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JORNAL

Jornal na Escola

Terça-feira, 29 de Setembro de 2009

Edição 27

EDITORIAL - Jornal na Escola

Jornal na Escola é o tema da 27ª edição do Jornal do Professor. O assunto teve a preferência de 40,21% dos leitores que votaram na enquete colocada em nossa página.

Nesta edição, você vai conhecer algumas experiências desenvolvidas em escolas de diferentes regiões brasileiras: o jornal fotocopiado feito em Rio Verde, no interior de Goiás, o jornal impresso feito em Serra, no Espírito Santo, e o jornal virtual, produzido em Farroupilha e em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

Vai conhecer também a professora e pesquisadora da Universidade Federal da Bahia, Graciela Natansohn, que acredita que o jornalismo é um bom caminho para ensinar cidadania. Doutora em comunicação e cultura contemporâneas, ela promoveu, no ano passado, uma oficina de capacitação em produção de jornal escolar para estudantes de ensino médio de uma escola pública de Salvador.

O Jornal do Professor traz, ainda, uma entrevista com o professor e pesquisador da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Juvenal Zanchetta Júnior, doutor em educação. Ele explica os passos básicos a serem tomados pelos professores interessados em fazer um periódico com seus alunos.

Aproveite para escolher o tema das próximas edições e para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

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Professora ajuda estudantes a realizar sonho de fazer jornal

Foto de uma página do Jornal Escola

O envolvimento de estudantes com a tarefa de criar e produzir jornais escolares traz inúmeros benefícios ao processo de ensino-aprendizagem. O trabalho de escolher temas, buscar fatos, redigir e revisar textos, entre outras atividades necessárias à realização de um jornal, incentiva a leitura e a escrita, estimula a pesquisa, possibilita o acesso a informações e opiniões diferentes, e contribui para uma maior interação do aluno com a realidade.

Além disso, a produção de um jornal pode ser um importante aliado para elevar a autoestima dos estudantes e provocar mudanças positivas no comportamento. É o que tem acontecido, em um curto espaço de tempo, com os alunos da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Antônio Engrácio da Silva, no município de Serra, no Espírito Santo, que lançam seu primeiro jornal impresso no dia 30 de setembro: o Jornal Escola.

“A melhora dos alunos foi extraordinária, no que se refere a resultados e a comportamento, pois eram alunos muito conversadores, que gostavam de passear pela sala”, conta a professora Ilcileni Vaillant França, que leciona língua portuguesa na instituição desde o início do ano letivo de 2009. Segundo ela, agora eles entendem a questão de valores como respeito, espaço e direitos dos outros.

Graduada em letras (português e inglês), com pós-graduação na modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA), 14 anos de experiência no magistério, Ilcileni foi figura chave na produção do jornal, que era um desejo antigo da turma. Ao tomar conhecimento que seus alunos tinham feito um único exemplar de jornal à mão, em 2008 e vendo o entusiasmo e a euforia com que falavam da obra, a professora não vacilou. Procurou a direção da escola, que deu total apoio ao projeto. “Dividimos os grupos e suas tarefas. Um grupo saiu às ruas em busca de patrocínio, outros atrás de notas, entrevistas e desta forma fomos juntando material”, lembra Ilcileni.

Segundo ela, os estudantes conseguiram a quantia de R$ 38 no comércio local e 150 folhas de papel chamex. A diretora, Ledimar Correa Ramos de Souza, pensou em editar o jornal em uma gráfica, mas o alto preço cobrado inviabilizou essa possibilidade. Mas nada impediu a realização do sonho de publicar um jornal, que foi impresso na própria escola. “A autoestima da turma e também a minha, enquanto professora, está elevada, pois vimos que quando se quer, se faz”, garante Ilceleni.

(Fátima Schenini)

Jornal acabou, mas deixou saudades na escola...

Foto mostra Elizangela e dois alunos com o jornal EscolAção.

Apesar da pouca duração – foram apenas quatro edições no período de março de 2006 a dezembro de 2007 – o jornal EscolAção ainda traz boas lembranças àqueles que trabalharam em sua produção. Toda a equipe, inclusive pais, da Escola Municipal de Educação Fundamental Rosalina Borges, em Rio Verde, município de Goiás, se envolveu no projeto do jornal. Ele era fotocopiado e distribuído para os alunos, algumas escolas do município e a Secretaria Municipal da Educação.

