunto por estudantes do ensino fundamental da Escola Estadual Professor Sérgio da Costa, em São Paulo (SP). O primeiro de um total de dez volumes – O Começo - será lançado ainda neste mês de setembro. Criado pela professora Sandra Martins Modesto, o projeto envolve os alunos Luan Cardoso de Carvalho, Thais Mariano de Sousa, Matheus Mendes da Silva, e Paulo Giordan Oliveira.

“Reunir quatro mentes, pessoas distintas com idéias e formas de escrever diferentes. Desta forma pareceria difícil conseguir uma história única e coerente, no entanto, esta façanha rendeu um livro com 180 paginas”, conta Sandra. Segundo ela, o processo de confecção do livro se deu com discussões, desenhos, e encenação. “A partir disso era construída uma sequência para a história, antes que ela fosse para o papel, então dividíamos quem ia escrever o quê. Assim eram produzidos mais de dez capítulos de uma vez”, explica. Os alunos escreviam os capítulos a mão ou no computador e depois, supervisionados pela professora, eles se reuniam para “costurar e revisar a história”.

Ela conta como o grupo se formou: “o primeiro a entrar foi o Luan, com a idéia da história, depois foi o Matheus com seu brilhantismo natural e vontade de escrever e por último a Tatá (Thaís), que é uma menina que curte ler mangá etc...” Quando o primeiro livro foi terminado, ela saiu atrás de alguém para fazer uma leitura e dar sugestões. “Nessa busca achei o Paulo, que tinha idéias tão boas que acabou entrando no livro dois”.

Graduada em letras (inglês/português), Sandra atua no magistério desde 2005, após ser aprovada em concurso público para a Rede Pública de Ensino do Estado de São Paulo. Desde aquela época, trabalha na mesma instituição, situada em uma comunidade carente do bairro Sobradinho, na capital. “Tenho alunos excelentes e projetos que funcionam muito bem, como o Jornal Mural Construindo o Futuro, e este projeto de escrita”, ressalta. O projeto do jornal envolve mais de 300 alunos. “É um trabalho árduo, mas muito recompensador. E foi através do jornal que aconteceu o livro O Segredo dos Amuletos,” explica.

Para a professora, o primeiro de todos os resultados obtidos com o projeto é o imediato resgate da fé e da auto-estima das crianças. “Esse é um bem já conquistado e algo que, admiravelmente, podemos dizer que só em ter o livro nas mãos eles já conquistaram”, enfatiza.

Ela acredita que a educação não pode ficar restrita aos 50 minutos e às aulas semanais, mas deve ser direcionada a todos os momentos do dia para atender aos anseios do educando e possibilitar que se desenvolva nas suas principais habilidades. “O aluno deve enxergar objetivo no que faz, deve perceber que está se desenvolvendo e enxergar utilidade no seu ensino”, salienta.

O primeiro volume do livro terá dois dias de lançamento. No dia 18 de setembro de 2009, às 16h, será lançado na Diretoria de Ensino Norte 2, em São Paulo (SP). No dia seguinte, 19, o lançamento será feito na própria escola, às 10 e às 15h.

Evanildo Bechara: Acordo trará maior divulgação da língua portuguesa

Professor Emérito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e da Universidade Federal Fluminense, Evanildo Bechara também atuou em inúmeras outras instituições, como a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e universidades federais de Sergipe (UFSE), da Paraíba (UFPB), Alagoas (UFAL), e Rio Grande do Norte (UFRN). No exterior, exerceu o cargo de professor titular visitante na Universidade de Colônia, na Alemanha, e na Universidade de Coimbra, em Portugal.

Graduado em letras, com doutorado na mesma área, Bechara é autor de 20 livros. Desde dezembro de 2000 ocupa a Cadeira nº 33, da Academia Brasileira de Letras.

Em entrevista ao Jornal do Professor, o acadêmico fala sobre o novo Acordo Ortográfico que passou a vigorar a partir de 1º de janeiro de 2009, no Brasil, em Portugal e nos países que fazem parte da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CLP): Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, na África, e Timor-Leste, na Ásia.

Jornal do Professor – Qual é o objetivo do Acordo Ortográfico?

Evanildo Bechara – O objetivo fundamental do Acordo é proporcionar à língua portuguesa, como uma língua de cultura que é, ser escrita de uma maneira só, a grafia das palavras, em todos os países da lusofonia. Isso tem como repercussão abrir portas e janelas da nossa língua para sua divulgação no mundo, para sua maior divulgação no mundo.

JP – Quais são as principais mudanças? É possível dizer, em poucas palavras, o que mudou, basicamente?

EB - As principais mudanças estão assentadas nessas três vertentes: a simplificação, seguir a tradição e obedecer a coerência. De modo que o Acordo, baseado nesses três princípios, procurou tirar do nosso sistema ortográfico e do sistema ortográfico em Portugal, tudo aquilo de que o escritor não precisava, para traduzir melhor as palavras que ele gostaria de empregar.

JP –Há um prazo para a efetiva implantação das mudanças?

EB - Há. Em Portugal, o governo pediu seis anos para a divulgação, para a implantação definitiva. E aqui no Brasil, quatro anos, mas com a presença forte, decisiva, da imprensa, dos jornais, das revistas, da televisão, acredito que dentro de seis meses nós estejamos completamente dentro desse Acordo que modifica muito pouco das práticas que nós já usávamos desde 1943.

JP Quais os países que estão dentro desse Acordo e como está sendo a receptividade a essas mudanças?

EB - Dos cinco países africanos nós não temos muitas notícias, mas temos a boa vontade deles em seguir porque os seus representantes assinaram este Acordo. Este Acordo não foi feito somente por Portugal e Brasil, além de cinco países africanos e um asiático.

A recepção é como dizia Dona Carolina em 1911, a recepção entre os usuários está muito dividida entre aqueles que aplaudem o Acordo porque vêm nele os traços da simplificação; há aqueles que não se interessam por isso, continuam escrevendo como escrevem.

JP – O senhor teria alguma recomendação ou conselho para dar aos professores no sentido de ensinar bem a língua portuguesa, especialmente com as mudanças?

EB - O grande segredo da pedagogia é não levar para o aluno de ensino fundamental e médio, a teoria. A teoria gramatical deve estar por trás do professor, orientando as suas decisões, porque ele precisa saber que os seus alunos não são candidatos a filólogos ou gramáticos. O professor tem que ensinar língua e a língua portuguesa é rica, é maleável e está à disposição de qualquer pensamento que nela se queira exprimir.

JP - Gostei muito da observação que o senhor fez há pouco, dizendo que a escola tem que ensinar o aluno a ser um poliglota em sua própria língua. Gostaria que o senhor desse uma explicação.

EB – Poliglota na sua própria língua é saber usar mais de uma variante de língua, mais de uma norma. Não ficar engessado na norma padrão ou então ficar liberado para a norma coloquial. Ele deve ter no seu armário linguístico todas essas formas porque ele tem quando fala e quando escreve, ele tem que se adequar ao seu interlocutor, a pessoa com quem ele fala.