“Sou apaixonada pelo projeto Escolação. Incentivava meus alunos a realizarem atividades significativas envolvendo a prática da leitura e da escrita”, diz a professora do 5º ano, Ana Lúcia Pierazo Tomé Evangelista. Segundo ela, alguns dos melhores momentos em equipe ficaram registrados no jornalzinho. Para Liliane Nascimento, que também dá aulas para uma turma de 5º ano, o projeto só veio ajudar. Ela conta que teve um aluno considerado de risco, que se envolveu muito com o trabalho e foi motivado a ler e escrever cada vez mais. “Ele participou das Olimpíadas de Língua Portuguesa e chegou a ser um dos finalistas. Toda a equipe se emocionou”, relembra Liliane.

O projeto do jornal foi criado pela coordenadora pedagógica da instituição, Elizangela Rodrigues Marins, juntamente com a gestora Marli Rodrigues de Souza. De acordo com Elizangela, o jornal abordava, em uma mesma edição, vários temas que haviam se destacado no período. Formada em letras, com especialização em educação infantil e em psicopedagogia, ela é professora há 16 anos, com experiência desde o primeiro ano do ensino fundamental até o terceiro ano do ensino médio. Em sua opinião, foram inúmeros os aspectos positivos trazidos pelo EscolAção: ter conseguido despertar os alunos para o hábito da leitura e da escrita, contribuído para elevar sua autoestima, além de motivá-los a desenvolver as atividades propostas, com entusiasmo, são alguns deles.

O EscolAção não teve continuidade devido à falta de patrocínio. Mas isso não significa que o tema jornal deixou de ser trabalhado na escola. “Os professores trabalham frequentemente com jornal na sala de aula, com notícias, entrevistas e outros assuntos”, relata Elizangela. Ela adianta que a Rede Municipal de Educação de Rio Verde está focada no tema jornal na sala de aula e tem promovido, inclusive, oficinas de capacitação para coordenadores. Ela participou de uma, neste mês de setembro, e depois repassou o conteúdo em uma reunião pedagógica onde participaram cerca de 80 professores de quatro escolas da rede municipal. (Fátima Schenini)

Jornal virtual atinge público maior, com menor custo

Aluno de Farroupilha (RS) redige texto no computador.

A Escola Municipal de Ensino Fundamental Ângelo Chiele, em Farroupilha, na Serra Gaúcha, sabe bem quais são os benefícios de um jornal escolar. O primeiro jornalzinho da instituição foi criado em 1989, de forma bastante artesanal. Em 1994, ele foi aperfeiçoado, passou a ser impresso na copiadora da escola e ganhou o nome de Fique por Dentro, escolhido em eleição. E desde março de 2009 a publicação tornou-se virtual. Assim, além de diminuir os custos com a impressão passou a atingir um maior número de pessoas.

“Ter um jornal na escola, com notícias, imagens, entrevistas, entre outros assuntos, faz a comunidade conhecer o que vem sendo realizado”, diz a diretora Elisette Timm Piano. Além disso, observa, há um envolvimento dos alunos, que passam a ter outra relação com a leitura e a escrita. Outro benefício apontado por Elisette, no magistério há 25 anos e diretora do colégio em duas ocasiões (de 1994 a 2000 e de 2007 até agora), é que alunos e professores percebem a importância do registro das atividades que realizam e parecem assumir maior importância depois que aparecem no jornal.

Para a professora de língua portuguesa e literatura, Ângela Maria Jung Silvestrin, 35 anos de magistério, 15 deles no Ângelo Chiele, quando os estudantes percebem que são lidos, que seus textos geram comentários, são elogiados ou mesmo criticados, opera-se uma transformação. “Eles passam a confiar mais em si, tomam consciência de que podem influenciar pessoas, posicionar-se diante de fatos,” explica.

Ângela Maria percebe ainda que o jornal provoca melhorias na produção textual dos alunos, tanto na ortografia, quanto na estruturação do texto e no vocabulário e promove mudanças até no comportamento: “é gratificante ver alunos tímidos, que têm dificuldade para falar, surpreenderem na expressão escrita”, diz.

O Fique por Dentro é publicado semanalmente, durante o período letivo. A atividade é opcional, não vale pontos ou nota. Os redatores são alunos voluntários do 6º ao 9º ano (5ª a 8ª série), que se reúnem às quintas-feiras à tarde, turno oposto ao das aulas. As matérias são colocadas no jornal virtual pela professora de informática, depois de terem sido digitadas pelos estudantes e revisadas pela professora de português. As demais professoras participam de forma indireta, dando informações ou sugestões e respondendo a entrevistas. Os assuntos são selecionados pelo próprio grupo, na reunião de pauta, entre os temas em discussão na escola e na comunidade escolar.

Em Porto Alegre (RS), a professora Jussara Fernandes Oleques constatou mudanças positivas evidentes, nos estudantes, provocadas pelo Jornal Virtual da Escola Municipal de Educação Fundamental da Vila Monte Cristo. Entre elas, cita às relativas a convivência entre colegas, com maior aceitação das diferenças sócio-econômico-culturais, progresso na linguagem falada e escrita, além de mais desenvoltura e rapidez na leitura e na comunicação com outras pessoas.

Localizada em uma área carente de espaços públicos e coletivos de lazer, a escola se preocupa em oferecer alternativas nas áreas de esportes, artes e de comunicação. Cada aluno pode participar de até três dessas alternativas, chamadas de complementos curriculares, no contraturno do horário das aulas. O Jornal Virtual da Monte Cristo, que circulou de 2001 a 2007, foi um desses complementos, sendo realizado na sala de informática. O periódico era anual e a pauta era discutida nos encontros iniciais, seguindo as indicações dos alunos de toda a escola obtidas em uma pesquisa de opinião por escrito. O passo seguinte era a formação das equipes encarregadas de coletar os dados e a produção dos artigos em páginas html.

O jornal acabou porque Jussara não pode mais continuar na coordenação, mas ela tem esperança que algum colega possa continuar com o projeto. “Meu regime de trabalho é de 20 horas, mas minhas atribuições com informática na escola estavam ultrapassando 40 horas e afetando minha saúde”, explica a professora. Ela é aposentada pela rede estadual de ensino, desde 1995, depois de lecionar língua portuguesa e literatura em escolas da rede estadual, durante 26 anos. No mesmo ano ingressou no magistério municipal, por meio de concurso. Atualmente trabalha apenas na área de informática, em projetos de letramento digital com professores da escola. Também é responsável pela produção do site da instituição.

Acesse aqui algumas fotos das equipes do Jornal Virtual.

(Fátima Schenini)

Professor dá dicas de como fazer e usar um jornal na escola

Professor do Departamento de Educação da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, campus de Assis (SP), Juvenal Zanchetta Júnior é graduado em letras, com mestrado, doutorado, e pós-doutorado em educação.

Tem experiência nas áreas de lingüística, comunicação e educação, com ênfase em prática de ensino de língua portuguesa, nas relações entre mídia e educação, e em políticas educacionais. Sua atuação é voltada, principalmente, para os seguintes temas: leitura, leitura de linguagens midiáticas, abordagens pedagógicas da imprensa escrita e audiovisual, e formação de professores.

Pesquisador na área de imprensa, mídia e educação, é autor de duas obras que tratam do tema jornal - Imprensa escrita e telejornal (Editora Unesp - 2004) e Para ler e fazer o jornal na escola (Editora Contexto – 2002), que escreveu juntamente com Maria Alice Faria.

Em entrevista ao Jornal do Professor, Zanchetta Júnior diz que o jornal escolar precisa ser um meio e não um fim em si mesmo: o que importa é a qualidade do processo de produção e não o resultado final. Ele acredita que o jornal auxilia o trabalho na sala de aula de diversas maneiras e pode ser desenvolvido em qualquer disciplina. E explica os passos básicos a serem tomados pelos professores interessados em fazer um jornal com seus alunos.

Jornal do Professor - Qual é a importância de o professor fazer um jornal com os alunos? Quais os benefícios?

Juvenal Zanchetta Júnior - Esse tipo de trabalho pode auxiliar o trabalho de diversas maneiras: a) como exercício de investigação e compreensão do contexto escolar e comunitário pelo próprio aluno; b) como forma de introduzir o aluno em um modo de comunicação (a informação jornalística) de grande prestígio social; c) como estímulo à busca de outras referências para se compreender o mundo, a partir da pesquisa em suportes como os jornais impressos, os telejornais, os portais de notícias, etc.; d) como forma de estimular o comprometimento do aluno com sua própria palavra (os estudantes aprendem a responsabilizar-se pelas conseqüências do que escrevem ou falam); e) como forma de expressão individual e coletiva de pontos de vista; f) como pretexto para a utilização de um registro mais formal da linguagem.

Há ainda outros aspectos, mas os mencionados são suficientes para mostrar a pertinência desse tipo de trabalho. Em comum, todos eles contam com um ingrediente importante para qualquer disciplina, e não apenas para o português: estimular o aluno a utilizar um registro de linguagem de maior prestígio social, com vistas à revisão de conceitos e à ampliação do entendimento sobre o mundo.

JP - A produção de um jornal deve ser uma atividade interdisciplinar? Ou deve ser uma tarefa apenas dos professores de português?

JZJ- A linguagem verbal é a âncora de toda a atividade jornalística. Basta assistir a um telejornal sem ouvir as falas do apresentador, repórteres, entrevistados, para se ter idéia disso. Somente os assuntos muito conhecidos são compreensíveis apenas observando-se as imagens, e ainda assim de forma parcial. O peso da palavra faz com que essa atividade, na escola, seja delegada para o professor de português. Mas o jornal pode ser desenvolvido em qualquer disciplina (pois todas elas também têm, na palavra, sua principal referência).

O jornal pode ser desenvolvido numa disciplina e ter os professores das demais matérias atuando como fontes ou como estimuladores da pesquisa para se obter informações mais precisas. Tomemos como exemplo a produção de uma notícia sobre o número de alunos matriculados numa determinada escola, desenvolvida para um jornal sugerido pelo professor de português. Os alunos podem se contentar em perguntar na secretaria da escola qual o número de matriculados naquele determinado ano. Haverá um número concreto (tantos alunos) e a fonte é a mais fidedigna possível. Mas a informação pode ser desdobrada. Numa sugestão mais próxima das disciplinas de história e de geografia, pode-se buscar a evolução do número de alunos ao longo de um determinado período. O exercício será ainda mais acurado se esses mesmos professores auxiliarem os alunos a entender o perfil dessa evolução (por que o número aumentou ou por que diminuiu ao longo de tantos anos?). Outra possibilidade é pedir o auxílio do professor de matemática, para se calcular qual o número total de alunos que a escola comporta em sua área física. Note-se que um trabalho como esse poderia partir de qualquer uma das disciplinas aventadas, e envolver as demais.

JP - Quais os passos básicos necessários para um professor que deseja criar um jornal em sua escola e não tem nenhuma experiência? Que pontos devem ser levados em consideração? Como o trabalho pode ser distribuído entre os alunos?

JZJ - O jornal escolar precisa ser um meio e não um fim em si mesmo: o que importa é a qualidade do processo de produção e não o resultado final. Além disso, frise-se que as escolas e professores têm condições diversas: algumas contam com computador e pessoal capaz de trabalhar com editor de textos; outras têm computador que não funciona; outras não têm computador. O que fazer? Utilizar tipos de texto comuns na imprensa (notícia, reportagem, texto de opinião, publicidade) em suportes diversos:

a) Produzir jornais falados com os alunos, acompanhando a elaboração dos textos escritos e discutindo com eles as possibilidades de enriquecimento da informação;

b) Produzir jornal na própria lousa: cada aluno ou grupo escreve uma notícia, diariamente, tendo como público os alunos da sala. O texto deve ser comentado pelo professor, em termos de informação e de composição;

c) Produzir jornal mural: cada aluno ou grupo se responsabiliza por uma notícia ou tema e os textos finais são dispostos em jornal mural, seguindo-se regras estabelecidas pelo professor;

d) Produzir o jornal impresso: pode-se utilizar uma folha de papel sulfite (frente e verso). Nela, dispõe-se um nome para o jornal e títulos para as matérias. Além de se esboçar, previamente, como serão dispostas as notícias, o professor deve insistir na discussão sobre a hierarquização dos textos (quais os mais importantes ou interessantes; quais são aqueles com menor potencial para atrair o público leitor);

e) Produzir um telejornal, gravando os textos interpretados pelos alunos. É necessário fazer previamente um roteiro para a elaboração e apresentação de notícias e opiniões.

Os textos podem ser produzidos ainda para outros suportes, como o jornal da cidade, o celular ou mesmo um blog. Duas considerações precisam ser destacadas. A primeira delas diz respeito ao perfil das informações. Reproduzir o noticiário de grandes redes ou jornais é um expediente pertinente à medida que os alunos são levados a prestar atenção em detalhes que comumente passam despercebidos. Mas a produção de notícias deve estar centrada em aspectos locais, buscando transformar fofocas em informações consistentes! Para isso, é preciso buscar a procedência e exatidão das informações, as conseqüências e implicações relacionadas ao fato narrado. Em segundo lugar, é preciso estar atento ao público a que se destinam as informações e os comentários: a) a própria turma de alunos; b) todos os alunos da escola; c) alunos de outra escola; d) autoridades locais etc. A expectativa quanto ao público é fator determinante para o modo como os alunos dispõem seus textos.

Professores criam projeto informatizado para ensinar xadrez

Foto do professor Davi Rocha.

Os professores David Rocha e Maria Aparecida Schio, que há 16 anos integram a rede pública de ensino do Distrito Federal, criaram um projeto informatizado para possibilitar o aprendizado de xadrez em um curto espaço de tempo – é o Xadrez na Escola.

O recurso pode ser usado tanto na sala de informática quanto em um aparelho comum de DVD ou em um projetor multimeios (datashow). O programa, com efeitos de animação, ensina todas as etapas do jogo de xadrez, desde o nome das peças, sua posição e movimentos no tabuleiro, até regras de captura e xeque-mate.

Natural do Amazonas, David Rocha é professor de história, mas atualmente desenvolve o projeto de xadrez na Escola Classe 07 de Planaltina (DF). Professora de língua portuguesa, Maria Aparecida é do Rio Grande do Sul. No momento, exerce função de coordenadora no Centro de Ensino Várzeas, na área rural de Planaltina, onde o projeto de xadrez também está sendo desenvolvido.

De acordo com os autores, o xadrez impulsiona a imaginação e contribui para desenvolver a memória, a capacidade de concentração e a velocidade de raciocínio. Além disso, acreditam, o xadrez desempenha um importante papel socializante, pois ensina a lidar com a derrota e com a vitória.

O Xadrez na Escola está disponível, gratuitamente, para todos os interessados. Acesse o blog do projeto e baixe o programa de xadrez.

Acesse também o blog da Cida.

Graciela Natansohn (UFBA): jornalismo é um bom caminho para ensinar cidadania

Foto da professora Graciela Natansohn, da Faculdade de Comunicação da UFBA.

A professora Graciela Natansohn, da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), tem graduação em jornalismo e licenciatura em comunicação social pela Universidad Nacional de La Plata, na Argentina. Com mestrado e doutorado em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela UFBA, suas pesquisas e sua produção concentram-se na área de jornalismo online.

Tutora do Programa de Educação Tutorial (PetCom) de sua faculdade, ela promoveu, em 2008, uma oficina para capacitação de alunos na produção de jornal escolar, com a participação de 12 universitários bolsistas PET. O projeto Jornal na Escola atendeu estudantes de ensino médio do Colégio Estadual da Bahia – Central, em Salvador.

Em entrevista ao Jornal do Professor, Graciela Natansohn diz que a prática de jornalismo estimula a curiosidade e é um bom caminho para ensinar cidadania. Além disso, ela acredita que o jornal, como instrumento pedagógico, traz vários benefícios. Alguns deles são: integrar várias áreas de conhecimento, favorecer a confrontação das informações entre si e com a realidade circundante; estimular a procura de novas e variadas fontes de informação, além de estimular a leitura.

Jornal do Professor Qual é a importância de se ter um jornal na escola?

Graciela Natansohn – O jornal, como instrumento pedagógico, serve para integrar várias áreas de conhecimento (língua portuguesa, ciências sociais e humanas); propiciar a experimentação, expressão e criação de linguagens (fotos, desenho, texto), explorar o patrimônio lingüístico – cultural existente no grupo e transformá-lo em práticas de comunicação midiática; facilitar a expressão dos interesses, inquietações e opiniões dos alunos sobre diversos temas, inclusive os considerados como “não escolares”; favorecer a confrontação das informações entre si e com a realidade circundante; estimular a procura de novas e variadas fontes de informação, valorizando e ponderando fontes não tradicionais, e a abordar diferentes técnicas de coleta de informação; estabelecer um canal de comunicação e integração com a comunidade da qual a escola é parte e, é claro, incentivar a leitura.

JP - Em sua opinião, qual é o melhor jornal para o ambiente escolar: o impresso ou o virtual?

GN – São completamente diferentes: são duas linguagens, as duas indispensáveis. Trabalham com narrativas diferentes, geram processos sociais diferentes, pois o alcance é diferente. Não saberia escolher um em detrimento de outro. A grande vantagem do jornal online é que é completamente gratuito. O de papel precisa de gastos em papel e gráfica. O virtual, apenas de conhecimentos de softwares de editoração. Todavia, através da ferramenta blog, não há necessidade de conhecimento de software nenhum. Só de conhecimentos de jornalismo, para não fazer uma outra coisa que não um jornal.

JP – Por que você resolveu criar uma oficina para os alunos do Colégio Estadual da Bahia? Ela teve bons resultados?

GN – O grupo que coordeno, no PET, desenvolve atividades de ensino, pesquisa e extensão. Todo ano realizamos atividades diferentes.

JP – Quando foi realizada e qual a duração da oficina? Foi um pedido do colégio?

GN – Foi realizada durante o primeiro semestre de 2008, com uma duração de 60 horas. Não foi uma demanda do colégio, mas um oferecimento nosso, como parte de nossas atividades de extensão. Buscamos nos inserir no Projeto de Formação Cooperativa de Ofícios (Profoco), dirigido pela Faculdade de Educação da UFBA, que tinha como objetivo agregar processos alternativos de ensino-aprendizagem ao ensino médio formal, através da oferta de oficinas englobando as mais diferentes áreas do conhecimento, para que o estudante possa construir uma trajetória de formação com mais autonomia e opções. Dentre as oficinas oferecidas (teatro, dança, arte), encontravam-se as do Projeto Jornal na Escola, sob a responsabilidade do PetCom. O projeto visava capacitar os alunos do Colégio Central na produção, diagramação e distribuição de um jornal escolar. Participaram todos os bolsistas, sob a minha orientação.

JP – Foi a primeira vez que ocorreu? Há previsão de ser realizada novamente este ano?

GN – Foi a primeira vez que fizemos isso e foi muito proveitoso. Aprendemos com os erros e acertos. Não há previsão de uma outra oficina igual, mas estamos planejando uma outra, em outro colégio, orientada ao ensino de rádio, aproveitando a existência e funcionamento de uma rádio na escola.

JP – Quais os principais conteúdos e resultados apresentados? Os alunos chegaram a fazer um jornal?

GN – Ensinamos, basicamente, a compreender o que é um jornal, entender seus aspectos visuais e plásticos: colunas, tipos de imagem (fotografia, infográficos, desenhos etc); aspectos de organização do conteúdo: cadernos, seções fixas, colunas, publicidade, manchetes, olhos, chapéus etc. Ensinamos a diagramar, mediante a manipulação de softwares de editoração eletrônica de uso simples, como o Corell Draw. Ensinamos fotografia, mediante a manipulação de máquinas de fotos dos próprios alunos, celulares e máquinas disponíveis. Trabalhamos narrativas fotográficas, a partir da pergunta: o que se pode dizer com uma foto? Também trabalhamos pautas e notícias, texto jornalístico e critérios jornalísticos. Os alunos prepararam um fanzine, previsto na primeira etapa do processo. Em termos de resultados foi muito interessante para os alunos da faculdade, pois foi a primeira vez que experimentaram o papel de "docentes". Para os estudantes da escola deve ter sido muito interessante, pois além dos conteúdos, a experiência de "entrar" na faculdade para estudar gerou discussões sobre seu futuro como estudantes universitários.

JP – Você acha que esse exemplo deveria ser seguido por outras universidades brasileiras, de modo que outras escolas pudessem participar de oficinas desse tipo? Por quê?

GN – Existem muitos bons projetos de integração universidade-escola. Ensinar jornalismo, seja nas escolas médias ou na universidade, é ensinar a observar, a pesquisar, a ponderar a informação, a desconfiar do senso comum, a desafiar o aparente, a se expressar de modos diversos. A prática de jornalismo estimula a curiosidade. É um grande incentivo contra o vírus da indiferença, por isso, é um bom caminho para ensinar cidadania.

JP – Você tem algum conselho para os professores que estão interessados em criar um jornal? Existe algum livro ou endereço na internet onde os professores possam aprender a fazer um jornal com seus alunos?

GN – Tem vários livros. Maria Alice Faria publicou vários (Como usar o jornal em sala de aula e outros). A USP tem uma bela revista, Educação & Comunicação, que tem várias reflexões. Acredito que são materiais indispensáveis para formar professores com vontade de experimentar o jornalismo escolar. Meu conselho é que consultem a bibliografia, muito fácil de conseguir e agradável de ler, e que não tenham medo de experimentar. As escolas de jornalismo merecem ser cutucadas: muitas vezes querem realizar tarefas comunitárias e não têm contato com escolas. Tudo é questão de iniciativa e coordenação.